ENVIADA ESPECIAL / PARATY - Sai o barco, chega o ônibus. A Festa Literária Pirata das Editoras Independentes (Flipei), que desembarcou em Paraty em 2018 propondo debates políticos que a Flip evitava levar para seu palco, está maior este ano e de cara nova. A base é o Rizomóvel, o ônibus amarelo onde funciona a Livraria Rizoma, que pode ser visto normalmente pelas ruas da Bela Vista, em São Paulo, e em eventos.
A opção por trazer o ônibus estrada abaixo foi, assim como na época do barco, uma forma de não colaborar para a especulação imobiliária. Nesses períodos de eventos, o aluguel de uma casa em Paraty fica entre R$ 30 mil e R$ 50 mil. E o barco pirata não estaria no canal porque o rio baixou muito. Além disso, havia previsão de chuva, que foi confirmada. Desde a abertura da Flip e da Flipei, na quarta-feira, 23, o tempo está instável - e muito quente. Tradicionalmente, o evento é realizado em julho. Com os adiamentos da pandemia, ele acabou voltando, presencialmente, agora em novembro.
“Estamos fazendo toda a operação na Rizoma, o vietcong das editoras independentes. Sentimos que após sobreviver ao apocalipse pandêmico sob este governo, o visual Mad Max faz mais sentido”, conta Cauê Ameni, editor da Autonomia Literária e idealizador da Flipei, que, assim como em 2018 e 2019, está sendo realizada na margem esquerda do rio Perequê-açu - agora, na Praia do Pontal.
Cauê define a Flipei como uma intervenção política feita pelas editoras independentes que trazem o lado mais radical do mercado editorial. “Essas editoras são importantes porque são mais radicais e têm uma visão emancipatória - querem transformar não só o mercado editorial, mas o mundo”, ele explica. Na primeira edição, vieram cerca de uma dezena de editoras. Neste ano, são mais de 30.
Programação da Flipei
Quanto à programação, Cauê diz que ela está mais “focada em refletir um mundo pós-pandêmico e pós-fascismo, com novos horizontes e desafios pela frente após a década do ódio onde houve a ascensão da extrema direita”.
Na frente do ônibus-livraria, os autores convidados se revezam em debates, saraus, slams, apresentações artísticas e em “raves de autógrafos”.
Os destaques desta sexta-feira, 25, são as mesas Resistência anticolonial e devir antirrascista, com Lourdes Carril, Cidinha da Silva e Paíque Duques Santarém, às 13h, e Como resistir? Heterotopias, guerras climáticas e autodefesas, com Alyne Costa, Wander Wilson, Claudio Medeiros e Lahayda, às 16h.
No sábado, às 16h, ocorre o debate Feminismos negros radicais e as revoluções caribenhas, com Alissa Trotz, uma das convidadas internacionais da Flipei e organizadora do livro O importante é transformar o mundo, e Juliana Borges.
Mais à noite, às 20h, haverá outra mesa interessante chamada Sonhos de outra terra indígena. Era para o líder indígena Davi Kopenawa participar ao lado de Hanna Limulja, Sidarta Ribeiro e Nastassja Martin, autora de Escute as Feras, e uma das estrelas da programação da Flip (ela fala às 17h, no palco principal, ao lado de Tamara Klink). Ele, no entanto, cancelou sua participação na Flip depois de contrair o coronavírus.
Praça Aberta na Flip
A Flipei fica no final de uma grande área onde antigamente era montada a Tenda dos Autores. Ali, agora, fica a Praça Aberta.
Há tendas com artesanato local, um palco para shows, uma feira de editoras independentes (com Ozé, Lote 42, Claraboia, Laranja Original, Solisluna, entre outras) e uma exposição do Itaú Cultural em homenagem a Paulo Freire.