Houve festa e houve protesto quando, em junho do ano passado, Mauro Sousa, filho de Mauricio de Sousa, anunciou que as histórias da Turma da Mônica teriam um personagem gay. Naquela época, o cartunista havia postado uma foto na cozinha de casa com o filho e o genro.
Mauricio de Sousa diz agora que embora queira, sim, um personagem gay em suas histórias, não há nada de concreto neste sentido. Ele procura esclarecer o que tentou dizer na ocasião: que quando a sociedade estiver aberta para a publicação de um personagem gay, sua equipe estará, provavelmente, desenhando um. Ele esclarece, ainda, e é taxativo, que nunca começariam com um personagem infantil. “Está fora de cogitação.”
“Teremos que usar personagens adultos vivenciando uma coisa que já esteja sendo aceita normalmente na sociedade. Não passa disso. Não temos esse personagem. Ele não está em gestação, está no pensamento”, conta ao Estado, enquanto conversa sobre a adaptação que fez de Caçadas de Pedrinho, de Monteiro Lobato.
Se esse personagem ainda não existe é porque a sociedade não está pronta, como ele diz, mas não só. “Acho que nós não estamos prontos. Nós aqui no Estúdio, que fazemos histórias, não observamos ainda uma transformação e uma aceitação geral desse tipo de comportamento que, para mim, é natural, embora muita gente não ache.”
Se precisaria ter coragem para tratar desse assunto? “Não. É preciso estar junto com o leitor. Quando você está junto, está protegido e em consonância com o público”, responde.
Mauricio de Sousa prefere esperar a liderar a mudança. “Fazemos história para crianças e não podemos nos adiantar. Mas, do jeito que sinto que os costumes e hábitos estão indo, penso que é uma questão de tempo para termos a tranquilidade de criar personagens LGBT”, explica.
Mauricio de Sousa afirma não ter medo de perder leitores, mas que essa cautela toda é justamente em respeito a eles. “Alguns leitores vão estranhar muito e outros vão aceitar. Vou esperar baixar a poeira e vamos caminhar com a Turma da Mônica Jovem. Ou com a Turma da Mônica Adulta, que é um novo projeto nosso para que a gente possa colocar mensagens um pouco mais atualizadas e mais próximas da realidade”, diz o cartunista.