Philip Roth: autor é celebrado com conferência, passeio de ônibus e biblioteca em seus 90 anos


Newark, sua cidade natal, nos Estados Unidos, conta com sala em biblioteca pública com sete mil livros doados pelo escritor, incluindo obras de Machado de Assis com anotações de Roth

Por Felipe Franco Munhoz
Atualização:

Um dos principais escritores da segunda metade do século 20 e do início do 21, Philip Roth (que morreu em 2018) completaria 90 anos neste domingo, 19 de março. Newark, em Nova Jersey, nos Estados Unidos, não era apenas a cidade natal do autor – era também, transformada em ficção, o frequente palco sobre o qual esse autor formulava e encenava diferentes interações humanas.

Philip Roth em foto de 15 de setembro de 2010 Foto: Eric Thayer/Reuters

O território dispõe-se tão vívido e importante na obra de Roth que, dentro de seus livros, quase conseguimos divisar as ruas de um mapa da cidade – entrelaçadas com as linhas das páginas ou com as veias dos personagens (quem diria que aqueles personagens, construídos com tanta profundidade, não têm veias e órgãos e ossos?) que por ali caminham, conversam, discutem, trabalham, gracejam, copulam, enganam-se, odeiam, traem, sonham, fracassam, envelhecem, morrem.

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Não poderia ser diferente: Newark preparou, para 2023, uma homenagem à altura de seu narrador de maior expressão. Com participação de Christian Lorentzen, Alexandra Marshall e Elisa Albert, por exemplo, na conferência Roth@90, organizada pela Philip Roth Society, além de Claudia Roth Pierpont, Morgan Spector e S. Epatha Merkerson no festival Philip Roth Unbound, e também com a apresentação da prévia de uma adaptação para o teatro, por John Turturro e Ariel Levy, do romance O Teatro de Sabbath.

Além do Philip Roth Bus Tours of Newark, o ônibus que percorre (com paradas) diversos pontos relacionados ao escritor (a casa em que ele nasceu, a escola em que estudou, etc.), existe um tour audioguiado pela sua biblioteca pessoal, a The Philip Roth Personal Library. Em vida, o autor de O Complexo de Portnoy doou cerca de sete mil livros para a Biblioteca Pública de Newark. Roth chegou a escolher a sala em que os livros ficariam expostos após sua morte.

Philip Roth em foto de 2010 Foto: Eric Thayer/Reuters
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Lá estão. E, entre muitos volumes de Bellow, Kundera, Faulkner, Chekhov, Camus, Joyce, Kafka, e ainda de conterrâneos contemporâneos como Don DeLillo, Paul Auster, Nathan Englander (todos, por sinal, estiveram em sua festa de aniversário de 80 anos, no Newark Museum) e Edna O’Brien (também presente na festa), há autores latino-americanos, Borges, García Márquez, Vargas Llosa, Carlos Fuentes, e três brasileiros.

Em traduções para o inglês: de Carmen L. Oliveira, Flores Raras e Banalíssimas (nenhuma publicação individual, entretanto, de Elizabeth Bishop); de Clarice Lispector, Paixão Segundo G.H. (somada à biografia de Clarice por Benjamin Moser); e, de Machado de Assis, duas edições iguais de Quincas Borba, em tradução de Clotilde Wilson, Dom Casmurro, em tradução de Helen Caldwell, e duas edições diferentes da tradução de William L. Grossman de Memórias Póstumas de Brás Cubas.

Brás Cubas

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Dos autores brasileiros, somente a edição de 1985 de Brás Cubas foi marcada. Esparsos grifos. Logo na introdução, Roth sublinhou: “Privado da estima dos graves e do amor dos frívolos, que são as duas colunas máximas da opinião”; depois, junto a outros firmes traços de caneta preta, o início do sexto capítulo e a pergunta “Ainda visitando os defuntos?”.

Ilustração de Machado de Assis como juiz Foto: Baptisão/Estadão

Segundo Nadine Giron, bibliotecária responsável pela coleção, Roth anotava os livros que, enquanto foi professor, utilizava em sala de aula – sem deixar de marcar, porém, livros que eventualmente resenhava ou que lia por prazer. Para quem está habituado ao estilo de Roth, não é difícil vincular sua voz (da brutal segunda metade de sua obra, sobretudo) às frases de Machado sublinhadas; e não seria difícil imaginar em Pastoral Americana ou em Casei Com um Comunista algum personagem (daqueles com veias, órgãos e ossos) andando pelo palco ficcional de Newark e dizendo “a coisa é divertida, mas digere-me”.

Um dos principais escritores da segunda metade do século 20 e do início do 21, Philip Roth (que morreu em 2018) completaria 90 anos neste domingo, 19 de março. Newark, em Nova Jersey, nos Estados Unidos, não era apenas a cidade natal do autor – era também, transformada em ficção, o frequente palco sobre o qual esse autor formulava e encenava diferentes interações humanas.

Philip Roth em foto de 15 de setembro de 2010 Foto: Eric Thayer/Reuters

O território dispõe-se tão vívido e importante na obra de Roth que, dentro de seus livros, quase conseguimos divisar as ruas de um mapa da cidade – entrelaçadas com as linhas das páginas ou com as veias dos personagens (quem diria que aqueles personagens, construídos com tanta profundidade, não têm veias e órgãos e ossos?) que por ali caminham, conversam, discutem, trabalham, gracejam, copulam, enganam-se, odeiam, traem, sonham, fracassam, envelhecem, morrem.

Não poderia ser diferente: Newark preparou, para 2023, uma homenagem à altura de seu narrador de maior expressão. Com participação de Christian Lorentzen, Alexandra Marshall e Elisa Albert, por exemplo, na conferência Roth@90, organizada pela Philip Roth Society, além de Claudia Roth Pierpont, Morgan Spector e S. Epatha Merkerson no festival Philip Roth Unbound, e também com a apresentação da prévia de uma adaptação para o teatro, por John Turturro e Ariel Levy, do romance O Teatro de Sabbath.

Além do Philip Roth Bus Tours of Newark, o ônibus que percorre (com paradas) diversos pontos relacionados ao escritor (a casa em que ele nasceu, a escola em que estudou, etc.), existe um tour audioguiado pela sua biblioteca pessoal, a The Philip Roth Personal Library. Em vida, o autor de O Complexo de Portnoy doou cerca de sete mil livros para a Biblioteca Pública de Newark. Roth chegou a escolher a sala em que os livros ficariam expostos após sua morte.

Philip Roth em foto de 2010 Foto: Eric Thayer/Reuters

Lá estão. E, entre muitos volumes de Bellow, Kundera, Faulkner, Chekhov, Camus, Joyce, Kafka, e ainda de conterrâneos contemporâneos como Don DeLillo, Paul Auster, Nathan Englander (todos, por sinal, estiveram em sua festa de aniversário de 80 anos, no Newark Museum) e Edna O’Brien (também presente na festa), há autores latino-americanos, Borges, García Márquez, Vargas Llosa, Carlos Fuentes, e três brasileiros.

Em traduções para o inglês: de Carmen L. Oliveira, Flores Raras e Banalíssimas (nenhuma publicação individual, entretanto, de Elizabeth Bishop); de Clarice Lispector, Paixão Segundo G.H. (somada à biografia de Clarice por Benjamin Moser); e, de Machado de Assis, duas edições iguais de Quincas Borba, em tradução de Clotilde Wilson, Dom Casmurro, em tradução de Helen Caldwell, e duas edições diferentes da tradução de William L. Grossman de Memórias Póstumas de Brás Cubas.

Brás Cubas

Dos autores brasileiros, somente a edição de 1985 de Brás Cubas foi marcada. Esparsos grifos. Logo na introdução, Roth sublinhou: “Privado da estima dos graves e do amor dos frívolos, que são as duas colunas máximas da opinião”; depois, junto a outros firmes traços de caneta preta, o início do sexto capítulo e a pergunta “Ainda visitando os defuntos?”.

Ilustração de Machado de Assis como juiz Foto: Baptisão/Estadão

Segundo Nadine Giron, bibliotecária responsável pela coleção, Roth anotava os livros que, enquanto foi professor, utilizava em sala de aula – sem deixar de marcar, porém, livros que eventualmente resenhava ou que lia por prazer. Para quem está habituado ao estilo de Roth, não é difícil vincular sua voz (da brutal segunda metade de sua obra, sobretudo) às frases de Machado sublinhadas; e não seria difícil imaginar em Pastoral Americana ou em Casei Com um Comunista algum personagem (daqueles com veias, órgãos e ossos) andando pelo palco ficcional de Newark e dizendo “a coisa é divertida, mas digere-me”.

Um dos principais escritores da segunda metade do século 20 e do início do 21, Philip Roth (que morreu em 2018) completaria 90 anos neste domingo, 19 de março. Newark, em Nova Jersey, nos Estados Unidos, não era apenas a cidade natal do autor – era também, transformada em ficção, o frequente palco sobre o qual esse autor formulava e encenava diferentes interações humanas.

Philip Roth em foto de 15 de setembro de 2010 Foto: Eric Thayer/Reuters

O território dispõe-se tão vívido e importante na obra de Roth que, dentro de seus livros, quase conseguimos divisar as ruas de um mapa da cidade – entrelaçadas com as linhas das páginas ou com as veias dos personagens (quem diria que aqueles personagens, construídos com tanta profundidade, não têm veias e órgãos e ossos?) que por ali caminham, conversam, discutem, trabalham, gracejam, copulam, enganam-se, odeiam, traem, sonham, fracassam, envelhecem, morrem.

Não poderia ser diferente: Newark preparou, para 2023, uma homenagem à altura de seu narrador de maior expressão. Com participação de Christian Lorentzen, Alexandra Marshall e Elisa Albert, por exemplo, na conferência Roth@90, organizada pela Philip Roth Society, além de Claudia Roth Pierpont, Morgan Spector e S. Epatha Merkerson no festival Philip Roth Unbound, e também com a apresentação da prévia de uma adaptação para o teatro, por John Turturro e Ariel Levy, do romance O Teatro de Sabbath.

Além do Philip Roth Bus Tours of Newark, o ônibus que percorre (com paradas) diversos pontos relacionados ao escritor (a casa em que ele nasceu, a escola em que estudou, etc.), existe um tour audioguiado pela sua biblioteca pessoal, a The Philip Roth Personal Library. Em vida, o autor de O Complexo de Portnoy doou cerca de sete mil livros para a Biblioteca Pública de Newark. Roth chegou a escolher a sala em que os livros ficariam expostos após sua morte.

Philip Roth em foto de 2010 Foto: Eric Thayer/Reuters

Lá estão. E, entre muitos volumes de Bellow, Kundera, Faulkner, Chekhov, Camus, Joyce, Kafka, e ainda de conterrâneos contemporâneos como Don DeLillo, Paul Auster, Nathan Englander (todos, por sinal, estiveram em sua festa de aniversário de 80 anos, no Newark Museum) e Edna O’Brien (também presente na festa), há autores latino-americanos, Borges, García Márquez, Vargas Llosa, Carlos Fuentes, e três brasileiros.

Em traduções para o inglês: de Carmen L. Oliveira, Flores Raras e Banalíssimas (nenhuma publicação individual, entretanto, de Elizabeth Bishop); de Clarice Lispector, Paixão Segundo G.H. (somada à biografia de Clarice por Benjamin Moser); e, de Machado de Assis, duas edições iguais de Quincas Borba, em tradução de Clotilde Wilson, Dom Casmurro, em tradução de Helen Caldwell, e duas edições diferentes da tradução de William L. Grossman de Memórias Póstumas de Brás Cubas.

Brás Cubas

Dos autores brasileiros, somente a edição de 1985 de Brás Cubas foi marcada. Esparsos grifos. Logo na introdução, Roth sublinhou: “Privado da estima dos graves e do amor dos frívolos, que são as duas colunas máximas da opinião”; depois, junto a outros firmes traços de caneta preta, o início do sexto capítulo e a pergunta “Ainda visitando os defuntos?”.

Ilustração de Machado de Assis como juiz Foto: Baptisão/Estadão

Segundo Nadine Giron, bibliotecária responsável pela coleção, Roth anotava os livros que, enquanto foi professor, utilizava em sala de aula – sem deixar de marcar, porém, livros que eventualmente resenhava ou que lia por prazer. Para quem está habituado ao estilo de Roth, não é difícil vincular sua voz (da brutal segunda metade de sua obra, sobretudo) às frases de Machado sublinhadas; e não seria difícil imaginar em Pastoral Americana ou em Casei Com um Comunista algum personagem (daqueles com veias, órgãos e ossos) andando pelo palco ficcional de Newark e dizendo “a coisa é divertida, mas digere-me”.

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