Tarantino explica seu fascínio pela violência e desprezo pelo moralismo em novo livro; conheça


‘Especulações Cinematográficas’ traz ensaios sobre filmes que moldaram a personalidade do cineasta, com reverência a Stallone e fuga de clichês da crítica. Livro chega ao Brasil no dia 11 de dezembro

Por Gabriel Zorzetto
Atualização:

Se você sempre quis entender as inspirações de Quentin Tarantino, Especulações Cinematográficas vai certamente ajudar. Calcado numa série de ensaios do diretor americano sobre filmes dos anos 1970 que moldaram sua personalidade, o livro chega ao Brasil em 11 de dezembro, pela editora Intrínseca, após o sucesso da versão literária de Era Uma Vez... Em Hollywood (2019) – longa mais recente do cineasta.

A seleção de filmes escolhidos pelo criador de Pulp Fiction (1994) pode parecer aleatória à primeira vista. Com a exceção de Taxi Driver (1976) – considerado por ele um “remake temático” do faroeste Rastros de Ódio (1956) –, não há longas que possam ser considerados obras-primas. No entanto, a eclética coleção de críticas pinta um quadro tão único do cinema setentista que jamais poderia ser recriado por alguém que não tivesse passado horas e horas habitando as imensas salas escuras durante aquela década de contracultura e turbulência.

É nesse sentido, portanto, que Tarantino explora o primeiro capítulo do livro, que poderia facilmente ser o pontapé de uma autobiografia. Mesmo antes de completar dez anos, o pequeno Quentin já era um cinéfilo inveterado, pois acompanhava a mãe em sessões que a maioria das crianças não costumava frequentar, assistindo precocemente a M.A.S.H (1970) e O Poderoso Chefão (1972), por exemplo.

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Cineasta Quentin Tarantino chega para a premiere de 'Era Uma Vez... Em Hollywood', em Berlim, Alemanha, em 2019 Foto: Fabrizio Bensch/Reuters

“A certa altura, quando percebi que estava vendo filmes que os outros pais não deixavam os filhos assistirem, questionei minha mãe sobre isso. Ela disse: ‘Quentin, eu me preocupo mais com você vendo ao noticiário. Um filme não vai te fazer mal algum’” – escreve o diretor, que parece ter seguido à risca ao conselho da mãe no que diz respeito a jamais (em toda a sua carreira) ter cedido às controvérsias em torno do uso excessivo de violência, uma das principais características de sua linguagem cinematográfica.

“O pior tipo de censura é a autocensura”,

afirma Quentin Tarantino

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Não por acaso, a maioria dos filmes debatidos no livro é recheada de brutalidade. Ao analisar Bullit (1968) e Os Implacáveis (1972), Tarantino externa sua admiração por Steve McQueen, revelando conversas que teve com Neile Adams, a primeira esposa do ator. Ele também reverencia Sylvester Stallone ao dissecar A Taberna do Inferno (1978).

Em Amargo Pesadelo (1972), detalha como uma cena de estupro o impacta até os dias atuais. Sobre Irmãs Diabólicas (1973), explica como Brian de Palma tentou emular Alfred Hitchcock. E conta que sua admiração por A Quadrilha (1973) foi tamanha que cogitou fazer uma adaptação nos anos 1990 com Robert De Niro, a qual se arrepende de não ter feito.

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Quentin também tece vários elogios ao thriller policial Perseguidor Implacável (1971), que popularizou Clint Eastwood, mas foi criticado por apresentar, supostamente, uma ideologia fascista. “Cinquenta anos depois, o filme de Siegel [o diretor Don Siegel] permanece sendo uma tremenda façanha do cinema de gênero. As plateias que se divertiram assistindo ao longa nas últimas cinco décadas não se tornaram reacionárias. Nem precisaram adotar uma ‘postura moral fascista’ para gostar dele.”, assegura o autor.

As críticas de Tarantino, inspiradas por Pauline Kael, Roger Ebert e Kevin Thomas (há um capítulo exclusivamente dedicado a Thomas), não têm medo de ir contra o senso comum ou enaltecer algo que outros considerariam ruim. A fluência do texto não é diferente dos brilhantes roteiros que ele costuma escrever: transborda energia, ousadia e bom humor.

O conteúdo enciclopédico é um bálsamo para os fãs da história do cinema, contendo inúmeras informações de bastidores sobre uma indústria que passou por diversas transformações. E mesmo que o leitor não esteja muito familiarizado com os títulos abordados, é extremamente fácil ser contagiado pelas paixões do diretor, o que torna Especulações Cinematográficas uma experiência fundamental.

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Capa de 'Especulações Cinematográficas', de Quentin Tarantino Foto: Editora Intrínseca

Despedida das telonas?

Ao que tudo indica, o novo livro é um prenúncio para o próximo filme de Tarantino – e provavelmente o último: The Movie Critic (O Crítico de Cinema, em tradução livre), sem previsão de lançamento.

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Recentemente, o veterano roteirista Paul Schrader, um dos nomes mais citados em Especulações Cinematográficas – seja para elogios (em Taxi Driver) ou para críticas (em Hardcore) –, revelou que recebeu uma ligação de Quentin, onde este afirmou estar refazendo cenas de alguns filmes dos anos 1970. Um deles seria A Outra Face da Violência (1977), escrito por Schrader e que também é destrinchado no livro.

Tarantino já anunciou que pretende se aposentar em breve e que a película derradeira seria uma espécie de epílogo à sua icônica filmografia, cristalizada em clássicos como Cães de Aluguel (1992) e Bastardos Inglórios (2008).

Serviço

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Especulações Cinematográficas

  • Editora: Intrínseca
  • Autor: Quentin Tarantino
  • Tradução: André Czarnobai
  • 400 páginas; R$ 89,90. Ebook: R$ 56,61

Se você sempre quis entender as inspirações de Quentin Tarantino, Especulações Cinematográficas vai certamente ajudar. Calcado numa série de ensaios do diretor americano sobre filmes dos anos 1970 que moldaram sua personalidade, o livro chega ao Brasil em 11 de dezembro, pela editora Intrínseca, após o sucesso da versão literária de Era Uma Vez... Em Hollywood (2019) – longa mais recente do cineasta.

A seleção de filmes escolhidos pelo criador de Pulp Fiction (1994) pode parecer aleatória à primeira vista. Com a exceção de Taxi Driver (1976) – considerado por ele um “remake temático” do faroeste Rastros de Ódio (1956) –, não há longas que possam ser considerados obras-primas. No entanto, a eclética coleção de críticas pinta um quadro tão único do cinema setentista que jamais poderia ser recriado por alguém que não tivesse passado horas e horas habitando as imensas salas escuras durante aquela década de contracultura e turbulência.

É nesse sentido, portanto, que Tarantino explora o primeiro capítulo do livro, que poderia facilmente ser o pontapé de uma autobiografia. Mesmo antes de completar dez anos, o pequeno Quentin já era um cinéfilo inveterado, pois acompanhava a mãe em sessões que a maioria das crianças não costumava frequentar, assistindo precocemente a M.A.S.H (1970) e O Poderoso Chefão (1972), por exemplo.

Cineasta Quentin Tarantino chega para a premiere de 'Era Uma Vez... Em Hollywood', em Berlim, Alemanha, em 2019 Foto: Fabrizio Bensch/Reuters

“A certa altura, quando percebi que estava vendo filmes que os outros pais não deixavam os filhos assistirem, questionei minha mãe sobre isso. Ela disse: ‘Quentin, eu me preocupo mais com você vendo ao noticiário. Um filme não vai te fazer mal algum’” – escreve o diretor, que parece ter seguido à risca ao conselho da mãe no que diz respeito a jamais (em toda a sua carreira) ter cedido às controvérsias em torno do uso excessivo de violência, uma das principais características de sua linguagem cinematográfica.

“O pior tipo de censura é a autocensura”,

afirma Quentin Tarantino

Não por acaso, a maioria dos filmes debatidos no livro é recheada de brutalidade. Ao analisar Bullit (1968) e Os Implacáveis (1972), Tarantino externa sua admiração por Steve McQueen, revelando conversas que teve com Neile Adams, a primeira esposa do ator. Ele também reverencia Sylvester Stallone ao dissecar A Taberna do Inferno (1978).

Em Amargo Pesadelo (1972), detalha como uma cena de estupro o impacta até os dias atuais. Sobre Irmãs Diabólicas (1973), explica como Brian de Palma tentou emular Alfred Hitchcock. E conta que sua admiração por A Quadrilha (1973) foi tamanha que cogitou fazer uma adaptação nos anos 1990 com Robert De Niro, a qual se arrepende de não ter feito.

Quentin também tece vários elogios ao thriller policial Perseguidor Implacável (1971), que popularizou Clint Eastwood, mas foi criticado por apresentar, supostamente, uma ideologia fascista. “Cinquenta anos depois, o filme de Siegel [o diretor Don Siegel] permanece sendo uma tremenda façanha do cinema de gênero. As plateias que se divertiram assistindo ao longa nas últimas cinco décadas não se tornaram reacionárias. Nem precisaram adotar uma ‘postura moral fascista’ para gostar dele.”, assegura o autor.

As críticas de Tarantino, inspiradas por Pauline Kael, Roger Ebert e Kevin Thomas (há um capítulo exclusivamente dedicado a Thomas), não têm medo de ir contra o senso comum ou enaltecer algo que outros considerariam ruim. A fluência do texto não é diferente dos brilhantes roteiros que ele costuma escrever: transborda energia, ousadia e bom humor.

O conteúdo enciclopédico é um bálsamo para os fãs da história do cinema, contendo inúmeras informações de bastidores sobre uma indústria que passou por diversas transformações. E mesmo que o leitor não esteja muito familiarizado com os títulos abordados, é extremamente fácil ser contagiado pelas paixões do diretor, o que torna Especulações Cinematográficas uma experiência fundamental.

Capa de 'Especulações Cinematográficas', de Quentin Tarantino Foto: Editora Intrínseca

Despedida das telonas?

Ao que tudo indica, o novo livro é um prenúncio para o próximo filme de Tarantino – e provavelmente o último: The Movie Critic (O Crítico de Cinema, em tradução livre), sem previsão de lançamento.

Recentemente, o veterano roteirista Paul Schrader, um dos nomes mais citados em Especulações Cinematográficas – seja para elogios (em Taxi Driver) ou para críticas (em Hardcore) –, revelou que recebeu uma ligação de Quentin, onde este afirmou estar refazendo cenas de alguns filmes dos anos 1970. Um deles seria A Outra Face da Violência (1977), escrito por Schrader e que também é destrinchado no livro.

Tarantino já anunciou que pretende se aposentar em breve e que a película derradeira seria uma espécie de epílogo à sua icônica filmografia, cristalizada em clássicos como Cães de Aluguel (1992) e Bastardos Inglórios (2008).

Serviço

Especulações Cinematográficas

  • Editora: Intrínseca
  • Autor: Quentin Tarantino
  • Tradução: André Czarnobai
  • 400 páginas; R$ 89,90. Ebook: R$ 56,61

Se você sempre quis entender as inspirações de Quentin Tarantino, Especulações Cinematográficas vai certamente ajudar. Calcado numa série de ensaios do diretor americano sobre filmes dos anos 1970 que moldaram sua personalidade, o livro chega ao Brasil em 11 de dezembro, pela editora Intrínseca, após o sucesso da versão literária de Era Uma Vez... Em Hollywood (2019) – longa mais recente do cineasta.

A seleção de filmes escolhidos pelo criador de Pulp Fiction (1994) pode parecer aleatória à primeira vista. Com a exceção de Taxi Driver (1976) – considerado por ele um “remake temático” do faroeste Rastros de Ódio (1956) –, não há longas que possam ser considerados obras-primas. No entanto, a eclética coleção de críticas pinta um quadro tão único do cinema setentista que jamais poderia ser recriado por alguém que não tivesse passado horas e horas habitando as imensas salas escuras durante aquela década de contracultura e turbulência.

É nesse sentido, portanto, que Tarantino explora o primeiro capítulo do livro, que poderia facilmente ser o pontapé de uma autobiografia. Mesmo antes de completar dez anos, o pequeno Quentin já era um cinéfilo inveterado, pois acompanhava a mãe em sessões que a maioria das crianças não costumava frequentar, assistindo precocemente a M.A.S.H (1970) e O Poderoso Chefão (1972), por exemplo.

Cineasta Quentin Tarantino chega para a premiere de 'Era Uma Vez... Em Hollywood', em Berlim, Alemanha, em 2019 Foto: Fabrizio Bensch/Reuters

“A certa altura, quando percebi que estava vendo filmes que os outros pais não deixavam os filhos assistirem, questionei minha mãe sobre isso. Ela disse: ‘Quentin, eu me preocupo mais com você vendo ao noticiário. Um filme não vai te fazer mal algum’” – escreve o diretor, que parece ter seguido à risca ao conselho da mãe no que diz respeito a jamais (em toda a sua carreira) ter cedido às controvérsias em torno do uso excessivo de violência, uma das principais características de sua linguagem cinematográfica.

“O pior tipo de censura é a autocensura”,

afirma Quentin Tarantino

Não por acaso, a maioria dos filmes debatidos no livro é recheada de brutalidade. Ao analisar Bullit (1968) e Os Implacáveis (1972), Tarantino externa sua admiração por Steve McQueen, revelando conversas que teve com Neile Adams, a primeira esposa do ator. Ele também reverencia Sylvester Stallone ao dissecar A Taberna do Inferno (1978).

Em Amargo Pesadelo (1972), detalha como uma cena de estupro o impacta até os dias atuais. Sobre Irmãs Diabólicas (1973), explica como Brian de Palma tentou emular Alfred Hitchcock. E conta que sua admiração por A Quadrilha (1973) foi tamanha que cogitou fazer uma adaptação nos anos 1990 com Robert De Niro, a qual se arrepende de não ter feito.

Quentin também tece vários elogios ao thriller policial Perseguidor Implacável (1971), que popularizou Clint Eastwood, mas foi criticado por apresentar, supostamente, uma ideologia fascista. “Cinquenta anos depois, o filme de Siegel [o diretor Don Siegel] permanece sendo uma tremenda façanha do cinema de gênero. As plateias que se divertiram assistindo ao longa nas últimas cinco décadas não se tornaram reacionárias. Nem precisaram adotar uma ‘postura moral fascista’ para gostar dele.”, assegura o autor.

As críticas de Tarantino, inspiradas por Pauline Kael, Roger Ebert e Kevin Thomas (há um capítulo exclusivamente dedicado a Thomas), não têm medo de ir contra o senso comum ou enaltecer algo que outros considerariam ruim. A fluência do texto não é diferente dos brilhantes roteiros que ele costuma escrever: transborda energia, ousadia e bom humor.

O conteúdo enciclopédico é um bálsamo para os fãs da história do cinema, contendo inúmeras informações de bastidores sobre uma indústria que passou por diversas transformações. E mesmo que o leitor não esteja muito familiarizado com os títulos abordados, é extremamente fácil ser contagiado pelas paixões do diretor, o que torna Especulações Cinematográficas uma experiência fundamental.

Capa de 'Especulações Cinematográficas', de Quentin Tarantino Foto: Editora Intrínseca

Despedida das telonas?

Ao que tudo indica, o novo livro é um prenúncio para o próximo filme de Tarantino – e provavelmente o último: The Movie Critic (O Crítico de Cinema, em tradução livre), sem previsão de lançamento.

Recentemente, o veterano roteirista Paul Schrader, um dos nomes mais citados em Especulações Cinematográficas – seja para elogios (em Taxi Driver) ou para críticas (em Hardcore) –, revelou que recebeu uma ligação de Quentin, onde este afirmou estar refazendo cenas de alguns filmes dos anos 1970. Um deles seria A Outra Face da Violência (1977), escrito por Schrader e que também é destrinchado no livro.

Tarantino já anunciou que pretende se aposentar em breve e que a película derradeira seria uma espécie de epílogo à sua icônica filmografia, cristalizada em clássicos como Cães de Aluguel (1992) e Bastardos Inglórios (2008).

Serviço

Especulações Cinematográficas

  • Editora: Intrínseca
  • Autor: Quentin Tarantino
  • Tradução: André Czarnobai
  • 400 páginas; R$ 89,90. Ebook: R$ 56,61

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