Como você lê um livro? Como a maioria das pessoas, ainda decifro o significado das palavras impressas em folhas de papel encadernadas, mas você pode preferir olhar para pixels em uma tela ou ouvir um narrador favorito por fones de ouvido. Para mim, todas essas são formas de leitura.
Cada um de nós, penso eu, busca o que o crítico Roland Barthes chamou de “o prazer do texto”, embora encontrar deleite no que lemos não signifique necessariamente uma dieta constante de romances de amor e thrillers. Obras acadêmicas, ficção ‘séria’, poesia, o estilo de prosa distintivo de algum escritor - todos esses oferecem seus próprios tipos de prazer textual.
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Como alguém que teve sorte o suficiente para ganhar a vida no mundo raro das resenhas de livros, gradualmente desenvolvi hábitos relacionados à leitura como parte do meu trabalho. Alguns deles - listados abaixo - podem até ser parecidos com os seus. Pelo menos, espero que algumas das minhas rotinas e práticas habituais sejam úteis na sua própria vida de leitura.
Seja seletivo, mas não demais
Passo muito tempo, frequentemente demais, hesitando sobre o que ler a seguir. Um livro tem que se adequar ao meu humor ou até à estação do ano. Histórias de terror são para o inverno, romances humorísticos para a primavera. Além disso, gosto de variar, o antigo com o novo, uma biografia literária esta semana, um clássico da ficção científica na próxima.
Posso ajustar minhas expectativas para mais ou para menos - você não lê Doutor Fausto, de Thomas Mann, da mesma forma que lê Dr. No, de Ian Fleming - mas o livro deve ser, em algum nível, empolgante. Tento evitar perder tempo com qualquer coisa que me deixe indiferente. Como Jesus memoravelmente disse aos Laodicenses: “Porque és morno, e não és quente nem frio, vomitar-te-ei da minha boca.”
Edições importam
Na minha juventude, eu conseguia ler livros de bolso impressos em letras minúsculas em páginas quase transparentes. Não mais. Hoje em dia, opto por capa dura sempre que possível, mesmo se for apenas porque elas geralmente são mais fáceis para olhos envelhecidos. Para clássicos, quero uma boa edição acadêmica; para obras traduzidas, tento adquirir a melhor versão em inglês. Isso simplesmente faz sentido. Como revisor, trabalho frequentemente com uma versão preliminar ou uma cópia antecipada de leitura de um título prestes a ser lançado, mas esses são só ferramentas do ofício. Geralmente, não os guardo. Quero o livro pronto.
Verifique os detalhes
Antes de começar o primeiro capítulo, dou uma olhada na capa do livro, confiro a biografia e a foto do autor na sobrecapa, e leio os endossos na última página. Ao contrário de muitas pessoas, presto atenção redobrada às datas de direitos autorais, introduções, dedicatórias, agradecimentos e bibliografias. Tudo isso fornece dicas sobre o tipo de livro com que se está lidando.
Quando ler
Meu sistema é simples: leio da manhã até a hora de dormir, com pausas para meu trabalho, família, encontros com amigos, exercícios, tarefas domésticas e revisões periódicas dos maiores erros da minha vida. Nos dias em que não leio, escrevo. Como digo, é um sistema simples. Muitas pessoas reclamam que não têm tempo para livros, mas de alguma forma conseguem passar três ou mais horas por dia assistindo televisão ou navegando pelas redes sociais em seus telefones. Você paga e faz sua escolha.
Onde ler
Mesmo sabendo que não é o ideal, ainda leio mais frequentemente enquanto estou esparramado em uma poltrona fofa ou em um sofá velho. Você provavelmente faz algo semelhante. Não só ergonomicamente ruim, essas opções confortáveis convidam à soneca. Realisticamente, o melhor lugar para ler é numa mesa ou escrivaninha com muita luz boa. Outros bons locais incluem uma biblioteca pública, uma mesa ao ar livre em uma cafeteria longe da música de fundo e outros clientes, e o vagão silencioso no trem para Nova York. Na verdade, porém, não espere encontrar um lugar ideal para ler. Confie em mim: Você nunca vai. Em vez disso, como diz o slogan da Nike, “JUst Do It” (neste caso, “Apenas Faça”).
Não leia num vácuo
Ler qualquer livro bem geralmente requer conhecimento do seu autor, contexto, história. Então, me cerco, quando possível ou apropriado, de textos de apoio para me ajudar a melhor apreciar a arte ou argumentos do escritor. Estes podem ser biografias, volumes de crítica, títulos concorrentes sobre o mesmo assunto ou, o mais básico, outros livros do mesmo autor.
Por exemplo, se estou lendo Cinco Crianças e um Segredo, de E. Nesbit, quero ter as sequências, A Fênix e o Tapete e A História do Amuleto, por perto para possível comparação. Esta é uma justificativa para construir uma biblioteca pessoal. Também mantenho por perto um caderno, lupa e um dicionário. Outros livros de referência estão na estante perto de onde digito estas palavras.
Atenção deve ser paga
Conforme leio, faço tudo o que posso para viver de acordo com o ditado de Henry James: “Seja alguém em quem nada se perde.” Essa vigilância significa que raramente me perco na história, o que é o acordo com o diabo que fiz ao me tornar um revisor profissional. Dessa forma, acompanho as pistas em livros de mistério e os eventos ou objetos simbólicos em ficção literária. Anoto peculiaridades de estilo, repetições, possíveis prenúncios e anomalias que possam ser significativas. Frequentemente volto para páginas anteriores para verificar detalhes. De todas as formas, então, tento fazer minha primeira leitura tão intensa e completa quanto possível, sabendo que talvez não passe por este caminho novamente.
Esteja preparado para tomar notas
Não consigo abrir um livro sem ter um lápis na mão ou acomodado de forma conveniente naquele espaço entre minha orelha direita e o crânio. Por muito tempo, minha escolha foi um lápis nº 2 Ticonderoga, mas agora tende a ser uma lapiseira descartável da Paper Mate. Levei a sério as lições do ensaio de Mortimer J. Adler, Como Marcar um Livro.
Coloco duas ou três linhas verticais ao lado de passagens-chave, rabisco notas para mim mesmo nas margens, às vezes faço comentários mais longos nas páginas finais em branco. Nunca sublinho palavras ou frases - isso parece muito com marcações de um calouro, além de ficar feio. Todas estas práticas servem a um propósito: manter-me ativamente envolvido mentalmente com as palavras na página. Pelo mesmo motivo, desprezo marcadores de página: se você não consegue lembrar onde parou de ler, não estava prestando atenção suficiente.
Faça algum barulho
Não passo os olhos ou leio rapidamente, embora inveje pessoas, como o falecido Harold Bloom, que conseguem passar por um romance em 20 minutos. Quando tento acelerar meu próprio ritmo de leitura, acabo me repreendendo constantemente para não diminuir o ritmo. Onde está a graça nisso? Woody Allen disse uma vez que fez um curso de leitura dinâmica e terminou Guerra e Paz em meia hora; ele entendeu que era sobre a Rússia.
Como um leitor excepcionalmente lento, murmuro mentalmente cada palavra na página, o que me permite saborear o estilo do autor e lembrar o que ele ou ela disse. Às vezes, também pauso para copiar uma passagem marcante no meu livro de anotações. Aqui está um exemplo relativamente recente do poeta John Ashbery: “Estou ciente das associações pejorativas da palavra ‘escapista’, mas insisto que precisamos de todo o escapismo que pudermos obter e mesmo isso não será suficiente.”
Encontre uma estante
Após terminar um livro, tendo a guardá-lo. Embora não leia com frequência os mesmos livros novamente, gosto de refrescar meu conhecimento dos antigos favoritos, mesmo que apenas abrindo um deles ocasionalmente para desfrutar de uma página ou passagem. Quando olho para as estantes da minha sala de estar, enquanto saboreio café sonolentamente pela manhã, não vejo apenas meu passado diante de mim, mas também meu futuro.
Um dia lerei Melbourne, de David Cecil, uma biografia do primeiro-ministro vitoriano que dizem ter sido o livro favorito de John F. Kennedy. Um dia, vou chegar a - abaixa a cabeça, envergonhado - A Casa do Professor, de Willa Cather. Outras estantes me lembram dos livros que quero reler: Noites no Circo, de Angela Carter, The Locusts Have No King, de Dawn Powell, Homem Invisível, de Ralph Ellison, A Fan’s Notes, de Frederick Exley.
Há muito tempo, um dos meus professores no ensino médio me disse que não se sentia bem a menos que passasse pelo menos três horas por dia lendo. Isso me pareceu incrível na época. Não mais.
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