The Washington Post - Se você gosta de livros, provavelmente conheceu alguns dos lugares mais importantes para os escritores mais famosos dos Estados Unidos durante suas viagens. Da casa de Ernest Hemingway em Key West à mansão de Edith Wharton em Berkshires, vagar por essas casas e imaginar o que as paredes viram faz parte do fascínio do turismo literário.
É por isso que desviamos por uma estrada dos Apalaches para ver onde Pearl S. Buck nasceu, que nadamos em Walden Pond ou que nos sentamos nos degraus da morada de Langston Hughes no Harlem. Algumas dessas casas agora são museus, mas raramente os viajantes podem ficar sozinhos onde os escritores trabalharam ou contemplar as paisagens que os inspiraram.
Em todo o país, algumas antigas casas de escritores estão abrindo as portas para visitantes particulares – algumas até permitindo que os fãs passem a noite. Confira onde você pode fazer o check-in e, talvez pela manhã, se sentir um pouco mais perto dos gênios literários.
Casa pós-Paris de Zelda e F. Scott Fitzgerald em Montgomery, Alabama
Esta casa parece tão parte da paisagem suburbana do sul do bairro de Old Cloverdale em Montgomery que seria fácil passar sem perceber a placa que diz que o casal literário residiu aqui de 1931 a 1932.
Foi aqui, na cidade onde se conheceram e se casaram, que os Fitzgerald se refugiaram depois de seus anos em Paris e na Riviera Francesa. Embora os Fitzgerald tenham chamado esta casa de lar apenas por um breve período, foi onde Scott escreveu seu romance Suave é a noite e onde Zelda trabalhou em Esta valsa é minha.
Salva da demolição no final dos anos 1980, a casa se tornou o Museu Scott e Zelda Fitzgerald. Hoje, o museu aluga quartos no Airbnb. Por tarifas a partir de US$ 95, os hóspedes podem passar uma noite na suíte F. Scott ou na suíte Zelda – que já foram seus cômodos privados (como muitos casais da época, os Fitzgerald tinham quartos separados).
Um pernoite aqui significa que os hóspedes podem tomar café da manhã no gramado, onde os vizinhos viam um Fitzgerald bastante embriagado batendo à sua máquina de escrever vestindo só um roupão de banho.
Cabana de Hunter S. Thompson em Woody Creek, Colorado
Décadas depois da morte de Hunter S. Thompson, os fãs do autor ainda fazem a peregrinação à Owl Farm, a cerca de meia hora de Aspen, mesmo que seja só para dar uma olhada na propriedade privada de 16 hectares.
Em 2018, querendo compartilhar algo do legado de Hunter e seu mundo, Anita Thompson, sua esposa, abriu a cabana de Hunter para hóspedes que estivessem dispostos a preencher um longo formulário e passar por uma leve verificação de antecedentes. Thompson logo percebeu que o número de fãs que queriam dormir onde seu marido escrevera algumas de suas obras era esmagador.
“Adoro ouvir como Hunter mudou a vida deles”, diz ela. “Na verdade, a ideia é essa mesmo. Quando você consegue ouvir como seu ente querido que é autor ou artista mudou a vida das pessoas, é isso que mantém a motivação”.
Hoje, os hóspedes podem se inscrever para a estadia se forem recomendados por alguém que já se hospedou, mas precisam ter paciência: a lista de espera é para mais de um ano. Thompson está convertendo a casa principal de Owl Farm, onde o marido escreveu boa parte de sua obra, em uma residência para escritores e músicos. De vez em quando, Thompson convida hóspedes para escrever à máquina de Hunter.
Quarto de Emily Dickinson em Amherst, Massachusetts
A poeta Emily Dickinson vestida de branco e autoexilada na casa da família em Amherst, Massachusetts, escrevendo quase todos os seus 1.800 poemas em seu quarto no andar de cima. Desde 2017, os admiradores de Dickinson podem se aproximar um pouco mais da poeta, graças ao Studio Sessions do Museu Emily Dickinson, que permite aos visitantes passar uma hora solitária em seu quarto, a partir de US$ 300.
“Emily Dickinson significou algo muito, muito pessoal para essas pessoas. Elas mergulham totalmente nessa conexão”, disse Jane Wald, diretora executiva do museu, sobre os visitantes.
Wald diz que as pessoas usam o tempo para trabalhar em seus próprios projetos ou simplesmente refletir. Você pode olhar pela janela e imaginar o que ela viu, ouvir o canto dos pássaros ou o apito do trem. Embora não tenha confirmado nenhum encontro com fantasmas, Wald diz: “As pessoas são profundamente afetadas pelo tempo no espaço”.
Propriedade de Vermont de Rudyard Kipling em Dummerston, Vermont
Rudyard Kipling, autor de O Livro da Selva, nasceu na Índia, mas morou por um tempo na zona rural de Vermont. Naulakha, que Kipling batizou em homenagem ao Pavilhão Naulakha em Lahore, Paquistão, agora é um marco histórico nacional e opera como aluguel de temporada pelo Landmark Trust USA.
Construída para Kipling e sua esposa em 1892, a casa ficou abandonada, mas totalmente mobiliada, com muitos dos pertences dos Kipling, por cinquenta anos. Quando o fundo adquiriu a casa na década de 1990, ela estava quase em ruínas, com vazamento no telhado e moradores guaxinins em tempo integral. A restauração de Naulakha foi meticulosa e hoje muitos dos móveis originais dos Kipling continuam lá, inclusive a escrivaninha onde ele escreveu O Livro da Selva, Captains Courageous e Just So Stories.
“Geralmente, as pessoas que ficam na casa também se interessam pela história”, disse Susan McMahon, diretora executiva do Landmark Trust. Naulakha foi construída no estilo de um navio, cujo resultado se assemelha a algo entre uma casa flutuante da Caxemira e um barco do rio Mississippi. Embora hoje a propriedade seja menor do que quando Kipling morava nela, uma estadia significa quase 12 hectares só para você, um túnel de rododendros e vistas deslumbrantes das montanhas verdes de Vermont. A casa acomoda até oito pessoas e é alugada por cerca de US$ 600 por noite.
W.E.B. Du Bois, Mark Twain e Sherwood Anderson no Hotel Chelsea em Nova York
Este marco icônico de Manhattan é sinônimo da boêmia cidade de Nova York. Por mais de cem anos, o Chelsea funcionou como um hotel residencial e foi o lar de escritores como W.E.B. Du Bois, Mark Twain e Sherwood Anderson. Hoje o Hotel Chelsea é um luxo mais sofisticado do que uma residência no centro, mas o hotel mantém ecos de seu antigo eu.
Inaugurado em 1884, o edifício gótico vitoriano passou por uma reforma total e reabriu sem estardalhaço em 2022. Muita coisa mudou, mas o hotel moderno é uma ode à nostalgia. Pernoitar aqui significa dormir no espaço que abrigou alguns dos maiores talentos literários da história recente. Peça ao concierge um guia de onde esses escritores e outros dormiram: Arthur Miller, Tennessee Williams, Dylan Thomas e Simone de Beauvoir.
Casa de infância de Willa Cather em Red Cloud, Nebraska
Décadas antes de a autora de My Antonia se estabelecer na cidade de Nova York com sua companheira de longa data, Edith Lewis, ela passou uma juventude formativa na pequena cidade de Red Cloud, Nebraska. Foi sua infância em Red Cloud e o tempo passado nas pradarias do estado que viriam a definir sua escrita.
Ela descreve a casa no romance The Song of the Lark e nos contos The Best Years e Old Mrs. Harris. Agora, após uma reforma de quase um ano, a casa de infância de Cather foi reaberta ao público, repleta de itens da família. Os fãs da escrita de Cather podem reservar a casa de 140 anos e seis quartos no Airbnb por cerca de US$ 140 por noite.
/ TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU