Não é exagero dizer que 2018 foi o pior ano da história do mercado editorial brasileiro. Se livrarias e editoras passaram o ano na corda bamba, se equilibrando sem saber se chegariam em dezembro no azul, o tombo foi geral a partir de outubro, quando a Livraria Cultura entrou com pedido de recuperação judicial. Um mês depois, nova rasteira nas editoras: a Saraiva, maior rede livrarias do País, também pediu pediu socorro. Juntas, elas devem, apenas para as editoras, R$ 325 milhões. O que acontece no curto e médio prazo é incerto. O esforço, de todos os lados, é para que as empresas não quebrem. Para algumas editoras, elas representam cerca de 40% de seu faturamento. E o momento é de repensar o modelo de negócio.
O livro mais vendido no Brasil em 2018 foi 'A Sutil Arte de Ligar o F*oda-se', de Mark Mason. O livro nacional best-seller foi 'As Aventuras na Netoland com Luccas Neto', de Luccas Neto. 2018 foi marcado, também, por uma nova tentativa de fazer vingar o audiolivro. A aposta, agora, é no smartphone sempre na mão das pessoas, no longo tempo gasto em trânsito e no mercado desbravado pelos serviços de streaming. A autopublicação também segue crescendo, enquanto editoras tradicionais, pensando em apostas mais certeiras, reorganizam suas planilhas de lançamento para 2019 tendo em vista o calote sofrido em 2018 e a incerteza do que vem pela frente.
Se no mercado editorial todas as discussões envolveram o termo “crise“, as editoras seguiram colocando nas prateleiras (físicas e virtuais) obras interessantes, da literatura à reportagem, dos quadrinhos aos estudos literários. Os jornalista de livros do Estado selecionaram seus lançamentos preferidos do ano: você pode conferir a lista no site estadao.com.br/e/livros2018.
Nos prêmios, escritoras experientes e novatas foram as protagonistas. Marília Garcia levou o Oceanos com Câmera Lenta, uma investigação do processo poético, em versos, e ficou a frente de nomes consagrados como Milton Hatoum (que por sua vez venceu o prêmio literário francês Roger Caillois) e Sérgio Sant’Anna. Nélida Piñon foi reconhecida com o prêmio Vergílio Ferreira 2019, entregue pela Universidade de Évora. Ana Paula Maia, Cristina Judar e Aline Bei venceram as três categorias do Prêmio São Paulo de Literatura 2018.
Na Biblioteca Nacional, Evandro Affonso Ferreira ganhou o Prêmio Machado de Assis com o romance Nunca houve tanto fim como agora (Record). Gustavo Pacheco, o Prêmio Clarice Lispector, de contos, comAlguns Humanos (Tinta-da-China). Lúcia Hiratsuka ganhou o Prêmio Sylvia Orthof com o livro Chão de Peixes.
O Livro do Ano do Prêmio Jabuti 2018 foi um livro de poesia publicado de maneira independente no interior do Ceará, à cidade, de Mailson Furtado Viana. O Jabuti, aliás, foi marcado por uma reformulação – e depois por uma confusão que resultou no pedido de afastamento do curador, Luiz Armando Bagolin.
Silviano Santiago e Adelaide Ivánova venceram o Prêmio Rio de Literatura 2018. O cabo-verdiano Germando Almeida levou o Camões.
Marcelo D’Salete foi o vencedor a categoria internacional do Prêmio Eisner, o Oscar dos quadrinhos.
Perdemos nomes importantes do meio literário. Philip Roth, um dos maiores escritores do século 20, Carlos Heitor Cony, nome fundamental da literatura brasileira dos últimos 60 anos, e Stan Lee, mestre dos quadrinhos, pararam de respirar em 2018. Intelectual fundador da editora Perspectiva, até hoje referência em obras ensaísticas, Jacó Guinsburg morreu aos 97 anos. Com 58 livros espíritas que venderam, no total, 18 milhões de exemplares, Zíbia Gasparetto morreu em outubro, aos 92 anos. Cedo demais, morreu Victor Heringer, aos 29 anos. A tradutora Lia Wyler, que verteu os 7 títulos da saga Harry Potter para o português, morreu aos 84. Hélio Jaguaribe, V.S. Naipaul, Zulmira Ribeiro Tavares, Assionara Souza, Tom Wolfe, Edla Van Steen, Ursula K. Le Guin, Aharon Appelfeld foram alguns dos outros nomes da literatura que partiram esse ano.
Depois de um escândalo sexual de proporções globais, a Academia Sueca impulsionou várias reformas e o Nobel de Literatura deste ano, pela primeira vez em sete décadas, não foi entregue, medida justificada pela falta de confiança e o enfraquecimento da instituição. O francês Jean-Claude Arnault, de 72 anos, pivô do episódio, cumpre prisão preventiva desde o final de setembro.
A 25.ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo recebeu menos público do que o esperado: 663 mil pessoas visitaram o evento em agosto. A 16.ª edição da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) terminou com a cara mais diversa da Festa nos últimos anos, com uma bem sucedida parceria com as casas colaborativas de editoras, veículos de comunicação e entidades. Falando em Flip, a editora Fernanda Diamant foi anunciada como a nova curadora, do evento que homenageará Euclides da Cunha em 2019.
No ano do centenário de nascimento de Antonio Candido, as primeiras amostras do seu acervo foram exibidas na Ocupação Itaú Cultural, em maio.
Num ano também complicado para as revistas – a editora Abril demitiu milhares de funcionários e logo em seguida entrou em recuperação judicial – a serrote, do Instituto Moreira Salles, completou 10 anos.
Na política, o primeiro marco legal da história do Brasil voltado para a formação de leitores, a Política Nacional de Leitura e Escrita (PNLE), conhecida como Lei Castilho, foi sancionada. Uma editora que vende seus livros num carrinho como os de sorvete, as bibliocicletas que levam histórias para moradores da periferia e a geladeira-biblioteca idealizada por alunos do 6.º ano de uma escola de SP foram algumas iniciativas criativas de formação de leitores.
Em outubro, o livro Meninos Sem Pátria, lançado em 1981 dentro da mítica Coleção Vaga-Lume e que tem a ditadura militar como pano de fundo, foi retirado da lista de leitura do Colégio Santo Agostinho, no Rio, após reclamação dos pais.