Romantasia: Entenda fenômeno que faz jovens lerem 600 páginas em dias e dominou as vendas da Bienal


O gênero que mistura romance e fantasia se consolidou no mercado editorial e foi o mais procurado nos estandes da feira de livros paulistana; editoras, leitoras e autoras explicam o sucesso

Por Julia Queiroz

“Compra esse para mim?”, brincava a estudante Raquel Prado, de 14 anos, à amiga Mirella Pradela, de 13, quando cruzou com a reportagem do Estadão em uma noite de quinta-feira na Bienal do Livro de São Paulo 2024. Ela segurava um exemplar de Powerless, livro da americana Lauren Roberts que foi o mais vendido do estande da editora Rocco no evento.

Até aquele momento, Raquel já tinha comprado 15 livros, oito deles do gênero romantasia. Mirella dizia estar carregando cerca de 23 exemplares, 17 deles romantasias. As amigas, que vieram de Extrema (MG) para a feira de livros que ocorreu entre 6 e 15 de setembro no Distrito Anhembi, são o retrato de muitas adolescentes que lotaram o pavilhão em busca das histórias que misturam fantasia e romance.

A romantasia é, basicamente, uma trama com elementos fantásticos na qual o foco principal está na história de amor entre os personagens, e não nas batalhas épicas que antes marcavam o gênero. Em 2023, o Estadão já havia mostrado como essa tendência chegava com força ao mercado editorial. Agora, na Bienal do Livro, ela apareceu com domínio absoluto e foi o carro-chefe de muitas editoras no evento.

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As romantasias de Rebecca Yarros foram campeãs de venda no estande da editora Planeta. Foto: Julia Queiroz/Estadão

“Nós que trabalhamos com aquisição apostamos nisso há uns dois, três anos, quando esses livros foram adquiridos. Agora, ver que está dando tão certo e que o mercado abraçou tanto é fenomenal”, diz Rafaella Machado, editora executiva da Galera, selo da Record que publica livros para o público jovem.

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Há até pouco anos, a grande exponente da romantasia era a americana Sarah J. Maas (12 milhões de livros vendidos no mundo até 2022), autora das séries Corte de Espinhos e Rosas, Trono de Vidro e Cidade da Lua Crescente, publicadas pela Galera. Segundo Rafaella, o que vemos agora são muitas outras autoras conquistando espaço. Ela cita a brasileira Giu Domingues (da série Luzes do Norte) e a americana Jennifer L. Armentrout (da série Sangue e Cinzas) - desta, foram 400 mil exemplares vendidos no Brasil em cerca de 1 ano e meio.

“São livros de 600 páginas, não são livros pequenos. E as pessoas leem muito rápido, elas consomem com muita voracidade. Tanto dentro da editora Record, como em todas as outras casas editoriais, todo mundo tem uma romantasia própria, todo mundo está apostando”, diz Rafaella. Bastou circular pelos estandes da Bienal e analisar as listas de mais vendidos para comprovar este fenômeno. Veja alguns títulos e sua posição no ranking:

  • Powerless, Lauren Roberts - 1º mais vendido da Rocco
  • O Abismo De Celina, Ariani Castelo - 4º mais vendido da Rocco
  • Era uma vez um coração partido, Stephanie Garber - 1º mais vendido da Autêntica
  • A balada do felizes para nunca, Stephanie Garber - 2º mais vendido da Autêntica
  • Finale, Stephanie Garber - 4º mais vendido da Autêntica
  • Sonho e Pesadelo, Marina Dutra - 1º mais vendido da Buzz
  • O despertar da lua caída, Sarah A. Parker - 3º mais vendido da HarperCollins Brasil
  • Assistente do Vilão, Hannah Nicole Maehrer - 1º mais vendido da Alt/Globo Livros
  • Quarta asa, de Rebecca Yarros - 1º mais vendido da Planeta
  • Chama de ferro, de Rebecca Yarros - 2º mais vendido da Planeta
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O que explica o fenômeno?

De acordo com as editoras consultadas, o público da romantasia é majoritariamente jovem e feminino, o que também ajuda a explicar o sucesso do gênero na Bienal - 43,3% dos visitantes estava na faixa de 18 a 24 anos e 69,8% eram mulheres, segundo dados divulgados pela Secretaria Municipal de Turismo (SMTur), através do Observatório do Turismo e Eventos da SPTuris.

Flavia Lago, editora da Autêntica, acredita que “a romantasia é um gênero que reflete a essência do jovem de hoje”. “Em um mundo com tantas complexidades, seja no âmbito macro (social, político) e também no micro (amadurecimento, escolhas), o gênero da fantasia se torna um porto seguro, onde a leitura proporciona essa travessia”, afirma.

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“O acréscimo do romance e da diversidade dos personagens e dos relacionamentos é mais um acerto dessa tendência, pois os leitores experimentam com a intensidade da juventude as sagas e reviravoltas que só os livros de romantasia proporcionam”, completa.

Eu considero uma romantasia uma história em que a fantasia se sustenta sem o romance e o romance sustenta a história sem a fantasia.

Rafaella Machado, editora executiva da Galera Record

Rafaella Machado diz que os livros combinam dois gêneros que sempre foram sucesso comercial: o romance contemporâneo e a fantasia. “Leitoras de romance que não tinham intimidade com fantasias épicas, enormes, com criação de universos complexos, com árvores genealógicas super longas, entraram por conta do romance. E as leitoras que já amavam fantasia (...) entraram nesse novo gênero com o coração aberto para conhecer o outro lado dessas histórias”, diz.

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E as redes sociais certamente ajudaram nesta explosão. Raquel, a jovem de 14 anos citada no início da reportagem, conta que começou a ler em 2022, quando foi impactada por vídeos do BookTok, o nicho literário do TikTok. “Sempre gostei de distopias e fantasias. Quando coloca um pouco de romance no meio, eu fico louca. Leio em uma madrugada. Não sei explicar, mas parece que é um universo que te prende”, conta ela.

Mirella Pradela, de 13 anos (esq.), e Raquel Prado, de 14 anos (dir.) são fãs das romantasias. Foto: Julia Queiroz/Estadão

Mirella, que estava com Raquel, diz que seu livro favorito é Caraval, de Stephanie Garber, a autora mais vendida do estande da Autêntica. Para Flavia Lago, os livros da americana têm, “na medida certa, todos os elementos de uma boa romantasia”. “É uma ótima opção para quem ainda não lê fantasia e quer se aventurar nesse gênero, por exemplo. O sistema de magia e o universo das histórias são mais acessíveis para os leitores e o romance agrada a todos”, explica.

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A escritora Ariani Castelo, de 25 anos, veio de São Gonçalo (RJ) para divulgar seu livro O Abismo De Celina, que terminou a Bienal como o quarto mais vendido da Rocco. “A maior parte dos comentários que eu escuto é: ‘eu vim do TikTok’. Isso já diz muita coisa”, conta ela. “Ser uma das mais vendidas significa que eu estou conseguindo me conectar com o máximo de corações, levar essa mensagem e fazer as pessoas refletirem com os meus personagens. Mas também significa, para mim, abrir portas para outros autores nacionais.”

A escritora Ariani Castelo, de 25 anos, veio de São Gonçalo (RJ) para divulgar seu livro 'O Abismo De Celina'. Foto: Julia Queiroz/Estadão

A editora executiva da Rocco, Ana Lima, destaca que muitos dos fenômenos da romantasia começaram com histórias autopublicadas, como a própria Ariani. “Esses novos autores, além de escrever, sabem lidar muito bem com redes sociais e quando são publicados, já trazem uma audiência”, afirma.

Mulheres se destacam

Para Ana Lima, “a romantasia é a moda da vez, mas não é novidade, é um recorte dentro do gênero fantástico”. Em 2023, ela contou ao Estadão que ouviu vez o termo pela primeira vez em inglês, “romantasy”, na Feira do Livro de Bolonha e na de Londres em março e abril daquele ano, mas que já havia publicado livros deste estilo anteriormente.

A escritora brasileira FML Pepper, que cruzou com o Estadão no estande da Planeta, onde conversava com leitoras e divulgava sua série Deusas de Unyan, do selo Planeta Minotauro, também entende a romantasia como um nome para algo que já faz há mais de uma década. Antes de entrar para uma editora tradicional, ela já era um fenômeno da autopublicação.

Maria Fernanda Monteiro Gonsales, de 18 anos, que tirava fotos e recebia autógrafos de Pepper pouco antes de conversar com a reportagem, diz que descobriu o termo graças à Bienal do Livro. No sexta, 6 de setembro, ela acompanhou uma mesa com Pepper, Carol Chiovatto, Fernanda Castro e Giu Domingues que discutiu o gênero.

A escritora brasileira FML Pepper (erq.) e a estudante Maria Fernanda Monteiro Gonsales (dir.). Foto: Julia Queiroz/Estadão

“Acho que, quando vamos ficando mais velhos, existe uma coisa de: ‘ah, você só lê romance?’ [como se fosse algo menor], ainda mais que somos, normalmente, meninas. Acho que a fantasia é mais aceita. Então, essa coisa da romantasia traz elementos mais complexos. Gosto quando tem distopia também, mas junto com o romance que nós gostamos”, diz a estudante.

FML Pepper confessa ter medo de que a romantasia vire um termo pejorativo para fantasias escritas por mulheres. “Tenho a preocupação de que se rotule como algo irônico, como fizeram com o chick-lit, porque não é algo bobo. Existe um leque muito grande e muitos subgêneros”, diz. Rafaella Machado, da Record, lembra que, até pouco tempo atrás, a fantasia - ou ao menos os livros mais “respeitados” do gênero - era dominada por homens.

“Isso mudou muito nos últimos 10 anos. Ainda tem muitos ambientes fantásticos para explorar a partir de narradoras mulheres, de relações femininas. Se você olha o Tolkien [autor de O Senhor dos Anéis] com essa fantasia mais clássica, não tem nenhuma personagem feminina. Imagina todas essas raças de seres mágicos que ainda não foram exploradas por um ponto de vista feminino. Ainda tem muito pano para a manga”, afirma.

“Compra esse para mim?”, brincava a estudante Raquel Prado, de 14 anos, à amiga Mirella Pradela, de 13, quando cruzou com a reportagem do Estadão em uma noite de quinta-feira na Bienal do Livro de São Paulo 2024. Ela segurava um exemplar de Powerless, livro da americana Lauren Roberts que foi o mais vendido do estande da editora Rocco no evento.

Até aquele momento, Raquel já tinha comprado 15 livros, oito deles do gênero romantasia. Mirella dizia estar carregando cerca de 23 exemplares, 17 deles romantasias. As amigas, que vieram de Extrema (MG) para a feira de livros que ocorreu entre 6 e 15 de setembro no Distrito Anhembi, são o retrato de muitas adolescentes que lotaram o pavilhão em busca das histórias que misturam fantasia e romance.

A romantasia é, basicamente, uma trama com elementos fantásticos na qual o foco principal está na história de amor entre os personagens, e não nas batalhas épicas que antes marcavam o gênero. Em 2023, o Estadão já havia mostrado como essa tendência chegava com força ao mercado editorial. Agora, na Bienal do Livro, ela apareceu com domínio absoluto e foi o carro-chefe de muitas editoras no evento.

As romantasias de Rebecca Yarros foram campeãs de venda no estande da editora Planeta. Foto: Julia Queiroz/Estadão

“Nós que trabalhamos com aquisição apostamos nisso há uns dois, três anos, quando esses livros foram adquiridos. Agora, ver que está dando tão certo e que o mercado abraçou tanto é fenomenal”, diz Rafaella Machado, editora executiva da Galera, selo da Record que publica livros para o público jovem.

Há até pouco anos, a grande exponente da romantasia era a americana Sarah J. Maas (12 milhões de livros vendidos no mundo até 2022), autora das séries Corte de Espinhos e Rosas, Trono de Vidro e Cidade da Lua Crescente, publicadas pela Galera. Segundo Rafaella, o que vemos agora são muitas outras autoras conquistando espaço. Ela cita a brasileira Giu Domingues (da série Luzes do Norte) e a americana Jennifer L. Armentrout (da série Sangue e Cinzas) - desta, foram 400 mil exemplares vendidos no Brasil em cerca de 1 ano e meio.

“São livros de 600 páginas, não são livros pequenos. E as pessoas leem muito rápido, elas consomem com muita voracidade. Tanto dentro da editora Record, como em todas as outras casas editoriais, todo mundo tem uma romantasia própria, todo mundo está apostando”, diz Rafaella. Bastou circular pelos estandes da Bienal e analisar as listas de mais vendidos para comprovar este fenômeno. Veja alguns títulos e sua posição no ranking:

  • Powerless, Lauren Roberts - 1º mais vendido da Rocco
  • O Abismo De Celina, Ariani Castelo - 4º mais vendido da Rocco
  • Era uma vez um coração partido, Stephanie Garber - 1º mais vendido da Autêntica
  • A balada do felizes para nunca, Stephanie Garber - 2º mais vendido da Autêntica
  • Finale, Stephanie Garber - 4º mais vendido da Autêntica
  • Sonho e Pesadelo, Marina Dutra - 1º mais vendido da Buzz
  • O despertar da lua caída, Sarah A. Parker - 3º mais vendido da HarperCollins Brasil
  • Assistente do Vilão, Hannah Nicole Maehrer - 1º mais vendido da Alt/Globo Livros
  • Quarta asa, de Rebecca Yarros - 1º mais vendido da Planeta
  • Chama de ferro, de Rebecca Yarros - 2º mais vendido da Planeta

O que explica o fenômeno?

De acordo com as editoras consultadas, o público da romantasia é majoritariamente jovem e feminino, o que também ajuda a explicar o sucesso do gênero na Bienal - 43,3% dos visitantes estava na faixa de 18 a 24 anos e 69,8% eram mulheres, segundo dados divulgados pela Secretaria Municipal de Turismo (SMTur), através do Observatório do Turismo e Eventos da SPTuris.

Flavia Lago, editora da Autêntica, acredita que “a romantasia é um gênero que reflete a essência do jovem de hoje”. “Em um mundo com tantas complexidades, seja no âmbito macro (social, político) e também no micro (amadurecimento, escolhas), o gênero da fantasia se torna um porto seguro, onde a leitura proporciona essa travessia”, afirma.

“O acréscimo do romance e da diversidade dos personagens e dos relacionamentos é mais um acerto dessa tendência, pois os leitores experimentam com a intensidade da juventude as sagas e reviravoltas que só os livros de romantasia proporcionam”, completa.

Eu considero uma romantasia uma história em que a fantasia se sustenta sem o romance e o romance sustenta a história sem a fantasia.

Rafaella Machado, editora executiva da Galera Record

Rafaella Machado diz que os livros combinam dois gêneros que sempre foram sucesso comercial: o romance contemporâneo e a fantasia. “Leitoras de romance que não tinham intimidade com fantasias épicas, enormes, com criação de universos complexos, com árvores genealógicas super longas, entraram por conta do romance. E as leitoras que já amavam fantasia (...) entraram nesse novo gênero com o coração aberto para conhecer o outro lado dessas histórias”, diz.

E as redes sociais certamente ajudaram nesta explosão. Raquel, a jovem de 14 anos citada no início da reportagem, conta que começou a ler em 2022, quando foi impactada por vídeos do BookTok, o nicho literário do TikTok. “Sempre gostei de distopias e fantasias. Quando coloca um pouco de romance no meio, eu fico louca. Leio em uma madrugada. Não sei explicar, mas parece que é um universo que te prende”, conta ela.

Mirella Pradela, de 13 anos (esq.), e Raquel Prado, de 14 anos (dir.) são fãs das romantasias. Foto: Julia Queiroz/Estadão

Mirella, que estava com Raquel, diz que seu livro favorito é Caraval, de Stephanie Garber, a autora mais vendida do estande da Autêntica. Para Flavia Lago, os livros da americana têm, “na medida certa, todos os elementos de uma boa romantasia”. “É uma ótima opção para quem ainda não lê fantasia e quer se aventurar nesse gênero, por exemplo. O sistema de magia e o universo das histórias são mais acessíveis para os leitores e o romance agrada a todos”, explica.

A escritora Ariani Castelo, de 25 anos, veio de São Gonçalo (RJ) para divulgar seu livro O Abismo De Celina, que terminou a Bienal como o quarto mais vendido da Rocco. “A maior parte dos comentários que eu escuto é: ‘eu vim do TikTok’. Isso já diz muita coisa”, conta ela. “Ser uma das mais vendidas significa que eu estou conseguindo me conectar com o máximo de corações, levar essa mensagem e fazer as pessoas refletirem com os meus personagens. Mas também significa, para mim, abrir portas para outros autores nacionais.”

A escritora Ariani Castelo, de 25 anos, veio de São Gonçalo (RJ) para divulgar seu livro 'O Abismo De Celina'. Foto: Julia Queiroz/Estadão

A editora executiva da Rocco, Ana Lima, destaca que muitos dos fenômenos da romantasia começaram com histórias autopublicadas, como a própria Ariani. “Esses novos autores, além de escrever, sabem lidar muito bem com redes sociais e quando são publicados, já trazem uma audiência”, afirma.

Mulheres se destacam

Para Ana Lima, “a romantasia é a moda da vez, mas não é novidade, é um recorte dentro do gênero fantástico”. Em 2023, ela contou ao Estadão que ouviu vez o termo pela primeira vez em inglês, “romantasy”, na Feira do Livro de Bolonha e na de Londres em março e abril daquele ano, mas que já havia publicado livros deste estilo anteriormente.

A escritora brasileira FML Pepper, que cruzou com o Estadão no estande da Planeta, onde conversava com leitoras e divulgava sua série Deusas de Unyan, do selo Planeta Minotauro, também entende a romantasia como um nome para algo que já faz há mais de uma década. Antes de entrar para uma editora tradicional, ela já era um fenômeno da autopublicação.

Maria Fernanda Monteiro Gonsales, de 18 anos, que tirava fotos e recebia autógrafos de Pepper pouco antes de conversar com a reportagem, diz que descobriu o termo graças à Bienal do Livro. No sexta, 6 de setembro, ela acompanhou uma mesa com Pepper, Carol Chiovatto, Fernanda Castro e Giu Domingues que discutiu o gênero.

A escritora brasileira FML Pepper (erq.) e a estudante Maria Fernanda Monteiro Gonsales (dir.). Foto: Julia Queiroz/Estadão

“Acho que, quando vamos ficando mais velhos, existe uma coisa de: ‘ah, você só lê romance?’ [como se fosse algo menor], ainda mais que somos, normalmente, meninas. Acho que a fantasia é mais aceita. Então, essa coisa da romantasia traz elementos mais complexos. Gosto quando tem distopia também, mas junto com o romance que nós gostamos”, diz a estudante.

FML Pepper confessa ter medo de que a romantasia vire um termo pejorativo para fantasias escritas por mulheres. “Tenho a preocupação de que se rotule como algo irônico, como fizeram com o chick-lit, porque não é algo bobo. Existe um leque muito grande e muitos subgêneros”, diz. Rafaella Machado, da Record, lembra que, até pouco tempo atrás, a fantasia - ou ao menos os livros mais “respeitados” do gênero - era dominada por homens.

“Isso mudou muito nos últimos 10 anos. Ainda tem muitos ambientes fantásticos para explorar a partir de narradoras mulheres, de relações femininas. Se você olha o Tolkien [autor de O Senhor dos Anéis] com essa fantasia mais clássica, não tem nenhuma personagem feminina. Imagina todas essas raças de seres mágicos que ainda não foram exploradas por um ponto de vista feminino. Ainda tem muito pano para a manga”, afirma.

“Compra esse para mim?”, brincava a estudante Raquel Prado, de 14 anos, à amiga Mirella Pradela, de 13, quando cruzou com a reportagem do Estadão em uma noite de quinta-feira na Bienal do Livro de São Paulo 2024. Ela segurava um exemplar de Powerless, livro da americana Lauren Roberts que foi o mais vendido do estande da editora Rocco no evento.

Até aquele momento, Raquel já tinha comprado 15 livros, oito deles do gênero romantasia. Mirella dizia estar carregando cerca de 23 exemplares, 17 deles romantasias. As amigas, que vieram de Extrema (MG) para a feira de livros que ocorreu entre 6 e 15 de setembro no Distrito Anhembi, são o retrato de muitas adolescentes que lotaram o pavilhão em busca das histórias que misturam fantasia e romance.

A romantasia é, basicamente, uma trama com elementos fantásticos na qual o foco principal está na história de amor entre os personagens, e não nas batalhas épicas que antes marcavam o gênero. Em 2023, o Estadão já havia mostrado como essa tendência chegava com força ao mercado editorial. Agora, na Bienal do Livro, ela apareceu com domínio absoluto e foi o carro-chefe de muitas editoras no evento.

As romantasias de Rebecca Yarros foram campeãs de venda no estande da editora Planeta. Foto: Julia Queiroz/Estadão

“Nós que trabalhamos com aquisição apostamos nisso há uns dois, três anos, quando esses livros foram adquiridos. Agora, ver que está dando tão certo e que o mercado abraçou tanto é fenomenal”, diz Rafaella Machado, editora executiva da Galera, selo da Record que publica livros para o público jovem.

Há até pouco anos, a grande exponente da romantasia era a americana Sarah J. Maas (12 milhões de livros vendidos no mundo até 2022), autora das séries Corte de Espinhos e Rosas, Trono de Vidro e Cidade da Lua Crescente, publicadas pela Galera. Segundo Rafaella, o que vemos agora são muitas outras autoras conquistando espaço. Ela cita a brasileira Giu Domingues (da série Luzes do Norte) e a americana Jennifer L. Armentrout (da série Sangue e Cinzas) - desta, foram 400 mil exemplares vendidos no Brasil em cerca de 1 ano e meio.

“São livros de 600 páginas, não são livros pequenos. E as pessoas leem muito rápido, elas consomem com muita voracidade. Tanto dentro da editora Record, como em todas as outras casas editoriais, todo mundo tem uma romantasia própria, todo mundo está apostando”, diz Rafaella. Bastou circular pelos estandes da Bienal e analisar as listas de mais vendidos para comprovar este fenômeno. Veja alguns títulos e sua posição no ranking:

  • Powerless, Lauren Roberts - 1º mais vendido da Rocco
  • O Abismo De Celina, Ariani Castelo - 4º mais vendido da Rocco
  • Era uma vez um coração partido, Stephanie Garber - 1º mais vendido da Autêntica
  • A balada do felizes para nunca, Stephanie Garber - 2º mais vendido da Autêntica
  • Finale, Stephanie Garber - 4º mais vendido da Autêntica
  • Sonho e Pesadelo, Marina Dutra - 1º mais vendido da Buzz
  • O despertar da lua caída, Sarah A. Parker - 3º mais vendido da HarperCollins Brasil
  • Assistente do Vilão, Hannah Nicole Maehrer - 1º mais vendido da Alt/Globo Livros
  • Quarta asa, de Rebecca Yarros - 1º mais vendido da Planeta
  • Chama de ferro, de Rebecca Yarros - 2º mais vendido da Planeta

O que explica o fenômeno?

De acordo com as editoras consultadas, o público da romantasia é majoritariamente jovem e feminino, o que também ajuda a explicar o sucesso do gênero na Bienal - 43,3% dos visitantes estava na faixa de 18 a 24 anos e 69,8% eram mulheres, segundo dados divulgados pela Secretaria Municipal de Turismo (SMTur), através do Observatório do Turismo e Eventos da SPTuris.

Flavia Lago, editora da Autêntica, acredita que “a romantasia é um gênero que reflete a essência do jovem de hoje”. “Em um mundo com tantas complexidades, seja no âmbito macro (social, político) e também no micro (amadurecimento, escolhas), o gênero da fantasia se torna um porto seguro, onde a leitura proporciona essa travessia”, afirma.

“O acréscimo do romance e da diversidade dos personagens e dos relacionamentos é mais um acerto dessa tendência, pois os leitores experimentam com a intensidade da juventude as sagas e reviravoltas que só os livros de romantasia proporcionam”, completa.

Eu considero uma romantasia uma história em que a fantasia se sustenta sem o romance e o romance sustenta a história sem a fantasia.

Rafaella Machado, editora executiva da Galera Record

Rafaella Machado diz que os livros combinam dois gêneros que sempre foram sucesso comercial: o romance contemporâneo e a fantasia. “Leitoras de romance que não tinham intimidade com fantasias épicas, enormes, com criação de universos complexos, com árvores genealógicas super longas, entraram por conta do romance. E as leitoras que já amavam fantasia (...) entraram nesse novo gênero com o coração aberto para conhecer o outro lado dessas histórias”, diz.

E as redes sociais certamente ajudaram nesta explosão. Raquel, a jovem de 14 anos citada no início da reportagem, conta que começou a ler em 2022, quando foi impactada por vídeos do BookTok, o nicho literário do TikTok. “Sempre gostei de distopias e fantasias. Quando coloca um pouco de romance no meio, eu fico louca. Leio em uma madrugada. Não sei explicar, mas parece que é um universo que te prende”, conta ela.

Mirella Pradela, de 13 anos (esq.), e Raquel Prado, de 14 anos (dir.) são fãs das romantasias. Foto: Julia Queiroz/Estadão

Mirella, que estava com Raquel, diz que seu livro favorito é Caraval, de Stephanie Garber, a autora mais vendida do estande da Autêntica. Para Flavia Lago, os livros da americana têm, “na medida certa, todos os elementos de uma boa romantasia”. “É uma ótima opção para quem ainda não lê fantasia e quer se aventurar nesse gênero, por exemplo. O sistema de magia e o universo das histórias são mais acessíveis para os leitores e o romance agrada a todos”, explica.

A escritora Ariani Castelo, de 25 anos, veio de São Gonçalo (RJ) para divulgar seu livro O Abismo De Celina, que terminou a Bienal como o quarto mais vendido da Rocco. “A maior parte dos comentários que eu escuto é: ‘eu vim do TikTok’. Isso já diz muita coisa”, conta ela. “Ser uma das mais vendidas significa que eu estou conseguindo me conectar com o máximo de corações, levar essa mensagem e fazer as pessoas refletirem com os meus personagens. Mas também significa, para mim, abrir portas para outros autores nacionais.”

A escritora Ariani Castelo, de 25 anos, veio de São Gonçalo (RJ) para divulgar seu livro 'O Abismo De Celina'. Foto: Julia Queiroz/Estadão

A editora executiva da Rocco, Ana Lima, destaca que muitos dos fenômenos da romantasia começaram com histórias autopublicadas, como a própria Ariani. “Esses novos autores, além de escrever, sabem lidar muito bem com redes sociais e quando são publicados, já trazem uma audiência”, afirma.

Mulheres se destacam

Para Ana Lima, “a romantasia é a moda da vez, mas não é novidade, é um recorte dentro do gênero fantástico”. Em 2023, ela contou ao Estadão que ouviu vez o termo pela primeira vez em inglês, “romantasy”, na Feira do Livro de Bolonha e na de Londres em março e abril daquele ano, mas que já havia publicado livros deste estilo anteriormente.

A escritora brasileira FML Pepper, que cruzou com o Estadão no estande da Planeta, onde conversava com leitoras e divulgava sua série Deusas de Unyan, do selo Planeta Minotauro, também entende a romantasia como um nome para algo que já faz há mais de uma década. Antes de entrar para uma editora tradicional, ela já era um fenômeno da autopublicação.

Maria Fernanda Monteiro Gonsales, de 18 anos, que tirava fotos e recebia autógrafos de Pepper pouco antes de conversar com a reportagem, diz que descobriu o termo graças à Bienal do Livro. No sexta, 6 de setembro, ela acompanhou uma mesa com Pepper, Carol Chiovatto, Fernanda Castro e Giu Domingues que discutiu o gênero.

A escritora brasileira FML Pepper (erq.) e a estudante Maria Fernanda Monteiro Gonsales (dir.). Foto: Julia Queiroz/Estadão

“Acho que, quando vamos ficando mais velhos, existe uma coisa de: ‘ah, você só lê romance?’ [como se fosse algo menor], ainda mais que somos, normalmente, meninas. Acho que a fantasia é mais aceita. Então, essa coisa da romantasia traz elementos mais complexos. Gosto quando tem distopia também, mas junto com o romance que nós gostamos”, diz a estudante.

FML Pepper confessa ter medo de que a romantasia vire um termo pejorativo para fantasias escritas por mulheres. “Tenho a preocupação de que se rotule como algo irônico, como fizeram com o chick-lit, porque não é algo bobo. Existe um leque muito grande e muitos subgêneros”, diz. Rafaella Machado, da Record, lembra que, até pouco tempo atrás, a fantasia - ou ao menos os livros mais “respeitados” do gênero - era dominada por homens.

“Isso mudou muito nos últimos 10 anos. Ainda tem muitos ambientes fantásticos para explorar a partir de narradoras mulheres, de relações femininas. Se você olha o Tolkien [autor de O Senhor dos Anéis] com essa fantasia mais clássica, não tem nenhuma personagem feminina. Imagina todas essas raças de seres mágicos que ainda não foram exploradas por um ponto de vista feminino. Ainda tem muito pano para a manga”, afirma.

“Compra esse para mim?”, brincava a estudante Raquel Prado, de 14 anos, à amiga Mirella Pradela, de 13, quando cruzou com a reportagem do Estadão em uma noite de quinta-feira na Bienal do Livro de São Paulo 2024. Ela segurava um exemplar de Powerless, livro da americana Lauren Roberts que foi o mais vendido do estande da editora Rocco no evento.

Até aquele momento, Raquel já tinha comprado 15 livros, oito deles do gênero romantasia. Mirella dizia estar carregando cerca de 23 exemplares, 17 deles romantasias. As amigas, que vieram de Extrema (MG) para a feira de livros que ocorreu entre 6 e 15 de setembro no Distrito Anhembi, são o retrato de muitas adolescentes que lotaram o pavilhão em busca das histórias que misturam fantasia e romance.

A romantasia é, basicamente, uma trama com elementos fantásticos na qual o foco principal está na história de amor entre os personagens, e não nas batalhas épicas que antes marcavam o gênero. Em 2023, o Estadão já havia mostrado como essa tendência chegava com força ao mercado editorial. Agora, na Bienal do Livro, ela apareceu com domínio absoluto e foi o carro-chefe de muitas editoras no evento.

As romantasias de Rebecca Yarros foram campeãs de venda no estande da editora Planeta. Foto: Julia Queiroz/Estadão

“Nós que trabalhamos com aquisição apostamos nisso há uns dois, três anos, quando esses livros foram adquiridos. Agora, ver que está dando tão certo e que o mercado abraçou tanto é fenomenal”, diz Rafaella Machado, editora executiva da Galera, selo da Record que publica livros para o público jovem.

Há até pouco anos, a grande exponente da romantasia era a americana Sarah J. Maas (12 milhões de livros vendidos no mundo até 2022), autora das séries Corte de Espinhos e Rosas, Trono de Vidro e Cidade da Lua Crescente, publicadas pela Galera. Segundo Rafaella, o que vemos agora são muitas outras autoras conquistando espaço. Ela cita a brasileira Giu Domingues (da série Luzes do Norte) e a americana Jennifer L. Armentrout (da série Sangue e Cinzas) - desta, foram 400 mil exemplares vendidos no Brasil em cerca de 1 ano e meio.

“São livros de 600 páginas, não são livros pequenos. E as pessoas leem muito rápido, elas consomem com muita voracidade. Tanto dentro da editora Record, como em todas as outras casas editoriais, todo mundo tem uma romantasia própria, todo mundo está apostando”, diz Rafaella. Bastou circular pelos estandes da Bienal e analisar as listas de mais vendidos para comprovar este fenômeno. Veja alguns títulos e sua posição no ranking:

  • Powerless, Lauren Roberts - 1º mais vendido da Rocco
  • O Abismo De Celina, Ariani Castelo - 4º mais vendido da Rocco
  • Era uma vez um coração partido, Stephanie Garber - 1º mais vendido da Autêntica
  • A balada do felizes para nunca, Stephanie Garber - 2º mais vendido da Autêntica
  • Finale, Stephanie Garber - 4º mais vendido da Autêntica
  • Sonho e Pesadelo, Marina Dutra - 1º mais vendido da Buzz
  • O despertar da lua caída, Sarah A. Parker - 3º mais vendido da HarperCollins Brasil
  • Assistente do Vilão, Hannah Nicole Maehrer - 1º mais vendido da Alt/Globo Livros
  • Quarta asa, de Rebecca Yarros - 1º mais vendido da Planeta
  • Chama de ferro, de Rebecca Yarros - 2º mais vendido da Planeta

O que explica o fenômeno?

De acordo com as editoras consultadas, o público da romantasia é majoritariamente jovem e feminino, o que também ajuda a explicar o sucesso do gênero na Bienal - 43,3% dos visitantes estava na faixa de 18 a 24 anos e 69,8% eram mulheres, segundo dados divulgados pela Secretaria Municipal de Turismo (SMTur), através do Observatório do Turismo e Eventos da SPTuris.

Flavia Lago, editora da Autêntica, acredita que “a romantasia é um gênero que reflete a essência do jovem de hoje”. “Em um mundo com tantas complexidades, seja no âmbito macro (social, político) e também no micro (amadurecimento, escolhas), o gênero da fantasia se torna um porto seguro, onde a leitura proporciona essa travessia”, afirma.

“O acréscimo do romance e da diversidade dos personagens e dos relacionamentos é mais um acerto dessa tendência, pois os leitores experimentam com a intensidade da juventude as sagas e reviravoltas que só os livros de romantasia proporcionam”, completa.

Eu considero uma romantasia uma história em que a fantasia se sustenta sem o romance e o romance sustenta a história sem a fantasia.

Rafaella Machado, editora executiva da Galera Record

Rafaella Machado diz que os livros combinam dois gêneros que sempre foram sucesso comercial: o romance contemporâneo e a fantasia. “Leitoras de romance que não tinham intimidade com fantasias épicas, enormes, com criação de universos complexos, com árvores genealógicas super longas, entraram por conta do romance. E as leitoras que já amavam fantasia (...) entraram nesse novo gênero com o coração aberto para conhecer o outro lado dessas histórias”, diz.

E as redes sociais certamente ajudaram nesta explosão. Raquel, a jovem de 14 anos citada no início da reportagem, conta que começou a ler em 2022, quando foi impactada por vídeos do BookTok, o nicho literário do TikTok. “Sempre gostei de distopias e fantasias. Quando coloca um pouco de romance no meio, eu fico louca. Leio em uma madrugada. Não sei explicar, mas parece que é um universo que te prende”, conta ela.

Mirella Pradela, de 13 anos (esq.), e Raquel Prado, de 14 anos (dir.) são fãs das romantasias. Foto: Julia Queiroz/Estadão

Mirella, que estava com Raquel, diz que seu livro favorito é Caraval, de Stephanie Garber, a autora mais vendida do estande da Autêntica. Para Flavia Lago, os livros da americana têm, “na medida certa, todos os elementos de uma boa romantasia”. “É uma ótima opção para quem ainda não lê fantasia e quer se aventurar nesse gênero, por exemplo. O sistema de magia e o universo das histórias são mais acessíveis para os leitores e o romance agrada a todos”, explica.

A escritora Ariani Castelo, de 25 anos, veio de São Gonçalo (RJ) para divulgar seu livro O Abismo De Celina, que terminou a Bienal como o quarto mais vendido da Rocco. “A maior parte dos comentários que eu escuto é: ‘eu vim do TikTok’. Isso já diz muita coisa”, conta ela. “Ser uma das mais vendidas significa que eu estou conseguindo me conectar com o máximo de corações, levar essa mensagem e fazer as pessoas refletirem com os meus personagens. Mas também significa, para mim, abrir portas para outros autores nacionais.”

A escritora Ariani Castelo, de 25 anos, veio de São Gonçalo (RJ) para divulgar seu livro 'O Abismo De Celina'. Foto: Julia Queiroz/Estadão

A editora executiva da Rocco, Ana Lima, destaca que muitos dos fenômenos da romantasia começaram com histórias autopublicadas, como a própria Ariani. “Esses novos autores, além de escrever, sabem lidar muito bem com redes sociais e quando são publicados, já trazem uma audiência”, afirma.

Mulheres se destacam

Para Ana Lima, “a romantasia é a moda da vez, mas não é novidade, é um recorte dentro do gênero fantástico”. Em 2023, ela contou ao Estadão que ouviu vez o termo pela primeira vez em inglês, “romantasy”, na Feira do Livro de Bolonha e na de Londres em março e abril daquele ano, mas que já havia publicado livros deste estilo anteriormente.

A escritora brasileira FML Pepper, que cruzou com o Estadão no estande da Planeta, onde conversava com leitoras e divulgava sua série Deusas de Unyan, do selo Planeta Minotauro, também entende a romantasia como um nome para algo que já faz há mais de uma década. Antes de entrar para uma editora tradicional, ela já era um fenômeno da autopublicação.

Maria Fernanda Monteiro Gonsales, de 18 anos, que tirava fotos e recebia autógrafos de Pepper pouco antes de conversar com a reportagem, diz que descobriu o termo graças à Bienal do Livro. No sexta, 6 de setembro, ela acompanhou uma mesa com Pepper, Carol Chiovatto, Fernanda Castro e Giu Domingues que discutiu o gênero.

A escritora brasileira FML Pepper (erq.) e a estudante Maria Fernanda Monteiro Gonsales (dir.). Foto: Julia Queiroz/Estadão

“Acho que, quando vamos ficando mais velhos, existe uma coisa de: ‘ah, você só lê romance?’ [como se fosse algo menor], ainda mais que somos, normalmente, meninas. Acho que a fantasia é mais aceita. Então, essa coisa da romantasia traz elementos mais complexos. Gosto quando tem distopia também, mas junto com o romance que nós gostamos”, diz a estudante.

FML Pepper confessa ter medo de que a romantasia vire um termo pejorativo para fantasias escritas por mulheres. “Tenho a preocupação de que se rotule como algo irônico, como fizeram com o chick-lit, porque não é algo bobo. Existe um leque muito grande e muitos subgêneros”, diz. Rafaella Machado, da Record, lembra que, até pouco tempo atrás, a fantasia - ou ao menos os livros mais “respeitados” do gênero - era dominada por homens.

“Isso mudou muito nos últimos 10 anos. Ainda tem muitos ambientes fantásticos para explorar a partir de narradoras mulheres, de relações femininas. Se você olha o Tolkien [autor de O Senhor dos Anéis] com essa fantasia mais clássica, não tem nenhuma personagem feminina. Imagina todas essas raças de seres mágicos que ainda não foram exploradas por um ponto de vista feminino. Ainda tem muito pano para a manga”, afirma.

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