São Paulo ganha quatro livrarias de rua em menos de um mês; conheça as novas lojas


Na Vila Madalena, foi aberta uma livraria especializada em literatura infantil. No Teatro Cultura Artística, uma nova unidade da Megafauna. Conheça os projetos e as características dos novos negócios

Por Julia Queiroz
Atualização: Correção:
A Casa Cosmos é a mais nova livraria dedicada a crianças de São Paulo Foto: Taba Benedicto/ Estadão

Um sobrado na Pompeia, uma esquina na Santa Cecília, uma casinha na Vila Madalena e uma área ampla debaixo de um teatro restaurado no centro - todos espaços que acomodam livrarias recém-inauguradas na cidade de São Paulo. São quatro lojas abertas em menos de 30 dias: a Livraria Bandolim, a Livraria Caraíbas, a Casa Cosmos e uma nova unidade da Megafauna.

É um movimento que vai na contramão do fechamento das grandes livrarias da capital - em abril, a Livraria Cultura fechou sua loja do Conjunto Nacional, após falência decretada em 2023 (lembre aqui o imbróglio). A empresa chegou a ter 17 lojas, reduzidas pouco a pouco nos últimos dez anos. A Saraiva, que chegou a ter 100 lojas espalhadas pelo País, muitas das quais em São Paulo, foi pelo mesmo caminho.

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O desafio é grande

Em 2022, pela primeira vez na história, o faturamento das editoras com venda de livros em livrarias virtuais superou o de livrarias físicas, conforme mostrou a Pesquisa Produção e Venda do Setor Editorial Brasileiro 2023, realizada pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL) e pela Câmara Brasileira do Livro (CBL), com apuração da Nielsen BookData. A edição de 2024 da pesquisa mostrou que o cenário continua parecido: as livrarias virtuais representam 32,5% do faturamento, contra 28% das livrarias físicas.

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A abertura de novas livrarias de rua, e consequentemente o fortalecimento da cena independente, tem sido encarada pelo mercado editorial como uma forma de resistência. Esse movimento vem crescendo - sobretudo depois de 2021. Entre as novas livrarias de São Paulo, por exemplo, estão a Miúda e a Pé de Livro, livrarias infantis na Pompeia, a Livraria Eiffel, no centro, a Livraria do Brooklin, a Bibla, na Vila Madalena, a Aigo, no Bom Retiro, para citar alguns exemplos. Todas pequenas e/ou especializadas em algum assunto.

Alexandre Martins Fontes, dono da Livraria Martins Fontes e presidente da Associação Nacional de Livrarias (ANL), pondera que é preciso questionar se os desafios do mercado brasileiro permitirão que essas livrarias continuem funcionando e, principalmente, que cresçam e virem grandes empresas. No entanto, ele reafirma que a abertura de uma nova livraria é sempre motivo para comemorar.

“É maravilhoso ver a abertura de novas livrarias. Fico feliz que nesse curto espaço de tempo tenhamos a inauguração de mais quatro delas. Meu desejo, meu sonho, e trabalho por isso, é que essas livrarias não estejam só abrindo hoje - mas que daqui a 10, 20 anos elas estejam ainda mais fortes do que são neste momento”, diz ele.

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Conheça a história das quatro novas livrarias de São Paulo e o que elas oferecem

Livraria Bandolim

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A história da Livraria Bandolim já começa curiosa: o estabelecimento viralizou nas redes sociais por conta de um aviso em sua fachada antes da abertura. “Em breve - Livraria Bandolim (Ufa! Não é outro Oxxo!!)”, dizia o banner. Localizada na Rua Conselheiro Brotero, 952, na região da Santa Cecilia, a loja começa a funcionar nesta terça-feira, 3.

O projeto foi idealizado pelo músico Ronen Altaman, de 56 anos (bandolinista desde os 12 anos, fazendo jus ao nome). Ele toca o empreendimento ao lado da sócia e amiga de infância Ana Maria Pupo, empresária de 52 anos. “Sempre quis juntar minhas duas paixões, literatura e música”, diz Altaman. “Resolvemos montar uma livraria que fosse de música, mas que não fosse exclusiva ou especializada.”

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O local, que estava sendo reformado desde dezembro de 2023, tem uma grande curadoria de livros ligada à música, mas também tem um catálogo de literatura - ficção e não ficção - incluindo seções de futebol e de boêmia, outros dois grandes interesses do idealizador.

Ana Maria Pupo e Ronen Altman, fundadores da Livraria Bandolim, que viralizou antes da inauguração Foto: Ana Maria Pupo/Arquivo Pessoal

“Fizemos questão de ter, também, um espaço pequeno para servir um vinho, uma cerveja, um café, um bolinho. Queremos que seja um lugar em que as pessoas fiquem um pouco - não só comprem o livro e vão embora”, conta. Altaman diz que, em breve, a livraria deve começar a realizar eventos, pequenos shows e lançamentos, com foco no mundo da música.

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  • Rua Conselheiro Brotero, 952. Terça a sábado, das 10h às 19h

Livraria Caraíbas

Em um sobrado simpático na Pompeia, a Livraria Caraíbas fez algo semelhante à Bandolim. Antes da abertura, deixou um cartaz na vitrine: “Que legal! Aqui vai ser uma livraria”. Desde então, a recepção dos passantes e vizinhos tem sido ótima, conta João Mendes de Almeida Jr., fundador da loja, inaugurada oficialmente em 10 de agosto.

“Entrei para o ‘universo’ das livrarias há dois anos. Atuei na área de educação por 35 anos, minha família foi dona de uma escola que encerrou suas atividades em 2019. Durante a pandemia, fiz alguns cursos - entre eles, um de Gestão de Livrarias. A ideia de ter uma livraria sempre esteve por perto, uma vez que todos fomos sempre frequentadores assíduos”, conta ele.

Almeida Jr. já é dono da Livraria do Espaço, que fica dentro do Espaço Augusta de Cinema. Adquiriu a loja de uma amiga que fez no curso. “Conhecendo a realidade da coisa, eu e minha mulher, Maria Angélica, que é minha sócia e diretora de escola pública, decidimos montar uma unidade de rua para não ficarmos tão dependentes da frequência do cinema”, conta.

A Livraria Caraíbas foi inaugurada no bairro da Pompeia Foto: Taba Benedicto/ Estadão

A livraria também tem um pequeno café e possui curadoria diversa, com literatura estrangeira, nacional, não ficção e ficção comercial, além de uma sala dedicada a livros infantis no segundo andar. “Durante esses primeiros dias temos recebido um monte de elogios e agradecimentos tanto pela ‘coragem’, quanto pela curadoria. Tem sido muito bom”, diz Almeida Jr.

  • Rua Caraíbas, 586. Terça a domingo, das 10h às 19h

Casa Cosmos

Mais do que uma livraria, a Casa Cosmos quer ser um “espaço de defesa da infância”. Com curadoria focada em literatura infantil, a loja foi inaugurada em 17 de agosto na Rua Natingui, na Vila Madalena, mas o sonho começou muito antes, quando a fotógrafa e documentarista Jéssica Nolte, de 36 anos, teve sua filha, Maya, hoje com seis anos, e percebeu que não poderia mais passar seus dias registrando áreas em guerra mundo afora.

Pouco tempo depois, o marido de Jéssica, Markus, foi diagnosticado com um câncer. A livraria seria um espaço aliado à produtora audiovisual do casal, onde ele poderia trabalhar. A pandemia de covid-19 atrapalhou os planos e, dois anos depois - e quatro depois do diagnóstico, Markus morreu. Em meio ao luto e ao sentimento de solidão, foram os livros que mais ajudaram Jéssica a lidar com a dor e se conectar com sua filha.

“A livraria se tornou um projeto muito maior por conta desse meu incômodo em não ter encontrado nenhum espaço de acolhimento para mim e para a minha filha nesse processo. Me sentia muito sozinha e procurava muito por esses espaços. Eu circulava por muitas livrarias de São Paulo e era onde nós encontrávamos essa paz”, diz ela. “Isso virou uma missão minha, de levantar assuntos que precisam ser falados de forma lúdica e com acolhimento com todos que estão criando uma criança.”

Casa Cosmos: livros, quintal, oficinas e tudo mais para os pequenos leitores Foto: Taba Benedicto/ Estadão

No projeto, juntaram-se a ela Camila Leite, 38, grande amiga de Markus, e Mariana Torres, 36, que se identificou com os sonhos de Jéssica para o lugar. Além da venda de livros, a Cosmos tem produtos artesanais, atividades para crianças, palestras e cursos para adultos, além de um espaço de café e comidas. “Temos nos surpreendido muito com o movimento. A recepção tem sido surreal e estamos muito feliz. Tem sido lindo ver como todos querem ajudar e participar”, celebra.

  • Rua Natingui, 544. Terça a sexta, das 10h às 19h. Sábados, das 9h às 19h. Domingos, 9h às 16h

Megafauna no Cultura Artística

A Livraria Megafauna, que abriu sua primeira unidade no auge da pandemia, em novembro de 2020, no térreo do edifício Copan, ganha agora uma segunda unidade em outro imóvel histórico de São Paulo: o Teatro Cultura Artística, na Rua Nestor Pestana, reaberto 16 anos após o trágico incêndio que impôs a reconstrução do local. A loja foi inaugurada em 25 de agosto.

“A abertura dessa segunda unidade fez muito sentido porque complementa o projeto que temos de encontros. Desde a inauguração no Copan, buscamos estabelecer um espaço de eventos literários e contribuir para o debate e para uma agenda cultural. No Cultura Artística, temos a possibilidade de ampliar esse processo”, diz Irene de Hollanda, diretora da livraria ao lado de Fernanda Diamant.

As duas lojas ficam a apenas 500 metros de distância, mas têm curadorias complementares. “Elas partem da mesma pesquisa e equipe, mas no Copan, por exemplo, temos uma ênfase maior em literatura e, no Cultura Artística, em Histórias e Humanidade”. Além disso, a nova unidade tem um espaço dedicado à infância, com catálogo ampliado e programação voltada para crianças.

A segunda unidade da Livraria Megafauna acaba de ser inaugurada do recém-reinaugurado Teatro Cultura Artística Foto: Taba Benedicto/ Estadão

Irene lembra que, em 2020, o impacto do fechamento da maioria das lojas das duas maiores redes de livrarias do Brasil, a Cultura e a Saraiva, era muito sentido. “Estava anunciado naquele momento que o meio livreiro precisava se reinventar de alguma forma e acho que isso está acontecendo. Tem uma reconfiguração da identidade das livrarias na cidade de São Paulo” diz.

Ela completa que tem visto cada vez mais livrarias menores, mais especializadas e nichadas, com pesquisa e curadoria aprofundadas. “Vejo como um momento rico o aparecimento de livrarias que estão preocupadas em especializar o discurso, criar uma comunicação muito direta entre o livreiro e o público e ter um comprometimento muito grande com nichos editorias”, finaliza.

  • Rua Nestor Pestana, 196. Terça a sexta, das 12h às 21h. Sábado, das 10h às 21h. Domingo, das 10h às 18h
A Casa Cosmos é a mais nova livraria dedicada a crianças de São Paulo Foto: Taba Benedicto/ Estadão

Um sobrado na Pompeia, uma esquina na Santa Cecília, uma casinha na Vila Madalena e uma área ampla debaixo de um teatro restaurado no centro - todos espaços que acomodam livrarias recém-inauguradas na cidade de São Paulo. São quatro lojas abertas em menos de 30 dias: a Livraria Bandolim, a Livraria Caraíbas, a Casa Cosmos e uma nova unidade da Megafauna.

É um movimento que vai na contramão do fechamento das grandes livrarias da capital - em abril, a Livraria Cultura fechou sua loja do Conjunto Nacional, após falência decretada em 2023 (lembre aqui o imbróglio). A empresa chegou a ter 17 lojas, reduzidas pouco a pouco nos últimos dez anos. A Saraiva, que chegou a ter 100 lojas espalhadas pelo País, muitas das quais em São Paulo, foi pelo mesmo caminho.

O desafio é grande

Em 2022, pela primeira vez na história, o faturamento das editoras com venda de livros em livrarias virtuais superou o de livrarias físicas, conforme mostrou a Pesquisa Produção e Venda do Setor Editorial Brasileiro 2023, realizada pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL) e pela Câmara Brasileira do Livro (CBL), com apuração da Nielsen BookData. A edição de 2024 da pesquisa mostrou que o cenário continua parecido: as livrarias virtuais representam 32,5% do faturamento, contra 28% das livrarias físicas.

A abertura de novas livrarias de rua, e consequentemente o fortalecimento da cena independente, tem sido encarada pelo mercado editorial como uma forma de resistência. Esse movimento vem crescendo - sobretudo depois de 2021. Entre as novas livrarias de São Paulo, por exemplo, estão a Miúda e a Pé de Livro, livrarias infantis na Pompeia, a Livraria Eiffel, no centro, a Livraria do Brooklin, a Bibla, na Vila Madalena, a Aigo, no Bom Retiro, para citar alguns exemplos. Todas pequenas e/ou especializadas em algum assunto.

Alexandre Martins Fontes, dono da Livraria Martins Fontes e presidente da Associação Nacional de Livrarias (ANL), pondera que é preciso questionar se os desafios do mercado brasileiro permitirão que essas livrarias continuem funcionando e, principalmente, que cresçam e virem grandes empresas. No entanto, ele reafirma que a abertura de uma nova livraria é sempre motivo para comemorar.

“É maravilhoso ver a abertura de novas livrarias. Fico feliz que nesse curto espaço de tempo tenhamos a inauguração de mais quatro delas. Meu desejo, meu sonho, e trabalho por isso, é que essas livrarias não estejam só abrindo hoje - mas que daqui a 10, 20 anos elas estejam ainda mais fortes do que são neste momento”, diz ele.

Conheça a história das quatro novas livrarias de São Paulo e o que elas oferecem

Livraria Bandolim

A história da Livraria Bandolim já começa curiosa: o estabelecimento viralizou nas redes sociais por conta de um aviso em sua fachada antes da abertura. “Em breve - Livraria Bandolim (Ufa! Não é outro Oxxo!!)”, dizia o banner. Localizada na Rua Conselheiro Brotero, 952, na região da Santa Cecilia, a loja começa a funcionar nesta terça-feira, 3.

O projeto foi idealizado pelo músico Ronen Altaman, de 56 anos (bandolinista desde os 12 anos, fazendo jus ao nome). Ele toca o empreendimento ao lado da sócia e amiga de infância Ana Maria Pupo, empresária de 52 anos. “Sempre quis juntar minhas duas paixões, literatura e música”, diz Altaman. “Resolvemos montar uma livraria que fosse de música, mas que não fosse exclusiva ou especializada.”

O local, que estava sendo reformado desde dezembro de 2023, tem uma grande curadoria de livros ligada à música, mas também tem um catálogo de literatura - ficção e não ficção - incluindo seções de futebol e de boêmia, outros dois grandes interesses do idealizador.

Ana Maria Pupo e Ronen Altman, fundadores da Livraria Bandolim, que viralizou antes da inauguração Foto: Ana Maria Pupo/Arquivo Pessoal

“Fizemos questão de ter, também, um espaço pequeno para servir um vinho, uma cerveja, um café, um bolinho. Queremos que seja um lugar em que as pessoas fiquem um pouco - não só comprem o livro e vão embora”, conta. Altaman diz que, em breve, a livraria deve começar a realizar eventos, pequenos shows e lançamentos, com foco no mundo da música.

  • Rua Conselheiro Brotero, 952. Terça a sábado, das 10h às 19h

Livraria Caraíbas

Em um sobrado simpático na Pompeia, a Livraria Caraíbas fez algo semelhante à Bandolim. Antes da abertura, deixou um cartaz na vitrine: “Que legal! Aqui vai ser uma livraria”. Desde então, a recepção dos passantes e vizinhos tem sido ótima, conta João Mendes de Almeida Jr., fundador da loja, inaugurada oficialmente em 10 de agosto.

“Entrei para o ‘universo’ das livrarias há dois anos. Atuei na área de educação por 35 anos, minha família foi dona de uma escola que encerrou suas atividades em 2019. Durante a pandemia, fiz alguns cursos - entre eles, um de Gestão de Livrarias. A ideia de ter uma livraria sempre esteve por perto, uma vez que todos fomos sempre frequentadores assíduos”, conta ele.

Almeida Jr. já é dono da Livraria do Espaço, que fica dentro do Espaço Augusta de Cinema. Adquiriu a loja de uma amiga que fez no curso. “Conhecendo a realidade da coisa, eu e minha mulher, Maria Angélica, que é minha sócia e diretora de escola pública, decidimos montar uma unidade de rua para não ficarmos tão dependentes da frequência do cinema”, conta.

A Livraria Caraíbas foi inaugurada no bairro da Pompeia Foto: Taba Benedicto/ Estadão

A livraria também tem um pequeno café e possui curadoria diversa, com literatura estrangeira, nacional, não ficção e ficção comercial, além de uma sala dedicada a livros infantis no segundo andar. “Durante esses primeiros dias temos recebido um monte de elogios e agradecimentos tanto pela ‘coragem’, quanto pela curadoria. Tem sido muito bom”, diz Almeida Jr.

  • Rua Caraíbas, 586. Terça a domingo, das 10h às 19h

Casa Cosmos

Mais do que uma livraria, a Casa Cosmos quer ser um “espaço de defesa da infância”. Com curadoria focada em literatura infantil, a loja foi inaugurada em 17 de agosto na Rua Natingui, na Vila Madalena, mas o sonho começou muito antes, quando a fotógrafa e documentarista Jéssica Nolte, de 36 anos, teve sua filha, Maya, hoje com seis anos, e percebeu que não poderia mais passar seus dias registrando áreas em guerra mundo afora.

Pouco tempo depois, o marido de Jéssica, Markus, foi diagnosticado com um câncer. A livraria seria um espaço aliado à produtora audiovisual do casal, onde ele poderia trabalhar. A pandemia de covid-19 atrapalhou os planos e, dois anos depois - e quatro depois do diagnóstico, Markus morreu. Em meio ao luto e ao sentimento de solidão, foram os livros que mais ajudaram Jéssica a lidar com a dor e se conectar com sua filha.

“A livraria se tornou um projeto muito maior por conta desse meu incômodo em não ter encontrado nenhum espaço de acolhimento para mim e para a minha filha nesse processo. Me sentia muito sozinha e procurava muito por esses espaços. Eu circulava por muitas livrarias de São Paulo e era onde nós encontrávamos essa paz”, diz ela. “Isso virou uma missão minha, de levantar assuntos que precisam ser falados de forma lúdica e com acolhimento com todos que estão criando uma criança.”

Casa Cosmos: livros, quintal, oficinas e tudo mais para os pequenos leitores Foto: Taba Benedicto/ Estadão

No projeto, juntaram-se a ela Camila Leite, 38, grande amiga de Markus, e Mariana Torres, 36, que se identificou com os sonhos de Jéssica para o lugar. Além da venda de livros, a Cosmos tem produtos artesanais, atividades para crianças, palestras e cursos para adultos, além de um espaço de café e comidas. “Temos nos surpreendido muito com o movimento. A recepção tem sido surreal e estamos muito feliz. Tem sido lindo ver como todos querem ajudar e participar”, celebra.

  • Rua Natingui, 544. Terça a sexta, das 10h às 19h. Sábados, das 9h às 19h. Domingos, 9h às 16h

Megafauna no Cultura Artística

A Livraria Megafauna, que abriu sua primeira unidade no auge da pandemia, em novembro de 2020, no térreo do edifício Copan, ganha agora uma segunda unidade em outro imóvel histórico de São Paulo: o Teatro Cultura Artística, na Rua Nestor Pestana, reaberto 16 anos após o trágico incêndio que impôs a reconstrução do local. A loja foi inaugurada em 25 de agosto.

“A abertura dessa segunda unidade fez muito sentido porque complementa o projeto que temos de encontros. Desde a inauguração no Copan, buscamos estabelecer um espaço de eventos literários e contribuir para o debate e para uma agenda cultural. No Cultura Artística, temos a possibilidade de ampliar esse processo”, diz Irene de Hollanda, diretora da livraria ao lado de Fernanda Diamant.

As duas lojas ficam a apenas 500 metros de distância, mas têm curadorias complementares. “Elas partem da mesma pesquisa e equipe, mas no Copan, por exemplo, temos uma ênfase maior em literatura e, no Cultura Artística, em Histórias e Humanidade”. Além disso, a nova unidade tem um espaço dedicado à infância, com catálogo ampliado e programação voltada para crianças.

A segunda unidade da Livraria Megafauna acaba de ser inaugurada do recém-reinaugurado Teatro Cultura Artística Foto: Taba Benedicto/ Estadão

Irene lembra que, em 2020, o impacto do fechamento da maioria das lojas das duas maiores redes de livrarias do Brasil, a Cultura e a Saraiva, era muito sentido. “Estava anunciado naquele momento que o meio livreiro precisava se reinventar de alguma forma e acho que isso está acontecendo. Tem uma reconfiguração da identidade das livrarias na cidade de São Paulo” diz.

Ela completa que tem visto cada vez mais livrarias menores, mais especializadas e nichadas, com pesquisa e curadoria aprofundadas. “Vejo como um momento rico o aparecimento de livrarias que estão preocupadas em especializar o discurso, criar uma comunicação muito direta entre o livreiro e o público e ter um comprometimento muito grande com nichos editorias”, finaliza.

  • Rua Nestor Pestana, 196. Terça a sexta, das 12h às 21h. Sábado, das 10h às 21h. Domingo, das 10h às 18h
A Casa Cosmos é a mais nova livraria dedicada a crianças de São Paulo Foto: Taba Benedicto/ Estadão

Um sobrado na Pompeia, uma esquina na Santa Cecília, uma casinha na Vila Madalena e uma área ampla debaixo de um teatro restaurado no centro - todos espaços que acomodam livrarias recém-inauguradas na cidade de São Paulo. São quatro lojas abertas em menos de 30 dias: a Livraria Bandolim, a Livraria Caraíbas, a Casa Cosmos e uma nova unidade da Megafauna.

É um movimento que vai na contramão do fechamento das grandes livrarias da capital - em abril, a Livraria Cultura fechou sua loja do Conjunto Nacional, após falência decretada em 2023 (lembre aqui o imbróglio). A empresa chegou a ter 17 lojas, reduzidas pouco a pouco nos últimos dez anos. A Saraiva, que chegou a ter 100 lojas espalhadas pelo País, muitas das quais em São Paulo, foi pelo mesmo caminho.

O desafio é grande

Em 2022, pela primeira vez na história, o faturamento das editoras com venda de livros em livrarias virtuais superou o de livrarias físicas, conforme mostrou a Pesquisa Produção e Venda do Setor Editorial Brasileiro 2023, realizada pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL) e pela Câmara Brasileira do Livro (CBL), com apuração da Nielsen BookData. A edição de 2024 da pesquisa mostrou que o cenário continua parecido: as livrarias virtuais representam 32,5% do faturamento, contra 28% das livrarias físicas.

A abertura de novas livrarias de rua, e consequentemente o fortalecimento da cena independente, tem sido encarada pelo mercado editorial como uma forma de resistência. Esse movimento vem crescendo - sobretudo depois de 2021. Entre as novas livrarias de São Paulo, por exemplo, estão a Miúda e a Pé de Livro, livrarias infantis na Pompeia, a Livraria Eiffel, no centro, a Livraria do Brooklin, a Bibla, na Vila Madalena, a Aigo, no Bom Retiro, para citar alguns exemplos. Todas pequenas e/ou especializadas em algum assunto.

Alexandre Martins Fontes, dono da Livraria Martins Fontes e presidente da Associação Nacional de Livrarias (ANL), pondera que é preciso questionar se os desafios do mercado brasileiro permitirão que essas livrarias continuem funcionando e, principalmente, que cresçam e virem grandes empresas. No entanto, ele reafirma que a abertura de uma nova livraria é sempre motivo para comemorar.

“É maravilhoso ver a abertura de novas livrarias. Fico feliz que nesse curto espaço de tempo tenhamos a inauguração de mais quatro delas. Meu desejo, meu sonho, e trabalho por isso, é que essas livrarias não estejam só abrindo hoje - mas que daqui a 10, 20 anos elas estejam ainda mais fortes do que são neste momento”, diz ele.

Conheça a história das quatro novas livrarias de São Paulo e o que elas oferecem

Livraria Bandolim

A história da Livraria Bandolim já começa curiosa: o estabelecimento viralizou nas redes sociais por conta de um aviso em sua fachada antes da abertura. “Em breve - Livraria Bandolim (Ufa! Não é outro Oxxo!!)”, dizia o banner. Localizada na Rua Conselheiro Brotero, 952, na região da Santa Cecilia, a loja começa a funcionar nesta terça-feira, 3.

O projeto foi idealizado pelo músico Ronen Altaman, de 56 anos (bandolinista desde os 12 anos, fazendo jus ao nome). Ele toca o empreendimento ao lado da sócia e amiga de infância Ana Maria Pupo, empresária de 52 anos. “Sempre quis juntar minhas duas paixões, literatura e música”, diz Altaman. “Resolvemos montar uma livraria que fosse de música, mas que não fosse exclusiva ou especializada.”

O local, que estava sendo reformado desde dezembro de 2023, tem uma grande curadoria de livros ligada à música, mas também tem um catálogo de literatura - ficção e não ficção - incluindo seções de futebol e de boêmia, outros dois grandes interesses do idealizador.

Ana Maria Pupo e Ronen Altman, fundadores da Livraria Bandolim, que viralizou antes da inauguração Foto: Ana Maria Pupo/Arquivo Pessoal

“Fizemos questão de ter, também, um espaço pequeno para servir um vinho, uma cerveja, um café, um bolinho. Queremos que seja um lugar em que as pessoas fiquem um pouco - não só comprem o livro e vão embora”, conta. Altaman diz que, em breve, a livraria deve começar a realizar eventos, pequenos shows e lançamentos, com foco no mundo da música.

  • Rua Conselheiro Brotero, 952. Terça a sábado, das 10h às 19h

Livraria Caraíbas

Em um sobrado simpático na Pompeia, a Livraria Caraíbas fez algo semelhante à Bandolim. Antes da abertura, deixou um cartaz na vitrine: “Que legal! Aqui vai ser uma livraria”. Desde então, a recepção dos passantes e vizinhos tem sido ótima, conta João Mendes de Almeida Jr., fundador da loja, inaugurada oficialmente em 10 de agosto.

“Entrei para o ‘universo’ das livrarias há dois anos. Atuei na área de educação por 35 anos, minha família foi dona de uma escola que encerrou suas atividades em 2019. Durante a pandemia, fiz alguns cursos - entre eles, um de Gestão de Livrarias. A ideia de ter uma livraria sempre esteve por perto, uma vez que todos fomos sempre frequentadores assíduos”, conta ele.

Almeida Jr. já é dono da Livraria do Espaço, que fica dentro do Espaço Augusta de Cinema. Adquiriu a loja de uma amiga que fez no curso. “Conhecendo a realidade da coisa, eu e minha mulher, Maria Angélica, que é minha sócia e diretora de escola pública, decidimos montar uma unidade de rua para não ficarmos tão dependentes da frequência do cinema”, conta.

A Livraria Caraíbas foi inaugurada no bairro da Pompeia Foto: Taba Benedicto/ Estadão

A livraria também tem um pequeno café e possui curadoria diversa, com literatura estrangeira, nacional, não ficção e ficção comercial, além de uma sala dedicada a livros infantis no segundo andar. “Durante esses primeiros dias temos recebido um monte de elogios e agradecimentos tanto pela ‘coragem’, quanto pela curadoria. Tem sido muito bom”, diz Almeida Jr.

  • Rua Caraíbas, 586. Terça a domingo, das 10h às 19h

Casa Cosmos

Mais do que uma livraria, a Casa Cosmos quer ser um “espaço de defesa da infância”. Com curadoria focada em literatura infantil, a loja foi inaugurada em 17 de agosto na Rua Natingui, na Vila Madalena, mas o sonho começou muito antes, quando a fotógrafa e documentarista Jéssica Nolte, de 36 anos, teve sua filha, Maya, hoje com seis anos, e percebeu que não poderia mais passar seus dias registrando áreas em guerra mundo afora.

Pouco tempo depois, o marido de Jéssica, Markus, foi diagnosticado com um câncer. A livraria seria um espaço aliado à produtora audiovisual do casal, onde ele poderia trabalhar. A pandemia de covid-19 atrapalhou os planos e, dois anos depois - e quatro depois do diagnóstico, Markus morreu. Em meio ao luto e ao sentimento de solidão, foram os livros que mais ajudaram Jéssica a lidar com a dor e se conectar com sua filha.

“A livraria se tornou um projeto muito maior por conta desse meu incômodo em não ter encontrado nenhum espaço de acolhimento para mim e para a minha filha nesse processo. Me sentia muito sozinha e procurava muito por esses espaços. Eu circulava por muitas livrarias de São Paulo e era onde nós encontrávamos essa paz”, diz ela. “Isso virou uma missão minha, de levantar assuntos que precisam ser falados de forma lúdica e com acolhimento com todos que estão criando uma criança.”

Casa Cosmos: livros, quintal, oficinas e tudo mais para os pequenos leitores Foto: Taba Benedicto/ Estadão

No projeto, juntaram-se a ela Camila Leite, 38, grande amiga de Markus, e Mariana Torres, 36, que se identificou com os sonhos de Jéssica para o lugar. Além da venda de livros, a Cosmos tem produtos artesanais, atividades para crianças, palestras e cursos para adultos, além de um espaço de café e comidas. “Temos nos surpreendido muito com o movimento. A recepção tem sido surreal e estamos muito feliz. Tem sido lindo ver como todos querem ajudar e participar”, celebra.

  • Rua Natingui, 544. Terça a sexta, das 10h às 19h. Sábados, das 9h às 19h. Domingos, 9h às 16h

Megafauna no Cultura Artística

A Livraria Megafauna, que abriu sua primeira unidade no auge da pandemia, em novembro de 2020, no térreo do edifício Copan, ganha agora uma segunda unidade em outro imóvel histórico de São Paulo: o Teatro Cultura Artística, na Rua Nestor Pestana, reaberto 16 anos após o trágico incêndio que impôs a reconstrução do local. A loja foi inaugurada em 25 de agosto.

“A abertura dessa segunda unidade fez muito sentido porque complementa o projeto que temos de encontros. Desde a inauguração no Copan, buscamos estabelecer um espaço de eventos literários e contribuir para o debate e para uma agenda cultural. No Cultura Artística, temos a possibilidade de ampliar esse processo”, diz Irene de Hollanda, diretora da livraria ao lado de Fernanda Diamant.

As duas lojas ficam a apenas 500 metros de distância, mas têm curadorias complementares. “Elas partem da mesma pesquisa e equipe, mas no Copan, por exemplo, temos uma ênfase maior em literatura e, no Cultura Artística, em Histórias e Humanidade”. Além disso, a nova unidade tem um espaço dedicado à infância, com catálogo ampliado e programação voltada para crianças.

A segunda unidade da Livraria Megafauna acaba de ser inaugurada do recém-reinaugurado Teatro Cultura Artística Foto: Taba Benedicto/ Estadão

Irene lembra que, em 2020, o impacto do fechamento da maioria das lojas das duas maiores redes de livrarias do Brasil, a Cultura e a Saraiva, era muito sentido. “Estava anunciado naquele momento que o meio livreiro precisava se reinventar de alguma forma e acho que isso está acontecendo. Tem uma reconfiguração da identidade das livrarias na cidade de São Paulo” diz.

Ela completa que tem visto cada vez mais livrarias menores, mais especializadas e nichadas, com pesquisa e curadoria aprofundadas. “Vejo como um momento rico o aparecimento de livrarias que estão preocupadas em especializar o discurso, criar uma comunicação muito direta entre o livreiro e o público e ter um comprometimento muito grande com nichos editorias”, finaliza.

  • Rua Nestor Pestana, 196. Terça a sexta, das 12h às 21h. Sábado, das 10h às 21h. Domingo, das 10h às 18h

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