São Paulo para pequenos e futuros leitores: Onde passear com crianças para incentivar a leitura


Incluir na rotina da família passeios por livrarias e bibliotecas pode ser decisivo para criar uma prazerosa e duradoura relação com os livros; veja opções de lugares

Por Maria Fernanda Rodrigues
Atualização:

Marina estava sentada numa cadeirinha rosa de balanço, lendo animada o livro que ela mesma escolheu e contando a história para a mãe, Nayrara Furlan Rocha Leme, quando a reportagem chegou à Livraria Miúda, na Pompeia, na tarde desta quinta-feira, 30. Era como se ela estivesse em casa. Logo tirou o sapato, correu passando a mão nos exemplares que estavam no caminho, quis entrar num caixote onde estavam seus livros preferidos da vez.

Bebê da pandemia, prestes a completar 3 anos, Marina teve seus primeiros contatos com literatura porque a avó tinha guardado uma coleção de clássicos da Disney, que Nayara adorava quando pequena. Consertaram até um Meu Primeiro Gradiente para ela poder ouvir as fitas cassete que vinham junto. Quando a pandemia deu uma trégua, a família fez um passeio na Livraria da Vila, da Fradique Coutinho, e ela, com 1 ano e 3 meses, saiu de lá com o primeiro livro escolhido por ela – e que quer ler sempre que o reencontra na Miúda: Atena, da coleção Meus Primeiros Mitos.

Marina com a mãe, Nayara, na Livraria Miúda, que é quase o quintal de casa Foto: Taba Benedicto/Estad
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“Mãe, agora eu vou ler Hércules e você vai ler Atena e depois a gente troca”, disse. E, reproduzindo a experiência da leitura compartilhada, perguntou: “O que está acontecendo no seu livro, mãe?”.

“Acho que ela aprendeu comigo o amor pelos livros. E eu aprendi com a minha mãe”, conta Nayara, de 36 anos. Marina é articulada, fala bem. O livro que ela via quando nos encontramos era O Que Tem Dentro da Sua Fralda? Tudo a ver com o momento que ela vive: do desfralde. Curiosa, faz perguntas enquanto brinca. “Um livro é feito com tinta?”, ela queria saber. E repete algumas vezes: “Quero esse livro”, “Quero levar aquele”, “Posso enfiar na sacola?”.

Nascida na pandemia, Marina começou seu contato com os livros por meio de uma coleção de sua mãe guardada pela avó Foto: Taba Benedicto/Estadão
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Ela até é capaz de entender se um dia sai de mãos abanando. Afinal, tem muitos livros em casa e sempre recebe um novo, do Clubinho Literatura de Colo, da Editora Jujuba. Marina só não entende quando passa na frente da loja a caminho da escola, numa segunda-feira, e vê as portas fechadas. Aí quase chora.

Roteiro cultural

São Paulo é uma cidade com muitas opções de passeios como este feito pelo menos uma vez por semana por Nayara e Marina. Para pais, tios, avós e cuidadores que desejam plantar a sementinha do gosto pela leitura nas crianças, incluir livrarias e bibliotecas na rotina, além de contar histórias em casa e ler na frente de uma criança, podem ser de grande ajuda.

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São todos espaços lúdicos que propiciam, sim, o encontro com o livro, mas, acima de tudo, experiências que serão significativas em sua formação pessoal e como leitora.

Toda boa livraria tem uma área dedicada à literatura infantil e juvenil, e lojas como a Martins Fontes e a Vila são tradicionais entre famílias leitoras (e abrem de segunda a segunda). Os pequenos paulistanos e visitantes têm sorte também porque a cidade conta, ainda, com seis livrarias especializadas (Miúda, Pé de Livro, Companhia Ilimitada, NoveSete, PanaPaná e Casa de Livros).

Na Vila Mariana, a Livraria NoveSete é uma das mais tradicionais para crianças Foto: Adriana Valetin
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Para não atrapalhar

Nayara deixa Marina livre para escolher o que quer. Às vezes mostra algo que considera importante. Às vezes compra mesmo que a menina não demonstre interesse. Uma hora ela pode ser fisgada.

“Achamos fundamental apoiar as escolhas que as crianças fazem. Nossa militância passa por esse lugar de valorização e respeito a vozes, e silêncios, das infâncias. Numa livraria, a experiência tem de ser livre e prazerosa”, dizem Júlia Souto e Tereza Grimaldi, que inauguraram a Miúda no final de 2021. Mas podemos orientar? “Sim, mas temos de estar atentos para não sermos impositivos e minar o interesse da criança pelo livro e pela leitura que ela quer escolher e fazer”, respondem.

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Segundo as proprietárias, é comum famílias entrarem apenas para passear. E é comum que ver famílias conversando no café enquanto as crianças exploram a livraria. “Muita gente faz isso: passeios familiares, encontros com amigas e amigos e até mesmo, familiares trabalhando no café enquanto a criança passa uma tarde gostosa em meio aos livros. E tudo bem! Não somos apenas um ponto de vendas de livros, somos, fundamentalmente um ponto de encontro de pessoas, do leitor com os autores e do leitor com os muitos mundos que cabem aqui.”

Para Zoara Failla, coordenadora da Pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, esse encontro lúdico da criança com o livro é uma experiência que pode ser divertida e de muita aprendizagem, e que deve ser promovida muitas vezes. “Ficará na memória afetiva dessa criança como uma experiência fascinante e, certamente, ela estará aberta a acolher os livros e as práticas leitoras promovidas na escola como atividades prazerosas e de descobertas.”

Bibliotecas e outros incentivos à leitura

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A mais recente edição da pesquisa Retratos da Leitura, de 2020, mostrou que o hábito de ler é uma construção que vem da infância, bastante influenciada pelo adulto, especialmente por mães, pais e professores. “São lembrados como aqueles que despertaram o gosto pela leitura os pais que leem para seus filhos, que leem na frente dos filhos e que têm livros em casa”, explica Zoara Failla.

Rodrigo Moreira Nogueira tem 42 anos e nunca gostou de ler. Mas, na quinta à tarde, ele estava na Biblioteca Villa-Lobos com a mulher e os dois filhos. Ele é treinador e palestrante, defende que o autoconhecimento é importante em todas as áreas de nossas vidas e explica que foi entendendo um pouco mais de sua história que percebeu que “essa dificuldade (ler) foi porque o hábito não foi criado na infância – o hábito da leitura”.

Família de Vitória conheceu a Biblioteca Parque Villa-Lobos nesta semana Foto: Tiago Queiroz/Estadão

“Com isso, comecei a estimular minha filha mais velha, a Marina, e aos 10 anos ela é uma apaixonada por livros. E estamos levando o mais novo nesse caminho também”, conta. Davi tem 6.

Turistas de Vitória, eles estão em São Paulo para comemorar o aniversário das crianças e de casamento do casal. “Tínhamos a tarde livre e nos sugeriram visitar o Parque Villa-Lobos. Pesquisando, descobrimos que tinha uma biblioteca. Achamos muito interessante, com várias opções de leitura para todas as idades, ambiente iluminado e aconchegante, e até jogos de tabuleiro que também gostamos. Em Vitória, não há ambientes assim”, contou após a visita.

A Biblioteca Parque Villa-Lobos é um oásis em dias quentes, e é assim que muita gente acaba descobrindo o grande espaço onde os livros estão ao alcance das mãos e onde há propostas de atividades para todas as idades – já a partir dos 6 meses.

Davi, de 6 anos, na Biblioteca Parque Villa-Lobos: livros ao alcance de todos Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Um dos projetos de maior sucesso lá, e também da Biblioteca São Paulo, onde ficava o Carandiru, é o Lê no Ninho, para a faixa etária dos 6 meses aos 4 anos. “Pais, cuidadores e crianças compartilham um espaço preparado e aconchegante, em que mediadores, com a participação dos acompanhantes, se dedicam a manusear livros, olhar imagens, compartilhar histórias, brincar com palavras, numa dinâmica livre em que cada criança vai construindo seu caminho de interesse. Não tem aquela coisa de: presta atenção, de olha pra cá”, explica Pierre Ruprecht, diretor executivo da SP Leituras, que administra essas bibliotecas da Secretaria de Cultura e Economia Criativa de São Paulo.

Ao final, os pais são convidados a fazer a carteirinha para os filhos e iniciar, levando livros emprestados, uma nova relação com a biblioteca que, Pierre conta, pode ser significativa para toda a família.

Passeio para a família

“A primeira coisa que as bibliotecas fazem para cativar os pequenos é cativar as famílias, ou seja, é oferecer uma série de atividades, de espaços e de possibilidades para crianças, adultos, idosos. Queremos estimular a vinda em família”, diz Ruprecht.

Pode correr, pode ler, pode brincar. “A biblioteca é uma espécie de parque de diversão. E, para as crianças, elas têm muitos mistérios. Dizemos que, numa biblioteca, dormem milhares de histórias esperando para serem acordadas.”

Quem quiser só dar uma olhadinha, descansar na sombra, também é bem-vindo. “A biblioteca deve ser usada com muita liberdade”, finaliza. l COLABOROU TIAGO QUEIROZ

Livrarias e bibliotecas de São Paulo para ir com as crianças

Livrarias

Miúda

R. Coronel Melo de Oliveira, 766 – Pompeia

Pé de Livro

R. Tucuna, 298 – Pompeia

Companhia Ilimitada

R. Florineia, 38 – Água Fria

NoveSete

R. França Pinto, 97 – Vila Mariana

PanaPaná

R. Leandro Dupré, 396 – Vila Clementino

Casa de Livros

R. Capitão Otávio Machado, 259 – Chácara S. Antônio

(as livrarias fecham no domingo e algumas também na segunda)

Bibliotecas

Biblioteca Parque Villa-Lobos

Av. Queiroz Filho, 1.205 – Alto de Pinheiros

Biblioteca São Paulo

Av. Cruzeiro do Sul, 2.630 – Santana

Biblioteca Monteiro Lobato

R. General Jardim, 485 – Vila Buarque

Gibiteca Henfil

R. Vergueiro, 1.000 – Paraíso

Hans Christian Andersen (de contos de fadas)

Av. Celso Garcia, 4.142 – Tatuapé

Marina estava sentada numa cadeirinha rosa de balanço, lendo animada o livro que ela mesma escolheu e contando a história para a mãe, Nayrara Furlan Rocha Leme, quando a reportagem chegou à Livraria Miúda, na Pompeia, na tarde desta quinta-feira, 30. Era como se ela estivesse em casa. Logo tirou o sapato, correu passando a mão nos exemplares que estavam no caminho, quis entrar num caixote onde estavam seus livros preferidos da vez.

Bebê da pandemia, prestes a completar 3 anos, Marina teve seus primeiros contatos com literatura porque a avó tinha guardado uma coleção de clássicos da Disney, que Nayara adorava quando pequena. Consertaram até um Meu Primeiro Gradiente para ela poder ouvir as fitas cassete que vinham junto. Quando a pandemia deu uma trégua, a família fez um passeio na Livraria da Vila, da Fradique Coutinho, e ela, com 1 ano e 3 meses, saiu de lá com o primeiro livro escolhido por ela – e que quer ler sempre que o reencontra na Miúda: Atena, da coleção Meus Primeiros Mitos.

Marina com a mãe, Nayara, na Livraria Miúda, que é quase o quintal de casa Foto: Taba Benedicto/Estad

“Mãe, agora eu vou ler Hércules e você vai ler Atena e depois a gente troca”, disse. E, reproduzindo a experiência da leitura compartilhada, perguntou: “O que está acontecendo no seu livro, mãe?”.

“Acho que ela aprendeu comigo o amor pelos livros. E eu aprendi com a minha mãe”, conta Nayara, de 36 anos. Marina é articulada, fala bem. O livro que ela via quando nos encontramos era O Que Tem Dentro da Sua Fralda? Tudo a ver com o momento que ela vive: do desfralde. Curiosa, faz perguntas enquanto brinca. “Um livro é feito com tinta?”, ela queria saber. E repete algumas vezes: “Quero esse livro”, “Quero levar aquele”, “Posso enfiar na sacola?”.

Nascida na pandemia, Marina começou seu contato com os livros por meio de uma coleção de sua mãe guardada pela avó Foto: Taba Benedicto/Estadão

Ela até é capaz de entender se um dia sai de mãos abanando. Afinal, tem muitos livros em casa e sempre recebe um novo, do Clubinho Literatura de Colo, da Editora Jujuba. Marina só não entende quando passa na frente da loja a caminho da escola, numa segunda-feira, e vê as portas fechadas. Aí quase chora.

Roteiro cultural

São Paulo é uma cidade com muitas opções de passeios como este feito pelo menos uma vez por semana por Nayara e Marina. Para pais, tios, avós e cuidadores que desejam plantar a sementinha do gosto pela leitura nas crianças, incluir livrarias e bibliotecas na rotina, além de contar histórias em casa e ler na frente de uma criança, podem ser de grande ajuda.

São todos espaços lúdicos que propiciam, sim, o encontro com o livro, mas, acima de tudo, experiências que serão significativas em sua formação pessoal e como leitora.

Toda boa livraria tem uma área dedicada à literatura infantil e juvenil, e lojas como a Martins Fontes e a Vila são tradicionais entre famílias leitoras (e abrem de segunda a segunda). Os pequenos paulistanos e visitantes têm sorte também porque a cidade conta, ainda, com seis livrarias especializadas (Miúda, Pé de Livro, Companhia Ilimitada, NoveSete, PanaPaná e Casa de Livros).

Na Vila Mariana, a Livraria NoveSete é uma das mais tradicionais para crianças Foto: Adriana Valetin

Para não atrapalhar

Nayara deixa Marina livre para escolher o que quer. Às vezes mostra algo que considera importante. Às vezes compra mesmo que a menina não demonstre interesse. Uma hora ela pode ser fisgada.

“Achamos fundamental apoiar as escolhas que as crianças fazem. Nossa militância passa por esse lugar de valorização e respeito a vozes, e silêncios, das infâncias. Numa livraria, a experiência tem de ser livre e prazerosa”, dizem Júlia Souto e Tereza Grimaldi, que inauguraram a Miúda no final de 2021. Mas podemos orientar? “Sim, mas temos de estar atentos para não sermos impositivos e minar o interesse da criança pelo livro e pela leitura que ela quer escolher e fazer”, respondem.

Segundo as proprietárias, é comum famílias entrarem apenas para passear. E é comum que ver famílias conversando no café enquanto as crianças exploram a livraria. “Muita gente faz isso: passeios familiares, encontros com amigas e amigos e até mesmo, familiares trabalhando no café enquanto a criança passa uma tarde gostosa em meio aos livros. E tudo bem! Não somos apenas um ponto de vendas de livros, somos, fundamentalmente um ponto de encontro de pessoas, do leitor com os autores e do leitor com os muitos mundos que cabem aqui.”

Para Zoara Failla, coordenadora da Pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, esse encontro lúdico da criança com o livro é uma experiência que pode ser divertida e de muita aprendizagem, e que deve ser promovida muitas vezes. “Ficará na memória afetiva dessa criança como uma experiência fascinante e, certamente, ela estará aberta a acolher os livros e as práticas leitoras promovidas na escola como atividades prazerosas e de descobertas.”

Bibliotecas e outros incentivos à leitura

A mais recente edição da pesquisa Retratos da Leitura, de 2020, mostrou que o hábito de ler é uma construção que vem da infância, bastante influenciada pelo adulto, especialmente por mães, pais e professores. “São lembrados como aqueles que despertaram o gosto pela leitura os pais que leem para seus filhos, que leem na frente dos filhos e que têm livros em casa”, explica Zoara Failla.

Rodrigo Moreira Nogueira tem 42 anos e nunca gostou de ler. Mas, na quinta à tarde, ele estava na Biblioteca Villa-Lobos com a mulher e os dois filhos. Ele é treinador e palestrante, defende que o autoconhecimento é importante em todas as áreas de nossas vidas e explica que foi entendendo um pouco mais de sua história que percebeu que “essa dificuldade (ler) foi porque o hábito não foi criado na infância – o hábito da leitura”.

Família de Vitória conheceu a Biblioteca Parque Villa-Lobos nesta semana Foto: Tiago Queiroz/Estadão

“Com isso, comecei a estimular minha filha mais velha, a Marina, e aos 10 anos ela é uma apaixonada por livros. E estamos levando o mais novo nesse caminho também”, conta. Davi tem 6.

Turistas de Vitória, eles estão em São Paulo para comemorar o aniversário das crianças e de casamento do casal. “Tínhamos a tarde livre e nos sugeriram visitar o Parque Villa-Lobos. Pesquisando, descobrimos que tinha uma biblioteca. Achamos muito interessante, com várias opções de leitura para todas as idades, ambiente iluminado e aconchegante, e até jogos de tabuleiro que também gostamos. Em Vitória, não há ambientes assim”, contou após a visita.

A Biblioteca Parque Villa-Lobos é um oásis em dias quentes, e é assim que muita gente acaba descobrindo o grande espaço onde os livros estão ao alcance das mãos e onde há propostas de atividades para todas as idades – já a partir dos 6 meses.

Davi, de 6 anos, na Biblioteca Parque Villa-Lobos: livros ao alcance de todos Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Um dos projetos de maior sucesso lá, e também da Biblioteca São Paulo, onde ficava o Carandiru, é o Lê no Ninho, para a faixa etária dos 6 meses aos 4 anos. “Pais, cuidadores e crianças compartilham um espaço preparado e aconchegante, em que mediadores, com a participação dos acompanhantes, se dedicam a manusear livros, olhar imagens, compartilhar histórias, brincar com palavras, numa dinâmica livre em que cada criança vai construindo seu caminho de interesse. Não tem aquela coisa de: presta atenção, de olha pra cá”, explica Pierre Ruprecht, diretor executivo da SP Leituras, que administra essas bibliotecas da Secretaria de Cultura e Economia Criativa de São Paulo.

Ao final, os pais são convidados a fazer a carteirinha para os filhos e iniciar, levando livros emprestados, uma nova relação com a biblioteca que, Pierre conta, pode ser significativa para toda a família.

Passeio para a família

“A primeira coisa que as bibliotecas fazem para cativar os pequenos é cativar as famílias, ou seja, é oferecer uma série de atividades, de espaços e de possibilidades para crianças, adultos, idosos. Queremos estimular a vinda em família”, diz Ruprecht.

Pode correr, pode ler, pode brincar. “A biblioteca é uma espécie de parque de diversão. E, para as crianças, elas têm muitos mistérios. Dizemos que, numa biblioteca, dormem milhares de histórias esperando para serem acordadas.”

Quem quiser só dar uma olhadinha, descansar na sombra, também é bem-vindo. “A biblioteca deve ser usada com muita liberdade”, finaliza. l COLABOROU TIAGO QUEIROZ

Livrarias e bibliotecas de São Paulo para ir com as crianças

Livrarias

Miúda

R. Coronel Melo de Oliveira, 766 – Pompeia

Pé de Livro

R. Tucuna, 298 – Pompeia

Companhia Ilimitada

R. Florineia, 38 – Água Fria

NoveSete

R. França Pinto, 97 – Vila Mariana

PanaPaná

R. Leandro Dupré, 396 – Vila Clementino

Casa de Livros

R. Capitão Otávio Machado, 259 – Chácara S. Antônio

(as livrarias fecham no domingo e algumas também na segunda)

Bibliotecas

Biblioteca Parque Villa-Lobos

Av. Queiroz Filho, 1.205 – Alto de Pinheiros

Biblioteca São Paulo

Av. Cruzeiro do Sul, 2.630 – Santana

Biblioteca Monteiro Lobato

R. General Jardim, 485 – Vila Buarque

Gibiteca Henfil

R. Vergueiro, 1.000 – Paraíso

Hans Christian Andersen (de contos de fadas)

Av. Celso Garcia, 4.142 – Tatuapé

Marina estava sentada numa cadeirinha rosa de balanço, lendo animada o livro que ela mesma escolheu e contando a história para a mãe, Nayrara Furlan Rocha Leme, quando a reportagem chegou à Livraria Miúda, na Pompeia, na tarde desta quinta-feira, 30. Era como se ela estivesse em casa. Logo tirou o sapato, correu passando a mão nos exemplares que estavam no caminho, quis entrar num caixote onde estavam seus livros preferidos da vez.

Bebê da pandemia, prestes a completar 3 anos, Marina teve seus primeiros contatos com literatura porque a avó tinha guardado uma coleção de clássicos da Disney, que Nayara adorava quando pequena. Consertaram até um Meu Primeiro Gradiente para ela poder ouvir as fitas cassete que vinham junto. Quando a pandemia deu uma trégua, a família fez um passeio na Livraria da Vila, da Fradique Coutinho, e ela, com 1 ano e 3 meses, saiu de lá com o primeiro livro escolhido por ela – e que quer ler sempre que o reencontra na Miúda: Atena, da coleção Meus Primeiros Mitos.

Marina com a mãe, Nayara, na Livraria Miúda, que é quase o quintal de casa Foto: Taba Benedicto/Estad

“Mãe, agora eu vou ler Hércules e você vai ler Atena e depois a gente troca”, disse. E, reproduzindo a experiência da leitura compartilhada, perguntou: “O que está acontecendo no seu livro, mãe?”.

“Acho que ela aprendeu comigo o amor pelos livros. E eu aprendi com a minha mãe”, conta Nayara, de 36 anos. Marina é articulada, fala bem. O livro que ela via quando nos encontramos era O Que Tem Dentro da Sua Fralda? Tudo a ver com o momento que ela vive: do desfralde. Curiosa, faz perguntas enquanto brinca. “Um livro é feito com tinta?”, ela queria saber. E repete algumas vezes: “Quero esse livro”, “Quero levar aquele”, “Posso enfiar na sacola?”.

Nascida na pandemia, Marina começou seu contato com os livros por meio de uma coleção de sua mãe guardada pela avó Foto: Taba Benedicto/Estadão

Ela até é capaz de entender se um dia sai de mãos abanando. Afinal, tem muitos livros em casa e sempre recebe um novo, do Clubinho Literatura de Colo, da Editora Jujuba. Marina só não entende quando passa na frente da loja a caminho da escola, numa segunda-feira, e vê as portas fechadas. Aí quase chora.

Roteiro cultural

São Paulo é uma cidade com muitas opções de passeios como este feito pelo menos uma vez por semana por Nayara e Marina. Para pais, tios, avós e cuidadores que desejam plantar a sementinha do gosto pela leitura nas crianças, incluir livrarias e bibliotecas na rotina, além de contar histórias em casa e ler na frente de uma criança, podem ser de grande ajuda.

São todos espaços lúdicos que propiciam, sim, o encontro com o livro, mas, acima de tudo, experiências que serão significativas em sua formação pessoal e como leitora.

Toda boa livraria tem uma área dedicada à literatura infantil e juvenil, e lojas como a Martins Fontes e a Vila são tradicionais entre famílias leitoras (e abrem de segunda a segunda). Os pequenos paulistanos e visitantes têm sorte também porque a cidade conta, ainda, com seis livrarias especializadas (Miúda, Pé de Livro, Companhia Ilimitada, NoveSete, PanaPaná e Casa de Livros).

Na Vila Mariana, a Livraria NoveSete é uma das mais tradicionais para crianças Foto: Adriana Valetin

Para não atrapalhar

Nayara deixa Marina livre para escolher o que quer. Às vezes mostra algo que considera importante. Às vezes compra mesmo que a menina não demonstre interesse. Uma hora ela pode ser fisgada.

“Achamos fundamental apoiar as escolhas que as crianças fazem. Nossa militância passa por esse lugar de valorização e respeito a vozes, e silêncios, das infâncias. Numa livraria, a experiência tem de ser livre e prazerosa”, dizem Júlia Souto e Tereza Grimaldi, que inauguraram a Miúda no final de 2021. Mas podemos orientar? “Sim, mas temos de estar atentos para não sermos impositivos e minar o interesse da criança pelo livro e pela leitura que ela quer escolher e fazer”, respondem.

Segundo as proprietárias, é comum famílias entrarem apenas para passear. E é comum que ver famílias conversando no café enquanto as crianças exploram a livraria. “Muita gente faz isso: passeios familiares, encontros com amigas e amigos e até mesmo, familiares trabalhando no café enquanto a criança passa uma tarde gostosa em meio aos livros. E tudo bem! Não somos apenas um ponto de vendas de livros, somos, fundamentalmente um ponto de encontro de pessoas, do leitor com os autores e do leitor com os muitos mundos que cabem aqui.”

Para Zoara Failla, coordenadora da Pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, esse encontro lúdico da criança com o livro é uma experiência que pode ser divertida e de muita aprendizagem, e que deve ser promovida muitas vezes. “Ficará na memória afetiva dessa criança como uma experiência fascinante e, certamente, ela estará aberta a acolher os livros e as práticas leitoras promovidas na escola como atividades prazerosas e de descobertas.”

Bibliotecas e outros incentivos à leitura

A mais recente edição da pesquisa Retratos da Leitura, de 2020, mostrou que o hábito de ler é uma construção que vem da infância, bastante influenciada pelo adulto, especialmente por mães, pais e professores. “São lembrados como aqueles que despertaram o gosto pela leitura os pais que leem para seus filhos, que leem na frente dos filhos e que têm livros em casa”, explica Zoara Failla.

Rodrigo Moreira Nogueira tem 42 anos e nunca gostou de ler. Mas, na quinta à tarde, ele estava na Biblioteca Villa-Lobos com a mulher e os dois filhos. Ele é treinador e palestrante, defende que o autoconhecimento é importante em todas as áreas de nossas vidas e explica que foi entendendo um pouco mais de sua história que percebeu que “essa dificuldade (ler) foi porque o hábito não foi criado na infância – o hábito da leitura”.

Família de Vitória conheceu a Biblioteca Parque Villa-Lobos nesta semana Foto: Tiago Queiroz/Estadão

“Com isso, comecei a estimular minha filha mais velha, a Marina, e aos 10 anos ela é uma apaixonada por livros. E estamos levando o mais novo nesse caminho também”, conta. Davi tem 6.

Turistas de Vitória, eles estão em São Paulo para comemorar o aniversário das crianças e de casamento do casal. “Tínhamos a tarde livre e nos sugeriram visitar o Parque Villa-Lobos. Pesquisando, descobrimos que tinha uma biblioteca. Achamos muito interessante, com várias opções de leitura para todas as idades, ambiente iluminado e aconchegante, e até jogos de tabuleiro que também gostamos. Em Vitória, não há ambientes assim”, contou após a visita.

A Biblioteca Parque Villa-Lobos é um oásis em dias quentes, e é assim que muita gente acaba descobrindo o grande espaço onde os livros estão ao alcance das mãos e onde há propostas de atividades para todas as idades – já a partir dos 6 meses.

Davi, de 6 anos, na Biblioteca Parque Villa-Lobos: livros ao alcance de todos Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Um dos projetos de maior sucesso lá, e também da Biblioteca São Paulo, onde ficava o Carandiru, é o Lê no Ninho, para a faixa etária dos 6 meses aos 4 anos. “Pais, cuidadores e crianças compartilham um espaço preparado e aconchegante, em que mediadores, com a participação dos acompanhantes, se dedicam a manusear livros, olhar imagens, compartilhar histórias, brincar com palavras, numa dinâmica livre em que cada criança vai construindo seu caminho de interesse. Não tem aquela coisa de: presta atenção, de olha pra cá”, explica Pierre Ruprecht, diretor executivo da SP Leituras, que administra essas bibliotecas da Secretaria de Cultura e Economia Criativa de São Paulo.

Ao final, os pais são convidados a fazer a carteirinha para os filhos e iniciar, levando livros emprestados, uma nova relação com a biblioteca que, Pierre conta, pode ser significativa para toda a família.

Passeio para a família

“A primeira coisa que as bibliotecas fazem para cativar os pequenos é cativar as famílias, ou seja, é oferecer uma série de atividades, de espaços e de possibilidades para crianças, adultos, idosos. Queremos estimular a vinda em família”, diz Ruprecht.

Pode correr, pode ler, pode brincar. “A biblioteca é uma espécie de parque de diversão. E, para as crianças, elas têm muitos mistérios. Dizemos que, numa biblioteca, dormem milhares de histórias esperando para serem acordadas.”

Quem quiser só dar uma olhadinha, descansar na sombra, também é bem-vindo. “A biblioteca deve ser usada com muita liberdade”, finaliza. l COLABOROU TIAGO QUEIROZ

Livrarias e bibliotecas de São Paulo para ir com as crianças

Livrarias

Miúda

R. Coronel Melo de Oliveira, 766 – Pompeia

Pé de Livro

R. Tucuna, 298 – Pompeia

Companhia Ilimitada

R. Florineia, 38 – Água Fria

NoveSete

R. França Pinto, 97 – Vila Mariana

PanaPaná

R. Leandro Dupré, 396 – Vila Clementino

Casa de Livros

R. Capitão Otávio Machado, 259 – Chácara S. Antônio

(as livrarias fecham no domingo e algumas também na segunda)

Bibliotecas

Biblioteca Parque Villa-Lobos

Av. Queiroz Filho, 1.205 – Alto de Pinheiros

Biblioteca São Paulo

Av. Cruzeiro do Sul, 2.630 – Santana

Biblioteca Monteiro Lobato

R. General Jardim, 485 – Vila Buarque

Gibiteca Henfil

R. Vergueiro, 1.000 – Paraíso

Hans Christian Andersen (de contos de fadas)

Av. Celso Garcia, 4.142 – Tatuapé

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