Sextante, com modelo 'insustentável', chega aos 20 anos como a editora que mais vende no Brasil


Marcos e Tomás da Veiga Pereira relembram a trajetória da editora que fundaram com o pai em 1998 para publicar livros de autoajuda com tiragens altas e preço baixo e que hoje publica Augusto Cury, Dan Brown, Nicholas Sparks e muitos outros

Por Maria Fernanda Rodrigues

Marcos guarda a lição aprendida com o pai na praia como uma metáfora para a vida. Se vem onda grande, não recue, não dê as costas, não fuja. “Nada, nada, nada. Fura”, ele gritava. Enfrente. Mas chega um momento que você não vai conseguir. Nessa hora, ele dizia: “Quando a onda te pegar, deixa ela te levar. Segura o fôlego, não enfrente e você vai conseguir sair”. 

Marcos da Veiga Pereira relembra essa história em sua sala de trabalho, com a enseada de Botafogo ao fundo e tendo ao seu lado o irmão mais novo, Tomás – companheiro desde sempre nas brincadeiras e no esporte e com quem, como diz, tem um filho em comum: a editora Sextante.

A Sextante, de Tomás (E.) e Marcos da Veiga Pereira, já vendeu 106 milhõesde exemplares desde 1998 Foto: Wilton Junior/Estadão
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Se com o pai eles aprenderam a enfrentar problemas, a ser perseverantes e a achar graça nas coisas da vida, com a própria vida aprenderam a ser cautelosos. A arriscar, sim – e não se chega aonde chegaram sem ousadia. Mas controlando o risco. 

Para contar a história da editora que mais vende livros no Brasil hoje e que é casa de Augusto Cury, Dan Brown e William Paul Young, é preciso lembrar que Marcos e Tomás são filhos de Geraldo Jordão Pereira (1938-2008), que era filho do lendário José Olympio (1902-1990). Editora dos principais escritores brasileiros, como Guimarães Rosa – que visitou Marcos na maternidade –, Carlos Drummond de Andrade e Rachel de Queiroz, a José Olympio foi, por décadas, uma das melhores editoras do País até abrir capital no milagre econômico, apostar no novíssimo ensino a distância e quebrar com a crise do petróleo. 

Em 1975, a família perdeu o controle da editora. E Geraldo, que chegou a tentar, sem recursos, profissionalizar o negócio do pai, deixou a empresa, vendeu quadros e abriu uma pequena editora, em casa, que começou prestando serviços a outras editoras. Nessa época, a família deixa a casa na Lagoa e vai morar, por oito meses, com a avó no Flamengo. “Eu tinha 12 e o Tomás tinha 7. São anos difíceis, de contenção. Mas a gente era criança e era tudo festa. Mesmo assim, tem um lado de restrição nessa época que nos torna, de alguma maneira, muito batalhadores”, conta Marcos, hoje com 54 anos.

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Entre um trabalho e outro Geraldo começou a publicar livros de arte e de outros gêneros, e então fez sua aposta: investir na criança, no futuro. Sua Salamandra lança Ana Maria Machado, que leva Ruth Rocha, Silvia Orthof e por aí vai. É nesse momento, em 1981, que Marcos, com 17 anos, prestes a começar as aulas na faculdade de engenharia, decide trabalhar. Vai para a Salamandra. “Para lamber selo e envelope”, brinca Tomás, aos 49. Foi quase isso. Ele não sai mais. Tomás, publicitário, chega em 1992, com 24. A Salamandra cresce, mas perde diferenciação com a chegada da concorrência. Eles percebem isso em tempo. É com sua venda para a Moderna que nasce a Sextante – editora que tem o sucesso comercial que José Olympio e Salamandra nunca tiveram.

Marcos e Tomás da Veiga Pereira são a terceira geração de uma família que, com José Olympio, publicou os melhores escritores brasileiros, e com Geraldo Jordão Pereira, os melhores autores de obras infantis. Quando, em 1998, os dois decidem iniciar uma nova editora ao lado do pai, eles escolhem o mais desprestigiado dos gêneros: a autoajuda.

+++ 44% da população brasileira não lê e 30% nunca comprou um livro, aponta pesquisa Retratos da Leitura

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Foi um livro que Geraldo publicou por sugestão de um amigo, sobre espiritismo para um público leigo e que, portanto, não tinha nada a ver com seu respeitado catálogo infantil, que abriu os olhos do trio. Muitas Vidas, Muitos Mestres, de Brian Weiss, que encantou Geraldo como leitor, vendeu 4 mil exemplares em 1992 e 30 mil em 1995. No ano seguinte, quando ele publica um segundo título e vem ao Brasil, o número salta para 200 mil e ele passa a responder por 40% do faturamento da Salamandra que, num bom ano, vendia 300 mil exemplares.

Geraldo Jordão Pereira entre os filhos Tomás e Marcos na época da criação da Sextante Foto: Ana Branco/Agência Globo

“Brian Weiss nos mostrou um caminho e fizemos um pacto: a editora teria um foco muito claro e os editores não publicariam os livros de que cada um gostava”, conta Marcos. Além do foco, criaram um novo modelo de negócio. “Montamos a equação decisiva da Sextante: publicar poucos livros e fazer tiragens maiores que a média, com pelo menos 8 mil exemplares. Com tiragens altas, vamos poder vender o livro a R$ 19,90 e vamos conseguir mais exposição nas livrarias”, explica Tomás. Segundo os editores, o livro custava cerca de R$ 50 na época.

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Marcos conta que por muito tempo o mercado não acreditou nessa fórmula. “Pensavam que esse era um modelo insustentável. Os editores tradicionais ainda viam o livro como algo para a elite e não achavam que o preço era fator de diferenciação”, diz. Foi.

No primeiro ano, a enxuta editora familiar que foi buscar no mercado internacional os livros que as outras editoras não queriam publicar lançou 22 títulos e vendeu 200 mil cópias – o crescimento foi exponencial: 320 mil exemplares comercializados em 1999, 545 mil em 2000 e 1,5 milhão em 2001. Hoje, 20 anos depois, quando o R$ 19,90 virou R$ 29,90, e com as principais editoras querendo o seu quinhão na área, ela ainda domina o mercado. Só em 2017, quando publicou 117 obras, ela vendeu 6,5 milhões de exemplares. Segundo a Nielsen, esses números fazem da Sextante a maior editora em volume de vendas do País e a segunda em faturamento – perde para o Grupo Companhia das Letras, que lança cerca de 300 títulos por ano.

+++ Os livros mais vendidos de 2017

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Além da falta de concorrência no início, de um modelo de negócio que ajudou a levar o livro a um número maior de leitores e do empenho dos editores de fazer obras sobre os mais diversos temas – da arte de respirar à de arrumar a casa – com linguagem acessível, houve outro aliado para o sucesso da Sextante: a estabilidade financeira e a valorização do Real, que permitiram pagamentos de direitos autorais em dólar sem levar os sócios à falência.

Aliás, eram outros tempos também no que diz respeito aos royalties e leilões. A primeira aposta da editora, Um Dia Daqueles, de Bradley Trevor Greive, custou caro, US$ 5 mil, mas saiu barato. A editora conseguiu vender muito logo de cara (e 1,35 milhão no total), o que impressionou o agente literário do autor – também agente de Ken Follett, que foi “dado de bandeja” aos irmãos. O Código Da Vinci, que também encantou Geraldo como leitor e mudou para sempre o destino da editora, que começou a olhar para ficção, foi comprado por US$ 12 mil – e vendeu 1,9 milhão de cópias. Só para se ter uma ideia, os três primeiros volumes de Cinquenta Tons de Cinza foram comprados pela Intrínseca – Marcos e Tomás são donos de 50% da editora – no começo da década, num “divertido leilão”, segundo Marcos, por US$ 750 mil.

Depois de uma tentativa de se associar à L&PM, por interesse no mercado de livros de bolso, “um sonho de verão” frustrado pela complexidade do negócio, e acompanhando o mercado a editora passou a investir mais em autores brasileiros – muitas vezes, como foi o caso de Transformando Suor em Ouro, de Bernardinho, com livros feitos do zero dentro da editora – que já foi sondada pela Planeta, Leya e Random House. 

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+++ 'Meus livros provocam o leitor', diz Augusto Cury, o maior best-seller do Brasil

Se pensam em vender o negócio um dia? “A gente é papinho fácil. Conversamos com quem quiser conversar. A questão é: o que agregaria à nossa vida a venda da editora?”, questiona Marcos. “O que ganharíamos, além do dinheiro? Fomos procurados esses anos todos e nunca conseguimos responder a essa pergunta”, completa Tomás.

Neste momento ainda difícil para o mercado editorial, que amarga queda de 20%, a editora segue com seu princípio de publicar poucos títulos e certeiros – como foi o caso de Jardim Secreto, a maior loucura vivida pela Sextante (só em um mês, ela vendeu 1 milhão de cópias). Cuida bem de seus autores – Augusto Cury, com 16 milhões de exemplares vendidos, é o best-seller, seguido por Dan Brown, com 6,6 milhões. E mira os bons autores da concorrência – em breve, deve anunciar a chegada de outro grande escritor ao seu catálogo.

+++ 'Falta de diálogo é o grande inimigo atual', diz Dan Brown

“O que nos anima é saber que existe muita coisa superimportante que não é ensinada em lugar nenhum. Coisas fundamentais para se viver bem, para a realização humana. É aí que a gente entra. É onde temos algo a oferecer e o livro tem seu papel”, diz Tomás. “As pessoas estão sendo ajudadas e influenciadas pelos livros que publicamos. Essa é a melhor parte do nosso negócio. Quanto mais vendemos mais estamos divulgando um conteúdo no qual acreditamos”, completa Marcos.

Depoimentos "A Sextante é a melhor editora de livros comerciais do País e estamos tentando aprender com eles para os novos selos da editora” Luiz Schwarcz, diretor do Grupo Companhia das Letras

"Sextante é um instrumento usado para medir o ângulo entre dois objetos, bastante empregado na navegação para medir a distância de um astro e a linha do horizonte. Em alguns sentidos, é a algo semelhante que se propôs a editora que leva este nome. Atuando com grande profissionalismo, tanto na seleção de títulos, quanto na edição e na comercialização, a editora Sextante contribuiu para mexer nos rumos do mercado editorial brasileiro" Cassiano Elek Machado – jornalista e diretor editorial da editora Planeta Brasil

"A família Pereira, como a família Machado, trazem o livro no DNA. Herdaram do avô José Olympio o amor pelo negócio do livro" Sônia Machado Jardim, presidente do Grupo Editorial Record

Números Funcionários - 107 Títulos publicados -1.750 Títulos em catálogo - 1.100 Exemplares vendidos: 106 milhões Lançamentos por mês: 10  2017 - 117 títulos publicados e 6,5 milhões exemplares vendidos 2015 (lançamento do livro de colorir): 139 títulos publicados 8,5 milhões de cópias vendidas

Os 10 livros mais vendidos A Cabana -4,7 milhões O monge e executivo - 3,5 milhões Você é insubstituível -2,5 milhões Nunca desista de seus sonhos - 2,4 milhões Pais brilhantes, professores fascinantes - 2,1 milhões Código Da Vinci -1,9 milhões Jardim Secreto - 1,8 milhões Um dia “daqueles” - 1,35 milhões Segredos da mente milionária -1,25 milhões Anjos e Demônios - 1,2 milhões

Os 5 autores best-sellers Augusto Cury - 16 milhões Dan Brown -6,6 milhões William Paul Young - 5,2 milhões James Hunter-4,4 milhões Bradley Trevor- 3,5 milhões Nicholas Sparks-2,6 milhões

Editora celebra os 20 anos com encontro em SP A Sextante reúne alguns de seus autores no Teatro Gazeta. Hoje, 26, com ingressos esgotados, tem Augusto Cury e Sri Prem Baba, entre outros. E amanhã: Bernardinho e Vladimir Netto, entre outros. Os ingressos custam R$ 20 e podem ser comprados no site Ingresso Rápido

Marcos guarda a lição aprendida com o pai na praia como uma metáfora para a vida. Se vem onda grande, não recue, não dê as costas, não fuja. “Nada, nada, nada. Fura”, ele gritava. Enfrente. Mas chega um momento que você não vai conseguir. Nessa hora, ele dizia: “Quando a onda te pegar, deixa ela te levar. Segura o fôlego, não enfrente e você vai conseguir sair”. 

Marcos da Veiga Pereira relembra essa história em sua sala de trabalho, com a enseada de Botafogo ao fundo e tendo ao seu lado o irmão mais novo, Tomás – companheiro desde sempre nas brincadeiras e no esporte e com quem, como diz, tem um filho em comum: a editora Sextante.

A Sextante, de Tomás (E.) e Marcos da Veiga Pereira, já vendeu 106 milhõesde exemplares desde 1998 Foto: Wilton Junior/Estadão

Se com o pai eles aprenderam a enfrentar problemas, a ser perseverantes e a achar graça nas coisas da vida, com a própria vida aprenderam a ser cautelosos. A arriscar, sim – e não se chega aonde chegaram sem ousadia. Mas controlando o risco. 

Para contar a história da editora que mais vende livros no Brasil hoje e que é casa de Augusto Cury, Dan Brown e William Paul Young, é preciso lembrar que Marcos e Tomás são filhos de Geraldo Jordão Pereira (1938-2008), que era filho do lendário José Olympio (1902-1990). Editora dos principais escritores brasileiros, como Guimarães Rosa – que visitou Marcos na maternidade –, Carlos Drummond de Andrade e Rachel de Queiroz, a José Olympio foi, por décadas, uma das melhores editoras do País até abrir capital no milagre econômico, apostar no novíssimo ensino a distância e quebrar com a crise do petróleo. 

Em 1975, a família perdeu o controle da editora. E Geraldo, que chegou a tentar, sem recursos, profissionalizar o negócio do pai, deixou a empresa, vendeu quadros e abriu uma pequena editora, em casa, que começou prestando serviços a outras editoras. Nessa época, a família deixa a casa na Lagoa e vai morar, por oito meses, com a avó no Flamengo. “Eu tinha 12 e o Tomás tinha 7. São anos difíceis, de contenção. Mas a gente era criança e era tudo festa. Mesmo assim, tem um lado de restrição nessa época que nos torna, de alguma maneira, muito batalhadores”, conta Marcos, hoje com 54 anos.

Entre um trabalho e outro Geraldo começou a publicar livros de arte e de outros gêneros, e então fez sua aposta: investir na criança, no futuro. Sua Salamandra lança Ana Maria Machado, que leva Ruth Rocha, Silvia Orthof e por aí vai. É nesse momento, em 1981, que Marcos, com 17 anos, prestes a começar as aulas na faculdade de engenharia, decide trabalhar. Vai para a Salamandra. “Para lamber selo e envelope”, brinca Tomás, aos 49. Foi quase isso. Ele não sai mais. Tomás, publicitário, chega em 1992, com 24. A Salamandra cresce, mas perde diferenciação com a chegada da concorrência. Eles percebem isso em tempo. É com sua venda para a Moderna que nasce a Sextante – editora que tem o sucesso comercial que José Olympio e Salamandra nunca tiveram.

Marcos e Tomás da Veiga Pereira são a terceira geração de uma família que, com José Olympio, publicou os melhores escritores brasileiros, e com Geraldo Jordão Pereira, os melhores autores de obras infantis. Quando, em 1998, os dois decidem iniciar uma nova editora ao lado do pai, eles escolhem o mais desprestigiado dos gêneros: a autoajuda.

+++ 44% da população brasileira não lê e 30% nunca comprou um livro, aponta pesquisa Retratos da Leitura

Foi um livro que Geraldo publicou por sugestão de um amigo, sobre espiritismo para um público leigo e que, portanto, não tinha nada a ver com seu respeitado catálogo infantil, que abriu os olhos do trio. Muitas Vidas, Muitos Mestres, de Brian Weiss, que encantou Geraldo como leitor, vendeu 4 mil exemplares em 1992 e 30 mil em 1995. No ano seguinte, quando ele publica um segundo título e vem ao Brasil, o número salta para 200 mil e ele passa a responder por 40% do faturamento da Salamandra que, num bom ano, vendia 300 mil exemplares.

Geraldo Jordão Pereira entre os filhos Tomás e Marcos na época da criação da Sextante Foto: Ana Branco/Agência Globo

“Brian Weiss nos mostrou um caminho e fizemos um pacto: a editora teria um foco muito claro e os editores não publicariam os livros de que cada um gostava”, conta Marcos. Além do foco, criaram um novo modelo de negócio. “Montamos a equação decisiva da Sextante: publicar poucos livros e fazer tiragens maiores que a média, com pelo menos 8 mil exemplares. Com tiragens altas, vamos poder vender o livro a R$ 19,90 e vamos conseguir mais exposição nas livrarias”, explica Tomás. Segundo os editores, o livro custava cerca de R$ 50 na época.

Marcos conta que por muito tempo o mercado não acreditou nessa fórmula. “Pensavam que esse era um modelo insustentável. Os editores tradicionais ainda viam o livro como algo para a elite e não achavam que o preço era fator de diferenciação”, diz. Foi.

No primeiro ano, a enxuta editora familiar que foi buscar no mercado internacional os livros que as outras editoras não queriam publicar lançou 22 títulos e vendeu 200 mil cópias – o crescimento foi exponencial: 320 mil exemplares comercializados em 1999, 545 mil em 2000 e 1,5 milhão em 2001. Hoje, 20 anos depois, quando o R$ 19,90 virou R$ 29,90, e com as principais editoras querendo o seu quinhão na área, ela ainda domina o mercado. Só em 2017, quando publicou 117 obras, ela vendeu 6,5 milhões de exemplares. Segundo a Nielsen, esses números fazem da Sextante a maior editora em volume de vendas do País e a segunda em faturamento – perde para o Grupo Companhia das Letras, que lança cerca de 300 títulos por ano.

+++ Os livros mais vendidos de 2017

Além da falta de concorrência no início, de um modelo de negócio que ajudou a levar o livro a um número maior de leitores e do empenho dos editores de fazer obras sobre os mais diversos temas – da arte de respirar à de arrumar a casa – com linguagem acessível, houve outro aliado para o sucesso da Sextante: a estabilidade financeira e a valorização do Real, que permitiram pagamentos de direitos autorais em dólar sem levar os sócios à falência.

Aliás, eram outros tempos também no que diz respeito aos royalties e leilões. A primeira aposta da editora, Um Dia Daqueles, de Bradley Trevor Greive, custou caro, US$ 5 mil, mas saiu barato. A editora conseguiu vender muito logo de cara (e 1,35 milhão no total), o que impressionou o agente literário do autor – também agente de Ken Follett, que foi “dado de bandeja” aos irmãos. O Código Da Vinci, que também encantou Geraldo como leitor e mudou para sempre o destino da editora, que começou a olhar para ficção, foi comprado por US$ 12 mil – e vendeu 1,9 milhão de cópias. Só para se ter uma ideia, os três primeiros volumes de Cinquenta Tons de Cinza foram comprados pela Intrínseca – Marcos e Tomás são donos de 50% da editora – no começo da década, num “divertido leilão”, segundo Marcos, por US$ 750 mil.

Depois de uma tentativa de se associar à L&PM, por interesse no mercado de livros de bolso, “um sonho de verão” frustrado pela complexidade do negócio, e acompanhando o mercado a editora passou a investir mais em autores brasileiros – muitas vezes, como foi o caso de Transformando Suor em Ouro, de Bernardinho, com livros feitos do zero dentro da editora – que já foi sondada pela Planeta, Leya e Random House. 

+++ 'Meus livros provocam o leitor', diz Augusto Cury, o maior best-seller do Brasil

Se pensam em vender o negócio um dia? “A gente é papinho fácil. Conversamos com quem quiser conversar. A questão é: o que agregaria à nossa vida a venda da editora?”, questiona Marcos. “O que ganharíamos, além do dinheiro? Fomos procurados esses anos todos e nunca conseguimos responder a essa pergunta”, completa Tomás.

Neste momento ainda difícil para o mercado editorial, que amarga queda de 20%, a editora segue com seu princípio de publicar poucos títulos e certeiros – como foi o caso de Jardim Secreto, a maior loucura vivida pela Sextante (só em um mês, ela vendeu 1 milhão de cópias). Cuida bem de seus autores – Augusto Cury, com 16 milhões de exemplares vendidos, é o best-seller, seguido por Dan Brown, com 6,6 milhões. E mira os bons autores da concorrência – em breve, deve anunciar a chegada de outro grande escritor ao seu catálogo.

+++ 'Falta de diálogo é o grande inimigo atual', diz Dan Brown

“O que nos anima é saber que existe muita coisa superimportante que não é ensinada em lugar nenhum. Coisas fundamentais para se viver bem, para a realização humana. É aí que a gente entra. É onde temos algo a oferecer e o livro tem seu papel”, diz Tomás. “As pessoas estão sendo ajudadas e influenciadas pelos livros que publicamos. Essa é a melhor parte do nosso negócio. Quanto mais vendemos mais estamos divulgando um conteúdo no qual acreditamos”, completa Marcos.

Depoimentos "A Sextante é a melhor editora de livros comerciais do País e estamos tentando aprender com eles para os novos selos da editora” Luiz Schwarcz, diretor do Grupo Companhia das Letras

"Sextante é um instrumento usado para medir o ângulo entre dois objetos, bastante empregado na navegação para medir a distância de um astro e a linha do horizonte. Em alguns sentidos, é a algo semelhante que se propôs a editora que leva este nome. Atuando com grande profissionalismo, tanto na seleção de títulos, quanto na edição e na comercialização, a editora Sextante contribuiu para mexer nos rumos do mercado editorial brasileiro" Cassiano Elek Machado – jornalista e diretor editorial da editora Planeta Brasil

"A família Pereira, como a família Machado, trazem o livro no DNA. Herdaram do avô José Olympio o amor pelo negócio do livro" Sônia Machado Jardim, presidente do Grupo Editorial Record

Números Funcionários - 107 Títulos publicados -1.750 Títulos em catálogo - 1.100 Exemplares vendidos: 106 milhões Lançamentos por mês: 10  2017 - 117 títulos publicados e 6,5 milhões exemplares vendidos 2015 (lançamento do livro de colorir): 139 títulos publicados 8,5 milhões de cópias vendidas

Os 10 livros mais vendidos A Cabana -4,7 milhões O monge e executivo - 3,5 milhões Você é insubstituível -2,5 milhões Nunca desista de seus sonhos - 2,4 milhões Pais brilhantes, professores fascinantes - 2,1 milhões Código Da Vinci -1,9 milhões Jardim Secreto - 1,8 milhões Um dia “daqueles” - 1,35 milhões Segredos da mente milionária -1,25 milhões Anjos e Demônios - 1,2 milhões

Os 5 autores best-sellers Augusto Cury - 16 milhões Dan Brown -6,6 milhões William Paul Young - 5,2 milhões James Hunter-4,4 milhões Bradley Trevor- 3,5 milhões Nicholas Sparks-2,6 milhões

Editora celebra os 20 anos com encontro em SP A Sextante reúne alguns de seus autores no Teatro Gazeta. Hoje, 26, com ingressos esgotados, tem Augusto Cury e Sri Prem Baba, entre outros. E amanhã: Bernardinho e Vladimir Netto, entre outros. Os ingressos custam R$ 20 e podem ser comprados no site Ingresso Rápido

Marcos guarda a lição aprendida com o pai na praia como uma metáfora para a vida. Se vem onda grande, não recue, não dê as costas, não fuja. “Nada, nada, nada. Fura”, ele gritava. Enfrente. Mas chega um momento que você não vai conseguir. Nessa hora, ele dizia: “Quando a onda te pegar, deixa ela te levar. Segura o fôlego, não enfrente e você vai conseguir sair”. 

Marcos da Veiga Pereira relembra essa história em sua sala de trabalho, com a enseada de Botafogo ao fundo e tendo ao seu lado o irmão mais novo, Tomás – companheiro desde sempre nas brincadeiras e no esporte e com quem, como diz, tem um filho em comum: a editora Sextante.

A Sextante, de Tomás (E.) e Marcos da Veiga Pereira, já vendeu 106 milhõesde exemplares desde 1998 Foto: Wilton Junior/Estadão

Se com o pai eles aprenderam a enfrentar problemas, a ser perseverantes e a achar graça nas coisas da vida, com a própria vida aprenderam a ser cautelosos. A arriscar, sim – e não se chega aonde chegaram sem ousadia. Mas controlando o risco. 

Para contar a história da editora que mais vende livros no Brasil hoje e que é casa de Augusto Cury, Dan Brown e William Paul Young, é preciso lembrar que Marcos e Tomás são filhos de Geraldo Jordão Pereira (1938-2008), que era filho do lendário José Olympio (1902-1990). Editora dos principais escritores brasileiros, como Guimarães Rosa – que visitou Marcos na maternidade –, Carlos Drummond de Andrade e Rachel de Queiroz, a José Olympio foi, por décadas, uma das melhores editoras do País até abrir capital no milagre econômico, apostar no novíssimo ensino a distância e quebrar com a crise do petróleo. 

Em 1975, a família perdeu o controle da editora. E Geraldo, que chegou a tentar, sem recursos, profissionalizar o negócio do pai, deixou a empresa, vendeu quadros e abriu uma pequena editora, em casa, que começou prestando serviços a outras editoras. Nessa época, a família deixa a casa na Lagoa e vai morar, por oito meses, com a avó no Flamengo. “Eu tinha 12 e o Tomás tinha 7. São anos difíceis, de contenção. Mas a gente era criança e era tudo festa. Mesmo assim, tem um lado de restrição nessa época que nos torna, de alguma maneira, muito batalhadores”, conta Marcos, hoje com 54 anos.

Entre um trabalho e outro Geraldo começou a publicar livros de arte e de outros gêneros, e então fez sua aposta: investir na criança, no futuro. Sua Salamandra lança Ana Maria Machado, que leva Ruth Rocha, Silvia Orthof e por aí vai. É nesse momento, em 1981, que Marcos, com 17 anos, prestes a começar as aulas na faculdade de engenharia, decide trabalhar. Vai para a Salamandra. “Para lamber selo e envelope”, brinca Tomás, aos 49. Foi quase isso. Ele não sai mais. Tomás, publicitário, chega em 1992, com 24. A Salamandra cresce, mas perde diferenciação com a chegada da concorrência. Eles percebem isso em tempo. É com sua venda para a Moderna que nasce a Sextante – editora que tem o sucesso comercial que José Olympio e Salamandra nunca tiveram.

Marcos e Tomás da Veiga Pereira são a terceira geração de uma família que, com José Olympio, publicou os melhores escritores brasileiros, e com Geraldo Jordão Pereira, os melhores autores de obras infantis. Quando, em 1998, os dois decidem iniciar uma nova editora ao lado do pai, eles escolhem o mais desprestigiado dos gêneros: a autoajuda.

+++ 44% da população brasileira não lê e 30% nunca comprou um livro, aponta pesquisa Retratos da Leitura

Foi um livro que Geraldo publicou por sugestão de um amigo, sobre espiritismo para um público leigo e que, portanto, não tinha nada a ver com seu respeitado catálogo infantil, que abriu os olhos do trio. Muitas Vidas, Muitos Mestres, de Brian Weiss, que encantou Geraldo como leitor, vendeu 4 mil exemplares em 1992 e 30 mil em 1995. No ano seguinte, quando ele publica um segundo título e vem ao Brasil, o número salta para 200 mil e ele passa a responder por 40% do faturamento da Salamandra que, num bom ano, vendia 300 mil exemplares.

Geraldo Jordão Pereira entre os filhos Tomás e Marcos na época da criação da Sextante Foto: Ana Branco/Agência Globo

“Brian Weiss nos mostrou um caminho e fizemos um pacto: a editora teria um foco muito claro e os editores não publicariam os livros de que cada um gostava”, conta Marcos. Além do foco, criaram um novo modelo de negócio. “Montamos a equação decisiva da Sextante: publicar poucos livros e fazer tiragens maiores que a média, com pelo menos 8 mil exemplares. Com tiragens altas, vamos poder vender o livro a R$ 19,90 e vamos conseguir mais exposição nas livrarias”, explica Tomás. Segundo os editores, o livro custava cerca de R$ 50 na época.

Marcos conta que por muito tempo o mercado não acreditou nessa fórmula. “Pensavam que esse era um modelo insustentável. Os editores tradicionais ainda viam o livro como algo para a elite e não achavam que o preço era fator de diferenciação”, diz. Foi.

No primeiro ano, a enxuta editora familiar que foi buscar no mercado internacional os livros que as outras editoras não queriam publicar lançou 22 títulos e vendeu 200 mil cópias – o crescimento foi exponencial: 320 mil exemplares comercializados em 1999, 545 mil em 2000 e 1,5 milhão em 2001. Hoje, 20 anos depois, quando o R$ 19,90 virou R$ 29,90, e com as principais editoras querendo o seu quinhão na área, ela ainda domina o mercado. Só em 2017, quando publicou 117 obras, ela vendeu 6,5 milhões de exemplares. Segundo a Nielsen, esses números fazem da Sextante a maior editora em volume de vendas do País e a segunda em faturamento – perde para o Grupo Companhia das Letras, que lança cerca de 300 títulos por ano.

+++ Os livros mais vendidos de 2017

Além da falta de concorrência no início, de um modelo de negócio que ajudou a levar o livro a um número maior de leitores e do empenho dos editores de fazer obras sobre os mais diversos temas – da arte de respirar à de arrumar a casa – com linguagem acessível, houve outro aliado para o sucesso da Sextante: a estabilidade financeira e a valorização do Real, que permitiram pagamentos de direitos autorais em dólar sem levar os sócios à falência.

Aliás, eram outros tempos também no que diz respeito aos royalties e leilões. A primeira aposta da editora, Um Dia Daqueles, de Bradley Trevor Greive, custou caro, US$ 5 mil, mas saiu barato. A editora conseguiu vender muito logo de cara (e 1,35 milhão no total), o que impressionou o agente literário do autor – também agente de Ken Follett, que foi “dado de bandeja” aos irmãos. O Código Da Vinci, que também encantou Geraldo como leitor e mudou para sempre o destino da editora, que começou a olhar para ficção, foi comprado por US$ 12 mil – e vendeu 1,9 milhão de cópias. Só para se ter uma ideia, os três primeiros volumes de Cinquenta Tons de Cinza foram comprados pela Intrínseca – Marcos e Tomás são donos de 50% da editora – no começo da década, num “divertido leilão”, segundo Marcos, por US$ 750 mil.

Depois de uma tentativa de se associar à L&PM, por interesse no mercado de livros de bolso, “um sonho de verão” frustrado pela complexidade do negócio, e acompanhando o mercado a editora passou a investir mais em autores brasileiros – muitas vezes, como foi o caso de Transformando Suor em Ouro, de Bernardinho, com livros feitos do zero dentro da editora – que já foi sondada pela Planeta, Leya e Random House. 

+++ 'Meus livros provocam o leitor', diz Augusto Cury, o maior best-seller do Brasil

Se pensam em vender o negócio um dia? “A gente é papinho fácil. Conversamos com quem quiser conversar. A questão é: o que agregaria à nossa vida a venda da editora?”, questiona Marcos. “O que ganharíamos, além do dinheiro? Fomos procurados esses anos todos e nunca conseguimos responder a essa pergunta”, completa Tomás.

Neste momento ainda difícil para o mercado editorial, que amarga queda de 20%, a editora segue com seu princípio de publicar poucos títulos e certeiros – como foi o caso de Jardim Secreto, a maior loucura vivida pela Sextante (só em um mês, ela vendeu 1 milhão de cópias). Cuida bem de seus autores – Augusto Cury, com 16 milhões de exemplares vendidos, é o best-seller, seguido por Dan Brown, com 6,6 milhões. E mira os bons autores da concorrência – em breve, deve anunciar a chegada de outro grande escritor ao seu catálogo.

+++ 'Falta de diálogo é o grande inimigo atual', diz Dan Brown

“O que nos anima é saber que existe muita coisa superimportante que não é ensinada em lugar nenhum. Coisas fundamentais para se viver bem, para a realização humana. É aí que a gente entra. É onde temos algo a oferecer e o livro tem seu papel”, diz Tomás. “As pessoas estão sendo ajudadas e influenciadas pelos livros que publicamos. Essa é a melhor parte do nosso negócio. Quanto mais vendemos mais estamos divulgando um conteúdo no qual acreditamos”, completa Marcos.

Depoimentos "A Sextante é a melhor editora de livros comerciais do País e estamos tentando aprender com eles para os novos selos da editora” Luiz Schwarcz, diretor do Grupo Companhia das Letras

"Sextante é um instrumento usado para medir o ângulo entre dois objetos, bastante empregado na navegação para medir a distância de um astro e a linha do horizonte. Em alguns sentidos, é a algo semelhante que se propôs a editora que leva este nome. Atuando com grande profissionalismo, tanto na seleção de títulos, quanto na edição e na comercialização, a editora Sextante contribuiu para mexer nos rumos do mercado editorial brasileiro" Cassiano Elek Machado – jornalista e diretor editorial da editora Planeta Brasil

"A família Pereira, como a família Machado, trazem o livro no DNA. Herdaram do avô José Olympio o amor pelo negócio do livro" Sônia Machado Jardim, presidente do Grupo Editorial Record

Números Funcionários - 107 Títulos publicados -1.750 Títulos em catálogo - 1.100 Exemplares vendidos: 106 milhões Lançamentos por mês: 10  2017 - 117 títulos publicados e 6,5 milhões exemplares vendidos 2015 (lançamento do livro de colorir): 139 títulos publicados 8,5 milhões de cópias vendidas

Os 10 livros mais vendidos A Cabana -4,7 milhões O monge e executivo - 3,5 milhões Você é insubstituível -2,5 milhões Nunca desista de seus sonhos - 2,4 milhões Pais brilhantes, professores fascinantes - 2,1 milhões Código Da Vinci -1,9 milhões Jardim Secreto - 1,8 milhões Um dia “daqueles” - 1,35 milhões Segredos da mente milionária -1,25 milhões Anjos e Demônios - 1,2 milhões

Os 5 autores best-sellers Augusto Cury - 16 milhões Dan Brown -6,6 milhões William Paul Young - 5,2 milhões James Hunter-4,4 milhões Bradley Trevor- 3,5 milhões Nicholas Sparks-2,6 milhões

Editora celebra os 20 anos com encontro em SP A Sextante reúne alguns de seus autores no Teatro Gazeta. Hoje, 26, com ingressos esgotados, tem Augusto Cury e Sri Prem Baba, entre outros. E amanhã: Bernardinho e Vladimir Netto, entre outros. Os ingressos custam R$ 20 e podem ser comprados no site Ingresso Rápido

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