Silviano Santiago vence o Prêmio Camões 2022


Premiação ao ensaísta, crítico e romancista mineiro foi anunciada na tarde desta segunda, 24

Por Maria Fernanda Rodrigues
Atualização:

Crítico literário, professor, pesquisar e romancista, o mineiro Silviano Santiago ganhou o Prêmio Camões 2022 - o mais prestigioso da língua portuguesa. O anúncio foi feito na tarde desta segunda-feira, 24, após a reunião do júri do prêmio. O valor do prêmio é 100 mil euros - dividido entre Portugal e Brasil.

“Silviano Santiago, além de escritor com uma obra literária com vários prêmios nacionais e internacionais (Jabuti, Oceanos, etc.), é um pensador capaz de uma intervenção cívica e cultural de grande relevância, com um contributo notável para a projeção da língua portuguesa como língua do pensamento crítico, no Brasil e fora dele (nos países ibero-americanos, africanos, nos Estados Unidos e na Europa)”, diz uma nota do júri.

O ministro da Cultura de Portugal, Pedro Adão e Silva destacou o perfil de intelectual interventivo do autor. “Com uma visão ampla e abrangente sobre o que é a Cultura, materializada em reflexões sobre múltiplos domínios, desde Machado de Assis aos estudos culturais, Caetano Veloso e o tropicalismo”, disse.

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“O prêmio chega num momento difícil para o mundo e para o Brasil e não deixa de ser, para mim, em particular, um momento de alegria - um reconhecimento do meu longo trabalho em literatura”, disse Santiago ao Estadão assim que o prêmio foi anunciado.

Nascido em Formiga, Minas Gerais, em 1936, Silviano dedicou toda a sua vida à literatura. Ele começou sua carreira fora do Brasil, dando aulas de literatura em universidades americanas. Na volta, ingressou na PUC e é hoje professor emérito da UFF. Ao longo de sua trajetória, ele foi crítico de jornais e revistas, incluindo o Estadão, onde ele também era colunista (relembre suas colunas).

Silviano Santiago, um dos mais importantes críticos literários do País, teve 'Mil Rosas Roubadas' premiado pelo Oceanos Foto: Daniel Teixeira/Estadão
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Entre outros prêmios recebidos por Silviano Santiago estão alguns Jabutis e o Oceanos., entre outros. Pelo conjunto da obra, ganhou o Machado de Assis, da Biblioteca Nacional, e o José Donoso, no Chile. E foi condecorado com o título de Officier dans l’Ordre des Arts et des Lettres e o de Chevalier dans l’Ordre des Palmes Académiques.

Nos últimos anos, Silviano Santiago tem se dedicado a escrever uma ficção mais pessoal. “Uma das características da minha obra ficcional é que nenhum livro repete o outro. Sempre tentei, de certa maneira, repensar a literatura, a ficção e o romance, a partir do novo romance que eu fazia. É uma certa coerência incoerente na minha obra. Comecei enxergando a literatura de uma maneira mais objetiva, que é o caso de Em Liberdade, mas logo em seguida, em 1985, escrevi um romance bastante corajoso, na época nem se fala, que é tido hoje como o primeiro romance gay (Stella Manhattan), no sentido moderno da palavra, da literatura brasileira”, comenta. “O que existe”, ele continua, “é um processo de não repetição e um interesse muito grande em ser um ativista, não na política, por causa do meu temperamento, mas ser um ativista na literatura - tentar trazer todas as questões que são fortes naquele momento para a reflexão ficcional e, indiretamente, para a reflexão do leitor.” Um diálogo que fosse em cima do que está acontecendo, do que vai acontecer e do que deveria ter acontecido e não aconteceu.

“Nesse sentido, não há dúvidas de que as questões da subjetividade e da identidade individual se tornaram mais agudas no novo século. Veja como estou velho”, brinca o escritor de 86 anos que segue produzindo “com garra”. Essa subjetividade, trabalhada antes de uma maneira, como ele diz, excessivamente literária e metafórica, passa a ser abordada de forma mais incisiva.

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Foi só agora, por exemplo, com O Menino Sem Passado, que ele escreve sobre a morte da mãe, quando ele tinha 1 anos e meio, um acontecimento que sempre evitou narrar. “Minha vida é muito marcada por essa morte, esse luto, essa perda, mas a minha mãe era como um vazio dentro de toda a minha obra. Você podia ler isso, mas lia como um vazio. De repente resolvi assumir a plenitude e a importância desse fato na própria organização da minha vida.” O livro, aliás, é finalista do Prêmio São Paulo e semifinalista do Oceanos.

Entre os livros mais recentes de Silviano estão Mil Rosas Roubadas (2014), Machado (2016) e Menino Sem Passado (2021) - todos pela Companhia das Letras que publicou, ainda, este ano, uma nova edição de Em Liberdade, e em 2017 de Stella Manhattan - Romance. Em 2019 saiu 35 Ensaios de Silviano Santiago.

Silviano Santiago está feliz com o prêmio, mas não deixa de lembrar e lamentar a solidão e o desespero sentidos durante a pandemia. “E lamento também por uma infelicidade bem maior de que o mundo está sendo tomado por forças aquelas que a gente apostava que nunca mais voltariam e de repente voltam e nos causam um pavor.”

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Júri do Prêmio Camões

O júri da 34ª edição do Prêmio Camões foi formado por Abel Barros Baptista, professor da Universidade Nova de Lisboa (Portugal); Ana Maria Martinho, professora na Universidade Nova de Lisboa (Portugal); Inocência Mata, professora da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa na área de Literaturas, Artes e Culturas (S. Tomé e Príncipe); Jorge Alves de Lima, membro da Academia Paulista de História e da Academia Campinense de Letras e membro do Conselho Científico do Centro de Memória da Unicamp (Brasil); Raúl Cesar Gouveia Fernandes, professor do Departamento de Ciências Sociais e Jurídicas do Centro Universitário FEI (Brasil); Teresa Manjate, professora na Universidade Eduardo Mondlane (Moçambique).

Outros premiados

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Chico Buarque, Raduan Nassar, Alberto da Costa e Silva, Dalton Trevisan, Ferreira Gullar, Lygia Fagundes Telles e Rubem Fonseca estão entre os brasileiros premiados mais recentemente. José Saramago, Sophia de Mello Breyner Andresen, Agustina Bessa-Luís, José Luandino Vieira (ganhou, mas recusou) e Mia Couto também já ganharam o Prêmio Camões.

Crítico literário, professor, pesquisar e romancista, o mineiro Silviano Santiago ganhou o Prêmio Camões 2022 - o mais prestigioso da língua portuguesa. O anúncio foi feito na tarde desta segunda-feira, 24, após a reunião do júri do prêmio. O valor do prêmio é 100 mil euros - dividido entre Portugal e Brasil.

“Silviano Santiago, além de escritor com uma obra literária com vários prêmios nacionais e internacionais (Jabuti, Oceanos, etc.), é um pensador capaz de uma intervenção cívica e cultural de grande relevância, com um contributo notável para a projeção da língua portuguesa como língua do pensamento crítico, no Brasil e fora dele (nos países ibero-americanos, africanos, nos Estados Unidos e na Europa)”, diz uma nota do júri.

O ministro da Cultura de Portugal, Pedro Adão e Silva destacou o perfil de intelectual interventivo do autor. “Com uma visão ampla e abrangente sobre o que é a Cultura, materializada em reflexões sobre múltiplos domínios, desde Machado de Assis aos estudos culturais, Caetano Veloso e o tropicalismo”, disse.

“O prêmio chega num momento difícil para o mundo e para o Brasil e não deixa de ser, para mim, em particular, um momento de alegria - um reconhecimento do meu longo trabalho em literatura”, disse Santiago ao Estadão assim que o prêmio foi anunciado.

Nascido em Formiga, Minas Gerais, em 1936, Silviano dedicou toda a sua vida à literatura. Ele começou sua carreira fora do Brasil, dando aulas de literatura em universidades americanas. Na volta, ingressou na PUC e é hoje professor emérito da UFF. Ao longo de sua trajetória, ele foi crítico de jornais e revistas, incluindo o Estadão, onde ele também era colunista (relembre suas colunas).

Silviano Santiago, um dos mais importantes críticos literários do País, teve 'Mil Rosas Roubadas' premiado pelo Oceanos Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Entre outros prêmios recebidos por Silviano Santiago estão alguns Jabutis e o Oceanos., entre outros. Pelo conjunto da obra, ganhou o Machado de Assis, da Biblioteca Nacional, e o José Donoso, no Chile. E foi condecorado com o título de Officier dans l’Ordre des Arts et des Lettres e o de Chevalier dans l’Ordre des Palmes Académiques.

Nos últimos anos, Silviano Santiago tem se dedicado a escrever uma ficção mais pessoal. “Uma das características da minha obra ficcional é que nenhum livro repete o outro. Sempre tentei, de certa maneira, repensar a literatura, a ficção e o romance, a partir do novo romance que eu fazia. É uma certa coerência incoerente na minha obra. Comecei enxergando a literatura de uma maneira mais objetiva, que é o caso de Em Liberdade, mas logo em seguida, em 1985, escrevi um romance bastante corajoso, na época nem se fala, que é tido hoje como o primeiro romance gay (Stella Manhattan), no sentido moderno da palavra, da literatura brasileira”, comenta. “O que existe”, ele continua, “é um processo de não repetição e um interesse muito grande em ser um ativista, não na política, por causa do meu temperamento, mas ser um ativista na literatura - tentar trazer todas as questões que são fortes naquele momento para a reflexão ficcional e, indiretamente, para a reflexão do leitor.” Um diálogo que fosse em cima do que está acontecendo, do que vai acontecer e do que deveria ter acontecido e não aconteceu.

“Nesse sentido, não há dúvidas de que as questões da subjetividade e da identidade individual se tornaram mais agudas no novo século. Veja como estou velho”, brinca o escritor de 86 anos que segue produzindo “com garra”. Essa subjetividade, trabalhada antes de uma maneira, como ele diz, excessivamente literária e metafórica, passa a ser abordada de forma mais incisiva.

Foi só agora, por exemplo, com O Menino Sem Passado, que ele escreve sobre a morte da mãe, quando ele tinha 1 anos e meio, um acontecimento que sempre evitou narrar. “Minha vida é muito marcada por essa morte, esse luto, essa perda, mas a minha mãe era como um vazio dentro de toda a minha obra. Você podia ler isso, mas lia como um vazio. De repente resolvi assumir a plenitude e a importância desse fato na própria organização da minha vida.” O livro, aliás, é finalista do Prêmio São Paulo e semifinalista do Oceanos.

Entre os livros mais recentes de Silviano estão Mil Rosas Roubadas (2014), Machado (2016) e Menino Sem Passado (2021) - todos pela Companhia das Letras que publicou, ainda, este ano, uma nova edição de Em Liberdade, e em 2017 de Stella Manhattan - Romance. Em 2019 saiu 35 Ensaios de Silviano Santiago.

Silviano Santiago está feliz com o prêmio, mas não deixa de lembrar e lamentar a solidão e o desespero sentidos durante a pandemia. “E lamento também por uma infelicidade bem maior de que o mundo está sendo tomado por forças aquelas que a gente apostava que nunca mais voltariam e de repente voltam e nos causam um pavor.”

Júri do Prêmio Camões

O júri da 34ª edição do Prêmio Camões foi formado por Abel Barros Baptista, professor da Universidade Nova de Lisboa (Portugal); Ana Maria Martinho, professora na Universidade Nova de Lisboa (Portugal); Inocência Mata, professora da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa na área de Literaturas, Artes e Culturas (S. Tomé e Príncipe); Jorge Alves de Lima, membro da Academia Paulista de História e da Academia Campinense de Letras e membro do Conselho Científico do Centro de Memória da Unicamp (Brasil); Raúl Cesar Gouveia Fernandes, professor do Departamento de Ciências Sociais e Jurídicas do Centro Universitário FEI (Brasil); Teresa Manjate, professora na Universidade Eduardo Mondlane (Moçambique).

Outros premiados

Chico Buarque, Raduan Nassar, Alberto da Costa e Silva, Dalton Trevisan, Ferreira Gullar, Lygia Fagundes Telles e Rubem Fonseca estão entre os brasileiros premiados mais recentemente. José Saramago, Sophia de Mello Breyner Andresen, Agustina Bessa-Luís, José Luandino Vieira (ganhou, mas recusou) e Mia Couto também já ganharam o Prêmio Camões.

Crítico literário, professor, pesquisar e romancista, o mineiro Silviano Santiago ganhou o Prêmio Camões 2022 - o mais prestigioso da língua portuguesa. O anúncio foi feito na tarde desta segunda-feira, 24, após a reunião do júri do prêmio. O valor do prêmio é 100 mil euros - dividido entre Portugal e Brasil.

“Silviano Santiago, além de escritor com uma obra literária com vários prêmios nacionais e internacionais (Jabuti, Oceanos, etc.), é um pensador capaz de uma intervenção cívica e cultural de grande relevância, com um contributo notável para a projeção da língua portuguesa como língua do pensamento crítico, no Brasil e fora dele (nos países ibero-americanos, africanos, nos Estados Unidos e na Europa)”, diz uma nota do júri.

O ministro da Cultura de Portugal, Pedro Adão e Silva destacou o perfil de intelectual interventivo do autor. “Com uma visão ampla e abrangente sobre o que é a Cultura, materializada em reflexões sobre múltiplos domínios, desde Machado de Assis aos estudos culturais, Caetano Veloso e o tropicalismo”, disse.

“O prêmio chega num momento difícil para o mundo e para o Brasil e não deixa de ser, para mim, em particular, um momento de alegria - um reconhecimento do meu longo trabalho em literatura”, disse Santiago ao Estadão assim que o prêmio foi anunciado.

Nascido em Formiga, Minas Gerais, em 1936, Silviano dedicou toda a sua vida à literatura. Ele começou sua carreira fora do Brasil, dando aulas de literatura em universidades americanas. Na volta, ingressou na PUC e é hoje professor emérito da UFF. Ao longo de sua trajetória, ele foi crítico de jornais e revistas, incluindo o Estadão, onde ele também era colunista (relembre suas colunas).

Silviano Santiago, um dos mais importantes críticos literários do País, teve 'Mil Rosas Roubadas' premiado pelo Oceanos Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Entre outros prêmios recebidos por Silviano Santiago estão alguns Jabutis e o Oceanos., entre outros. Pelo conjunto da obra, ganhou o Machado de Assis, da Biblioteca Nacional, e o José Donoso, no Chile. E foi condecorado com o título de Officier dans l’Ordre des Arts et des Lettres e o de Chevalier dans l’Ordre des Palmes Académiques.

Nos últimos anos, Silviano Santiago tem se dedicado a escrever uma ficção mais pessoal. “Uma das características da minha obra ficcional é que nenhum livro repete o outro. Sempre tentei, de certa maneira, repensar a literatura, a ficção e o romance, a partir do novo romance que eu fazia. É uma certa coerência incoerente na minha obra. Comecei enxergando a literatura de uma maneira mais objetiva, que é o caso de Em Liberdade, mas logo em seguida, em 1985, escrevi um romance bastante corajoso, na época nem se fala, que é tido hoje como o primeiro romance gay (Stella Manhattan), no sentido moderno da palavra, da literatura brasileira”, comenta. “O que existe”, ele continua, “é um processo de não repetição e um interesse muito grande em ser um ativista, não na política, por causa do meu temperamento, mas ser um ativista na literatura - tentar trazer todas as questões que são fortes naquele momento para a reflexão ficcional e, indiretamente, para a reflexão do leitor.” Um diálogo que fosse em cima do que está acontecendo, do que vai acontecer e do que deveria ter acontecido e não aconteceu.

“Nesse sentido, não há dúvidas de que as questões da subjetividade e da identidade individual se tornaram mais agudas no novo século. Veja como estou velho”, brinca o escritor de 86 anos que segue produzindo “com garra”. Essa subjetividade, trabalhada antes de uma maneira, como ele diz, excessivamente literária e metafórica, passa a ser abordada de forma mais incisiva.

Foi só agora, por exemplo, com O Menino Sem Passado, que ele escreve sobre a morte da mãe, quando ele tinha 1 anos e meio, um acontecimento que sempre evitou narrar. “Minha vida é muito marcada por essa morte, esse luto, essa perda, mas a minha mãe era como um vazio dentro de toda a minha obra. Você podia ler isso, mas lia como um vazio. De repente resolvi assumir a plenitude e a importância desse fato na própria organização da minha vida.” O livro, aliás, é finalista do Prêmio São Paulo e semifinalista do Oceanos.

Entre os livros mais recentes de Silviano estão Mil Rosas Roubadas (2014), Machado (2016) e Menino Sem Passado (2021) - todos pela Companhia das Letras que publicou, ainda, este ano, uma nova edição de Em Liberdade, e em 2017 de Stella Manhattan - Romance. Em 2019 saiu 35 Ensaios de Silviano Santiago.

Silviano Santiago está feliz com o prêmio, mas não deixa de lembrar e lamentar a solidão e o desespero sentidos durante a pandemia. “E lamento também por uma infelicidade bem maior de que o mundo está sendo tomado por forças aquelas que a gente apostava que nunca mais voltariam e de repente voltam e nos causam um pavor.”

Júri do Prêmio Camões

O júri da 34ª edição do Prêmio Camões foi formado por Abel Barros Baptista, professor da Universidade Nova de Lisboa (Portugal); Ana Maria Martinho, professora na Universidade Nova de Lisboa (Portugal); Inocência Mata, professora da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa na área de Literaturas, Artes e Culturas (S. Tomé e Príncipe); Jorge Alves de Lima, membro da Academia Paulista de História e da Academia Campinense de Letras e membro do Conselho Científico do Centro de Memória da Unicamp (Brasil); Raúl Cesar Gouveia Fernandes, professor do Departamento de Ciências Sociais e Jurídicas do Centro Universitário FEI (Brasil); Teresa Manjate, professora na Universidade Eduardo Mondlane (Moçambique).

Outros premiados

Chico Buarque, Raduan Nassar, Alberto da Costa e Silva, Dalton Trevisan, Ferreira Gullar, Lygia Fagundes Telles e Rubem Fonseca estão entre os brasileiros premiados mais recentemente. José Saramago, Sophia de Mello Breyner Andresen, Agustina Bessa-Luís, José Luandino Vieira (ganhou, mas recusou) e Mia Couto também já ganharam o Prêmio Camões.

Crítico literário, professor, pesquisar e romancista, o mineiro Silviano Santiago ganhou o Prêmio Camões 2022 - o mais prestigioso da língua portuguesa. O anúncio foi feito na tarde desta segunda-feira, 24, após a reunião do júri do prêmio. O valor do prêmio é 100 mil euros - dividido entre Portugal e Brasil.

“Silviano Santiago, além de escritor com uma obra literária com vários prêmios nacionais e internacionais (Jabuti, Oceanos, etc.), é um pensador capaz de uma intervenção cívica e cultural de grande relevância, com um contributo notável para a projeção da língua portuguesa como língua do pensamento crítico, no Brasil e fora dele (nos países ibero-americanos, africanos, nos Estados Unidos e na Europa)”, diz uma nota do júri.

O ministro da Cultura de Portugal, Pedro Adão e Silva destacou o perfil de intelectual interventivo do autor. “Com uma visão ampla e abrangente sobre o que é a Cultura, materializada em reflexões sobre múltiplos domínios, desde Machado de Assis aos estudos culturais, Caetano Veloso e o tropicalismo”, disse.

“O prêmio chega num momento difícil para o mundo e para o Brasil e não deixa de ser, para mim, em particular, um momento de alegria - um reconhecimento do meu longo trabalho em literatura”, disse Santiago ao Estadão assim que o prêmio foi anunciado.

Nascido em Formiga, Minas Gerais, em 1936, Silviano dedicou toda a sua vida à literatura. Ele começou sua carreira fora do Brasil, dando aulas de literatura em universidades americanas. Na volta, ingressou na PUC e é hoje professor emérito da UFF. Ao longo de sua trajetória, ele foi crítico de jornais e revistas, incluindo o Estadão, onde ele também era colunista (relembre suas colunas).

Silviano Santiago, um dos mais importantes críticos literários do País, teve 'Mil Rosas Roubadas' premiado pelo Oceanos Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Entre outros prêmios recebidos por Silviano Santiago estão alguns Jabutis e o Oceanos., entre outros. Pelo conjunto da obra, ganhou o Machado de Assis, da Biblioteca Nacional, e o José Donoso, no Chile. E foi condecorado com o título de Officier dans l’Ordre des Arts et des Lettres e o de Chevalier dans l’Ordre des Palmes Académiques.

Nos últimos anos, Silviano Santiago tem se dedicado a escrever uma ficção mais pessoal. “Uma das características da minha obra ficcional é que nenhum livro repete o outro. Sempre tentei, de certa maneira, repensar a literatura, a ficção e o romance, a partir do novo romance que eu fazia. É uma certa coerência incoerente na minha obra. Comecei enxergando a literatura de uma maneira mais objetiva, que é o caso de Em Liberdade, mas logo em seguida, em 1985, escrevi um romance bastante corajoso, na época nem se fala, que é tido hoje como o primeiro romance gay (Stella Manhattan), no sentido moderno da palavra, da literatura brasileira”, comenta. “O que existe”, ele continua, “é um processo de não repetição e um interesse muito grande em ser um ativista, não na política, por causa do meu temperamento, mas ser um ativista na literatura - tentar trazer todas as questões que são fortes naquele momento para a reflexão ficcional e, indiretamente, para a reflexão do leitor.” Um diálogo que fosse em cima do que está acontecendo, do que vai acontecer e do que deveria ter acontecido e não aconteceu.

“Nesse sentido, não há dúvidas de que as questões da subjetividade e da identidade individual se tornaram mais agudas no novo século. Veja como estou velho”, brinca o escritor de 86 anos que segue produzindo “com garra”. Essa subjetividade, trabalhada antes de uma maneira, como ele diz, excessivamente literária e metafórica, passa a ser abordada de forma mais incisiva.

Foi só agora, por exemplo, com O Menino Sem Passado, que ele escreve sobre a morte da mãe, quando ele tinha 1 anos e meio, um acontecimento que sempre evitou narrar. “Minha vida é muito marcada por essa morte, esse luto, essa perda, mas a minha mãe era como um vazio dentro de toda a minha obra. Você podia ler isso, mas lia como um vazio. De repente resolvi assumir a plenitude e a importância desse fato na própria organização da minha vida.” O livro, aliás, é finalista do Prêmio São Paulo e semifinalista do Oceanos.

Entre os livros mais recentes de Silviano estão Mil Rosas Roubadas (2014), Machado (2016) e Menino Sem Passado (2021) - todos pela Companhia das Letras que publicou, ainda, este ano, uma nova edição de Em Liberdade, e em 2017 de Stella Manhattan - Romance. Em 2019 saiu 35 Ensaios de Silviano Santiago.

Silviano Santiago está feliz com o prêmio, mas não deixa de lembrar e lamentar a solidão e o desespero sentidos durante a pandemia. “E lamento também por uma infelicidade bem maior de que o mundo está sendo tomado por forças aquelas que a gente apostava que nunca mais voltariam e de repente voltam e nos causam um pavor.”

Júri do Prêmio Camões

O júri da 34ª edição do Prêmio Camões foi formado por Abel Barros Baptista, professor da Universidade Nova de Lisboa (Portugal); Ana Maria Martinho, professora na Universidade Nova de Lisboa (Portugal); Inocência Mata, professora da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa na área de Literaturas, Artes e Culturas (S. Tomé e Príncipe); Jorge Alves de Lima, membro da Academia Paulista de História e da Academia Campinense de Letras e membro do Conselho Científico do Centro de Memória da Unicamp (Brasil); Raúl Cesar Gouveia Fernandes, professor do Departamento de Ciências Sociais e Jurídicas do Centro Universitário FEI (Brasil); Teresa Manjate, professora na Universidade Eduardo Mondlane (Moçambique).

Outros premiados

Chico Buarque, Raduan Nassar, Alberto da Costa e Silva, Dalton Trevisan, Ferreira Gullar, Lygia Fagundes Telles e Rubem Fonseca estão entre os brasileiros premiados mais recentemente. José Saramago, Sophia de Mello Breyner Andresen, Agustina Bessa-Luís, José Luandino Vieira (ganhou, mas recusou) e Mia Couto também já ganharam o Prêmio Camões.

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