Rafael Alves da Silva, que se apresenta como Rafael Nogueira, e diz ser “professor de filosofia, história, teoria política e literatura, aspirante a filósofo e a polímata”, é o novo presidente da Fundação Biblioteca Nacional. A nomeação foi publicada nesta sexta-feira, 2, no Diário Oficial da União.
Seguidor de Olavo de Carvalho, Nogueira acaba de voltar de Portugal onde participou, na semana passada, do Colóquio Olavo de Carvalho. Na oportunidade, visitou a Biblioteca Nacional, em Lisboa. Seu nome já era cotado para assumir a entidade brasileira.
No Twitter, disse que gostava mais do prédio da Biblioteca Nacional do Rio, mas que tínhamos muito o que aprender com os portugueses. E escreveu: “É preciso franquear o acesso a todos os que se interessam. Aquele que gosta de afastar o público de suas pesquisas é um esnobe ou está interessado em torcer os dados para fazer sua tese ou ideologia. E falar em democratização sem realizar isso é hipocrisia ou sacanagem”.
Simpatizante da monarquia, no dia 15 de novembro ele escreveu: “A Proclamação da República foi um golpe militar improvisado e injustificável. O Brasil nunca mais se encontrou. Nada a comemorar.”
Bolsonarista, Rafael Nogueira respondeu, também na rede social, a um comentário da deputada Carolina De Toni em que ela dizia “onde quer que o presidente esteja, estarei apoiando o seu governo sempre” com um “eu também”.
Em seu site, o novo presidente da Biblioteca Nacional informa que é formado em filosofia e direito com pós-graduação em educação e que "trabalha com formação política de eleitores, militantes e candidatos, com análises em três rádios diferentes em Santos, e escreve sobre educação e filosofia". É criador do Ciclo de Estudos Clássicos.
Nogueira participa semanalmente do programa Hora Conservadora, transmitido pela Rádio Litoral FM, de Santos, sua cidade-natal. Seu canal no YouTube, onde posta vídeos sobre história, filosofia ou temas como ‘sobre o direito de não confiar nas urnas’ ou ‘a propósito da Ursal', tem 27 mil seguidores. No Twitter, são 41,4 mil seguidores. Ele integra o Brasil Paralelo, apresentado como a “maior plataforma de educação política do país”.
Rafael Nogueira substitui Helena Severo, servidora de carreira da Fundação Biblioteca Nacional que assumiu a presidência da instituição em 2016 e na semana passada, quando começaram os rumores de que ele assumiria o posto, colocou o cargo à disposição. Entre outros nomes que já passaram pelo cargo estão os escritores Raul Pompeia e Josué Montello, o poeta Afonso Romano de Sant’Anna, o pesquisador Eduardo Portella, que já tinha sido ministro da Educação, o sociólogo Muniz Sodré, o editor, historiador e colecionador Pedro Corrêa do Lago, o cientista social e professor Renato Lessa e o jornalista envolvido com projetos de formação de leitores Galeno Amorim.
Responsável pela "execução da política governamental de captação, guarda, preservação e difusão da produção intelectual do País", a Biblioteca Nacional tem mais de 200 anos de história e uma grande importância para a preservação da memória nacional. Entre outras ações, além de guarda e preservação de todos os livros publicados no País, jornais e outros materiais, a Biblioteca Nacional tem programas de apoio à tradução de autores brasileiros no exterior, concede prêmios anualmente e foi responsável, em 2013, pela participação do Brasil na Feira do Livro de Frankfurt, quando o País foi homenageado e uma comitiva de autores foi à feira alemã.
O Estado procurou o novo presidente da Biblioteca Nacional, mas foi informado pela assessoria da Secretaria Especial da Cultura que os novos nomeados da pasta não estão dando entrevistas por enquanto. Também nesta segunda-feira, o maestro Dante Mantovani, que já disse que o rock induz às drogas, ao aborto e ao satanismo, foi nomeado presidente da Funarte.
Em texto publicado nas redes sociais, Nogueira contesta dados oficiais sobre negros serem mais assassinados do que brancos no Brasil.
"Se o reconhecimento científico de quem é negro e quem é branco é impossível, o reconhecimento estatístico só pode ser feito por razões de aparência, reconhecimento de cor ou auto-identificação. Quem diz que alguém é negro? O IBGE. Como? Por meio de pesquisas nas quais a pessoa, assim como no caso do gênero, pode se dizer negra a despeito de ser resultado de mestiçagem complexa", escreve o novo presidente da Biblioteca Nacional.
"Então, na verdade, não são negros os que mais morrem, são aqueles que se reconheceram negros ou pardos de forma relativamente arbitrária. Como os institutos de pesquisa têm apontado que a maioria da população é negra (pelos novos critérios elásticos já mencionados), então, é natural que numa maioria negra a maioria dos crimes sejam cometidos contra negros, certo?", complementa Nogueira.
A nomeação para o comando da Biblioteca Nacional faz parte de uma série de trocas promovidas pelo novo secretário especial da Cultura, Roberto Alvim, para quem Bolsonaro afirma ter dado total liberdade para montar a sua equipe.
Na semana passada, Alvim nomeou Sergio Nascimento de Camargo para a presidência da Fundação Palmares, que já afirmou nas redes sociais existir um "racismo nutella" no Brasil e que a escravidão foi "benéfica para os descendentes".
Alvim afirma que só irá falar à imprensa sobre trocas na cultura após finalizar as nomeações. Há expectativa que seja exonerada a presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Kátia Bógea. Para o lugar dela, seria nomeado o empresário Olav Schrader, formado em relações internacionais e defensor da monarquia.