‘Tem aquele livro?’: Clientes testam conhecimento (e a paciência) e ganham a cumplidade de livreiros


Pedidos com poucas informações se tornam enigmas para vendedores de livros, que têm prazer em indicar a próxima leitura de alguém

Por Amanda Calazans

“Não é possível! Até que enfim encontrei alguém que sabe quem é Cruz e Sousa”, escutou Marciano Lourenço de Souza quando trabalhava na Livraria Martins Fontes da Rua Dr. Vila Nova. O cliente explicou que já havia passado em outra loja, mas o atendente, ao voltar de mãos vazias depois de procurar, disse: “Desse Cruz não temos nada, e desse Sousa, você sabe o nome do livro?”

Além de ser um grande leitor, o livreiro de 65 anos, hoje na unidade da Avenida Paulista, usa o método de classificação das obras para gravar as informações. “Por mais estranho que pareça um livro, você tem que pegar, conhecer, olhar com carinho, porque uma hora alguém vai perguntar e você vai ficar feliz”, diz Marciano.

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Marciano Lourenço de Souza já tem 40 anos de profissão, sendo que 27 destes na Martins Fontes. Foto: DANIEL TEIXEIRA / ESTADAO

‘Sabe aquele livro?’

Se com o nome do autor pode ser difícil localizar um livro procurado pelo cliente, com menos informações o atendimento se torna um desafio. No podcast Livros no Centro, apresentado pela equipe da Livraria Megafauna, no Edifício Copan, o trabalho de “decifrar enigmas” inspirou o quadro Sabe aquele livro?, em que os apresentadores precisam adivinhar que livro o ouvinte está procurando a partir de alguma descrição da capa, do autor ou da história. Em um episódio, um ouvinte pede: “Oi, por favor, eu queria saber se vocês têm aquele livro do urso e da mulher”.

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Flávia Santos, coordenadora da Megafauna, acertou: Escute as Feras, da Editora 34. Frequentemente vencedora no quadro do podcast, ela explica a habilidade: “É um livro que eu já vi em algum momento ou na vida como livreira ou no Metabooks (ferramenta que usa na reposição da loja)”. Na livraria, a coordenadora tenta pelo menos folhear tudo o que chega, e em momentos tranquilos lê os títulos que a interessam, como o romance inédito de Carolina Maria de Jesus, O Escravo, e livros de poesia.

Retrato da coordenadora da livraria Megafauna, Flávia Santos.  Foto: TABA BENEDICTO / ESTADAO
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Livreiros-leitores

“Os livreiros já vêm com esse background da vida deles porque eles são loucos por livros, mas eu acho que as livrarias têm também que conseguir dar esse tempo para eles olharem as coisas na loja”, afirma Flávia, que é livreira há 15 anos.

Trabalhar em livraria sem gostar de ler é um pouco estranho, diz Cida Saldanha, livreira na Livraria da Vila há 33 anos. Na unidade da Rua Fradique Coutinho, todos leem. “Quando você lê o livro inteiro e gosta, você tem muito mais argumento para vender, para conversar, para indicar, para trocar.”

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Cida Saldanha é a livreira mais conhecida de São Paulo, com mais de 35 anos de atuação.  Foto: WERTHER SANTANA/ESTADÃO

Em 40 anos de trabalho, Cida tem tantas histórias com clientes que de algumas nem se lembra, e quem conta são eles, para quem a livreira foi marcante. Uma vez, na antiga Livraria Kairós, um cliente queria um livro sobre Copérnico, mas achou muito caro, então pediu para levá-lo para fazer a cópia de algumas páginas. A então jovem livreira respondeu: “Ah, tudo bem”.

Na Aigo Livros, nova livraria do Bom Retiro, Paulina Cho diz que o trabalho não é só vender o livro, “mas tem uma coisa terapêutica comunitária também”. Além das sugestões que as sócias e livreiras da loja dão diretamente aos clientes, nas prateleiras da livraria há cartõezinhos com indicações de várias pessoas, inclusive crianças. Vários deles são assinados por Paulina, que costuma “pregar a palavra” dos livros de que gosta. “Sabe quando você come uma coisa gostosa e quer compartilhar? Tem muito disso.”

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Paulina Cho, sócia da Livraria Aigo. Foto: WERTHER SANTANA/ESTADÃO

“Não é possível! Até que enfim encontrei alguém que sabe quem é Cruz e Sousa”, escutou Marciano Lourenço de Souza quando trabalhava na Livraria Martins Fontes da Rua Dr. Vila Nova. O cliente explicou que já havia passado em outra loja, mas o atendente, ao voltar de mãos vazias depois de procurar, disse: “Desse Cruz não temos nada, e desse Sousa, você sabe o nome do livro?”

Além de ser um grande leitor, o livreiro de 65 anos, hoje na unidade da Avenida Paulista, usa o método de classificação das obras para gravar as informações. “Por mais estranho que pareça um livro, você tem que pegar, conhecer, olhar com carinho, porque uma hora alguém vai perguntar e você vai ficar feliz”, diz Marciano.

Marciano Lourenço de Souza já tem 40 anos de profissão, sendo que 27 destes na Martins Fontes. Foto: DANIEL TEIXEIRA / ESTADAO

‘Sabe aquele livro?’

Se com o nome do autor pode ser difícil localizar um livro procurado pelo cliente, com menos informações o atendimento se torna um desafio. No podcast Livros no Centro, apresentado pela equipe da Livraria Megafauna, no Edifício Copan, o trabalho de “decifrar enigmas” inspirou o quadro Sabe aquele livro?, em que os apresentadores precisam adivinhar que livro o ouvinte está procurando a partir de alguma descrição da capa, do autor ou da história. Em um episódio, um ouvinte pede: “Oi, por favor, eu queria saber se vocês têm aquele livro do urso e da mulher”.

Flávia Santos, coordenadora da Megafauna, acertou: Escute as Feras, da Editora 34. Frequentemente vencedora no quadro do podcast, ela explica a habilidade: “É um livro que eu já vi em algum momento ou na vida como livreira ou no Metabooks (ferramenta que usa na reposição da loja)”. Na livraria, a coordenadora tenta pelo menos folhear tudo o que chega, e em momentos tranquilos lê os títulos que a interessam, como o romance inédito de Carolina Maria de Jesus, O Escravo, e livros de poesia.

Retrato da coordenadora da livraria Megafauna, Flávia Santos.  Foto: TABA BENEDICTO / ESTADAO

Livreiros-leitores

“Os livreiros já vêm com esse background da vida deles porque eles são loucos por livros, mas eu acho que as livrarias têm também que conseguir dar esse tempo para eles olharem as coisas na loja”, afirma Flávia, que é livreira há 15 anos.

Trabalhar em livraria sem gostar de ler é um pouco estranho, diz Cida Saldanha, livreira na Livraria da Vila há 33 anos. Na unidade da Rua Fradique Coutinho, todos leem. “Quando você lê o livro inteiro e gosta, você tem muito mais argumento para vender, para conversar, para indicar, para trocar.”

Cida Saldanha é a livreira mais conhecida de São Paulo, com mais de 35 anos de atuação.  Foto: WERTHER SANTANA/ESTADÃO

Em 40 anos de trabalho, Cida tem tantas histórias com clientes que de algumas nem se lembra, e quem conta são eles, para quem a livreira foi marcante. Uma vez, na antiga Livraria Kairós, um cliente queria um livro sobre Copérnico, mas achou muito caro, então pediu para levá-lo para fazer a cópia de algumas páginas. A então jovem livreira respondeu: “Ah, tudo bem”.

Na Aigo Livros, nova livraria do Bom Retiro, Paulina Cho diz que o trabalho não é só vender o livro, “mas tem uma coisa terapêutica comunitária também”. Além das sugestões que as sócias e livreiras da loja dão diretamente aos clientes, nas prateleiras da livraria há cartõezinhos com indicações de várias pessoas, inclusive crianças. Vários deles são assinados por Paulina, que costuma “pregar a palavra” dos livros de que gosta. “Sabe quando você come uma coisa gostosa e quer compartilhar? Tem muito disso.”

Paulina Cho, sócia da Livraria Aigo. Foto: WERTHER SANTANA/ESTADÃO

“Não é possível! Até que enfim encontrei alguém que sabe quem é Cruz e Sousa”, escutou Marciano Lourenço de Souza quando trabalhava na Livraria Martins Fontes da Rua Dr. Vila Nova. O cliente explicou que já havia passado em outra loja, mas o atendente, ao voltar de mãos vazias depois de procurar, disse: “Desse Cruz não temos nada, e desse Sousa, você sabe o nome do livro?”

Além de ser um grande leitor, o livreiro de 65 anos, hoje na unidade da Avenida Paulista, usa o método de classificação das obras para gravar as informações. “Por mais estranho que pareça um livro, você tem que pegar, conhecer, olhar com carinho, porque uma hora alguém vai perguntar e você vai ficar feliz”, diz Marciano.

Marciano Lourenço de Souza já tem 40 anos de profissão, sendo que 27 destes na Martins Fontes. Foto: DANIEL TEIXEIRA / ESTADAO

‘Sabe aquele livro?’

Se com o nome do autor pode ser difícil localizar um livro procurado pelo cliente, com menos informações o atendimento se torna um desafio. No podcast Livros no Centro, apresentado pela equipe da Livraria Megafauna, no Edifício Copan, o trabalho de “decifrar enigmas” inspirou o quadro Sabe aquele livro?, em que os apresentadores precisam adivinhar que livro o ouvinte está procurando a partir de alguma descrição da capa, do autor ou da história. Em um episódio, um ouvinte pede: “Oi, por favor, eu queria saber se vocês têm aquele livro do urso e da mulher”.

Flávia Santos, coordenadora da Megafauna, acertou: Escute as Feras, da Editora 34. Frequentemente vencedora no quadro do podcast, ela explica a habilidade: “É um livro que eu já vi em algum momento ou na vida como livreira ou no Metabooks (ferramenta que usa na reposição da loja)”. Na livraria, a coordenadora tenta pelo menos folhear tudo o que chega, e em momentos tranquilos lê os títulos que a interessam, como o romance inédito de Carolina Maria de Jesus, O Escravo, e livros de poesia.

Retrato da coordenadora da livraria Megafauna, Flávia Santos.  Foto: TABA BENEDICTO / ESTADAO

Livreiros-leitores

“Os livreiros já vêm com esse background da vida deles porque eles são loucos por livros, mas eu acho que as livrarias têm também que conseguir dar esse tempo para eles olharem as coisas na loja”, afirma Flávia, que é livreira há 15 anos.

Trabalhar em livraria sem gostar de ler é um pouco estranho, diz Cida Saldanha, livreira na Livraria da Vila há 33 anos. Na unidade da Rua Fradique Coutinho, todos leem. “Quando você lê o livro inteiro e gosta, você tem muito mais argumento para vender, para conversar, para indicar, para trocar.”

Cida Saldanha é a livreira mais conhecida de São Paulo, com mais de 35 anos de atuação.  Foto: WERTHER SANTANA/ESTADÃO

Em 40 anos de trabalho, Cida tem tantas histórias com clientes que de algumas nem se lembra, e quem conta são eles, para quem a livreira foi marcante. Uma vez, na antiga Livraria Kairós, um cliente queria um livro sobre Copérnico, mas achou muito caro, então pediu para levá-lo para fazer a cópia de algumas páginas. A então jovem livreira respondeu: “Ah, tudo bem”.

Na Aigo Livros, nova livraria do Bom Retiro, Paulina Cho diz que o trabalho não é só vender o livro, “mas tem uma coisa terapêutica comunitária também”. Além das sugestões que as sócias e livreiras da loja dão diretamente aos clientes, nas prateleiras da livraria há cartõezinhos com indicações de várias pessoas, inclusive crianças. Vários deles são assinados por Paulina, que costuma “pregar a palavra” dos livros de que gosta. “Sabe quando você come uma coisa gostosa e quer compartilhar? Tem muito disso.”

Paulina Cho, sócia da Livraria Aigo. Foto: WERTHER SANTANA/ESTADÃO

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