Venda de livros cai mais uma vez no Brasil; mercado editorial faz balanço da crise


No ano em que e-books apresentaram números mais otimistas, setor registrou retração de 5,1% em termos reais; obras gerais e livros CTP tiveram maiores quedas de faturamento

Por Julia Queiroz

A venda de livros caiu pelo segundo ano consecutivo no Brasil, com uma queda de 8% na comercialização de exemplares ao mercado em 2023, em comparação com 2022. Além disso, o setor registrou uma retração de 5,1% em termos reais no faturamento, considerando a inflação do IPCA de 4,62%.

Os dados são da Pesquisa Produção e Venda do Setor Editorial Brasileiro 2024, realizada pela Nielsen BookData e encomendada pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL) e pela Câmara Brasileira do Livro (CBL), divulgada nesta quarta-feira, 22.

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O levantamento é feito anualmente a partir de dados enviados por 117 editoras e considera apenas livros impressos. Além das vendas ao mercado, a pesquisa avalia as vendas ao Governo, que tiveram aumento de 23,1% em comparação com o ano anterior - como as compras são sazonais, ora para os estudantes do Ensino Fundamental ora para os do Ensino Médio, e as quantidades de estudantes variam, são esperadas essas diferenças.

Foram 172 milhões de exemplares vendidos ao mercado e 155 milhões ao Governo - somadas, as vendas representam um faturamento de R$ 6,2 bilhões. Em 2022, o faturamento foi de R$ 5,5 bilhões.

O desempenho na venda de e-books e audiolivros é medido pela Pesquisa Conteúdo Digital do Setor Editorial Brasileiro, também divulgada nesta quarta, 22. Ela apresentou um resultado mais positivo do que no ano passado, com crescimento de 14% na venda de exemplares digitais - veja mais sobre isso abaixo.

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Venda de livros caiu pelo segundo ano consecutivo no Brasil.  Foto: Felipe Rau/Estadão

A pesquisa leva em consideração o resultado de quatro setores: obras gerais, didáticos, religiosos e CTP (Científicos, Técnicos e Profissionais). Nas vendas ao mercado, apenas as obras religiosas se mantiveram estáveis, com queda real de 0,1%. O subsetor de obras gerais registrou um recuo de 6,8% quando considerada a inflação, enquanto a queda real dos didáticos foi de 3,3%. O CTP foi o pior subsetor, com recuo real de 10,1%.

Mariana Bueno, coordenadora de Pesquisas Econômicas e Setoriais da Nielsen BookData, disse, em coletiva de imprensa nesta quarta, que é preciso analisar os subsetores ao comparar os índices atuais com os anos anteriores.

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“O comportamento de CTP é distinto. Há um década ele apresenta resultados negativos em termos reais. Obras gerais conseguem ser comparadas com níveis pré-pandemicos. Desde o fim da crise econômica, esse setor vem tendo resultados semelhantes. Religiosos é o que apresenta melhores resultados nos últimos anos, enquanto didáticos também teve resultados negativos”, afirmou.

Sites próprios e marketplaces ganham maior importância

A Pesquisa Produção e Venda do Setor Editorial Brasileiro também avalia os principais canais de distribuição das editoras. Em 2022, o destaque foi que o faturamento das empresas com venda de livros em livrarias virtuais tinha superado o de livrarias físicas.

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Neste ano, elas continuam na frente, representando 32,5% do faturamento contra 28% das livrarias físicas. O destaque também vai para os sites próprios e marketplaces que, pela primeira vez, apareceram entre os cinco principais canais de distribuição, representando 7,5% do faturamento.

Por que a venda de livros caiu?

Sevani Matos, presidente da Câmara Brasileira do Livro (CBL), afirmou que a expectativa geral era de que o resultado do setor seria mais positivo. O levantamento apontou que a redução só não foi pior devido ao aumento do preço médio do livro, que cresceu 3,2% em termos reais.

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Ainda assim, Mariana Bueno avalia que o preço não é o mesmo de quando a pesquisa começou a ser realizada: “Hoje, o livro está mais barato do que estava em 2006. Quando a gente deflaciona, estamos colocando tudo em um mesmo patamar. Sabemos que R$ 1 hoje não equivale ao R$ 1 do passado.”

Para a coordenadora da pesquisa, a queda na venda de livros ao mercado e a retração do setor em comparação ao PIB (que vem crescendo nos últimos anos) pode ser explicada por diversos fatores: “O PIB cresce, mas é preciso entender por que ele cresce. Temos uma perda substancial de renda nos últimos anos e isso tem um impacto no consumo.”

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“A percepção do consumidor brasileiro de que o livro é caro atrapalha bastante o mercado. A pesquisa mostra que os preços não subiram - eles acompanharam a inflação. Precisamos levar em consideração que, entre 2018 e 2019, tivemos o fechamento de centenas de livrarias. Elas são uma atração”, avaliou Sevani Matos. A presidente da CBL destacou que a pirataria também é um fator bastante prejudicial ao setor.

Fechamento de livrarias físicas pode ser um dos fatores para a queda na venda. Na imagem, a unidade da Livraria Cultura no Conjunto Nacional, em São Paulo, que fechou em abril. Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Já Dante Cid, presidente do SNEL, completou: “A leitura espontânea tem um índice muito baixo no Brasil. Isso combinado a uma queda do poder aquisitivo [da população] culmina nesse resultado dramático que estamos vendo”. Em 2020, a Pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, coordenada pelo Instituto Pró-Livro em parceria com o Itaú Cultural e realizada pelo Ibope, revelou que 48% dos brasileiros não são leitores - lembre aqui.

Venda de livros digitais e audiobooks no Brasil

A Pesquisa Conteúdo Digital do Setor Editorial Brasileiro é a que apresenta um resultado mais otimista do mercado de livros. Até o momento, esta é a única pesquisa sobre o tema no País. Segundo o levantamento, o faturamento das editoras com conteúdo digital cresceu em 158% nos últimos cinco anos. Vale lembrar que se trata de uma base muito menor do que a de livros físicos, e de um mercado muito novo - a Amazon chegou ao Brasil apenas em 2012. Veja mais abaixo números de produção.

Os dados consideram e-books e audiolivros. As vendas “à la carte” - ou seja, por unidade, - tiveram um aumento real de 18% no faturamento, sendo que 99% disso veio da comercialização de e-books e apenas 1% com audiolivros.

O faturamento com bibliotecas virtuais (apenas livros CTP) cresceu 59%, enquanto plataformas educacionais (utilizadas em educação infantil, no ensino fundamental e no ensino médio) cresceu 68%. O faturamento de cursos online, porém, recuou 36%. Já a comercialização para serviços por assinatura cresceu 24% (aqui, os e-books representam 66% e os audiolivros, 34%).

No total, o faturamento com serviços digitais ficou em R$ 339 milhões - um crescimento real de 33%. Ainda assim, é importante destacar que isso representa apenas 8% das vendas ao mercado (em 2022, esse número era de 6%).

Outros números da pesquisa

  • Em 2023, o setor produziu 45 mil títulos editados - 76% foram reimpressões e 24% foram lançamentos.
  • Foram 320 milhões de exemplares impressos, sendo 51% didáticos, 29% obras gerais, 16% religiosos e 4% CTP (Científicos, Técnicos e Profissionais)
  • A produção total foi 0,8% menor em títulos com relação a 2022, enquanto a de exemplares caiu em 1,2%.
  • O preço médio do livro no mercado subiu de R$21,71 (2022) para R$23,43 (2023), um aumento nominal de 7,9%. Em termos reais, a diferença é de 3,2%.
  • Em 2023, o setor tinha um acervo de 120 mil títulos digitais, sendo 93% de e-books e 7% de audiolivros. Desses, 88% já faziam parte do catálogo das editoras e 12% foram lançados durante o ano.
  • 14 mil títulos foram lançados em formato digital, sendo 33% CTP, 31% não ficção, 30% ficção e 7% didáticos. Entre os lançamentos, 83% foram e-books e 17% eram em áudio.
  • Foram 11,5 milhões de unidades de livros digitais vendidas, 97% em e-book e 3% em áudio. Um detalhe: 83% das unidades vendidas de audiolivro pertence à categoria não ficção.
  • O preço médio do e-book subiu de R$13,07 para R$14,28, um aumento nominal de 9,3%.

A venda de livros caiu pelo segundo ano consecutivo no Brasil, com uma queda de 8% na comercialização de exemplares ao mercado em 2023, em comparação com 2022. Além disso, o setor registrou uma retração de 5,1% em termos reais no faturamento, considerando a inflação do IPCA de 4,62%.

Os dados são da Pesquisa Produção e Venda do Setor Editorial Brasileiro 2024, realizada pela Nielsen BookData e encomendada pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL) e pela Câmara Brasileira do Livro (CBL), divulgada nesta quarta-feira, 22.

O levantamento é feito anualmente a partir de dados enviados por 117 editoras e considera apenas livros impressos. Além das vendas ao mercado, a pesquisa avalia as vendas ao Governo, que tiveram aumento de 23,1% em comparação com o ano anterior - como as compras são sazonais, ora para os estudantes do Ensino Fundamental ora para os do Ensino Médio, e as quantidades de estudantes variam, são esperadas essas diferenças.

Foram 172 milhões de exemplares vendidos ao mercado e 155 milhões ao Governo - somadas, as vendas representam um faturamento de R$ 6,2 bilhões. Em 2022, o faturamento foi de R$ 5,5 bilhões.

O desempenho na venda de e-books e audiolivros é medido pela Pesquisa Conteúdo Digital do Setor Editorial Brasileiro, também divulgada nesta quarta, 22. Ela apresentou um resultado mais positivo do que no ano passado, com crescimento de 14% na venda de exemplares digitais - veja mais sobre isso abaixo.

Venda de livros caiu pelo segundo ano consecutivo no Brasil.  Foto: Felipe Rau/Estadão

A pesquisa leva em consideração o resultado de quatro setores: obras gerais, didáticos, religiosos e CTP (Científicos, Técnicos e Profissionais). Nas vendas ao mercado, apenas as obras religiosas se mantiveram estáveis, com queda real de 0,1%. O subsetor de obras gerais registrou um recuo de 6,8% quando considerada a inflação, enquanto a queda real dos didáticos foi de 3,3%. O CTP foi o pior subsetor, com recuo real de 10,1%.

Mariana Bueno, coordenadora de Pesquisas Econômicas e Setoriais da Nielsen BookData, disse, em coletiva de imprensa nesta quarta, que é preciso analisar os subsetores ao comparar os índices atuais com os anos anteriores.

“O comportamento de CTP é distinto. Há um década ele apresenta resultados negativos em termos reais. Obras gerais conseguem ser comparadas com níveis pré-pandemicos. Desde o fim da crise econômica, esse setor vem tendo resultados semelhantes. Religiosos é o que apresenta melhores resultados nos últimos anos, enquanto didáticos também teve resultados negativos”, afirmou.

Sites próprios e marketplaces ganham maior importância

A Pesquisa Produção e Venda do Setor Editorial Brasileiro também avalia os principais canais de distribuição das editoras. Em 2022, o destaque foi que o faturamento das empresas com venda de livros em livrarias virtuais tinha superado o de livrarias físicas.

Neste ano, elas continuam na frente, representando 32,5% do faturamento contra 28% das livrarias físicas. O destaque também vai para os sites próprios e marketplaces que, pela primeira vez, apareceram entre os cinco principais canais de distribuição, representando 7,5% do faturamento.

Por que a venda de livros caiu?

Sevani Matos, presidente da Câmara Brasileira do Livro (CBL), afirmou que a expectativa geral era de que o resultado do setor seria mais positivo. O levantamento apontou que a redução só não foi pior devido ao aumento do preço médio do livro, que cresceu 3,2% em termos reais.

Ainda assim, Mariana Bueno avalia que o preço não é o mesmo de quando a pesquisa começou a ser realizada: “Hoje, o livro está mais barato do que estava em 2006. Quando a gente deflaciona, estamos colocando tudo em um mesmo patamar. Sabemos que R$ 1 hoje não equivale ao R$ 1 do passado.”

Para a coordenadora da pesquisa, a queda na venda de livros ao mercado e a retração do setor em comparação ao PIB (que vem crescendo nos últimos anos) pode ser explicada por diversos fatores: “O PIB cresce, mas é preciso entender por que ele cresce. Temos uma perda substancial de renda nos últimos anos e isso tem um impacto no consumo.”

“A percepção do consumidor brasileiro de que o livro é caro atrapalha bastante o mercado. A pesquisa mostra que os preços não subiram - eles acompanharam a inflação. Precisamos levar em consideração que, entre 2018 e 2019, tivemos o fechamento de centenas de livrarias. Elas são uma atração”, avaliou Sevani Matos. A presidente da CBL destacou que a pirataria também é um fator bastante prejudicial ao setor.

Fechamento de livrarias físicas pode ser um dos fatores para a queda na venda. Na imagem, a unidade da Livraria Cultura no Conjunto Nacional, em São Paulo, que fechou em abril. Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Já Dante Cid, presidente do SNEL, completou: “A leitura espontânea tem um índice muito baixo no Brasil. Isso combinado a uma queda do poder aquisitivo [da população] culmina nesse resultado dramático que estamos vendo”. Em 2020, a Pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, coordenada pelo Instituto Pró-Livro em parceria com o Itaú Cultural e realizada pelo Ibope, revelou que 48% dos brasileiros não são leitores - lembre aqui.

Venda de livros digitais e audiobooks no Brasil

A Pesquisa Conteúdo Digital do Setor Editorial Brasileiro é a que apresenta um resultado mais otimista do mercado de livros. Até o momento, esta é a única pesquisa sobre o tema no País. Segundo o levantamento, o faturamento das editoras com conteúdo digital cresceu em 158% nos últimos cinco anos. Vale lembrar que se trata de uma base muito menor do que a de livros físicos, e de um mercado muito novo - a Amazon chegou ao Brasil apenas em 2012. Veja mais abaixo números de produção.

Os dados consideram e-books e audiolivros. As vendas “à la carte” - ou seja, por unidade, - tiveram um aumento real de 18% no faturamento, sendo que 99% disso veio da comercialização de e-books e apenas 1% com audiolivros.

O faturamento com bibliotecas virtuais (apenas livros CTP) cresceu 59%, enquanto plataformas educacionais (utilizadas em educação infantil, no ensino fundamental e no ensino médio) cresceu 68%. O faturamento de cursos online, porém, recuou 36%. Já a comercialização para serviços por assinatura cresceu 24% (aqui, os e-books representam 66% e os audiolivros, 34%).

No total, o faturamento com serviços digitais ficou em R$ 339 milhões - um crescimento real de 33%. Ainda assim, é importante destacar que isso representa apenas 8% das vendas ao mercado (em 2022, esse número era de 6%).

Outros números da pesquisa

  • Em 2023, o setor produziu 45 mil títulos editados - 76% foram reimpressões e 24% foram lançamentos.
  • Foram 320 milhões de exemplares impressos, sendo 51% didáticos, 29% obras gerais, 16% religiosos e 4% CTP (Científicos, Técnicos e Profissionais)
  • A produção total foi 0,8% menor em títulos com relação a 2022, enquanto a de exemplares caiu em 1,2%.
  • O preço médio do livro no mercado subiu de R$21,71 (2022) para R$23,43 (2023), um aumento nominal de 7,9%. Em termos reais, a diferença é de 3,2%.
  • Em 2023, o setor tinha um acervo de 120 mil títulos digitais, sendo 93% de e-books e 7% de audiolivros. Desses, 88% já faziam parte do catálogo das editoras e 12% foram lançados durante o ano.
  • 14 mil títulos foram lançados em formato digital, sendo 33% CTP, 31% não ficção, 30% ficção e 7% didáticos. Entre os lançamentos, 83% foram e-books e 17% eram em áudio.
  • Foram 11,5 milhões de unidades de livros digitais vendidas, 97% em e-book e 3% em áudio. Um detalhe: 83% das unidades vendidas de audiolivro pertence à categoria não ficção.
  • O preço médio do e-book subiu de R$13,07 para R$14,28, um aumento nominal de 9,3%.

A venda de livros caiu pelo segundo ano consecutivo no Brasil, com uma queda de 8% na comercialização de exemplares ao mercado em 2023, em comparação com 2022. Além disso, o setor registrou uma retração de 5,1% em termos reais no faturamento, considerando a inflação do IPCA de 4,62%.

Os dados são da Pesquisa Produção e Venda do Setor Editorial Brasileiro 2024, realizada pela Nielsen BookData e encomendada pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL) e pela Câmara Brasileira do Livro (CBL), divulgada nesta quarta-feira, 22.

O levantamento é feito anualmente a partir de dados enviados por 117 editoras e considera apenas livros impressos. Além das vendas ao mercado, a pesquisa avalia as vendas ao Governo, que tiveram aumento de 23,1% em comparação com o ano anterior - como as compras são sazonais, ora para os estudantes do Ensino Fundamental ora para os do Ensino Médio, e as quantidades de estudantes variam, são esperadas essas diferenças.

Foram 172 milhões de exemplares vendidos ao mercado e 155 milhões ao Governo - somadas, as vendas representam um faturamento de R$ 6,2 bilhões. Em 2022, o faturamento foi de R$ 5,5 bilhões.

O desempenho na venda de e-books e audiolivros é medido pela Pesquisa Conteúdo Digital do Setor Editorial Brasileiro, também divulgada nesta quarta, 22. Ela apresentou um resultado mais positivo do que no ano passado, com crescimento de 14% na venda de exemplares digitais - veja mais sobre isso abaixo.

Venda de livros caiu pelo segundo ano consecutivo no Brasil.  Foto: Felipe Rau/Estadão

A pesquisa leva em consideração o resultado de quatro setores: obras gerais, didáticos, religiosos e CTP (Científicos, Técnicos e Profissionais). Nas vendas ao mercado, apenas as obras religiosas se mantiveram estáveis, com queda real de 0,1%. O subsetor de obras gerais registrou um recuo de 6,8% quando considerada a inflação, enquanto a queda real dos didáticos foi de 3,3%. O CTP foi o pior subsetor, com recuo real de 10,1%.

Mariana Bueno, coordenadora de Pesquisas Econômicas e Setoriais da Nielsen BookData, disse, em coletiva de imprensa nesta quarta, que é preciso analisar os subsetores ao comparar os índices atuais com os anos anteriores.

“O comportamento de CTP é distinto. Há um década ele apresenta resultados negativos em termos reais. Obras gerais conseguem ser comparadas com níveis pré-pandemicos. Desde o fim da crise econômica, esse setor vem tendo resultados semelhantes. Religiosos é o que apresenta melhores resultados nos últimos anos, enquanto didáticos também teve resultados negativos”, afirmou.

Sites próprios e marketplaces ganham maior importância

A Pesquisa Produção e Venda do Setor Editorial Brasileiro também avalia os principais canais de distribuição das editoras. Em 2022, o destaque foi que o faturamento das empresas com venda de livros em livrarias virtuais tinha superado o de livrarias físicas.

Neste ano, elas continuam na frente, representando 32,5% do faturamento contra 28% das livrarias físicas. O destaque também vai para os sites próprios e marketplaces que, pela primeira vez, apareceram entre os cinco principais canais de distribuição, representando 7,5% do faturamento.

Por que a venda de livros caiu?

Sevani Matos, presidente da Câmara Brasileira do Livro (CBL), afirmou que a expectativa geral era de que o resultado do setor seria mais positivo. O levantamento apontou que a redução só não foi pior devido ao aumento do preço médio do livro, que cresceu 3,2% em termos reais.

Ainda assim, Mariana Bueno avalia que o preço não é o mesmo de quando a pesquisa começou a ser realizada: “Hoje, o livro está mais barato do que estava em 2006. Quando a gente deflaciona, estamos colocando tudo em um mesmo patamar. Sabemos que R$ 1 hoje não equivale ao R$ 1 do passado.”

Para a coordenadora da pesquisa, a queda na venda de livros ao mercado e a retração do setor em comparação ao PIB (que vem crescendo nos últimos anos) pode ser explicada por diversos fatores: “O PIB cresce, mas é preciso entender por que ele cresce. Temos uma perda substancial de renda nos últimos anos e isso tem um impacto no consumo.”

“A percepção do consumidor brasileiro de que o livro é caro atrapalha bastante o mercado. A pesquisa mostra que os preços não subiram - eles acompanharam a inflação. Precisamos levar em consideração que, entre 2018 e 2019, tivemos o fechamento de centenas de livrarias. Elas são uma atração”, avaliou Sevani Matos. A presidente da CBL destacou que a pirataria também é um fator bastante prejudicial ao setor.

Fechamento de livrarias físicas pode ser um dos fatores para a queda na venda. Na imagem, a unidade da Livraria Cultura no Conjunto Nacional, em São Paulo, que fechou em abril. Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Já Dante Cid, presidente do SNEL, completou: “A leitura espontânea tem um índice muito baixo no Brasil. Isso combinado a uma queda do poder aquisitivo [da população] culmina nesse resultado dramático que estamos vendo”. Em 2020, a Pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, coordenada pelo Instituto Pró-Livro em parceria com o Itaú Cultural e realizada pelo Ibope, revelou que 48% dos brasileiros não são leitores - lembre aqui.

Venda de livros digitais e audiobooks no Brasil

A Pesquisa Conteúdo Digital do Setor Editorial Brasileiro é a que apresenta um resultado mais otimista do mercado de livros. Até o momento, esta é a única pesquisa sobre o tema no País. Segundo o levantamento, o faturamento das editoras com conteúdo digital cresceu em 158% nos últimos cinco anos. Vale lembrar que se trata de uma base muito menor do que a de livros físicos, e de um mercado muito novo - a Amazon chegou ao Brasil apenas em 2012. Veja mais abaixo números de produção.

Os dados consideram e-books e audiolivros. As vendas “à la carte” - ou seja, por unidade, - tiveram um aumento real de 18% no faturamento, sendo que 99% disso veio da comercialização de e-books e apenas 1% com audiolivros.

O faturamento com bibliotecas virtuais (apenas livros CTP) cresceu 59%, enquanto plataformas educacionais (utilizadas em educação infantil, no ensino fundamental e no ensino médio) cresceu 68%. O faturamento de cursos online, porém, recuou 36%. Já a comercialização para serviços por assinatura cresceu 24% (aqui, os e-books representam 66% e os audiolivros, 34%).

No total, o faturamento com serviços digitais ficou em R$ 339 milhões - um crescimento real de 33%. Ainda assim, é importante destacar que isso representa apenas 8% das vendas ao mercado (em 2022, esse número era de 6%).

Outros números da pesquisa

  • Em 2023, o setor produziu 45 mil títulos editados - 76% foram reimpressões e 24% foram lançamentos.
  • Foram 320 milhões de exemplares impressos, sendo 51% didáticos, 29% obras gerais, 16% religiosos e 4% CTP (Científicos, Técnicos e Profissionais)
  • A produção total foi 0,8% menor em títulos com relação a 2022, enquanto a de exemplares caiu em 1,2%.
  • O preço médio do livro no mercado subiu de R$21,71 (2022) para R$23,43 (2023), um aumento nominal de 7,9%. Em termos reais, a diferença é de 3,2%.
  • Em 2023, o setor tinha um acervo de 120 mil títulos digitais, sendo 93% de e-books e 7% de audiolivros. Desses, 88% já faziam parte do catálogo das editoras e 12% foram lançados durante o ano.
  • 14 mil títulos foram lançados em formato digital, sendo 33% CTP, 31% não ficção, 30% ficção e 7% didáticos. Entre os lançamentos, 83% foram e-books e 17% eram em áudio.
  • Foram 11,5 milhões de unidades de livros digitais vendidas, 97% em e-book e 3% em áudio. Um detalhe: 83% das unidades vendidas de audiolivro pertence à categoria não ficção.
  • O preço médio do e-book subiu de R$13,07 para R$14,28, um aumento nominal de 9,3%.

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