Lucas Lima sempre indica livros em seu perfil do Instagram, onde as “diquinhas do Lucão” são acompanhadas por seus 1,8 milhão de seguidores. Faz isso de um jeito descontraído. Quando foi comentar o romance Tudo é Rio, de Carla Madeira, por exemplo, disse: “A guria tem manteiga na caneta, escreve dum jeito forte e gentil”. Sobre Elena Ferrante, escreveu: “Essa guria escreve de um jeito que me derrubou FEIO. Ela tem uma sinceridade na hora de descrever os sentimentos mesquinhos que a gente tem e às vezes nem tem coragem de enxergar que me deixou até constrangido”.
Os posts eram restritos aos seus seguidores até o anúncio da separação de Sandy, no dia 25 de setembro. E sua publicação sobre A Morte de Ivan Ilitch, clássico de Liev Tolstoi, de 20 dias antes, chamou atenção. “Baita reflexão sobre a vida, sobre escolhas e os porquês destas. Deu uma chacoalhada legal do Lucão. Recomendo”, lemos no final. Na foto, Lucas aparece com a edição da 34, traduzida por Boris Schnaiderman.
O assunto cresceu. As pessoas quiseram entender o que aquilo significava e de que forma Tolstoi e um livro do século 19 poderiam ter influenciado no divórcio de Sandy e Lucas. E, depois da notícia, foram procurar também o livro nas livrarias.
Os números brutos de vendas não são tão altos - como se observa na desafiadora realidade do setor no Brasil -, mas a variação é notável, e chega a 400% na maior rede de livrarias do País. Como a obra está em domínio público, há várias edições e traduções disponíveis, e todas se beneficiaram do que se está chamando informalmente no mercado editorial de “Efeito Sandy”.
Nas livrarias, a ressureição de Ivan Ilitch
Na maior rede de livrarias do País, a Leitura, as vendas de A Morte de Ivan Ilitch cresceram 400%. Da quinta, 28, até a quinta, 5, foram comercializadas 430 cópias do clássico de Tolstoi. Na semana anterior, foram vendidos apenas 83 exemplares.
Na Livraria da Travessa, há sete edições diferentes (Amarilis, Principis, Grua, Antofágica, 34, LPM e Todavia). Nos últimos 30 dias, foram vendidos 134 exemplares. Segundo a rede de Rui Campos, isso é quase o dobro do que foi vendido nos 30 dias anteriores. A edição da 34, a que aparece no post de Lucas Lima, respondeu por mais da metade dessas vendas.
Um detalhe: se olharmos para os números apenas desde que o post repercutiu, o total de exemplares vendidos fica em 73. Na semana anterior, foram 18.
Na Livraria Drummond, no Conjunto Nacional, ao longo de todo o mês de setembro foram vendidas 8 cópias do livro de Tolstoi. Apenas nesses primeiros seis dias de outubro, a conta está em 10 exemplares vendidos.
Editoras já sentem efeitos
Ainda é cedo para as editoras terem uma noção real do impacto nas vendas, já que os acertos das livrarias não são feitos em tempo real. A 34, no entanto, confirma que houve aumento nas vendas do livro.
A Antofágica, que vem publicando clássicos em edições caprichadas, em capa dura ou digital, comemora o crescimento das vendas e do interesse por Tolstoi.
Rafael Drummond, diretor geral da Antofágica
Nesta sexta, 6, oito dias depois de a história viralizar, a versão digital da Antofágica ainda estava em terceiro lugar na Amazon, na categoria de clássicos.
Drummond destacou, também, que aumentou o interesse nos conteúdos relacionados aos livros e ao próprio autor. O vídeo sobre A Morte de Ivan Ilitch, disponível no canal da editora no YouTube, teve um aumento de 92,38% em visualizações entre os dias 25 de setembro e 5 de outubro.
Jorge Sallum, diretor da Hedra, chamou de “brutal” o pico de reproduções do audiolivro que ela lançou há dois meses como streaming no Spotify, com tradução de Irineu Franco Perpetuo. Foi um pico de quase 3.000%, com um público majoritariamente masculino buscando o livro. Outro dado interessante. Se antes o livro era ouvido mais por pessoas na faixa dos 35 ou mais, depois do post ele estourou na faixa dos 15 aos 34 anos. E aumentou também o tempo de escuta. A procura foi maior na quinta passada, mas, segundo o editor, o interesse perdura.