Livro mostra a herança punk na moda de rua atual


Biografia da estilista inglesa Vivienne Westwood chega ao Brasil no momento em que o street style ganha força

Por Maria Rita Alonso

Foi dura a vida de Vivienne Westwood até ela se encontrar como estilista e virar uma das inglesas mais famosas do mundo. Professora primária, mãe solteira, apaixonada por um homem egoísta que a menosprezava socialmente, Vivienne viveu dias difíceis sem casa nem dinheiro. O ponto de virada foi o momento em que alugou a loja no número 430 da Kings Road, em Londres, ao lado do então marido e sócio Malcolm McLaren, parceiro genial e excêntrico, que subestimava a estilista tratando-a como “sua costureira”. Ali, nos anos 1970, ela viu nascer o movimento punk, que acabou ajudando a popularizar dando forma a uma estética fashion subversiva. A história toda está contada em sua autobiografia, escrita com a ajuda do jornalista Ian Kelly, e lançada recentemente no Brasil.

A estilista britânicaVivienne Westwood em desfile realizado em Milão: apoio de Armani Foto: REUTERS/Stefano Rellandini

O livro chega às livrarias do País justamente em um momento em que o streetwear ganha força na moda nacional, com a consolidação de novas grifes na São Paulo Fashion Week e com o uso da roupa como meio de protesto e engajamento. A alta moda do Brasil, de certa forma, se encontrou com a rua e com os debates que movimentam as redes sociais. “O streetwear é confortável, prático, usável. Hoje, as pessoas são muito atarefadas, andam de transporte público, têm compromissos diferentes. A moda está se adaptando ao que a gente precisa”, diz a jornalista Lilian Pacce.  Entre as marcas que se destacaram na SPFW está a Just Kids, das estilistas Juliana Jabour e Karen Fuke, que reproduziu a estética punk em sua estreia. Na passarela, moletons com frases de efeito estampadas — a maior parte delas tiradas da Blitz, revista britânica dos anos 1980 —, como “we are not here to sell clothes” (nós não estamos aqui para vender roupas) e “fashion kills” (moda mata). Karen, que trabalhou 10 anos com o estilista da Triton, conta que finalmente se sentiu livre para criar. “Não precisa de muito para fazer uma coisa legal, basta ter verdade”, diz Karen. A coleção tem 10 modelos, cada um com 5 peças, que não saem por menos de R$ 700.

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Alexandre Herchcovitch, agora no comando de estilo da marca À La Garçonne, também apostou em elementos da moda de rua. A linha de jaquetas militares grandonas, folgadas, com pinturas decorativas feitas à mão foi o auge do desfile. Algumas chegam a custar mais de R$ 5 mil. Seguindo a mesma pegada street, a marca LAB, dos rappers Emicida e Evandro Fióti, investiu em estampas gráficas, peças amplas e estruturadas, quimonos e casacos com ombreiras. “Os desfiles que salvaram esta edição do evento tiveram muito mais a ver com atitude do que com produto”, diz Mario Mendes, editor de moda da revista Veja, destacando as apresentações da LAB e do estilista Ronaldo Fraga, que levou apenas transexuais e travestis para a passarela, todas usando o mesmo modelo de vestido. “A única coisa que não vale é gourmetizar a moda de rua, cobrando uma fortuna por uma camiseta”, diz Mario Mendes. 

Evocar o legado de Vivienne neste momento é oportuno. No livro, ela conta que primeiro tentou vender um lote de camisetas mais limpinhas, como as que se usava nos anos 1950 – T-shirts, couro e jeans usados como uniforme para Marlon Brando e Elvis Presley serviram de base para ela. Mas então, como as vendas encalharam, ela começou a estilizá-las. Fazia furos com queimaduras de cigarro e usava zíperes que subvertiam a ordem das coisas e davam um toque fetichista às peças. Também usava frases desaforadas. 

O revival agora de camisetas com slogan é global. A moda acompanha o humor da economia e o espírito do tempo. Por isso, em cenários de crise, volta-se à utilidade, à proteção e à mobilidade. E a dizer, na lata, o que você pensa. Nos últimos desfiles da semana de Paris, a estilista Maria Grazia Chiuri, que assumiu a Dior, movimentou as redes sociais com um discurso feminista, bem apropriado, diga-se, já que ela é a primeira mulher a assumir a direção da maison francesa. Na passarela, ela colocou uma camiseta com o recado: “We should all be feminists”. A politização das roupas foi o legado de Vivienne, que trouxe a moda de rua para a alta moda. Agora, a alta moda faz o caminho inverso. / COLABORARAM ISABELA SERAFIM E ANNA ROMBINO

Foi dura a vida de Vivienne Westwood até ela se encontrar como estilista e virar uma das inglesas mais famosas do mundo. Professora primária, mãe solteira, apaixonada por um homem egoísta que a menosprezava socialmente, Vivienne viveu dias difíceis sem casa nem dinheiro. O ponto de virada foi o momento em que alugou a loja no número 430 da Kings Road, em Londres, ao lado do então marido e sócio Malcolm McLaren, parceiro genial e excêntrico, que subestimava a estilista tratando-a como “sua costureira”. Ali, nos anos 1970, ela viu nascer o movimento punk, que acabou ajudando a popularizar dando forma a uma estética fashion subversiva. A história toda está contada em sua autobiografia, escrita com a ajuda do jornalista Ian Kelly, e lançada recentemente no Brasil.

A estilista britânicaVivienne Westwood em desfile realizado em Milão: apoio de Armani Foto: REUTERS/Stefano Rellandini

O livro chega às livrarias do País justamente em um momento em que o streetwear ganha força na moda nacional, com a consolidação de novas grifes na São Paulo Fashion Week e com o uso da roupa como meio de protesto e engajamento. A alta moda do Brasil, de certa forma, se encontrou com a rua e com os debates que movimentam as redes sociais. “O streetwear é confortável, prático, usável. Hoje, as pessoas são muito atarefadas, andam de transporte público, têm compromissos diferentes. A moda está se adaptando ao que a gente precisa”, diz a jornalista Lilian Pacce.  Entre as marcas que se destacaram na SPFW está a Just Kids, das estilistas Juliana Jabour e Karen Fuke, que reproduziu a estética punk em sua estreia. Na passarela, moletons com frases de efeito estampadas — a maior parte delas tiradas da Blitz, revista britânica dos anos 1980 —, como “we are not here to sell clothes” (nós não estamos aqui para vender roupas) e “fashion kills” (moda mata). Karen, que trabalhou 10 anos com o estilista da Triton, conta que finalmente se sentiu livre para criar. “Não precisa de muito para fazer uma coisa legal, basta ter verdade”, diz Karen. A coleção tem 10 modelos, cada um com 5 peças, que não saem por menos de R$ 700.

Alexandre Herchcovitch, agora no comando de estilo da marca À La Garçonne, também apostou em elementos da moda de rua. A linha de jaquetas militares grandonas, folgadas, com pinturas decorativas feitas à mão foi o auge do desfile. Algumas chegam a custar mais de R$ 5 mil. Seguindo a mesma pegada street, a marca LAB, dos rappers Emicida e Evandro Fióti, investiu em estampas gráficas, peças amplas e estruturadas, quimonos e casacos com ombreiras. “Os desfiles que salvaram esta edição do evento tiveram muito mais a ver com atitude do que com produto”, diz Mario Mendes, editor de moda da revista Veja, destacando as apresentações da LAB e do estilista Ronaldo Fraga, que levou apenas transexuais e travestis para a passarela, todas usando o mesmo modelo de vestido. “A única coisa que não vale é gourmetizar a moda de rua, cobrando uma fortuna por uma camiseta”, diz Mario Mendes. 

Evocar o legado de Vivienne neste momento é oportuno. No livro, ela conta que primeiro tentou vender um lote de camisetas mais limpinhas, como as que se usava nos anos 1950 – T-shirts, couro e jeans usados como uniforme para Marlon Brando e Elvis Presley serviram de base para ela. Mas então, como as vendas encalharam, ela começou a estilizá-las. Fazia furos com queimaduras de cigarro e usava zíperes que subvertiam a ordem das coisas e davam um toque fetichista às peças. Também usava frases desaforadas. 

O revival agora de camisetas com slogan é global. A moda acompanha o humor da economia e o espírito do tempo. Por isso, em cenários de crise, volta-se à utilidade, à proteção e à mobilidade. E a dizer, na lata, o que você pensa. Nos últimos desfiles da semana de Paris, a estilista Maria Grazia Chiuri, que assumiu a Dior, movimentou as redes sociais com um discurso feminista, bem apropriado, diga-se, já que ela é a primeira mulher a assumir a direção da maison francesa. Na passarela, ela colocou uma camiseta com o recado: “We should all be feminists”. A politização das roupas foi o legado de Vivienne, que trouxe a moda de rua para a alta moda. Agora, a alta moda faz o caminho inverso. / COLABORARAM ISABELA SERAFIM E ANNA ROMBINO

Foi dura a vida de Vivienne Westwood até ela se encontrar como estilista e virar uma das inglesas mais famosas do mundo. Professora primária, mãe solteira, apaixonada por um homem egoísta que a menosprezava socialmente, Vivienne viveu dias difíceis sem casa nem dinheiro. O ponto de virada foi o momento em que alugou a loja no número 430 da Kings Road, em Londres, ao lado do então marido e sócio Malcolm McLaren, parceiro genial e excêntrico, que subestimava a estilista tratando-a como “sua costureira”. Ali, nos anos 1970, ela viu nascer o movimento punk, que acabou ajudando a popularizar dando forma a uma estética fashion subversiva. A história toda está contada em sua autobiografia, escrita com a ajuda do jornalista Ian Kelly, e lançada recentemente no Brasil.

A estilista britânicaVivienne Westwood em desfile realizado em Milão: apoio de Armani Foto: REUTERS/Stefano Rellandini

O livro chega às livrarias do País justamente em um momento em que o streetwear ganha força na moda nacional, com a consolidação de novas grifes na São Paulo Fashion Week e com o uso da roupa como meio de protesto e engajamento. A alta moda do Brasil, de certa forma, se encontrou com a rua e com os debates que movimentam as redes sociais. “O streetwear é confortável, prático, usável. Hoje, as pessoas são muito atarefadas, andam de transporte público, têm compromissos diferentes. A moda está se adaptando ao que a gente precisa”, diz a jornalista Lilian Pacce.  Entre as marcas que se destacaram na SPFW está a Just Kids, das estilistas Juliana Jabour e Karen Fuke, que reproduziu a estética punk em sua estreia. Na passarela, moletons com frases de efeito estampadas — a maior parte delas tiradas da Blitz, revista britânica dos anos 1980 —, como “we are not here to sell clothes” (nós não estamos aqui para vender roupas) e “fashion kills” (moda mata). Karen, que trabalhou 10 anos com o estilista da Triton, conta que finalmente se sentiu livre para criar. “Não precisa de muito para fazer uma coisa legal, basta ter verdade”, diz Karen. A coleção tem 10 modelos, cada um com 5 peças, que não saem por menos de R$ 700.

Alexandre Herchcovitch, agora no comando de estilo da marca À La Garçonne, também apostou em elementos da moda de rua. A linha de jaquetas militares grandonas, folgadas, com pinturas decorativas feitas à mão foi o auge do desfile. Algumas chegam a custar mais de R$ 5 mil. Seguindo a mesma pegada street, a marca LAB, dos rappers Emicida e Evandro Fióti, investiu em estampas gráficas, peças amplas e estruturadas, quimonos e casacos com ombreiras. “Os desfiles que salvaram esta edição do evento tiveram muito mais a ver com atitude do que com produto”, diz Mario Mendes, editor de moda da revista Veja, destacando as apresentações da LAB e do estilista Ronaldo Fraga, que levou apenas transexuais e travestis para a passarela, todas usando o mesmo modelo de vestido. “A única coisa que não vale é gourmetizar a moda de rua, cobrando uma fortuna por uma camiseta”, diz Mario Mendes. 

Evocar o legado de Vivienne neste momento é oportuno. No livro, ela conta que primeiro tentou vender um lote de camisetas mais limpinhas, como as que se usava nos anos 1950 – T-shirts, couro e jeans usados como uniforme para Marlon Brando e Elvis Presley serviram de base para ela. Mas então, como as vendas encalharam, ela começou a estilizá-las. Fazia furos com queimaduras de cigarro e usava zíperes que subvertiam a ordem das coisas e davam um toque fetichista às peças. Também usava frases desaforadas. 

O revival agora de camisetas com slogan é global. A moda acompanha o humor da economia e o espírito do tempo. Por isso, em cenários de crise, volta-se à utilidade, à proteção e à mobilidade. E a dizer, na lata, o que você pensa. Nos últimos desfiles da semana de Paris, a estilista Maria Grazia Chiuri, que assumiu a Dior, movimentou as redes sociais com um discurso feminista, bem apropriado, diga-se, já que ela é a primeira mulher a assumir a direção da maison francesa. Na passarela, ela colocou uma camiseta com o recado: “We should all be feminists”. A politização das roupas foi o legado de Vivienne, que trouxe a moda de rua para a alta moda. Agora, a alta moda faz o caminho inverso. / COLABORARAM ISABELA SERAFIM E ANNA ROMBINO

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