Livro narra vida do médico nazista Josef Mengele no Brasil


Após fugir de Auschwitz, onde fazia experimentos com humanos, Mengele viveu na América do Sul até sua morte, em 1979

Por Gilles Lapouge

De todos os monstros incubados pelo nazismo, Josef Mengele é um dos mais repugnantes. Médico brilhante, alistado na SS de Hitler, esteve em Auschwitz em 1943, onde estudou a morte de judeus e de comunistas, suas vísceras e suas estruturas químicas, com o objetivo de inventar o homem do futuro, geneticamente puro, que deveria substituir os “judeus sujos”, os ciganos, os idiotas, os nojentos que desgraçavam as democracias.

O campo de extermínio de Auschwitz, na Polônia Foto: Kacper Pempel/Reuters

É o percurso desse homem, desse “demiurgo” que Olivier Guez acompanha em La Disparition de Josef Mengele (O Desaparecimento de Josef Mengele). Foram três anos de pesquisas, entrevistas que Guez compartilha conosco na rocambolesca fuga de Mengele, depois da 2.ª Guerra Mundial, pela Argentina, Paraguai e Brasil, onde morre misteriosamente em uma praia em 1979.  O livro de Guez percorre dois registros geralmente incompatíveis: o rigor de um livro de história e o movimento, a obscura beleza romanesca de uma tragédia. É muito bonito.

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O livro começa em 1949, em Gênova, Itália. Um homem chamado Fritz Ulmann (serão muitos os pseudônimos de Mengele) embarca para a Argentina. Como é que ele escapou de ser pego em 1945, com os outros criminosos nazistas? Acontece que Mengele é astuto: em 1938, ao se alistar na SS, ele recusou o número de identificação tatuado sob a axila. Então, quando os americanos o capturaram em 1945, eles o libertaram. Três anos de fuga tranquila. Em 1949, graças às redes nazistas que abundavam na Europa, eis o embarque em Gênova.

+ Curiosidade: o programa do partido nazista

Na Argentina, um oficial da alfândega abre as malas deste tal mecânico Fritz Ulmann. Uma delas contém seringas, frascos de sangue, placas etc... Bagagem estranha. Mengele explica que em seus momentos de lazer, é um biólogo amador. E em 2 de junho de 1949 começa seu longo percurso pela América do Sul.

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O primeiro ponto de parada é bem escolhido. A Argentina está nas mãos de Perón, que jamais escondeu sua admiração por Hitler. Seu país é um Eldorado para os antigos nazistas. Mengele aproveita-se das inúmeras redes nazistas, mesmo que jamais revele sua verdadeira identidade. Ele é apenas um ex-nazista caçado em seu país. Encontra emprego como carpinteiro, no bairro Vicente Lopez e um alojamento miserável. Vive em constante terror. Todos os dias muda de itinerário. Não tem ligações com ninguém. Sua única distração: lê poesia, Goethe, Heine ou então ouve religiosamente as óperas de Strauss. Louco por música e um grande leitor, isso é tudo que lhe restará até o fim. Ainda em Auschwitz, quando chafurdava no sangue de suas “cobaias”, ele gostava de ouvir uma linda sinfonia.

O livro de Guez nos faz reviver essa epopeia do mal e do infortúnio ao mesmo tempo. Há altos e baixos, mas sempre medo, e a convicção de que jamais cometeu qualquer mal. Ele atuou como um grande estudioso, para melhorar a raça ariana. E para restaurar a “dignidade” aos seres humanos.

O quanto tem de piedade de si mesmo, tanto é estranho esse sentimento, quando se trata de outros. Especialmente das raças “inferiores”. Em Auschwitz, no abrigo das torres de vigia, ele se pavoneava com suas roupas dândi, botas, luvas, uniforme impecável, chapéu inclinado sobre o rosto: até os outros SS tinham medo dele.

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Ele não se poupava de esforços. Havia organizado um laboratório humano extravagante nas cabanas de enfermaria: anões, gigantes e gêmeos. Todos os dias, os trens entregaram novos estoques: judeus, ciganos, comunistas. Ele injetou, ele assassinou, ele autopsiou, ele fez pesquisas de órgãos e sangue. Ele adorava especialmente crianças, os gêmeos, pois ele poderia estudar nos cadáveres suas características genéticas. Toda essa carne compunha em um vasto “zoológico” de cobaias vivas ou mortas, graças às quais seu mestre Hitler poderia forjar os super-homens, supermulheres bem fecundadas, que viriam substituir o sórdido rebanho humano que habitava os territórios orientais. Durante dois anos, de maio de 1943 a janeiro de 1945, ele tinha sido o anjo da morte, o grande mandachuva da tortura e dos assassinatos terapêuticos. Mas agora não passava que um rato aterrorizado escondido nos cantos obscuros de Buenos Aires.

Gregory Peck interpreta Josef Mengele no filme 'Garotos do Brasil' 

Os dias se seguiam. Ao longo do tempo, e graças às redes nazistas que se dividiam em zonas na Argentina, Mengele consegue obter uma autorização de residência e um grande empréstimo bancário. Compra uma casa esplêndida, perto da antiga residência particular de Perón. O maldito se tranquiliza. A vida é linda, mas essa calma dura pouco. Um velho policial o localiza, prende e o libera por uma grande quantia de dinheiro. Mas o golpe passou perto e Mengele fica aterrorizado. Perde toda a calma e foge para o Paraguai, o país vizinho no qual reinou outro dos admiradores de Hitler, o general Alfredo Stroessner.

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Nessa época, o Mossad, o terrível serviço de inteligência de Israel rastreia na Argentina um outro criminoso, Adolf Eichmann, um dos altos responsáveis pela “solução final”, durante a guerra. Eichmann foi sequestrado pelos israelenses em 11 de maio de 1960. O chefe do Mossad quer conseguir um “duplo resultado” e pegar também Mengele. Mas este está no Paraguai. Confusão. O Mossad deve retornar a Israel com sua presa, Eichmann, cujo julgamento em breve deixará o mundo inteiro impressionado e repugnado. A sorte, mais uma vez, protege o infame médico de Auschwitz. Mas o pesadelo não termina. O tirano treme, sofre. A tenaz aperta. “Lá está ele”, disse Olivier Guez, “entregue à maldição de Caim, o primeiro assassino da humanidade; errante e fugitivo na terra. Quem o encontrar vai matá-lo.”

A caçada recomeça. Depois da Argentina de Perón, depois do Paraguai de Stroessner, Mengele acaba por se fixar no Brasil. É levado para uma fazenda isolada nas proximidades de Nova Europa. Em Nova Europa, a esposa do fazendeiro, Gitta, descobre sua identidade. No seu quarto, ela encontra livros de Heidegger, Carl Schmidt, Novalis. Ele admite. Os proprietários não estão impressionados. Húngaros, costumavam odiar os judeus. Ao mesmo tempo, têm medo de que a polícia descubra seu ninho. Todos se mudam para outra fazenda em Serra Negra. Mengele se envolve em um relacionamento patético com Gitta. Sua covardia chega ao delírio. Mora cercado por uma matilha de quinze cães, que treinou e que o escoltam por todos os lugares. Construiu um ponto de observação de seis metros de altura, sob o pretexto de observar pássaros. Passa seus dias carregando um grande par de binóculos Zeiss, para observar todos os acessos. As noites são loucas: “Mergulhado na escuridão, Mengele ouve o concerto para violino de Schumann.”

Passam-se anos. Mengele muda mais uma vez. O senhorio, que não perdoou o caso com sua esposa Gitta, o instala em uma cabana de estuque em Eldorado, subúrbio empobrecido de São Paulo. E a queda se acentua.

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Em janeiro de 1979, uma onda de calor atingiu o estado de São Paulo. Mengele é um homem velho, não aguenta mais. Está próximo da loucura. Vomita seus medos e ódios, amaldiçoa o Brasil, “um covil de negros e mulatos depravados, onde o lixo se acumula... Os bêbados do fim de semana e os transes da macumba... Não voltarei jamais... Que decadência... Como caí tão baixo?”

Bossert, seu senhorio, não o trairá. Ele é um nazista de baixo escalão, mas fanático, racista e acima de tudo, antissemita. Em um dia de muito calor, propõe a Mengele que venha se refrescar no oceano em sua casa de férias em Bertioga. Em 7 de fevereiro de 1979, no amanhecer, Mengele pega um ônibus com destino a Santos. Lá um comparsa o recebe e leva até a casa de praia. Mengele está prostrado. Assim que chega, arrasta-se até o quarto para uma soneca. Quando acorda, está exausto. Seus batimentos cardíacos estão irregulares. Luta com dificuldade para se levantar e vai à praia, onde Bossert acena com a mão. Mengele dá um passo à frente, atordoado, entre os gritos de crianças, o voo de pássaros e o vento de sal do mar. “Entra na água turquesa, a cabeça baixa e fica boiando, já não ouve o som, nem sente o corpo dolorido ou seus órgãos exaustos, quando seu pescoço de repente se enrijece, suas mandíbulas se fecham, seus membros e sua vida congelam... Mengele geme.” Ainda respira enquanto Bossert o leva de volta à praia, mas é com o seu cadáver que Bossert sai da água. No dia seguinte, é sepultado sob uma falsa identidade em Embu.

Passam-se alguns anos. A polícia confirma a verdadeira identidade do homem de Embu. É Mengele, por certo. O cadáver é exumado e entregue aos especialistas. Em 1992, o teste de DNA fornece seu veredicto: o cadáver do Embu é o de Josef Mengele. Olivier Guez completa sua pesquisa. Escreve: “Que eles permaneçam longe de nós, dos sonhos e das quimeras da noite.”

De todos os monstros incubados pelo nazismo, Josef Mengele é um dos mais repugnantes. Médico brilhante, alistado na SS de Hitler, esteve em Auschwitz em 1943, onde estudou a morte de judeus e de comunistas, suas vísceras e suas estruturas químicas, com o objetivo de inventar o homem do futuro, geneticamente puro, que deveria substituir os “judeus sujos”, os ciganos, os idiotas, os nojentos que desgraçavam as democracias.

O campo de extermínio de Auschwitz, na Polônia Foto: Kacper Pempel/Reuters

É o percurso desse homem, desse “demiurgo” que Olivier Guez acompanha em La Disparition de Josef Mengele (O Desaparecimento de Josef Mengele). Foram três anos de pesquisas, entrevistas que Guez compartilha conosco na rocambolesca fuga de Mengele, depois da 2.ª Guerra Mundial, pela Argentina, Paraguai e Brasil, onde morre misteriosamente em uma praia em 1979.  O livro de Guez percorre dois registros geralmente incompatíveis: o rigor de um livro de história e o movimento, a obscura beleza romanesca de uma tragédia. É muito bonito.

O livro começa em 1949, em Gênova, Itália. Um homem chamado Fritz Ulmann (serão muitos os pseudônimos de Mengele) embarca para a Argentina. Como é que ele escapou de ser pego em 1945, com os outros criminosos nazistas? Acontece que Mengele é astuto: em 1938, ao se alistar na SS, ele recusou o número de identificação tatuado sob a axila. Então, quando os americanos o capturaram em 1945, eles o libertaram. Três anos de fuga tranquila. Em 1949, graças às redes nazistas que abundavam na Europa, eis o embarque em Gênova.

+ Curiosidade: o programa do partido nazista

Na Argentina, um oficial da alfândega abre as malas deste tal mecânico Fritz Ulmann. Uma delas contém seringas, frascos de sangue, placas etc... Bagagem estranha. Mengele explica que em seus momentos de lazer, é um biólogo amador. E em 2 de junho de 1949 começa seu longo percurso pela América do Sul.

O primeiro ponto de parada é bem escolhido. A Argentina está nas mãos de Perón, que jamais escondeu sua admiração por Hitler. Seu país é um Eldorado para os antigos nazistas. Mengele aproveita-se das inúmeras redes nazistas, mesmo que jamais revele sua verdadeira identidade. Ele é apenas um ex-nazista caçado em seu país. Encontra emprego como carpinteiro, no bairro Vicente Lopez e um alojamento miserável. Vive em constante terror. Todos os dias muda de itinerário. Não tem ligações com ninguém. Sua única distração: lê poesia, Goethe, Heine ou então ouve religiosamente as óperas de Strauss. Louco por música e um grande leitor, isso é tudo que lhe restará até o fim. Ainda em Auschwitz, quando chafurdava no sangue de suas “cobaias”, ele gostava de ouvir uma linda sinfonia.

O livro de Guez nos faz reviver essa epopeia do mal e do infortúnio ao mesmo tempo. Há altos e baixos, mas sempre medo, e a convicção de que jamais cometeu qualquer mal. Ele atuou como um grande estudioso, para melhorar a raça ariana. E para restaurar a “dignidade” aos seres humanos.

O quanto tem de piedade de si mesmo, tanto é estranho esse sentimento, quando se trata de outros. Especialmente das raças “inferiores”. Em Auschwitz, no abrigo das torres de vigia, ele se pavoneava com suas roupas dândi, botas, luvas, uniforme impecável, chapéu inclinado sobre o rosto: até os outros SS tinham medo dele.

Ele não se poupava de esforços. Havia organizado um laboratório humano extravagante nas cabanas de enfermaria: anões, gigantes e gêmeos. Todos os dias, os trens entregaram novos estoques: judeus, ciganos, comunistas. Ele injetou, ele assassinou, ele autopsiou, ele fez pesquisas de órgãos e sangue. Ele adorava especialmente crianças, os gêmeos, pois ele poderia estudar nos cadáveres suas características genéticas. Toda essa carne compunha em um vasto “zoológico” de cobaias vivas ou mortas, graças às quais seu mestre Hitler poderia forjar os super-homens, supermulheres bem fecundadas, que viriam substituir o sórdido rebanho humano que habitava os territórios orientais. Durante dois anos, de maio de 1943 a janeiro de 1945, ele tinha sido o anjo da morte, o grande mandachuva da tortura e dos assassinatos terapêuticos. Mas agora não passava que um rato aterrorizado escondido nos cantos obscuros de Buenos Aires.

Gregory Peck interpreta Josef Mengele no filme 'Garotos do Brasil' 

Os dias se seguiam. Ao longo do tempo, e graças às redes nazistas que se dividiam em zonas na Argentina, Mengele consegue obter uma autorização de residência e um grande empréstimo bancário. Compra uma casa esplêndida, perto da antiga residência particular de Perón. O maldito se tranquiliza. A vida é linda, mas essa calma dura pouco. Um velho policial o localiza, prende e o libera por uma grande quantia de dinheiro. Mas o golpe passou perto e Mengele fica aterrorizado. Perde toda a calma e foge para o Paraguai, o país vizinho no qual reinou outro dos admiradores de Hitler, o general Alfredo Stroessner.

Nessa época, o Mossad, o terrível serviço de inteligência de Israel rastreia na Argentina um outro criminoso, Adolf Eichmann, um dos altos responsáveis pela “solução final”, durante a guerra. Eichmann foi sequestrado pelos israelenses em 11 de maio de 1960. O chefe do Mossad quer conseguir um “duplo resultado” e pegar também Mengele. Mas este está no Paraguai. Confusão. O Mossad deve retornar a Israel com sua presa, Eichmann, cujo julgamento em breve deixará o mundo inteiro impressionado e repugnado. A sorte, mais uma vez, protege o infame médico de Auschwitz. Mas o pesadelo não termina. O tirano treme, sofre. A tenaz aperta. “Lá está ele”, disse Olivier Guez, “entregue à maldição de Caim, o primeiro assassino da humanidade; errante e fugitivo na terra. Quem o encontrar vai matá-lo.”

A caçada recomeça. Depois da Argentina de Perón, depois do Paraguai de Stroessner, Mengele acaba por se fixar no Brasil. É levado para uma fazenda isolada nas proximidades de Nova Europa. Em Nova Europa, a esposa do fazendeiro, Gitta, descobre sua identidade. No seu quarto, ela encontra livros de Heidegger, Carl Schmidt, Novalis. Ele admite. Os proprietários não estão impressionados. Húngaros, costumavam odiar os judeus. Ao mesmo tempo, têm medo de que a polícia descubra seu ninho. Todos se mudam para outra fazenda em Serra Negra. Mengele se envolve em um relacionamento patético com Gitta. Sua covardia chega ao delírio. Mora cercado por uma matilha de quinze cães, que treinou e que o escoltam por todos os lugares. Construiu um ponto de observação de seis metros de altura, sob o pretexto de observar pássaros. Passa seus dias carregando um grande par de binóculos Zeiss, para observar todos os acessos. As noites são loucas: “Mergulhado na escuridão, Mengele ouve o concerto para violino de Schumann.”

Passam-se anos. Mengele muda mais uma vez. O senhorio, que não perdoou o caso com sua esposa Gitta, o instala em uma cabana de estuque em Eldorado, subúrbio empobrecido de São Paulo. E a queda se acentua.

Em janeiro de 1979, uma onda de calor atingiu o estado de São Paulo. Mengele é um homem velho, não aguenta mais. Está próximo da loucura. Vomita seus medos e ódios, amaldiçoa o Brasil, “um covil de negros e mulatos depravados, onde o lixo se acumula... Os bêbados do fim de semana e os transes da macumba... Não voltarei jamais... Que decadência... Como caí tão baixo?”

Bossert, seu senhorio, não o trairá. Ele é um nazista de baixo escalão, mas fanático, racista e acima de tudo, antissemita. Em um dia de muito calor, propõe a Mengele que venha se refrescar no oceano em sua casa de férias em Bertioga. Em 7 de fevereiro de 1979, no amanhecer, Mengele pega um ônibus com destino a Santos. Lá um comparsa o recebe e leva até a casa de praia. Mengele está prostrado. Assim que chega, arrasta-se até o quarto para uma soneca. Quando acorda, está exausto. Seus batimentos cardíacos estão irregulares. Luta com dificuldade para se levantar e vai à praia, onde Bossert acena com a mão. Mengele dá um passo à frente, atordoado, entre os gritos de crianças, o voo de pássaros e o vento de sal do mar. “Entra na água turquesa, a cabeça baixa e fica boiando, já não ouve o som, nem sente o corpo dolorido ou seus órgãos exaustos, quando seu pescoço de repente se enrijece, suas mandíbulas se fecham, seus membros e sua vida congelam... Mengele geme.” Ainda respira enquanto Bossert o leva de volta à praia, mas é com o seu cadáver que Bossert sai da água. No dia seguinte, é sepultado sob uma falsa identidade em Embu.

Passam-se alguns anos. A polícia confirma a verdadeira identidade do homem de Embu. É Mengele, por certo. O cadáver é exumado e entregue aos especialistas. Em 1992, o teste de DNA fornece seu veredicto: o cadáver do Embu é o de Josef Mengele. Olivier Guez completa sua pesquisa. Escreve: “Que eles permaneçam longe de nós, dos sonhos e das quimeras da noite.”

De todos os monstros incubados pelo nazismo, Josef Mengele é um dos mais repugnantes. Médico brilhante, alistado na SS de Hitler, esteve em Auschwitz em 1943, onde estudou a morte de judeus e de comunistas, suas vísceras e suas estruturas químicas, com o objetivo de inventar o homem do futuro, geneticamente puro, que deveria substituir os “judeus sujos”, os ciganos, os idiotas, os nojentos que desgraçavam as democracias.

O campo de extermínio de Auschwitz, na Polônia Foto: Kacper Pempel/Reuters

É o percurso desse homem, desse “demiurgo” que Olivier Guez acompanha em La Disparition de Josef Mengele (O Desaparecimento de Josef Mengele). Foram três anos de pesquisas, entrevistas que Guez compartilha conosco na rocambolesca fuga de Mengele, depois da 2.ª Guerra Mundial, pela Argentina, Paraguai e Brasil, onde morre misteriosamente em uma praia em 1979.  O livro de Guez percorre dois registros geralmente incompatíveis: o rigor de um livro de história e o movimento, a obscura beleza romanesca de uma tragédia. É muito bonito.

O livro começa em 1949, em Gênova, Itália. Um homem chamado Fritz Ulmann (serão muitos os pseudônimos de Mengele) embarca para a Argentina. Como é que ele escapou de ser pego em 1945, com os outros criminosos nazistas? Acontece que Mengele é astuto: em 1938, ao se alistar na SS, ele recusou o número de identificação tatuado sob a axila. Então, quando os americanos o capturaram em 1945, eles o libertaram. Três anos de fuga tranquila. Em 1949, graças às redes nazistas que abundavam na Europa, eis o embarque em Gênova.

+ Curiosidade: o programa do partido nazista

Na Argentina, um oficial da alfândega abre as malas deste tal mecânico Fritz Ulmann. Uma delas contém seringas, frascos de sangue, placas etc... Bagagem estranha. Mengele explica que em seus momentos de lazer, é um biólogo amador. E em 2 de junho de 1949 começa seu longo percurso pela América do Sul.

O primeiro ponto de parada é bem escolhido. A Argentina está nas mãos de Perón, que jamais escondeu sua admiração por Hitler. Seu país é um Eldorado para os antigos nazistas. Mengele aproveita-se das inúmeras redes nazistas, mesmo que jamais revele sua verdadeira identidade. Ele é apenas um ex-nazista caçado em seu país. Encontra emprego como carpinteiro, no bairro Vicente Lopez e um alojamento miserável. Vive em constante terror. Todos os dias muda de itinerário. Não tem ligações com ninguém. Sua única distração: lê poesia, Goethe, Heine ou então ouve religiosamente as óperas de Strauss. Louco por música e um grande leitor, isso é tudo que lhe restará até o fim. Ainda em Auschwitz, quando chafurdava no sangue de suas “cobaias”, ele gostava de ouvir uma linda sinfonia.

O livro de Guez nos faz reviver essa epopeia do mal e do infortúnio ao mesmo tempo. Há altos e baixos, mas sempre medo, e a convicção de que jamais cometeu qualquer mal. Ele atuou como um grande estudioso, para melhorar a raça ariana. E para restaurar a “dignidade” aos seres humanos.

O quanto tem de piedade de si mesmo, tanto é estranho esse sentimento, quando se trata de outros. Especialmente das raças “inferiores”. Em Auschwitz, no abrigo das torres de vigia, ele se pavoneava com suas roupas dândi, botas, luvas, uniforme impecável, chapéu inclinado sobre o rosto: até os outros SS tinham medo dele.

Ele não se poupava de esforços. Havia organizado um laboratório humano extravagante nas cabanas de enfermaria: anões, gigantes e gêmeos. Todos os dias, os trens entregaram novos estoques: judeus, ciganos, comunistas. Ele injetou, ele assassinou, ele autopsiou, ele fez pesquisas de órgãos e sangue. Ele adorava especialmente crianças, os gêmeos, pois ele poderia estudar nos cadáveres suas características genéticas. Toda essa carne compunha em um vasto “zoológico” de cobaias vivas ou mortas, graças às quais seu mestre Hitler poderia forjar os super-homens, supermulheres bem fecundadas, que viriam substituir o sórdido rebanho humano que habitava os territórios orientais. Durante dois anos, de maio de 1943 a janeiro de 1945, ele tinha sido o anjo da morte, o grande mandachuva da tortura e dos assassinatos terapêuticos. Mas agora não passava que um rato aterrorizado escondido nos cantos obscuros de Buenos Aires.

Gregory Peck interpreta Josef Mengele no filme 'Garotos do Brasil' 

Os dias se seguiam. Ao longo do tempo, e graças às redes nazistas que se dividiam em zonas na Argentina, Mengele consegue obter uma autorização de residência e um grande empréstimo bancário. Compra uma casa esplêndida, perto da antiga residência particular de Perón. O maldito se tranquiliza. A vida é linda, mas essa calma dura pouco. Um velho policial o localiza, prende e o libera por uma grande quantia de dinheiro. Mas o golpe passou perto e Mengele fica aterrorizado. Perde toda a calma e foge para o Paraguai, o país vizinho no qual reinou outro dos admiradores de Hitler, o general Alfredo Stroessner.

Nessa época, o Mossad, o terrível serviço de inteligência de Israel rastreia na Argentina um outro criminoso, Adolf Eichmann, um dos altos responsáveis pela “solução final”, durante a guerra. Eichmann foi sequestrado pelos israelenses em 11 de maio de 1960. O chefe do Mossad quer conseguir um “duplo resultado” e pegar também Mengele. Mas este está no Paraguai. Confusão. O Mossad deve retornar a Israel com sua presa, Eichmann, cujo julgamento em breve deixará o mundo inteiro impressionado e repugnado. A sorte, mais uma vez, protege o infame médico de Auschwitz. Mas o pesadelo não termina. O tirano treme, sofre. A tenaz aperta. “Lá está ele”, disse Olivier Guez, “entregue à maldição de Caim, o primeiro assassino da humanidade; errante e fugitivo na terra. Quem o encontrar vai matá-lo.”

A caçada recomeça. Depois da Argentina de Perón, depois do Paraguai de Stroessner, Mengele acaba por se fixar no Brasil. É levado para uma fazenda isolada nas proximidades de Nova Europa. Em Nova Europa, a esposa do fazendeiro, Gitta, descobre sua identidade. No seu quarto, ela encontra livros de Heidegger, Carl Schmidt, Novalis. Ele admite. Os proprietários não estão impressionados. Húngaros, costumavam odiar os judeus. Ao mesmo tempo, têm medo de que a polícia descubra seu ninho. Todos se mudam para outra fazenda em Serra Negra. Mengele se envolve em um relacionamento patético com Gitta. Sua covardia chega ao delírio. Mora cercado por uma matilha de quinze cães, que treinou e que o escoltam por todos os lugares. Construiu um ponto de observação de seis metros de altura, sob o pretexto de observar pássaros. Passa seus dias carregando um grande par de binóculos Zeiss, para observar todos os acessos. As noites são loucas: “Mergulhado na escuridão, Mengele ouve o concerto para violino de Schumann.”

Passam-se anos. Mengele muda mais uma vez. O senhorio, que não perdoou o caso com sua esposa Gitta, o instala em uma cabana de estuque em Eldorado, subúrbio empobrecido de São Paulo. E a queda se acentua.

Em janeiro de 1979, uma onda de calor atingiu o estado de São Paulo. Mengele é um homem velho, não aguenta mais. Está próximo da loucura. Vomita seus medos e ódios, amaldiçoa o Brasil, “um covil de negros e mulatos depravados, onde o lixo se acumula... Os bêbados do fim de semana e os transes da macumba... Não voltarei jamais... Que decadência... Como caí tão baixo?”

Bossert, seu senhorio, não o trairá. Ele é um nazista de baixo escalão, mas fanático, racista e acima de tudo, antissemita. Em um dia de muito calor, propõe a Mengele que venha se refrescar no oceano em sua casa de férias em Bertioga. Em 7 de fevereiro de 1979, no amanhecer, Mengele pega um ônibus com destino a Santos. Lá um comparsa o recebe e leva até a casa de praia. Mengele está prostrado. Assim que chega, arrasta-se até o quarto para uma soneca. Quando acorda, está exausto. Seus batimentos cardíacos estão irregulares. Luta com dificuldade para se levantar e vai à praia, onde Bossert acena com a mão. Mengele dá um passo à frente, atordoado, entre os gritos de crianças, o voo de pássaros e o vento de sal do mar. “Entra na água turquesa, a cabeça baixa e fica boiando, já não ouve o som, nem sente o corpo dolorido ou seus órgãos exaustos, quando seu pescoço de repente se enrijece, suas mandíbulas se fecham, seus membros e sua vida congelam... Mengele geme.” Ainda respira enquanto Bossert o leva de volta à praia, mas é com o seu cadáver que Bossert sai da água. No dia seguinte, é sepultado sob uma falsa identidade em Embu.

Passam-se alguns anos. A polícia confirma a verdadeira identidade do homem de Embu. É Mengele, por certo. O cadáver é exumado e entregue aos especialistas. Em 1992, o teste de DNA fornece seu veredicto: o cadáver do Embu é o de Josef Mengele. Olivier Guez completa sua pesquisa. Escreve: “Que eles permaneçam longe de nós, dos sonhos e das quimeras da noite.”

De todos os monstros incubados pelo nazismo, Josef Mengele é um dos mais repugnantes. Médico brilhante, alistado na SS de Hitler, esteve em Auschwitz em 1943, onde estudou a morte de judeus e de comunistas, suas vísceras e suas estruturas químicas, com o objetivo de inventar o homem do futuro, geneticamente puro, que deveria substituir os “judeus sujos”, os ciganos, os idiotas, os nojentos que desgraçavam as democracias.

O campo de extermínio de Auschwitz, na Polônia Foto: Kacper Pempel/Reuters

É o percurso desse homem, desse “demiurgo” que Olivier Guez acompanha em La Disparition de Josef Mengele (O Desaparecimento de Josef Mengele). Foram três anos de pesquisas, entrevistas que Guez compartilha conosco na rocambolesca fuga de Mengele, depois da 2.ª Guerra Mundial, pela Argentina, Paraguai e Brasil, onde morre misteriosamente em uma praia em 1979.  O livro de Guez percorre dois registros geralmente incompatíveis: o rigor de um livro de história e o movimento, a obscura beleza romanesca de uma tragédia. É muito bonito.

O livro começa em 1949, em Gênova, Itália. Um homem chamado Fritz Ulmann (serão muitos os pseudônimos de Mengele) embarca para a Argentina. Como é que ele escapou de ser pego em 1945, com os outros criminosos nazistas? Acontece que Mengele é astuto: em 1938, ao se alistar na SS, ele recusou o número de identificação tatuado sob a axila. Então, quando os americanos o capturaram em 1945, eles o libertaram. Três anos de fuga tranquila. Em 1949, graças às redes nazistas que abundavam na Europa, eis o embarque em Gênova.

+ Curiosidade: o programa do partido nazista

Na Argentina, um oficial da alfândega abre as malas deste tal mecânico Fritz Ulmann. Uma delas contém seringas, frascos de sangue, placas etc... Bagagem estranha. Mengele explica que em seus momentos de lazer, é um biólogo amador. E em 2 de junho de 1949 começa seu longo percurso pela América do Sul.

O primeiro ponto de parada é bem escolhido. A Argentina está nas mãos de Perón, que jamais escondeu sua admiração por Hitler. Seu país é um Eldorado para os antigos nazistas. Mengele aproveita-se das inúmeras redes nazistas, mesmo que jamais revele sua verdadeira identidade. Ele é apenas um ex-nazista caçado em seu país. Encontra emprego como carpinteiro, no bairro Vicente Lopez e um alojamento miserável. Vive em constante terror. Todos os dias muda de itinerário. Não tem ligações com ninguém. Sua única distração: lê poesia, Goethe, Heine ou então ouve religiosamente as óperas de Strauss. Louco por música e um grande leitor, isso é tudo que lhe restará até o fim. Ainda em Auschwitz, quando chafurdava no sangue de suas “cobaias”, ele gostava de ouvir uma linda sinfonia.

O livro de Guez nos faz reviver essa epopeia do mal e do infortúnio ao mesmo tempo. Há altos e baixos, mas sempre medo, e a convicção de que jamais cometeu qualquer mal. Ele atuou como um grande estudioso, para melhorar a raça ariana. E para restaurar a “dignidade” aos seres humanos.

O quanto tem de piedade de si mesmo, tanto é estranho esse sentimento, quando se trata de outros. Especialmente das raças “inferiores”. Em Auschwitz, no abrigo das torres de vigia, ele se pavoneava com suas roupas dândi, botas, luvas, uniforme impecável, chapéu inclinado sobre o rosto: até os outros SS tinham medo dele.

Ele não se poupava de esforços. Havia organizado um laboratório humano extravagante nas cabanas de enfermaria: anões, gigantes e gêmeos. Todos os dias, os trens entregaram novos estoques: judeus, ciganos, comunistas. Ele injetou, ele assassinou, ele autopsiou, ele fez pesquisas de órgãos e sangue. Ele adorava especialmente crianças, os gêmeos, pois ele poderia estudar nos cadáveres suas características genéticas. Toda essa carne compunha em um vasto “zoológico” de cobaias vivas ou mortas, graças às quais seu mestre Hitler poderia forjar os super-homens, supermulheres bem fecundadas, que viriam substituir o sórdido rebanho humano que habitava os territórios orientais. Durante dois anos, de maio de 1943 a janeiro de 1945, ele tinha sido o anjo da morte, o grande mandachuva da tortura e dos assassinatos terapêuticos. Mas agora não passava que um rato aterrorizado escondido nos cantos obscuros de Buenos Aires.

Gregory Peck interpreta Josef Mengele no filme 'Garotos do Brasil' 

Os dias se seguiam. Ao longo do tempo, e graças às redes nazistas que se dividiam em zonas na Argentina, Mengele consegue obter uma autorização de residência e um grande empréstimo bancário. Compra uma casa esplêndida, perto da antiga residência particular de Perón. O maldito se tranquiliza. A vida é linda, mas essa calma dura pouco. Um velho policial o localiza, prende e o libera por uma grande quantia de dinheiro. Mas o golpe passou perto e Mengele fica aterrorizado. Perde toda a calma e foge para o Paraguai, o país vizinho no qual reinou outro dos admiradores de Hitler, o general Alfredo Stroessner.

Nessa época, o Mossad, o terrível serviço de inteligência de Israel rastreia na Argentina um outro criminoso, Adolf Eichmann, um dos altos responsáveis pela “solução final”, durante a guerra. Eichmann foi sequestrado pelos israelenses em 11 de maio de 1960. O chefe do Mossad quer conseguir um “duplo resultado” e pegar também Mengele. Mas este está no Paraguai. Confusão. O Mossad deve retornar a Israel com sua presa, Eichmann, cujo julgamento em breve deixará o mundo inteiro impressionado e repugnado. A sorte, mais uma vez, protege o infame médico de Auschwitz. Mas o pesadelo não termina. O tirano treme, sofre. A tenaz aperta. “Lá está ele”, disse Olivier Guez, “entregue à maldição de Caim, o primeiro assassino da humanidade; errante e fugitivo na terra. Quem o encontrar vai matá-lo.”

A caçada recomeça. Depois da Argentina de Perón, depois do Paraguai de Stroessner, Mengele acaba por se fixar no Brasil. É levado para uma fazenda isolada nas proximidades de Nova Europa. Em Nova Europa, a esposa do fazendeiro, Gitta, descobre sua identidade. No seu quarto, ela encontra livros de Heidegger, Carl Schmidt, Novalis. Ele admite. Os proprietários não estão impressionados. Húngaros, costumavam odiar os judeus. Ao mesmo tempo, têm medo de que a polícia descubra seu ninho. Todos se mudam para outra fazenda em Serra Negra. Mengele se envolve em um relacionamento patético com Gitta. Sua covardia chega ao delírio. Mora cercado por uma matilha de quinze cães, que treinou e que o escoltam por todos os lugares. Construiu um ponto de observação de seis metros de altura, sob o pretexto de observar pássaros. Passa seus dias carregando um grande par de binóculos Zeiss, para observar todos os acessos. As noites são loucas: “Mergulhado na escuridão, Mengele ouve o concerto para violino de Schumann.”

Passam-se anos. Mengele muda mais uma vez. O senhorio, que não perdoou o caso com sua esposa Gitta, o instala em uma cabana de estuque em Eldorado, subúrbio empobrecido de São Paulo. E a queda se acentua.

Em janeiro de 1979, uma onda de calor atingiu o estado de São Paulo. Mengele é um homem velho, não aguenta mais. Está próximo da loucura. Vomita seus medos e ódios, amaldiçoa o Brasil, “um covil de negros e mulatos depravados, onde o lixo se acumula... Os bêbados do fim de semana e os transes da macumba... Não voltarei jamais... Que decadência... Como caí tão baixo?”

Bossert, seu senhorio, não o trairá. Ele é um nazista de baixo escalão, mas fanático, racista e acima de tudo, antissemita. Em um dia de muito calor, propõe a Mengele que venha se refrescar no oceano em sua casa de férias em Bertioga. Em 7 de fevereiro de 1979, no amanhecer, Mengele pega um ônibus com destino a Santos. Lá um comparsa o recebe e leva até a casa de praia. Mengele está prostrado. Assim que chega, arrasta-se até o quarto para uma soneca. Quando acorda, está exausto. Seus batimentos cardíacos estão irregulares. Luta com dificuldade para se levantar e vai à praia, onde Bossert acena com a mão. Mengele dá um passo à frente, atordoado, entre os gritos de crianças, o voo de pássaros e o vento de sal do mar. “Entra na água turquesa, a cabeça baixa e fica boiando, já não ouve o som, nem sente o corpo dolorido ou seus órgãos exaustos, quando seu pescoço de repente se enrijece, suas mandíbulas se fecham, seus membros e sua vida congelam... Mengele geme.” Ainda respira enquanto Bossert o leva de volta à praia, mas é com o seu cadáver que Bossert sai da água. No dia seguinte, é sepultado sob uma falsa identidade em Embu.

Passam-se alguns anos. A polícia confirma a verdadeira identidade do homem de Embu. É Mengele, por certo. O cadáver é exumado e entregue aos especialistas. Em 1992, o teste de DNA fornece seu veredicto: o cadáver do Embu é o de Josef Mengele. Olivier Guez completa sua pesquisa. Escreve: “Que eles permaneçam longe de nós, dos sonhos e das quimeras da noite.”

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