CENA 1: Inglaterra.
Num pub australiano, um desconhecido comenta ao ouvir que estávamos num grupo de mulheres brasileiras: “Ah, vocês são brasileiras? Então gostam de sexo, carnaval e futebol?”
CENA 2: Espanha.
-Nossa, seu sotaque é o mesmo da moça do comercial!, comenta um espanhol.
Dias depois descubro que a moça do comercial era uma brasileira que “convidava” os espectadores a comprar a edição especial de uma revista pornográfica feita supostamente apenas com fotos de brasileiras nuas.
CENA 3: Alemanha.
Na visita a um jornal durante um programa para jovens jornalistas feito a convite do governo alemão, um editor de fotografia tenta se mostrar simpático e faz uma pesquisa em seu computador sobre o que sua redação tem de imagens do Brasil. Logo começam a aparecer mulheres na praia, com biquíni mais do que minúsculos. “Ah, isso é que o pessoal gosta de ver por aqui sobre a mulher brasileira”, diz ele, com um sorrisinho irônico. “E depois desse tipo de incentivo não se sabe por que os estrangeiros vão fazer turismo sexual no Brasil”, responde uma jornalista brasileira.
CENA 4: Espanha.
Ao assistir a um telejornal, descubro que um periódico de um rincão do país tinha publicado um anúncio procurando mulheres interessadas em casar com homens da comunidade. Detalhe: o anúncio era voltado apenas a mulheres brasileiras.
Todas essas cenas vivi há alguns anos, quando morei fora do Brasil. Mas, com diferentes detalhes, certamente já foram também presenciadas por outras brasileiras no exterior. Lembrei delas ao ouvir sobre o caso bizarro dos americanos que se vendem como coaches de namoro e organizam viagens para que seus “alunos” treinem como “pegar mulher”.
Eles ganharam o noticiário depois de fazerem uma festa numa casa no Morumbi, zona sul da capital, e uma das participantes procurar a polícia para dizer que foi usada sem saber como “cobaia” e filmada e fotografada sem autorização. Logo outras mulheres se juntaram a ela nas denúncias e o caso passou a ser investigado como suspeita de exploração sexual.
O Brasil não foi o único país subdesenvolvido explorado pelos americanos mentores de homens com problemas de relacionamento. Os coaches também dizem já ter levado “alunos” para aprender a ficar com mulheres de Colômbia, Costa Rica e Filipinas. Nas redes sociais, eles se defendem dizendo que todos na festa do Morumbi eram maiores de idade e as reclamações são de “feministas estúpidas e com raiva”. Mas a Organização Mundial do Turismo define turismo sexual justamente como viagens organizadas com a intenção primária de estabelecer contatos sexuais comerciais com residentes do destino. Em seu site, o Millionaire Social Club (MSC) – o tal grupo dos coaches – vende cursos para “experienciar a vida, o namoro e conhecer mulheres” que custam entre R$ 21 mil a R$ 264 mil.
O Brasil já lançou alguns programas contra turismo sexual, principalmente envolvendo exploração de crianças e adolescentes, mas deveria fazer mais. É preciso combater – aqui e no exterior – a imagem estereotipada do País como paraíso sexual e das mulheres brasileiras como objetos sexuais sempre à disposição. Além de punir com rigor quem queira se aventurar por cidades brasileiras com essa intenção. Turismo sexual não é turismo, muito menos solução para estrangeiro incapaz de cuidar da própria vida afetiva. É, isso sim, um crime.