Coluna quinzenal da jornalista Luciana Garbin que traz foco para as questões femininas na sociedade atual

Opinião|Da era da estafa à geração burnout


'O burnout não é só uma situação passageira, é a nossa condição contemporânea’

Por Luciana Garbin

Lembro como se fosse hoje do dia em que minha mãe contou que um conhecido estava com “estafa”. Ter de se afastar do trabalho por sobrecarga mental me impressionou tanto que segue na memória três décadas depois. Mais surpreendente ainda na época seria imaginar que, no futuro, veria tanta gente mais se queixando de esgotamento. Ou de síndrome de burnout.  Na prática, isso significa adoecer por excesso de trabalho, responsabilidades, competitividade. Exaustão, estresse, insônia, dores, dificuldade de concentração e sentimentos negativos, como fracasso e desesperança, são alguns sintomas. E a diferença da estafa de décadas atrás para o burnout de hoje está na proporção de atingidos.  “O burnout não é só uma situação passageira, é nossa condição contemporânea”, resume a americana Anne Helen Petersen no livro Não Aguento Mais Não Aguentar Mais: Como os Millennials Se Tornaram a Geração do Burnout (Ed. Harper Collins). “É a redução da vida a uma eterna lista de tarefas e à sensação de que você otimizou sua existência de modo a não passar de um robô que trabalha e, por acaso, tem necessidades físicas.” 

O esgotamento no trabalho é um dos fatores gritantes que chama atenção na síndrome de Burnout Foto: Pixabay

Para Anne, não se trata mais de questão pessoal. “É um problema da nossa sociedade e não vai ser curado por apps de produtividade, máscara de tratamento facial ou mingau de aveia orgânico.”  A autora foca principalmente os millennials – pessoas nascidas entre o início dos anos 1980 e o fim dos anos 1990 que foram fortemente impactadas pela transformação digital e já entraram num mercado de trabalho marcado por terceirização e informalidade, com vagas CLT cada vez mais raras, assim como benefícios e direitos trabalhistas. Plano de saúde, previdência privada, auxílio-creche? Para muitos viraram miragens.  Anne diz que essa geração burnout se acostumou ao sentimento de instabilidade e precariedade e, para achar alguma aparência de segurança, sente necessidade de trabalhar o tempo todo. Em meio a dívidas e (muitas) horas gastas no feed do Instagram e chats de mensagens. “Temos de trabalhar muito, mas, ao mesmo tempo, demonstrar ‘equilíbrio entre vida pessoal e profissional’. Temos de ser mães atentas, mas não superprotetoras. Temos de construir nossas marcas nas mídias sociais, mas tendo vidas autênticas.” E por aí vai... Sobreviver a esse esquema de tentar fazer tudo com pouca segurança ou rede de apoio parece um desafio. Não só para millennials. Mas entender que o problema não atinge só você pode ser o primeiro passo para começar a enfrentá-lo. 

Lembro como se fosse hoje do dia em que minha mãe contou que um conhecido estava com “estafa”. Ter de se afastar do trabalho por sobrecarga mental me impressionou tanto que segue na memória três décadas depois. Mais surpreendente ainda na época seria imaginar que, no futuro, veria tanta gente mais se queixando de esgotamento. Ou de síndrome de burnout.  Na prática, isso significa adoecer por excesso de trabalho, responsabilidades, competitividade. Exaustão, estresse, insônia, dores, dificuldade de concentração e sentimentos negativos, como fracasso e desesperança, são alguns sintomas. E a diferença da estafa de décadas atrás para o burnout de hoje está na proporção de atingidos.  “O burnout não é só uma situação passageira, é nossa condição contemporânea”, resume a americana Anne Helen Petersen no livro Não Aguento Mais Não Aguentar Mais: Como os Millennials Se Tornaram a Geração do Burnout (Ed. Harper Collins). “É a redução da vida a uma eterna lista de tarefas e à sensação de que você otimizou sua existência de modo a não passar de um robô que trabalha e, por acaso, tem necessidades físicas.” 

O esgotamento no trabalho é um dos fatores gritantes que chama atenção na síndrome de Burnout Foto: Pixabay

Para Anne, não se trata mais de questão pessoal. “É um problema da nossa sociedade e não vai ser curado por apps de produtividade, máscara de tratamento facial ou mingau de aveia orgânico.”  A autora foca principalmente os millennials – pessoas nascidas entre o início dos anos 1980 e o fim dos anos 1990 que foram fortemente impactadas pela transformação digital e já entraram num mercado de trabalho marcado por terceirização e informalidade, com vagas CLT cada vez mais raras, assim como benefícios e direitos trabalhistas. Plano de saúde, previdência privada, auxílio-creche? Para muitos viraram miragens.  Anne diz que essa geração burnout se acostumou ao sentimento de instabilidade e precariedade e, para achar alguma aparência de segurança, sente necessidade de trabalhar o tempo todo. Em meio a dívidas e (muitas) horas gastas no feed do Instagram e chats de mensagens. “Temos de trabalhar muito, mas, ao mesmo tempo, demonstrar ‘equilíbrio entre vida pessoal e profissional’. Temos de ser mães atentas, mas não superprotetoras. Temos de construir nossas marcas nas mídias sociais, mas tendo vidas autênticas.” E por aí vai... Sobreviver a esse esquema de tentar fazer tudo com pouca segurança ou rede de apoio parece um desafio. Não só para millennials. Mas entender que o problema não atinge só você pode ser o primeiro passo para começar a enfrentá-lo. 

Lembro como se fosse hoje do dia em que minha mãe contou que um conhecido estava com “estafa”. Ter de se afastar do trabalho por sobrecarga mental me impressionou tanto que segue na memória três décadas depois. Mais surpreendente ainda na época seria imaginar que, no futuro, veria tanta gente mais se queixando de esgotamento. Ou de síndrome de burnout.  Na prática, isso significa adoecer por excesso de trabalho, responsabilidades, competitividade. Exaustão, estresse, insônia, dores, dificuldade de concentração e sentimentos negativos, como fracasso e desesperança, são alguns sintomas. E a diferença da estafa de décadas atrás para o burnout de hoje está na proporção de atingidos.  “O burnout não é só uma situação passageira, é nossa condição contemporânea”, resume a americana Anne Helen Petersen no livro Não Aguento Mais Não Aguentar Mais: Como os Millennials Se Tornaram a Geração do Burnout (Ed. Harper Collins). “É a redução da vida a uma eterna lista de tarefas e à sensação de que você otimizou sua existência de modo a não passar de um robô que trabalha e, por acaso, tem necessidades físicas.” 

O esgotamento no trabalho é um dos fatores gritantes que chama atenção na síndrome de Burnout Foto: Pixabay

Para Anne, não se trata mais de questão pessoal. “É um problema da nossa sociedade e não vai ser curado por apps de produtividade, máscara de tratamento facial ou mingau de aveia orgânico.”  A autora foca principalmente os millennials – pessoas nascidas entre o início dos anos 1980 e o fim dos anos 1990 que foram fortemente impactadas pela transformação digital e já entraram num mercado de trabalho marcado por terceirização e informalidade, com vagas CLT cada vez mais raras, assim como benefícios e direitos trabalhistas. Plano de saúde, previdência privada, auxílio-creche? Para muitos viraram miragens.  Anne diz que essa geração burnout se acostumou ao sentimento de instabilidade e precariedade e, para achar alguma aparência de segurança, sente necessidade de trabalhar o tempo todo. Em meio a dívidas e (muitas) horas gastas no feed do Instagram e chats de mensagens. “Temos de trabalhar muito, mas, ao mesmo tempo, demonstrar ‘equilíbrio entre vida pessoal e profissional’. Temos de ser mães atentas, mas não superprotetoras. Temos de construir nossas marcas nas mídias sociais, mas tendo vidas autênticas.” E por aí vai... Sobreviver a esse esquema de tentar fazer tudo com pouca segurança ou rede de apoio parece um desafio. Não só para millennials. Mas entender que o problema não atinge só você pode ser o primeiro passo para começar a enfrentá-lo. 

Opinião por Luciana Garbin

Editora executiva no ‘Estadão’, professora na FAAP e mãe de gêmeos

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