Coluna quinzenal da jornalista Luciana Garbin que traz foco para as questões femininas na sociedade atual

Opinião|É preciso enxergar a dor de Klara Castanho e de outras mulheres


Mães que entregam filho para adoção costumam sofrer um luto não reconhecido socialmente

Por Luciana Garbin

Julgar os outros virou praga de proporções pandêmicas com as redes sociais. Sabe aquilo de tentar se pôr no lugar do outro? A tal empatia? Esquece. O negócio é destroçar quem diz, escreve ou faz algo com o qual não se concorde. Quando envolvem mulheres, as críticas costumam ser ainda mais implacáveis. Já ouviu falar da sororidade? Dessa palavra difícil que diz respeito a uma mulher não julgar e apoiar a outra? Para parte do público feminino, só existe na teoria. Um tema acabou virando debate nacional nos últimos dias: o das mães que entregam filho para adoção. Ganhou notoriedade com o drama da atriz Klara Castanho, que engravidou após estupro, e foi duramente atacada no tribunal da internet. Por homens e mulheres. Há alguns anos fiz uma reportagem para o Estadão que tentava responder à pergunta: por que alguém entrega seu filho? E compreendi por que fazer julgamentos nesses casos, sem conhecer as condições de quem passa pela situação, na maioria das vezes é injusto. 

O apoio é fundamental para atravessar situações difíceis, principalmente após traumas Foto: Ruthson Zimmerman/Unsplash

A conversa com essas mulheres revelou histórias dramáticas. Uma das constatações mais chocantes é o luto que costuma invadi-las após a entrega. Um luto chamado de não franqueado, já que a sociedade não o reconhece e a pessoa em geral não recebe apoio. A própria mulher não se sente no direito de buscar ajuda para enfrentar a culpa e o vazio. Muitas se desestruturam emocionalmente. O trauma costuma ser duro. Mães evitam olhar para o bebê após o parto, pedem para sair logo da maternidade, tentam não guardar lembrança. Na carta publicada sábado, Klara contou ter sido obrigada pelo médico a ouvir o coração do feto. Mesmo que a mulher não tenha sido vítima de estupro, a entrega à adoção é permitida por lei. Várias outras razões podem pesar na decisão. “Ser pai e/ou mãe não depende somente da condição econômica, mas da capacidade de cuidar. Ao reconhecer minha incapacidade de exercer esse cuidado, optei por essa entrega consciente e que deveria ser segura”, escreveu Klara. Na mesma reportagem de anos atrás, entrevistei uma doméstica que teve três bebês. O do meio foi resultado da gravidez de um primo que pressionava pelo aborto, numa época, segundo ela, de total desespero. Quando conversamos, já fazia anos que tinha abdicado do poder familiar diante de um juiz e acabara de ter o terceiro filho, que criava com o primeiro. Mas contou que jamais tinha deixado de pensar na filha dada à adoção. Disse que sentia um tipo de saudade. Mas que a mim pareceu uma dor tão grande que me impede até hoje de julgar qualquer mulher em situação parecida.

Julgar os outros virou praga de proporções pandêmicas com as redes sociais. Sabe aquilo de tentar se pôr no lugar do outro? A tal empatia? Esquece. O negócio é destroçar quem diz, escreve ou faz algo com o qual não se concorde. Quando envolvem mulheres, as críticas costumam ser ainda mais implacáveis. Já ouviu falar da sororidade? Dessa palavra difícil que diz respeito a uma mulher não julgar e apoiar a outra? Para parte do público feminino, só existe na teoria. Um tema acabou virando debate nacional nos últimos dias: o das mães que entregam filho para adoção. Ganhou notoriedade com o drama da atriz Klara Castanho, que engravidou após estupro, e foi duramente atacada no tribunal da internet. Por homens e mulheres. Há alguns anos fiz uma reportagem para o Estadão que tentava responder à pergunta: por que alguém entrega seu filho? E compreendi por que fazer julgamentos nesses casos, sem conhecer as condições de quem passa pela situação, na maioria das vezes é injusto. 

O apoio é fundamental para atravessar situações difíceis, principalmente após traumas Foto: Ruthson Zimmerman/Unsplash

A conversa com essas mulheres revelou histórias dramáticas. Uma das constatações mais chocantes é o luto que costuma invadi-las após a entrega. Um luto chamado de não franqueado, já que a sociedade não o reconhece e a pessoa em geral não recebe apoio. A própria mulher não se sente no direito de buscar ajuda para enfrentar a culpa e o vazio. Muitas se desestruturam emocionalmente. O trauma costuma ser duro. Mães evitam olhar para o bebê após o parto, pedem para sair logo da maternidade, tentam não guardar lembrança. Na carta publicada sábado, Klara contou ter sido obrigada pelo médico a ouvir o coração do feto. Mesmo que a mulher não tenha sido vítima de estupro, a entrega à adoção é permitida por lei. Várias outras razões podem pesar na decisão. “Ser pai e/ou mãe não depende somente da condição econômica, mas da capacidade de cuidar. Ao reconhecer minha incapacidade de exercer esse cuidado, optei por essa entrega consciente e que deveria ser segura”, escreveu Klara. Na mesma reportagem de anos atrás, entrevistei uma doméstica que teve três bebês. O do meio foi resultado da gravidez de um primo que pressionava pelo aborto, numa época, segundo ela, de total desespero. Quando conversamos, já fazia anos que tinha abdicado do poder familiar diante de um juiz e acabara de ter o terceiro filho, que criava com o primeiro. Mas contou que jamais tinha deixado de pensar na filha dada à adoção. Disse que sentia um tipo de saudade. Mas que a mim pareceu uma dor tão grande que me impede até hoje de julgar qualquer mulher em situação parecida.

Julgar os outros virou praga de proporções pandêmicas com as redes sociais. Sabe aquilo de tentar se pôr no lugar do outro? A tal empatia? Esquece. O negócio é destroçar quem diz, escreve ou faz algo com o qual não se concorde. Quando envolvem mulheres, as críticas costumam ser ainda mais implacáveis. Já ouviu falar da sororidade? Dessa palavra difícil que diz respeito a uma mulher não julgar e apoiar a outra? Para parte do público feminino, só existe na teoria. Um tema acabou virando debate nacional nos últimos dias: o das mães que entregam filho para adoção. Ganhou notoriedade com o drama da atriz Klara Castanho, que engravidou após estupro, e foi duramente atacada no tribunal da internet. Por homens e mulheres. Há alguns anos fiz uma reportagem para o Estadão que tentava responder à pergunta: por que alguém entrega seu filho? E compreendi por que fazer julgamentos nesses casos, sem conhecer as condições de quem passa pela situação, na maioria das vezes é injusto. 

O apoio é fundamental para atravessar situações difíceis, principalmente após traumas Foto: Ruthson Zimmerman/Unsplash

A conversa com essas mulheres revelou histórias dramáticas. Uma das constatações mais chocantes é o luto que costuma invadi-las após a entrega. Um luto chamado de não franqueado, já que a sociedade não o reconhece e a pessoa em geral não recebe apoio. A própria mulher não se sente no direito de buscar ajuda para enfrentar a culpa e o vazio. Muitas se desestruturam emocionalmente. O trauma costuma ser duro. Mães evitam olhar para o bebê após o parto, pedem para sair logo da maternidade, tentam não guardar lembrança. Na carta publicada sábado, Klara contou ter sido obrigada pelo médico a ouvir o coração do feto. Mesmo que a mulher não tenha sido vítima de estupro, a entrega à adoção é permitida por lei. Várias outras razões podem pesar na decisão. “Ser pai e/ou mãe não depende somente da condição econômica, mas da capacidade de cuidar. Ao reconhecer minha incapacidade de exercer esse cuidado, optei por essa entrega consciente e que deveria ser segura”, escreveu Klara. Na mesma reportagem de anos atrás, entrevistei uma doméstica que teve três bebês. O do meio foi resultado da gravidez de um primo que pressionava pelo aborto, numa época, segundo ela, de total desespero. Quando conversamos, já fazia anos que tinha abdicado do poder familiar diante de um juiz e acabara de ter o terceiro filho, que criava com o primeiro. Mas contou que jamais tinha deixado de pensar na filha dada à adoção. Disse que sentia um tipo de saudade. Mas que a mim pareceu uma dor tão grande que me impede até hoje de julgar qualquer mulher em situação parecida.

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Opinião por Luciana Garbin

Editora executiva no ‘Estadão’, professora na FAAP e mãe de gêmeos

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