Coluna quinzenal da jornalista Luciana Garbin que traz foco para as questões femininas na sociedade atual

Opinião|‘Tapada’, ‘fraca’, ‘despreparada’: Por que candidatas mulheres são tão atacadas nas redes?


Levantamento da Democracy Reporting Internacional sobre eleição em São Paulo mostra que, proporcionalmente, Tabata Amaral e Marina Helena foram alvo de mais ataques violentos no X e no YouTube que seus concorrentes homens nas primeiras semanas da disputa

Por Luciana Garbin
Atualização:

Chatabata, tapada, ridícula, odiada, gata, gostosa, fraca, despreparada, batata. Esses foram alguns termos utilizados para se referir às duas candidatas que disputaram a Prefeitura de São Paulo neste ano: Tabata Amaral (PSB) e Marina Helena (Novo). Presentes em comentários do YouTube e do X (antes da suspensão determinada pelo Supremo Tribunal Federal), eles figuram também no relatório Gender-based violence on X and YouTube in the São Paulo mayoral election - do inglês, Violência de gênero no X e no YouTube na eleição para prefeito de São Paulo.

Feito pela Democracy Reporting International, entidade fundada em Berlim em 2006, com contribuições da Fundação Getulio Vargas (FGV) Rio, o levantamento destaca que o discurso violento direcionado a candidatas mulheres é uma questão recorrente nas campanhas políticas brasileiras e a campanha em São Paulo se destacou entre a de outras capitais brasileiras pela quantidade de violência política. O detalhe é que essa violência não se limitou apenas à famosa cadeirada dada por José Luiz Datena (PSDB) em Pablo Marçal (PRTB) ou aos ataques mútuos que envolveram também Ricardo Nunes (MDB) e Guilherme Boulos (PSOL). Segundo o relatório, embora menos falada, também sobrou violência de gênero no pleito que terminará neste domingo.

“Das mais de 3.500 postagens contendo termos violentos coletadas no X durante as duas primeiras semanas de campanha, Tabata Amaral e Marina Helena foram alvo de três vezes mais ataques do que seus colegas homens”, mostra o estudo, destacando em seguida que um padrão semelhante foi verificado também nos comentários no YouTube.

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Pesquisadores observaram por exemplo que, no debate online promovido pela TV Gazeta e pelo MyNews em 1º de setembro, embora outros candidatos - especialmente Pablo Marçal - tenham sido mencionados com mais frequência nos 491 comentários violentos coletados no YouTube, Tabata aparece em 32,2% das postagens e foi alvo dos ataques mais agressivos - Marina não participou do encontro.

A candidata Tabata Amaral no debate promovido pela TV Gazeta em parceria com o canal MyNews Foto: Tiago Queiroz/Estad

No X, as discussões variaram de ataques baseados em ideologia política (66%) à misoginia explícita (14,5%). Tabata foi criticada, entre outras coisas, por sua sua idade, aparência, afiliações políticas e histórico. Denise Campos de Toledo, a jornalista que moderava o debate, também sofreu ataques de gênero, indicando de acordo com o estudo como “a natureza generalizada da misoginia durante a campanha teve como alvo não apenas candidatas, como também outras figuras” envolvidas nos debates e discussões.

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A maioria das postagens e comentários (90% no YouTube, 80% no X) analisados pelo levantamento buscava desqualificar e diminuir o papel das mulheres na política, com comentários contendo ironia, escárnio, apelidos e/ou trocadilhos. Outros ataques foram divididos entre tentativas de desumanização (com comentários que sugerem, por exemplo, que elas devem ser expulsas da esfera pública) e de sexualização e fetichização (quando se busca reduzir a mulher à aparência física, em comentários com conteúdo sexual, assédio e termos como “prostituta” ou “vagabunda”). Havia ainda os que visavam espalhar desinformação, reforçando informações falsas sobre a vida profissional e pessoal das candidatas, com o objetivo de desacreditá-las e minar suas reputações.

“O impacto dessa violência se estende além do dano psicológico imediato, desencorajando as mulheres de se envolver em atividades políticas e prejudicando os processos democráticos”, destaca o levantamento. “Estudos recentes também destacam que mulheres que pertencem a grupos sociais específicos que são cultural e economicamente marginalizados – especialmente LGBTQIA+, negras e indígenas – geralmente estão sujeitas a manifestações específicas de violência. Essa violência não é apenas direcionada, mas também interseccional, o que significa que é moldada pelas identidades e experiências sobrepostas dessas mulheres, que combinam e aprofundam a violência histórica contra esses grupos. Isso pode se manifestar como discriminação, assédio e agressão física.”

A candidata Marina Helena participa do debate do Flow Podcast, em 23 de setembro Foto: Flow Podcast Via Youtube
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Para Yasmin Curzi, professora da FGV Direito Rio e uma das autoras do estudo, os resultados ressaltam como comentários para mulheres vêm com uma agressividade desproporcional, em que a imagem delas é colocada em questão, há descredibilização e críticas à competência de elas de estarem no espaço público, além de questionamentos quanto à sua inteligência e moralidade.

“A cadeirada é sintomática do que é a política hoje: um espaço dominado por homens, extremamente agressivo e hostil para a participação de minorias”, resume Yasmin. “Essas agressões evidenciam um padrão do que é fazer política no cotidiano: essa virilidade e masculinidade tóxica e hegemônica são rotineiras nas negociações, nas câmaras, entre parlamentares, na apresentação de projetos. Quantas mulheres não são silenciadas todos os dias ao tentar participar desses debates?”

O Estadão procurou as campanhas de Tabata Amaral e Marina Helena, mas elas não comentaram os resultados do levantamento.

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Chatabata, tapada, ridícula, odiada, gata, gostosa, fraca, despreparada, batata. Esses foram alguns termos utilizados para se referir às duas candidatas que disputaram a Prefeitura de São Paulo neste ano: Tabata Amaral (PSB) e Marina Helena (Novo). Presentes em comentários do YouTube e do X (antes da suspensão determinada pelo Supremo Tribunal Federal), eles figuram também no relatório Gender-based violence on X and YouTube in the São Paulo mayoral election - do inglês, Violência de gênero no X e no YouTube na eleição para prefeito de São Paulo.

Feito pela Democracy Reporting International, entidade fundada em Berlim em 2006, com contribuições da Fundação Getulio Vargas (FGV) Rio, o levantamento destaca que o discurso violento direcionado a candidatas mulheres é uma questão recorrente nas campanhas políticas brasileiras e a campanha em São Paulo se destacou entre a de outras capitais brasileiras pela quantidade de violência política. O detalhe é que essa violência não se limitou apenas à famosa cadeirada dada por José Luiz Datena (PSDB) em Pablo Marçal (PRTB) ou aos ataques mútuos que envolveram também Ricardo Nunes (MDB) e Guilherme Boulos (PSOL). Segundo o relatório, embora menos falada, também sobrou violência de gênero no pleito que terminará neste domingo.

“Das mais de 3.500 postagens contendo termos violentos coletadas no X durante as duas primeiras semanas de campanha, Tabata Amaral e Marina Helena foram alvo de três vezes mais ataques do que seus colegas homens”, mostra o estudo, destacando em seguida que um padrão semelhante foi verificado também nos comentários no YouTube.

Pesquisadores observaram por exemplo que, no debate online promovido pela TV Gazeta e pelo MyNews em 1º de setembro, embora outros candidatos - especialmente Pablo Marçal - tenham sido mencionados com mais frequência nos 491 comentários violentos coletados no YouTube, Tabata aparece em 32,2% das postagens e foi alvo dos ataques mais agressivos - Marina não participou do encontro.

A candidata Tabata Amaral no debate promovido pela TV Gazeta em parceria com o canal MyNews Foto: Tiago Queiroz/Estad

No X, as discussões variaram de ataques baseados em ideologia política (66%) à misoginia explícita (14,5%). Tabata foi criticada, entre outras coisas, por sua sua idade, aparência, afiliações políticas e histórico. Denise Campos de Toledo, a jornalista que moderava o debate, também sofreu ataques de gênero, indicando de acordo com o estudo como “a natureza generalizada da misoginia durante a campanha teve como alvo não apenas candidatas, como também outras figuras” envolvidas nos debates e discussões.

A maioria das postagens e comentários (90% no YouTube, 80% no X) analisados pelo levantamento buscava desqualificar e diminuir o papel das mulheres na política, com comentários contendo ironia, escárnio, apelidos e/ou trocadilhos. Outros ataques foram divididos entre tentativas de desumanização (com comentários que sugerem, por exemplo, que elas devem ser expulsas da esfera pública) e de sexualização e fetichização (quando se busca reduzir a mulher à aparência física, em comentários com conteúdo sexual, assédio e termos como “prostituta” ou “vagabunda”). Havia ainda os que visavam espalhar desinformação, reforçando informações falsas sobre a vida profissional e pessoal das candidatas, com o objetivo de desacreditá-las e minar suas reputações.

“O impacto dessa violência se estende além do dano psicológico imediato, desencorajando as mulheres de se envolver em atividades políticas e prejudicando os processos democráticos”, destaca o levantamento. “Estudos recentes também destacam que mulheres que pertencem a grupos sociais específicos que são cultural e economicamente marginalizados – especialmente LGBTQIA+, negras e indígenas – geralmente estão sujeitas a manifestações específicas de violência. Essa violência não é apenas direcionada, mas também interseccional, o que significa que é moldada pelas identidades e experiências sobrepostas dessas mulheres, que combinam e aprofundam a violência histórica contra esses grupos. Isso pode se manifestar como discriminação, assédio e agressão física.”

A candidata Marina Helena participa do debate do Flow Podcast, em 23 de setembro Foto: Flow Podcast Via Youtube

Para Yasmin Curzi, professora da FGV Direito Rio e uma das autoras do estudo, os resultados ressaltam como comentários para mulheres vêm com uma agressividade desproporcional, em que a imagem delas é colocada em questão, há descredibilização e críticas à competência de elas de estarem no espaço público, além de questionamentos quanto à sua inteligência e moralidade.

“A cadeirada é sintomática do que é a política hoje: um espaço dominado por homens, extremamente agressivo e hostil para a participação de minorias”, resume Yasmin. “Essas agressões evidenciam um padrão do que é fazer política no cotidiano: essa virilidade e masculinidade tóxica e hegemônica são rotineiras nas negociações, nas câmaras, entre parlamentares, na apresentação de projetos. Quantas mulheres não são silenciadas todos os dias ao tentar participar desses debates?”

O Estadão procurou as campanhas de Tabata Amaral e Marina Helena, mas elas não comentaram os resultados do levantamento.

Chatabata, tapada, ridícula, odiada, gata, gostosa, fraca, despreparada, batata. Esses foram alguns termos utilizados para se referir às duas candidatas que disputaram a Prefeitura de São Paulo neste ano: Tabata Amaral (PSB) e Marina Helena (Novo). Presentes em comentários do YouTube e do X (antes da suspensão determinada pelo Supremo Tribunal Federal), eles figuram também no relatório Gender-based violence on X and YouTube in the São Paulo mayoral election - do inglês, Violência de gênero no X e no YouTube na eleição para prefeito de São Paulo.

Feito pela Democracy Reporting International, entidade fundada em Berlim em 2006, com contribuições da Fundação Getulio Vargas (FGV) Rio, o levantamento destaca que o discurso violento direcionado a candidatas mulheres é uma questão recorrente nas campanhas políticas brasileiras e a campanha em São Paulo se destacou entre a de outras capitais brasileiras pela quantidade de violência política. O detalhe é que essa violência não se limitou apenas à famosa cadeirada dada por José Luiz Datena (PSDB) em Pablo Marçal (PRTB) ou aos ataques mútuos que envolveram também Ricardo Nunes (MDB) e Guilherme Boulos (PSOL). Segundo o relatório, embora menos falada, também sobrou violência de gênero no pleito que terminará neste domingo.

“Das mais de 3.500 postagens contendo termos violentos coletadas no X durante as duas primeiras semanas de campanha, Tabata Amaral e Marina Helena foram alvo de três vezes mais ataques do que seus colegas homens”, mostra o estudo, destacando em seguida que um padrão semelhante foi verificado também nos comentários no YouTube.

Pesquisadores observaram por exemplo que, no debate online promovido pela TV Gazeta e pelo MyNews em 1º de setembro, embora outros candidatos - especialmente Pablo Marçal - tenham sido mencionados com mais frequência nos 491 comentários violentos coletados no YouTube, Tabata aparece em 32,2% das postagens e foi alvo dos ataques mais agressivos - Marina não participou do encontro.

A candidata Tabata Amaral no debate promovido pela TV Gazeta em parceria com o canal MyNews Foto: Tiago Queiroz/Estad

No X, as discussões variaram de ataques baseados em ideologia política (66%) à misoginia explícita (14,5%). Tabata foi criticada, entre outras coisas, por sua sua idade, aparência, afiliações políticas e histórico. Denise Campos de Toledo, a jornalista que moderava o debate, também sofreu ataques de gênero, indicando de acordo com o estudo como “a natureza generalizada da misoginia durante a campanha teve como alvo não apenas candidatas, como também outras figuras” envolvidas nos debates e discussões.

A maioria das postagens e comentários (90% no YouTube, 80% no X) analisados pelo levantamento buscava desqualificar e diminuir o papel das mulheres na política, com comentários contendo ironia, escárnio, apelidos e/ou trocadilhos. Outros ataques foram divididos entre tentativas de desumanização (com comentários que sugerem, por exemplo, que elas devem ser expulsas da esfera pública) e de sexualização e fetichização (quando se busca reduzir a mulher à aparência física, em comentários com conteúdo sexual, assédio e termos como “prostituta” ou “vagabunda”). Havia ainda os que visavam espalhar desinformação, reforçando informações falsas sobre a vida profissional e pessoal das candidatas, com o objetivo de desacreditá-las e minar suas reputações.

“O impacto dessa violência se estende além do dano psicológico imediato, desencorajando as mulheres de se envolver em atividades políticas e prejudicando os processos democráticos”, destaca o levantamento. “Estudos recentes também destacam que mulheres que pertencem a grupos sociais específicos que são cultural e economicamente marginalizados – especialmente LGBTQIA+, negras e indígenas – geralmente estão sujeitas a manifestações específicas de violência. Essa violência não é apenas direcionada, mas também interseccional, o que significa que é moldada pelas identidades e experiências sobrepostas dessas mulheres, que combinam e aprofundam a violência histórica contra esses grupos. Isso pode se manifestar como discriminação, assédio e agressão física.”

A candidata Marina Helena participa do debate do Flow Podcast, em 23 de setembro Foto: Flow Podcast Via Youtube

Para Yasmin Curzi, professora da FGV Direito Rio e uma das autoras do estudo, os resultados ressaltam como comentários para mulheres vêm com uma agressividade desproporcional, em que a imagem delas é colocada em questão, há descredibilização e críticas à competência de elas de estarem no espaço público, além de questionamentos quanto à sua inteligência e moralidade.

“A cadeirada é sintomática do que é a política hoje: um espaço dominado por homens, extremamente agressivo e hostil para a participação de minorias”, resume Yasmin. “Essas agressões evidenciam um padrão do que é fazer política no cotidiano: essa virilidade e masculinidade tóxica e hegemônica são rotineiras nas negociações, nas câmaras, entre parlamentares, na apresentação de projetos. Quantas mulheres não são silenciadas todos os dias ao tentar participar desses debates?”

O Estadão procurou as campanhas de Tabata Amaral e Marina Helena, mas elas não comentaram os resultados do levantamento.

Opinião por Luciana Garbin

Editora executiva no ‘Estadão’, professora na FAAP e mãe de gêmeos

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