Coluna quinzenal da jornalista Luciana Garbin que traz foco para as questões femininas na sociedade atual

Opinião|Redes sociais trazem o horror da guerra para dentro de casa: o que pais podem fazer diante disso


Exposição contínua a imagens violentas, a justificativas extremistas e a discursos de ódio na internet pode levar jovens a desenvolver crenças equivocadas de que a violência é uma solução, alerta Stop Hate Brasil

Por Luciana Garbin
Atualização:

Pessoas fuziladas, famílias sequestradas, estupros, escudos humanos, transmissões ao vivo de bombardeios, gente cercada sem água, comida e remédios, bloqueio de ajuda humanitária, mortes, mortes e mais mortes. Quando a barbárie já parece ter extrapolado todos os limites, chega rapidamente algum novo vídeo ainda mais chocante sobre a guerra em Israel. Em diferentes plataformas. E depois outro. E mais outro. Como absorver e lidar com tanto horror? E mais: o que fazer quando o receptor da barbárie são crianças e adolescentes em fase de formação de identidade, de busca por pertencimento a grupos e de falta de discernimento crítico em relação a conteúdos online?

“É com grande preocupação que trazemos à sua atenção um problema alarmante e crescente no debate público, especialmente nas redes sociais: a normalização do terrorismo”, diz alerta divulgado pela Stop Hate Brasil, iniciativa sem fins lucrativos dedicada a prevenir e combater a radicalização online. Voltado a mães, pais, cuidadores, educadores e profissionais de saúde mental, o documento destaca que a disseminação de conteúdo relacionado a atos terroristas, bem como a falta de conscientização sobre seus perigos, têm consequências significativas na radicalização, no extremismo online e na normalização do terrorismo e pode ter efeitos desastrosos na formação de uma mentalidade saudável e equilibrada entre os mais jovens.

Explosões iluminam céu na região da Faixa de Gaza, no quarto dia de conflito Foto: MAHMUD HAMS
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“A exposição contínua a imagens violentas, a justificativas extremistas e a discursos de ódio presentes em diversas plataformas online pode levar jovens a desenvolver crenças equivocadas de que a violência é uma solução legítima e/ou política. Além disso, tal normalização pode atuar como um vetor no processo de radicalização, levando-os a adotar posturas extremas e perigosas.”

O documento afirma que, desde os ataques do Hamas no fim de semana, plataformas digitais foram inundadas de vídeos mostrando atos de horror, violência extrema e suplício, muitas vezes acompanhados de tentativas de justificá-los. Segundo a pesquisadora Michele Prado, em um deles, por exemplo, o terrorista usou as próprias redes da vítima para postar o assassinato dela. Em Tel Aviv, pais estão sendo instruídos a remover redes sociais do celular dos filhos para evitar que vejam imagens de reféns implorando pela vida. E a própria Stop Hate - que em inglês significa pare de odiar - encontrou e denunciou ao Telegram e ao X (antigo Twitter) vídeos dos últimos dias - com crianças, mulheres, idosos sendo degolados, fuzilados, queimados vivos e/ou estuprados - que seguem estética, estilo e violência extrema similares a imagens divulgadas no passado pelo grupo terrorista Estado Islâmico (ISIS). Com a diferença de que agora são em volume muito maior. Não por acaso em apenas quatro dias de conflito a Organização das Nações Unidas (ONU) já diz ter “claras evidências” de crimes de guerra e uma avalanche de relatos de mortes de civis por grupos armados dos dois lados.

Michele lembra que, além de mais vulneráveis, crianças e adolescentes têm uma distância histórica e pouco ou nenhum conhecimento de eventos que mancharam a história da humanidade, como o Holocausto, e sobre as causas do complexo conflito entre Israel e Palestina. “As consequências da normalização do terrorismo e de discursos que justificavam a violência extrema contra civis inocentes são graves e podem incidir em diversas esferas da sociedade, como por exemplo um aumento nos índices de atentados de extremismo violento ideologicamente motivados de orientação antissemita e também islamofóbicos”, conclui o documento, assinado também pela pesquisadora Debora Leite.

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E o que pais e educadores podem fazer diante desse cenário?

“Criar regras de uso consciente da internet, como limitar o tempo de exposição às redes sociais, utilizar programas de controle parental e acompanhar as atividades online dos jovens, pode ajudar a prevenir a exposição inadequada a mensagens terroristas”, diz o alerta da Stop Hate. “Considere atualizar as configurações de privacidade e segurança das redes sociais de crianças e adolescentes ou diminuir momentaneamente o período de uso online.”

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Diálogo continua fundamental - “Pais e educadores devem estabelecer ambiente propício para discussões de temas sensíveis, como terrorismo, e reforçar que a violência NÃO é uma solução”. Assim como a educação emocional. “Desenvolver habilidades emocionais em crianças e jovens auxilia o fortalecimento da resiliência, cultivo da empatia e capacidade de lidar com sentimentos negativos. Essas competências atuam como uma barreira contra a manipulação emocional que pode ocorrer por meio da normalização do terrorismo e da disseminação de conteúdos de extremismo violento.”

Incentivar uma atitude crítica sobre o que se vê na internet é outro requisito essencial. Assim como aprender a identificar fake news, conteúdos extremistas e mecanismos usados para manipular discussões e opiniões. A tal da alfabetização digital. Por fim, profissionais de saúde mental, professores e familiares devem trabalhar juntos, compartilhando informações e desenvolvendo estratégias de apoio a jovens que possam estar enfrentando dificuldades emocionais ou apresentando comportamentos de risco. “Somente com uma abordagem colaborativa, baseada na decência humana e na defesa incondicional dos valores expressos na Declaração Universal dos Direitos Humanos, e orientada para a prevenção, poderemos garantir uma sociedade mais segura, plural e saudável para as futuras gerações.”

Pessoas fuziladas, famílias sequestradas, estupros, escudos humanos, transmissões ao vivo de bombardeios, gente cercada sem água, comida e remédios, bloqueio de ajuda humanitária, mortes, mortes e mais mortes. Quando a barbárie já parece ter extrapolado todos os limites, chega rapidamente algum novo vídeo ainda mais chocante sobre a guerra em Israel. Em diferentes plataformas. E depois outro. E mais outro. Como absorver e lidar com tanto horror? E mais: o que fazer quando o receptor da barbárie são crianças e adolescentes em fase de formação de identidade, de busca por pertencimento a grupos e de falta de discernimento crítico em relação a conteúdos online?

“É com grande preocupação que trazemos à sua atenção um problema alarmante e crescente no debate público, especialmente nas redes sociais: a normalização do terrorismo”, diz alerta divulgado pela Stop Hate Brasil, iniciativa sem fins lucrativos dedicada a prevenir e combater a radicalização online. Voltado a mães, pais, cuidadores, educadores e profissionais de saúde mental, o documento destaca que a disseminação de conteúdo relacionado a atos terroristas, bem como a falta de conscientização sobre seus perigos, têm consequências significativas na radicalização, no extremismo online e na normalização do terrorismo e pode ter efeitos desastrosos na formação de uma mentalidade saudável e equilibrada entre os mais jovens.

Explosões iluminam céu na região da Faixa de Gaza, no quarto dia de conflito Foto: MAHMUD HAMS

“A exposição contínua a imagens violentas, a justificativas extremistas e a discursos de ódio presentes em diversas plataformas online pode levar jovens a desenvolver crenças equivocadas de que a violência é uma solução legítima e/ou política. Além disso, tal normalização pode atuar como um vetor no processo de radicalização, levando-os a adotar posturas extremas e perigosas.”

O documento afirma que, desde os ataques do Hamas no fim de semana, plataformas digitais foram inundadas de vídeos mostrando atos de horror, violência extrema e suplício, muitas vezes acompanhados de tentativas de justificá-los. Segundo a pesquisadora Michele Prado, em um deles, por exemplo, o terrorista usou as próprias redes da vítima para postar o assassinato dela. Em Tel Aviv, pais estão sendo instruídos a remover redes sociais do celular dos filhos para evitar que vejam imagens de reféns implorando pela vida. E a própria Stop Hate - que em inglês significa pare de odiar - encontrou e denunciou ao Telegram e ao X (antigo Twitter) vídeos dos últimos dias - com crianças, mulheres, idosos sendo degolados, fuzilados, queimados vivos e/ou estuprados - que seguem estética, estilo e violência extrema similares a imagens divulgadas no passado pelo grupo terrorista Estado Islâmico (ISIS). Com a diferença de que agora são em volume muito maior. Não por acaso em apenas quatro dias de conflito a Organização das Nações Unidas (ONU) já diz ter “claras evidências” de crimes de guerra e uma avalanche de relatos de mortes de civis por grupos armados dos dois lados.

Michele lembra que, além de mais vulneráveis, crianças e adolescentes têm uma distância histórica e pouco ou nenhum conhecimento de eventos que mancharam a história da humanidade, como o Holocausto, e sobre as causas do complexo conflito entre Israel e Palestina. “As consequências da normalização do terrorismo e de discursos que justificavam a violência extrema contra civis inocentes são graves e podem incidir em diversas esferas da sociedade, como por exemplo um aumento nos índices de atentados de extremismo violento ideologicamente motivados de orientação antissemita e também islamofóbicos”, conclui o documento, assinado também pela pesquisadora Debora Leite.

E o que pais e educadores podem fazer diante desse cenário?

“Criar regras de uso consciente da internet, como limitar o tempo de exposição às redes sociais, utilizar programas de controle parental e acompanhar as atividades online dos jovens, pode ajudar a prevenir a exposição inadequada a mensagens terroristas”, diz o alerta da Stop Hate. “Considere atualizar as configurações de privacidade e segurança das redes sociais de crianças e adolescentes ou diminuir momentaneamente o período de uso online.”

Diálogo continua fundamental - “Pais e educadores devem estabelecer ambiente propício para discussões de temas sensíveis, como terrorismo, e reforçar que a violência NÃO é uma solução”. Assim como a educação emocional. “Desenvolver habilidades emocionais em crianças e jovens auxilia o fortalecimento da resiliência, cultivo da empatia e capacidade de lidar com sentimentos negativos. Essas competências atuam como uma barreira contra a manipulação emocional que pode ocorrer por meio da normalização do terrorismo e da disseminação de conteúdos de extremismo violento.”

Incentivar uma atitude crítica sobre o que se vê na internet é outro requisito essencial. Assim como aprender a identificar fake news, conteúdos extremistas e mecanismos usados para manipular discussões e opiniões. A tal da alfabetização digital. Por fim, profissionais de saúde mental, professores e familiares devem trabalhar juntos, compartilhando informações e desenvolvendo estratégias de apoio a jovens que possam estar enfrentando dificuldades emocionais ou apresentando comportamentos de risco. “Somente com uma abordagem colaborativa, baseada na decência humana e na defesa incondicional dos valores expressos na Declaração Universal dos Direitos Humanos, e orientada para a prevenção, poderemos garantir uma sociedade mais segura, plural e saudável para as futuras gerações.”

Pessoas fuziladas, famílias sequestradas, estupros, escudos humanos, transmissões ao vivo de bombardeios, gente cercada sem água, comida e remédios, bloqueio de ajuda humanitária, mortes, mortes e mais mortes. Quando a barbárie já parece ter extrapolado todos os limites, chega rapidamente algum novo vídeo ainda mais chocante sobre a guerra em Israel. Em diferentes plataformas. E depois outro. E mais outro. Como absorver e lidar com tanto horror? E mais: o que fazer quando o receptor da barbárie são crianças e adolescentes em fase de formação de identidade, de busca por pertencimento a grupos e de falta de discernimento crítico em relação a conteúdos online?

“É com grande preocupação que trazemos à sua atenção um problema alarmante e crescente no debate público, especialmente nas redes sociais: a normalização do terrorismo”, diz alerta divulgado pela Stop Hate Brasil, iniciativa sem fins lucrativos dedicada a prevenir e combater a radicalização online. Voltado a mães, pais, cuidadores, educadores e profissionais de saúde mental, o documento destaca que a disseminação de conteúdo relacionado a atos terroristas, bem como a falta de conscientização sobre seus perigos, têm consequências significativas na radicalização, no extremismo online e na normalização do terrorismo e pode ter efeitos desastrosos na formação de uma mentalidade saudável e equilibrada entre os mais jovens.

Explosões iluminam céu na região da Faixa de Gaza, no quarto dia de conflito Foto: MAHMUD HAMS

“A exposição contínua a imagens violentas, a justificativas extremistas e a discursos de ódio presentes em diversas plataformas online pode levar jovens a desenvolver crenças equivocadas de que a violência é uma solução legítima e/ou política. Além disso, tal normalização pode atuar como um vetor no processo de radicalização, levando-os a adotar posturas extremas e perigosas.”

O documento afirma que, desde os ataques do Hamas no fim de semana, plataformas digitais foram inundadas de vídeos mostrando atos de horror, violência extrema e suplício, muitas vezes acompanhados de tentativas de justificá-los. Segundo a pesquisadora Michele Prado, em um deles, por exemplo, o terrorista usou as próprias redes da vítima para postar o assassinato dela. Em Tel Aviv, pais estão sendo instruídos a remover redes sociais do celular dos filhos para evitar que vejam imagens de reféns implorando pela vida. E a própria Stop Hate - que em inglês significa pare de odiar - encontrou e denunciou ao Telegram e ao X (antigo Twitter) vídeos dos últimos dias - com crianças, mulheres, idosos sendo degolados, fuzilados, queimados vivos e/ou estuprados - que seguem estética, estilo e violência extrema similares a imagens divulgadas no passado pelo grupo terrorista Estado Islâmico (ISIS). Com a diferença de que agora são em volume muito maior. Não por acaso em apenas quatro dias de conflito a Organização das Nações Unidas (ONU) já diz ter “claras evidências” de crimes de guerra e uma avalanche de relatos de mortes de civis por grupos armados dos dois lados.

Michele lembra que, além de mais vulneráveis, crianças e adolescentes têm uma distância histórica e pouco ou nenhum conhecimento de eventos que mancharam a história da humanidade, como o Holocausto, e sobre as causas do complexo conflito entre Israel e Palestina. “As consequências da normalização do terrorismo e de discursos que justificavam a violência extrema contra civis inocentes são graves e podem incidir em diversas esferas da sociedade, como por exemplo um aumento nos índices de atentados de extremismo violento ideologicamente motivados de orientação antissemita e também islamofóbicos”, conclui o documento, assinado também pela pesquisadora Debora Leite.

E o que pais e educadores podem fazer diante desse cenário?

“Criar regras de uso consciente da internet, como limitar o tempo de exposição às redes sociais, utilizar programas de controle parental e acompanhar as atividades online dos jovens, pode ajudar a prevenir a exposição inadequada a mensagens terroristas”, diz o alerta da Stop Hate. “Considere atualizar as configurações de privacidade e segurança das redes sociais de crianças e adolescentes ou diminuir momentaneamente o período de uso online.”

Diálogo continua fundamental - “Pais e educadores devem estabelecer ambiente propício para discussões de temas sensíveis, como terrorismo, e reforçar que a violência NÃO é uma solução”. Assim como a educação emocional. “Desenvolver habilidades emocionais em crianças e jovens auxilia o fortalecimento da resiliência, cultivo da empatia e capacidade de lidar com sentimentos negativos. Essas competências atuam como uma barreira contra a manipulação emocional que pode ocorrer por meio da normalização do terrorismo e da disseminação de conteúdos de extremismo violento.”

Incentivar uma atitude crítica sobre o que se vê na internet é outro requisito essencial. Assim como aprender a identificar fake news, conteúdos extremistas e mecanismos usados para manipular discussões e opiniões. A tal da alfabetização digital. Por fim, profissionais de saúde mental, professores e familiares devem trabalhar juntos, compartilhando informações e desenvolvendo estratégias de apoio a jovens que possam estar enfrentando dificuldades emocionais ou apresentando comportamentos de risco. “Somente com uma abordagem colaborativa, baseada na decência humana e na defesa incondicional dos valores expressos na Declaração Universal dos Direitos Humanos, e orientada para a prevenção, poderemos garantir uma sociedade mais segura, plural e saudável para as futuras gerações.”

Opinião por Luciana Garbin

Editora executiva no ‘Estadão’, professora na FAAP e mãe de gêmeos

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