Coluna quinzenal da jornalista Luciana Garbin que traz foco para as questões femininas na sociedade atual

Opinião|Reino das Mulheres: como funciona uma das últimas sociedades matriarcais do mundo


Na cultura mosuo, decisões sobre família e dinheiro são tomadas pelas chefes de clãs, não existem contratos de casamento e meninas ganham direito ao próprio espaço aos 13 anos

Por Luciana Garbin
Atualização:

Imagine um local onde quem dá a última palavra é sempre uma mulher, onde as líderes de clã detêm as propriedades e gerenciam o dinheiro e onde, aos 13 anos, no ritual da puberdade, as garotas ganham direito a ter o próprio quarto, um espaço para tocar a vida. Esses são alguns pilares da milenar cultura mosuo, povo que habita um vilarejo de cerca de 40 mil habitantes entre as províncias de Yunnan e Sichuan, no sudoeste da China, e forma o que ficou conhecido como O Reino das Mulheres ou O Último Matriarcado.

Oficialmente, os mosuos são considerados pelo governo chinês uma minoria étnica. Mas suas tradições acabaram rompendo os limites da região do Lago Lugu, que banha seu território, pelo comando feminino das famílias e das finanças e a liberdade sexual das mulheres.

Matriarca do povo mosuo, uma das últimas sociedades matriarcais do planeta Foto: André Mafra
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Os relacionamentos amorosos são um dos pontos que despertam interesse. Lá não existe o conceito de casar no papel ou morar com o cônjuge. As pessoas namoram e têm filhos, mas num modelo chamado de “walking marriage”, ou casamento andante, sem contratos ou obrigações legais.

Embora existam parcerias de muitos anos entre os mosuos, são sempre os homens que visitam o quarto das mulheres e de manhã voltam à casa da família. E, se o casal tiver um filho, a criança será criada pela família da mãe, com ajuda dos integrantes do clã materno. Se a relação terminar, cada um já estará do seu lado. Não se fala em violência doméstica nem em mãe solo.

“Para nós a família nasce com o casamento, mas entre os mosuos a família sempre vai ser a da mãe. As mulheres criam os seus filhos dentro do seu clã, com a responsabilidade compartilhada entre todos. O tio materno, por exemplo, terá um papel na vida da criança maior do que o do próprio pai biológico. E o pai biológico vai criar os filhos e as filhas do seu clã”, explica a documentarista Mara Carneiro, que em parceria com o escritor André Mafra estreou no fim de 2023 uma série documental com quatro episódios sobre os mosuos chamada Viagem ao Reino das Mulheres.

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Crianças mosuos são sempre criadas por integrantes da família da mãe, incluindo os tios maternos Foto: André Mafra

Os dois têm viajado para registrar a dinâmica de antigas estruturas matriarcais que sobreviveram aos séculos. Após passarem pelo México, onde vive o povo zapoteco, em Oahaca, foram conhecer os mosuos e já mapearam também outros povos com características matriarcais, como os gunas yalas, no Panamá, os kahsis, na Índia, os habitantes da Ilha de Kihnu, na Estônia, e até populações quilombolas e ribeirinhas na Amazônia. Sempre inspirados por estudos da filósofa alemã Heide Göettner-Abendroth.

“O que mais fascina as pessoas sobre os mosuos é a questão da sexualidade, mas o que me fascinou mesmo foi essa menina de 13 anos já com espaço garantido”, disse Mara ao podcast Mulheres Reais, da Rádio Eldorado.

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Outra pilastra das sociedades matriarcais, segundo os documentaristas, é a economia nas mãos da mulher. Além de a casa estar no nome da matriarca - chamada de “dabu” -, ela não só gerencia todo o dinheiro produzido por sua família como decide com o que gastá-lo. Pela tradição, a avó é a figura mais importante no clã e as propriedades são transmitidas sempre pela linhagem feminina.

Apresentação cultural dos mosuos Foto: André Mafra

O conceito de poder é diferente do de sociedades patricarcais, de uns mandam e outros obedecem. Mafra explica que numa sociedade matriarcal há um olhar sobre o cuidado e o papel da líder é entender o que o coletivo precisa para viver bem e evitar conflitos, geralmente malvistos.

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“As relações de poder são horizontais. A matriarca trabalha muito e lidera pelo exemplo. Não fica sentada no trono gerindo os recursos da comunidade. Quem tem poder é responsável por cuidar dos demais. Daí vem o respeito (da comunidade).”

E qual o papel dos homens nessa ancestral cultura matriarcal? “É muito relevante”, resume Mafra, lembrando que cabe a eles por exemplo o contato com clãs externos. No documentário, um dos entrevistados é o prefeito da vila dos mosuos, Li Bin Ma Zha Shi. “Eu tenho a sensação de que o homem na sociedade matriarcal vive o melhor dos mundos. Não dá para você sentir pena de um homem que mora numa estrutura que vai privilegiar aquele clã em que ele também é cuidado.”

Imagine um local onde quem dá a última palavra é sempre uma mulher, onde as líderes de clã detêm as propriedades e gerenciam o dinheiro e onde, aos 13 anos, no ritual da puberdade, as garotas ganham direito a ter o próprio quarto, um espaço para tocar a vida. Esses são alguns pilares da milenar cultura mosuo, povo que habita um vilarejo de cerca de 40 mil habitantes entre as províncias de Yunnan e Sichuan, no sudoeste da China, e forma o que ficou conhecido como O Reino das Mulheres ou O Último Matriarcado.

Oficialmente, os mosuos são considerados pelo governo chinês uma minoria étnica. Mas suas tradições acabaram rompendo os limites da região do Lago Lugu, que banha seu território, pelo comando feminino das famílias e das finanças e a liberdade sexual das mulheres.

Matriarca do povo mosuo, uma das últimas sociedades matriarcais do planeta Foto: André Mafra

Os relacionamentos amorosos são um dos pontos que despertam interesse. Lá não existe o conceito de casar no papel ou morar com o cônjuge. As pessoas namoram e têm filhos, mas num modelo chamado de “walking marriage”, ou casamento andante, sem contratos ou obrigações legais.

Embora existam parcerias de muitos anos entre os mosuos, são sempre os homens que visitam o quarto das mulheres e de manhã voltam à casa da família. E, se o casal tiver um filho, a criança será criada pela família da mãe, com ajuda dos integrantes do clã materno. Se a relação terminar, cada um já estará do seu lado. Não se fala em violência doméstica nem em mãe solo.

“Para nós a família nasce com o casamento, mas entre os mosuos a família sempre vai ser a da mãe. As mulheres criam os seus filhos dentro do seu clã, com a responsabilidade compartilhada entre todos. O tio materno, por exemplo, terá um papel na vida da criança maior do que o do próprio pai biológico. E o pai biológico vai criar os filhos e as filhas do seu clã”, explica a documentarista Mara Carneiro, que em parceria com o escritor André Mafra estreou no fim de 2023 uma série documental com quatro episódios sobre os mosuos chamada Viagem ao Reino das Mulheres.

Crianças mosuos são sempre criadas por integrantes da família da mãe, incluindo os tios maternos Foto: André Mafra

Os dois têm viajado para registrar a dinâmica de antigas estruturas matriarcais que sobreviveram aos séculos. Após passarem pelo México, onde vive o povo zapoteco, em Oahaca, foram conhecer os mosuos e já mapearam também outros povos com características matriarcais, como os gunas yalas, no Panamá, os kahsis, na Índia, os habitantes da Ilha de Kihnu, na Estônia, e até populações quilombolas e ribeirinhas na Amazônia. Sempre inspirados por estudos da filósofa alemã Heide Göettner-Abendroth.

“O que mais fascina as pessoas sobre os mosuos é a questão da sexualidade, mas o que me fascinou mesmo foi essa menina de 13 anos já com espaço garantido”, disse Mara ao podcast Mulheres Reais, da Rádio Eldorado.

Outra pilastra das sociedades matriarcais, segundo os documentaristas, é a economia nas mãos da mulher. Além de a casa estar no nome da matriarca - chamada de “dabu” -, ela não só gerencia todo o dinheiro produzido por sua família como decide com o que gastá-lo. Pela tradição, a avó é a figura mais importante no clã e as propriedades são transmitidas sempre pela linhagem feminina.

Apresentação cultural dos mosuos Foto: André Mafra

O conceito de poder é diferente do de sociedades patricarcais, de uns mandam e outros obedecem. Mafra explica que numa sociedade matriarcal há um olhar sobre o cuidado e o papel da líder é entender o que o coletivo precisa para viver bem e evitar conflitos, geralmente malvistos.

“As relações de poder são horizontais. A matriarca trabalha muito e lidera pelo exemplo. Não fica sentada no trono gerindo os recursos da comunidade. Quem tem poder é responsável por cuidar dos demais. Daí vem o respeito (da comunidade).”

E qual o papel dos homens nessa ancestral cultura matriarcal? “É muito relevante”, resume Mafra, lembrando que cabe a eles por exemplo o contato com clãs externos. No documentário, um dos entrevistados é o prefeito da vila dos mosuos, Li Bin Ma Zha Shi. “Eu tenho a sensação de que o homem na sociedade matriarcal vive o melhor dos mundos. Não dá para você sentir pena de um homem que mora numa estrutura que vai privilegiar aquele clã em que ele também é cuidado.”

Imagine um local onde quem dá a última palavra é sempre uma mulher, onde as líderes de clã detêm as propriedades e gerenciam o dinheiro e onde, aos 13 anos, no ritual da puberdade, as garotas ganham direito a ter o próprio quarto, um espaço para tocar a vida. Esses são alguns pilares da milenar cultura mosuo, povo que habita um vilarejo de cerca de 40 mil habitantes entre as províncias de Yunnan e Sichuan, no sudoeste da China, e forma o que ficou conhecido como O Reino das Mulheres ou O Último Matriarcado.

Oficialmente, os mosuos são considerados pelo governo chinês uma minoria étnica. Mas suas tradições acabaram rompendo os limites da região do Lago Lugu, que banha seu território, pelo comando feminino das famílias e das finanças e a liberdade sexual das mulheres.

Matriarca do povo mosuo, uma das últimas sociedades matriarcais do planeta Foto: André Mafra

Os relacionamentos amorosos são um dos pontos que despertam interesse. Lá não existe o conceito de casar no papel ou morar com o cônjuge. As pessoas namoram e têm filhos, mas num modelo chamado de “walking marriage”, ou casamento andante, sem contratos ou obrigações legais.

Embora existam parcerias de muitos anos entre os mosuos, são sempre os homens que visitam o quarto das mulheres e de manhã voltam à casa da família. E, se o casal tiver um filho, a criança será criada pela família da mãe, com ajuda dos integrantes do clã materno. Se a relação terminar, cada um já estará do seu lado. Não se fala em violência doméstica nem em mãe solo.

“Para nós a família nasce com o casamento, mas entre os mosuos a família sempre vai ser a da mãe. As mulheres criam os seus filhos dentro do seu clã, com a responsabilidade compartilhada entre todos. O tio materno, por exemplo, terá um papel na vida da criança maior do que o do próprio pai biológico. E o pai biológico vai criar os filhos e as filhas do seu clã”, explica a documentarista Mara Carneiro, que em parceria com o escritor André Mafra estreou no fim de 2023 uma série documental com quatro episódios sobre os mosuos chamada Viagem ao Reino das Mulheres.

Crianças mosuos são sempre criadas por integrantes da família da mãe, incluindo os tios maternos Foto: André Mafra

Os dois têm viajado para registrar a dinâmica de antigas estruturas matriarcais que sobreviveram aos séculos. Após passarem pelo México, onde vive o povo zapoteco, em Oahaca, foram conhecer os mosuos e já mapearam também outros povos com características matriarcais, como os gunas yalas, no Panamá, os kahsis, na Índia, os habitantes da Ilha de Kihnu, na Estônia, e até populações quilombolas e ribeirinhas na Amazônia. Sempre inspirados por estudos da filósofa alemã Heide Göettner-Abendroth.

“O que mais fascina as pessoas sobre os mosuos é a questão da sexualidade, mas o que me fascinou mesmo foi essa menina de 13 anos já com espaço garantido”, disse Mara ao podcast Mulheres Reais, da Rádio Eldorado.

Outra pilastra das sociedades matriarcais, segundo os documentaristas, é a economia nas mãos da mulher. Além de a casa estar no nome da matriarca - chamada de “dabu” -, ela não só gerencia todo o dinheiro produzido por sua família como decide com o que gastá-lo. Pela tradição, a avó é a figura mais importante no clã e as propriedades são transmitidas sempre pela linhagem feminina.

Apresentação cultural dos mosuos Foto: André Mafra

O conceito de poder é diferente do de sociedades patricarcais, de uns mandam e outros obedecem. Mafra explica que numa sociedade matriarcal há um olhar sobre o cuidado e o papel da líder é entender o que o coletivo precisa para viver bem e evitar conflitos, geralmente malvistos.

“As relações de poder são horizontais. A matriarca trabalha muito e lidera pelo exemplo. Não fica sentada no trono gerindo os recursos da comunidade. Quem tem poder é responsável por cuidar dos demais. Daí vem o respeito (da comunidade).”

E qual o papel dos homens nessa ancestral cultura matriarcal? “É muito relevante”, resume Mafra, lembrando que cabe a eles por exemplo o contato com clãs externos. No documentário, um dos entrevistados é o prefeito da vila dos mosuos, Li Bin Ma Zha Shi. “Eu tenho a sensação de que o homem na sociedade matriarcal vive o melhor dos mundos. Não dá para você sentir pena de um homem que mora numa estrutura que vai privilegiar aquele clã em que ele também é cuidado.”

Imagine um local onde quem dá a última palavra é sempre uma mulher, onde as líderes de clã detêm as propriedades e gerenciam o dinheiro e onde, aos 13 anos, no ritual da puberdade, as garotas ganham direito a ter o próprio quarto, um espaço para tocar a vida. Esses são alguns pilares da milenar cultura mosuo, povo que habita um vilarejo de cerca de 40 mil habitantes entre as províncias de Yunnan e Sichuan, no sudoeste da China, e forma o que ficou conhecido como O Reino das Mulheres ou O Último Matriarcado.

Oficialmente, os mosuos são considerados pelo governo chinês uma minoria étnica. Mas suas tradições acabaram rompendo os limites da região do Lago Lugu, que banha seu território, pelo comando feminino das famílias e das finanças e a liberdade sexual das mulheres.

Matriarca do povo mosuo, uma das últimas sociedades matriarcais do planeta Foto: André Mafra

Os relacionamentos amorosos são um dos pontos que despertam interesse. Lá não existe o conceito de casar no papel ou morar com o cônjuge. As pessoas namoram e têm filhos, mas num modelo chamado de “walking marriage”, ou casamento andante, sem contratos ou obrigações legais.

Embora existam parcerias de muitos anos entre os mosuos, são sempre os homens que visitam o quarto das mulheres e de manhã voltam à casa da família. E, se o casal tiver um filho, a criança será criada pela família da mãe, com ajuda dos integrantes do clã materno. Se a relação terminar, cada um já estará do seu lado. Não se fala em violência doméstica nem em mãe solo.

“Para nós a família nasce com o casamento, mas entre os mosuos a família sempre vai ser a da mãe. As mulheres criam os seus filhos dentro do seu clã, com a responsabilidade compartilhada entre todos. O tio materno, por exemplo, terá um papel na vida da criança maior do que o do próprio pai biológico. E o pai biológico vai criar os filhos e as filhas do seu clã”, explica a documentarista Mara Carneiro, que em parceria com o escritor André Mafra estreou no fim de 2023 uma série documental com quatro episódios sobre os mosuos chamada Viagem ao Reino das Mulheres.

Crianças mosuos são sempre criadas por integrantes da família da mãe, incluindo os tios maternos Foto: André Mafra

Os dois têm viajado para registrar a dinâmica de antigas estruturas matriarcais que sobreviveram aos séculos. Após passarem pelo México, onde vive o povo zapoteco, em Oahaca, foram conhecer os mosuos e já mapearam também outros povos com características matriarcais, como os gunas yalas, no Panamá, os kahsis, na Índia, os habitantes da Ilha de Kihnu, na Estônia, e até populações quilombolas e ribeirinhas na Amazônia. Sempre inspirados por estudos da filósofa alemã Heide Göettner-Abendroth.

“O que mais fascina as pessoas sobre os mosuos é a questão da sexualidade, mas o que me fascinou mesmo foi essa menina de 13 anos já com espaço garantido”, disse Mara ao podcast Mulheres Reais, da Rádio Eldorado.

Outra pilastra das sociedades matriarcais, segundo os documentaristas, é a economia nas mãos da mulher. Além de a casa estar no nome da matriarca - chamada de “dabu” -, ela não só gerencia todo o dinheiro produzido por sua família como decide com o que gastá-lo. Pela tradição, a avó é a figura mais importante no clã e as propriedades são transmitidas sempre pela linhagem feminina.

Apresentação cultural dos mosuos Foto: André Mafra

O conceito de poder é diferente do de sociedades patricarcais, de uns mandam e outros obedecem. Mafra explica que numa sociedade matriarcal há um olhar sobre o cuidado e o papel da líder é entender o que o coletivo precisa para viver bem e evitar conflitos, geralmente malvistos.

“As relações de poder são horizontais. A matriarca trabalha muito e lidera pelo exemplo. Não fica sentada no trono gerindo os recursos da comunidade. Quem tem poder é responsável por cuidar dos demais. Daí vem o respeito (da comunidade).”

E qual o papel dos homens nessa ancestral cultura matriarcal? “É muito relevante”, resume Mafra, lembrando que cabe a eles por exemplo o contato com clãs externos. No documentário, um dos entrevistados é o prefeito da vila dos mosuos, Li Bin Ma Zha Shi. “Eu tenho a sensação de que o homem na sociedade matriarcal vive o melhor dos mundos. Não dá para você sentir pena de um homem que mora numa estrutura que vai privilegiar aquele clã em que ele também é cuidado.”

Opinião por Luciana Garbin

Editora executiva no ‘Estadão’, professora na FAAP e mãe de gêmeos

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