Coluna quinzenal da jornalista Luciana Garbin que traz foco para as questões femininas na sociedade atual

Opinião|Saída de Cuca do Corinthians mostra que sociedade brasileira está mudando


Repercussão do caso décadas após condenação do técnico por estupro na Suíça põe em xeque velha praga de culpar a vítima

Por Luciana Garbin
Atualização:

Transformar a vítima em culpada é um clássico em histórias de violência contra a mulher. Mas o Caso Cuca mostra que a sociedade brasileira está mudando. Ainda devagar, mas está.

O treinador condenado a 15 meses de prisão por estupro de uma adolescente teve uma carreira bem sucedida no futebol, com passagens por várias equipes, incluindo um amistoso pela seleção brasileira. Boa parte do País se esqueceu ou nem ficou sabendo da história.

O caso aconteceu em 1987, quando ele ainda era jogador do Grêmio, num hotel de Berna, na Suíça, e envolveu outros três colegas de time. Dois também com carreira no futebol.

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Reportagens e colunas da época dão o tom do machismo vigente no País. O estupro chegou a ser chamado por exemplo de “deslize de ordem sexual” e “travessura irresponsável” e os jogadores, de “doces devassos”. O enviado do Grêmio à Europa falava em coisa montada e truculência da polícia suíça. A adolescente subiu no quarto dos jogadores “porque queria alguma coisa” e, apesar de sua pouca idade, tinha “o tamanho de um armário e não tinha carinha de menina, não”. Até a idade, aliás, foi ajustada: em vez de 13 anos, dizia-se que a garota tinha “14 anos incompletos”.

Alguns leitores desta coluna podem pensar: ‘Ah, mas muita gente continua pensando igual e dizendo coisas muitos semelhantes ainda hoje’. Sim, é verdade. Mas, a julgar pelas desventuras de Cuca no Corinthians e por outros casos recentes envolvendo denúncias sexuais contra jogadores, como os de Robinho e Daniel Alves, novos ventos parecem estar soprando. Robinho não consegue sair do condomínio onde mora, em Santos; Daniel Alves está preso na Espanha. E o que dizer do ex-presidente da CBF Rogério Caboclo, também afastado do cargo após denúncias de assédio sexual?

Grupo de torcedores do Corinthians protesta diante do Centro de Treinamento Dr. Joaquim Grava contra a contratação de Cuca Foto: VITOR CHICAROLLI
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Impulsionadas pelas redes sociais, mais vozes têm sido ouvidas contra essa velha leitura machista do estupro. E de desacreditar as vítimas e tentar proteger “pobres” acusados do crime. Muitas dessas vozes são de mulheres.

“Estar em um clube democrático significa que podemos usar a nossa voz, por vezes de forma pública, por vezes nos bastidores. ‘Respeita As Minas’ não é uma frase qualquer. É, acima de tudo, um estado de espírito e um compromisso compartilhado”, dizia parte do texto postado em conjunto nas redes sociais pelas jogadoras do time feminino de futebol do Corinthians logo após a contratação de Cuca.

Muita gente leu e entendeu o que elas disseram, o debate se espalhou, os protestos se multiplicaram e o técnico não durou nem uma semana no time. Porque, apesar da seguida alegação de inocência de Cuca, é bom lembrar que houve um processo judicial na Suíça, no qual ele foi condenado.

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Será que agora os dirigentes dos grandes clubes não prestarão mais atenção ao histórico de seus contratados por milhões de reais ao ano? E esse cuidado não pode servir de exemplo aos times menores?

Menos do que uma questão pessoal, contra um nome ou outro, o caso mostra que a pauta de combate à violência contra mulher ganhou, sim, destaque nesses últimos anos e não importa se essa violência foi cometida ontem ou há mais de três décadas. Repudiá-la não tem a ver com idade, classe social ou posição política. É um dever da sociedade, de mulheres e de homens. E implica rever conceitos e crenças machistas ainda muito arraigados.

O Caso Cuca mostra que o País está mudando. Para melhor. Ainda há um longo caminho pela frente, mas está mudando.

Transformar a vítima em culpada é um clássico em histórias de violência contra a mulher. Mas o Caso Cuca mostra que a sociedade brasileira está mudando. Ainda devagar, mas está.

O treinador condenado a 15 meses de prisão por estupro de uma adolescente teve uma carreira bem sucedida no futebol, com passagens por várias equipes, incluindo um amistoso pela seleção brasileira. Boa parte do País se esqueceu ou nem ficou sabendo da história.

O caso aconteceu em 1987, quando ele ainda era jogador do Grêmio, num hotel de Berna, na Suíça, e envolveu outros três colegas de time. Dois também com carreira no futebol.

Reportagens e colunas da época dão o tom do machismo vigente no País. O estupro chegou a ser chamado por exemplo de “deslize de ordem sexual” e “travessura irresponsável” e os jogadores, de “doces devassos”. O enviado do Grêmio à Europa falava em coisa montada e truculência da polícia suíça. A adolescente subiu no quarto dos jogadores “porque queria alguma coisa” e, apesar de sua pouca idade, tinha “o tamanho de um armário e não tinha carinha de menina, não”. Até a idade, aliás, foi ajustada: em vez de 13 anos, dizia-se que a garota tinha “14 anos incompletos”.

Alguns leitores desta coluna podem pensar: ‘Ah, mas muita gente continua pensando igual e dizendo coisas muitos semelhantes ainda hoje’. Sim, é verdade. Mas, a julgar pelas desventuras de Cuca no Corinthians e por outros casos recentes envolvendo denúncias sexuais contra jogadores, como os de Robinho e Daniel Alves, novos ventos parecem estar soprando. Robinho não consegue sair do condomínio onde mora, em Santos; Daniel Alves está preso na Espanha. E o que dizer do ex-presidente da CBF Rogério Caboclo, também afastado do cargo após denúncias de assédio sexual?

Grupo de torcedores do Corinthians protesta diante do Centro de Treinamento Dr. Joaquim Grava contra a contratação de Cuca Foto: VITOR CHICAROLLI

Impulsionadas pelas redes sociais, mais vozes têm sido ouvidas contra essa velha leitura machista do estupro. E de desacreditar as vítimas e tentar proteger “pobres” acusados do crime. Muitas dessas vozes são de mulheres.

“Estar em um clube democrático significa que podemos usar a nossa voz, por vezes de forma pública, por vezes nos bastidores. ‘Respeita As Minas’ não é uma frase qualquer. É, acima de tudo, um estado de espírito e um compromisso compartilhado”, dizia parte do texto postado em conjunto nas redes sociais pelas jogadoras do time feminino de futebol do Corinthians logo após a contratação de Cuca.

Muita gente leu e entendeu o que elas disseram, o debate se espalhou, os protestos se multiplicaram e o técnico não durou nem uma semana no time. Porque, apesar da seguida alegação de inocência de Cuca, é bom lembrar que houve um processo judicial na Suíça, no qual ele foi condenado.

Será que agora os dirigentes dos grandes clubes não prestarão mais atenção ao histórico de seus contratados por milhões de reais ao ano? E esse cuidado não pode servir de exemplo aos times menores?

Menos do que uma questão pessoal, contra um nome ou outro, o caso mostra que a pauta de combate à violência contra mulher ganhou, sim, destaque nesses últimos anos e não importa se essa violência foi cometida ontem ou há mais de três décadas. Repudiá-la não tem a ver com idade, classe social ou posição política. É um dever da sociedade, de mulheres e de homens. E implica rever conceitos e crenças machistas ainda muito arraigados.

O Caso Cuca mostra que o País está mudando. Para melhor. Ainda há um longo caminho pela frente, mas está mudando.

Transformar a vítima em culpada é um clássico em histórias de violência contra a mulher. Mas o Caso Cuca mostra que a sociedade brasileira está mudando. Ainda devagar, mas está.

O treinador condenado a 15 meses de prisão por estupro de uma adolescente teve uma carreira bem sucedida no futebol, com passagens por várias equipes, incluindo um amistoso pela seleção brasileira. Boa parte do País se esqueceu ou nem ficou sabendo da história.

O caso aconteceu em 1987, quando ele ainda era jogador do Grêmio, num hotel de Berna, na Suíça, e envolveu outros três colegas de time. Dois também com carreira no futebol.

Reportagens e colunas da época dão o tom do machismo vigente no País. O estupro chegou a ser chamado por exemplo de “deslize de ordem sexual” e “travessura irresponsável” e os jogadores, de “doces devassos”. O enviado do Grêmio à Europa falava em coisa montada e truculência da polícia suíça. A adolescente subiu no quarto dos jogadores “porque queria alguma coisa” e, apesar de sua pouca idade, tinha “o tamanho de um armário e não tinha carinha de menina, não”. Até a idade, aliás, foi ajustada: em vez de 13 anos, dizia-se que a garota tinha “14 anos incompletos”.

Alguns leitores desta coluna podem pensar: ‘Ah, mas muita gente continua pensando igual e dizendo coisas muitos semelhantes ainda hoje’. Sim, é verdade. Mas, a julgar pelas desventuras de Cuca no Corinthians e por outros casos recentes envolvendo denúncias sexuais contra jogadores, como os de Robinho e Daniel Alves, novos ventos parecem estar soprando. Robinho não consegue sair do condomínio onde mora, em Santos; Daniel Alves está preso na Espanha. E o que dizer do ex-presidente da CBF Rogério Caboclo, também afastado do cargo após denúncias de assédio sexual?

Grupo de torcedores do Corinthians protesta diante do Centro de Treinamento Dr. Joaquim Grava contra a contratação de Cuca Foto: VITOR CHICAROLLI

Impulsionadas pelas redes sociais, mais vozes têm sido ouvidas contra essa velha leitura machista do estupro. E de desacreditar as vítimas e tentar proteger “pobres” acusados do crime. Muitas dessas vozes são de mulheres.

“Estar em um clube democrático significa que podemos usar a nossa voz, por vezes de forma pública, por vezes nos bastidores. ‘Respeita As Minas’ não é uma frase qualquer. É, acima de tudo, um estado de espírito e um compromisso compartilhado”, dizia parte do texto postado em conjunto nas redes sociais pelas jogadoras do time feminino de futebol do Corinthians logo após a contratação de Cuca.

Muita gente leu e entendeu o que elas disseram, o debate se espalhou, os protestos se multiplicaram e o técnico não durou nem uma semana no time. Porque, apesar da seguida alegação de inocência de Cuca, é bom lembrar que houve um processo judicial na Suíça, no qual ele foi condenado.

Será que agora os dirigentes dos grandes clubes não prestarão mais atenção ao histórico de seus contratados por milhões de reais ao ano? E esse cuidado não pode servir de exemplo aos times menores?

Menos do que uma questão pessoal, contra um nome ou outro, o caso mostra que a pauta de combate à violência contra mulher ganhou, sim, destaque nesses últimos anos e não importa se essa violência foi cometida ontem ou há mais de três décadas. Repudiá-la não tem a ver com idade, classe social ou posição política. É um dever da sociedade, de mulheres e de homens. E implica rever conceitos e crenças machistas ainda muito arraigados.

O Caso Cuca mostra que o País está mudando. Para melhor. Ainda há um longo caminho pela frente, mas está mudando.

Transformar a vítima em culpada é um clássico em histórias de violência contra a mulher. Mas o Caso Cuca mostra que a sociedade brasileira está mudando. Ainda devagar, mas está.

O treinador condenado a 15 meses de prisão por estupro de uma adolescente teve uma carreira bem sucedida no futebol, com passagens por várias equipes, incluindo um amistoso pela seleção brasileira. Boa parte do País se esqueceu ou nem ficou sabendo da história.

O caso aconteceu em 1987, quando ele ainda era jogador do Grêmio, num hotel de Berna, na Suíça, e envolveu outros três colegas de time. Dois também com carreira no futebol.

Reportagens e colunas da época dão o tom do machismo vigente no País. O estupro chegou a ser chamado por exemplo de “deslize de ordem sexual” e “travessura irresponsável” e os jogadores, de “doces devassos”. O enviado do Grêmio à Europa falava em coisa montada e truculência da polícia suíça. A adolescente subiu no quarto dos jogadores “porque queria alguma coisa” e, apesar de sua pouca idade, tinha “o tamanho de um armário e não tinha carinha de menina, não”. Até a idade, aliás, foi ajustada: em vez de 13 anos, dizia-se que a garota tinha “14 anos incompletos”.

Alguns leitores desta coluna podem pensar: ‘Ah, mas muita gente continua pensando igual e dizendo coisas muitos semelhantes ainda hoje’. Sim, é verdade. Mas, a julgar pelas desventuras de Cuca no Corinthians e por outros casos recentes envolvendo denúncias sexuais contra jogadores, como os de Robinho e Daniel Alves, novos ventos parecem estar soprando. Robinho não consegue sair do condomínio onde mora, em Santos; Daniel Alves está preso na Espanha. E o que dizer do ex-presidente da CBF Rogério Caboclo, também afastado do cargo após denúncias de assédio sexual?

Grupo de torcedores do Corinthians protesta diante do Centro de Treinamento Dr. Joaquim Grava contra a contratação de Cuca Foto: VITOR CHICAROLLI

Impulsionadas pelas redes sociais, mais vozes têm sido ouvidas contra essa velha leitura machista do estupro. E de desacreditar as vítimas e tentar proteger “pobres” acusados do crime. Muitas dessas vozes são de mulheres.

“Estar em um clube democrático significa que podemos usar a nossa voz, por vezes de forma pública, por vezes nos bastidores. ‘Respeita As Minas’ não é uma frase qualquer. É, acima de tudo, um estado de espírito e um compromisso compartilhado”, dizia parte do texto postado em conjunto nas redes sociais pelas jogadoras do time feminino de futebol do Corinthians logo após a contratação de Cuca.

Muita gente leu e entendeu o que elas disseram, o debate se espalhou, os protestos se multiplicaram e o técnico não durou nem uma semana no time. Porque, apesar da seguida alegação de inocência de Cuca, é bom lembrar que houve um processo judicial na Suíça, no qual ele foi condenado.

Será que agora os dirigentes dos grandes clubes não prestarão mais atenção ao histórico de seus contratados por milhões de reais ao ano? E esse cuidado não pode servir de exemplo aos times menores?

Menos do que uma questão pessoal, contra um nome ou outro, o caso mostra que a pauta de combate à violência contra mulher ganhou, sim, destaque nesses últimos anos e não importa se essa violência foi cometida ontem ou há mais de três décadas. Repudiá-la não tem a ver com idade, classe social ou posição política. É um dever da sociedade, de mulheres e de homens. E implica rever conceitos e crenças machistas ainda muito arraigados.

O Caso Cuca mostra que o País está mudando. Para melhor. Ainda há um longo caminho pela frente, mas está mudando.

Opinião por Luciana Garbin

Editora executiva no ‘Estadão’, professora na FAAP e mãe de gêmeos

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