Recém-lançado pela Netflix, o documentário O Golpista do Tinder já ganhou muitas conversas femininas. Conta a história de um homem que se passava por filho de bilionário, seduzia mulheres pela internet e, entre uma promessa e outra, tirava delas milhares de dólares. De comum nas histórias, uma pesada manipulação emocional. Ser enganado por alguém que estuda o perfil da vítima e se molda ao que ela idealiza amorosamente para explorá-la é enredo antigo. A novidade é que mais gente tem se articulado para, a partir de suas histórias, alertar outras mulheres.
Em 2013, a americana Benita Alexander trabalhava como produtora na NBC News quando foi escalada para um trabalho com Paolo Macchiarini, apresentado como um “supercirurgião” pioneiro em transplantes de órgãos sintéticos. Apaixonada, ela ignorou o veto da emissora à relação de funcionários com entrevistados e viveu com Paolo um intenso romance, com direito a viagens para Bahamas, Turquia, México, Grécia e Itália. Até que ele a pediu em casamento e garantiu que o fato de Benita ser divorciada não seria problema para casar na igreja pois o papa Francisco era seu paciente, assim como outros vips internacionais, como Bill e Hillary Clinton, o imperador Akihito e o então presidente Barack Obama. E mais: a cerimônia seria feita pelo próprio papa. O casamento foi marcado para 11 de julho de 2015 em Roma e a lista de convites, despachada para nomes como Vladimir Putin, Nicolas Sarkozy, Kofi Annan, Russell Crowe, Andrea Bocelli, Elton John.
O castelo de Benita só começou a ruir quando um amigo lhe enviou uma notícia de que o papa estaria na América do Sul na data do casório. E terminou de desmoronar quando ela descobriu que Paolo não só era casado havia vários anos como investigado por cirurgias malsucedidas e mortes. Em 2016, a revista Vanity Fair publicou reportagem sobre a história. Após dois anos, Benita estreou o documentário He Lied About Everything (Ele Mentiu Sobre Tudo), contando as desventuras do caso, que comparou a “ser atropelada por um caminhão”. De lá pra cá, a americana já falou sobre sua experiência a centenas de sites, jornais e programas de rádio e TV e se dedicou a outros trabalhos voltados a mulheres. O mais recente é o Benita and the Berracas, que se propõe a ajudar vítimas a expor fraudes amorosas, educar sobre sinais de alerta e evitar que mais gente seja enganada. E por que Berraca? Trata-se de uma gíria colombiana para mulher resiliente que sobreviveu a algo difícil, mas permanece forte. Soa familiar?
*LUCIANA GARBIN É EDITORA NO ESTADÃO, PROFESSORA NA FAAP E MÃE DE GÊMEOS