Uma geléia geral a partir do cinema

Tiradentes (9)/Dias Vazios 1 e 2


Por Luiz Carlos Merten

TIRADENTES - E a 11.ª edição da Mostra Aurora vai chegando ao fim. Teremos nesta noite os dois últimos filmes concorrentes - ao troféu Barroco -, Lembro Mais dos Corvos, um documentário de Gustavo Vinagre, e a ficção de André Morais, Rebento. Antes disso, passa às 6 da tarde, na mostra Olhos Livres, outro filme que quero muito ver. Cristiano Burlan dirige, Helena Ignez e Jean-Claude Bernardet interpretam Antes do Fim. Tenho para mim que a jovem diretora de Imo, Bruna Schelb Corrêa, tentou emular a Helena de Caos em seu longa - sem muito sucesso, porém. A Aurora apresentou ontem à noite dois longas - Dias Vazios, de Robney Almeida, muito bom, intrigante, e Dias Vazios 2, perdão, Baixo Centro, de Ewerton Belico e Samuel Marotta. Um grupo de jovens numa cidade do interior de Goiás. Ruas desertas, uma escola de ensino médio, uma freira - Carla Ribas, maravilhosa, como só ela consegue ser. Um aspirante a escritor, Daniel, que tenta reconstituir a história de Jean e Adriana. Jean matou-se, por quê? Fabiana desapareceu no mundo. Ficção dentro da ficção. O filme divide-se em capítulos. O livro de Daniel. O coração de Jean. O triste fim de Fabiana, estou corrigindo porque, originalmente, havia escrito Adriana. Quando encontrei o Robney num restaurante, no fim de noite, e ele me falou sobre o que era seu filme, um cacoete de jornalista de cinema me levou, automaticamente, a evocar Federico Fellini. Os Boas Vidas. Nada a ver. É curioso como num meio periférico, e com personagens mais adultos, Baixo Centro tem muita coisa em comum. Um fotógrafo, e na parte inicial o encontro de um dos protagonistas com a mulher, num ambiente de rap, é decupado como foto fixa. Achei a construção interessante - se é Aurora o filme não pode ser quadrado -, o vazio existencial instala-se em diálogos, às vezes monólogos, que expõem a angústia e falta de perspectivas dessas vidas. Tudo muito intenso, mas muito vazio. Ao contrário de Dias Vazios, Baixo Centro me exauriu, sem me dar muito em troca. O mais interessante, dentro do Chamado Realista que é o tema dessa edição de Tiradentes - e da Aurora -, os diretores constroem um clima de ameaça. Durante o tempo todo, apesar da música, do sexo, muito vitais, eu, pelo menos, fiquei com a sensação de que algo terrível ia acontecer. Um dos protagonistas fala numa 'dívida'. Vem tocaia na noite, e não adianta correr. Exclusiva para novos diretores, a Aurora é uma vitrine importante de tendências. Cinema autoral. De resistência estética. Tem havido à tarde debates aos quais não tenho conseguido ir. Tiradentes sempre traz debatedores internacionais. Um curador de festival da Rússia, o diretor do Festival de Valdívia, o correspondente para a América Latina do Festival de San Sebastián, o programador do Filmfest Hamburg e crítico de cinema de publicações argentinas, etc. É sempre interessante esse olhar estrangeiro. O argentino fez uma observação reproduzida no cinejornal da Mostra, no Cine-Tenda. Dadas as peculiaridades da situação de dependência da América Latina, é (quase) uma consequência que os filmes sejam políticos. Mas não basta fazer filmes políticos - agora sou eu. É preciso fazer politicamente os filmes. Amo isso aqui, essa efervescência. E, como aos 70 anos não tenho mais certeza de nada, adoro ter de repensar, me repensar. Só o que me mata são essas ladeiras, e o piso irregular. Ando sem fôlego.

TIRADENTES - E a 11.ª edição da Mostra Aurora vai chegando ao fim. Teremos nesta noite os dois últimos filmes concorrentes - ao troféu Barroco -, Lembro Mais dos Corvos, um documentário de Gustavo Vinagre, e a ficção de André Morais, Rebento. Antes disso, passa às 6 da tarde, na mostra Olhos Livres, outro filme que quero muito ver. Cristiano Burlan dirige, Helena Ignez e Jean-Claude Bernardet interpretam Antes do Fim. Tenho para mim que a jovem diretora de Imo, Bruna Schelb Corrêa, tentou emular a Helena de Caos em seu longa - sem muito sucesso, porém. A Aurora apresentou ontem à noite dois longas - Dias Vazios, de Robney Almeida, muito bom, intrigante, e Dias Vazios 2, perdão, Baixo Centro, de Ewerton Belico e Samuel Marotta. Um grupo de jovens numa cidade do interior de Goiás. Ruas desertas, uma escola de ensino médio, uma freira - Carla Ribas, maravilhosa, como só ela consegue ser. Um aspirante a escritor, Daniel, que tenta reconstituir a história de Jean e Adriana. Jean matou-se, por quê? Fabiana desapareceu no mundo. Ficção dentro da ficção. O filme divide-se em capítulos. O livro de Daniel. O coração de Jean. O triste fim de Fabiana, estou corrigindo porque, originalmente, havia escrito Adriana. Quando encontrei o Robney num restaurante, no fim de noite, e ele me falou sobre o que era seu filme, um cacoete de jornalista de cinema me levou, automaticamente, a evocar Federico Fellini. Os Boas Vidas. Nada a ver. É curioso como num meio periférico, e com personagens mais adultos, Baixo Centro tem muita coisa em comum. Um fotógrafo, e na parte inicial o encontro de um dos protagonistas com a mulher, num ambiente de rap, é decupado como foto fixa. Achei a construção interessante - se é Aurora o filme não pode ser quadrado -, o vazio existencial instala-se em diálogos, às vezes monólogos, que expõem a angústia e falta de perspectivas dessas vidas. Tudo muito intenso, mas muito vazio. Ao contrário de Dias Vazios, Baixo Centro me exauriu, sem me dar muito em troca. O mais interessante, dentro do Chamado Realista que é o tema dessa edição de Tiradentes - e da Aurora -, os diretores constroem um clima de ameaça. Durante o tempo todo, apesar da música, do sexo, muito vitais, eu, pelo menos, fiquei com a sensação de que algo terrível ia acontecer. Um dos protagonistas fala numa 'dívida'. Vem tocaia na noite, e não adianta correr. Exclusiva para novos diretores, a Aurora é uma vitrine importante de tendências. Cinema autoral. De resistência estética. Tem havido à tarde debates aos quais não tenho conseguido ir. Tiradentes sempre traz debatedores internacionais. Um curador de festival da Rússia, o diretor do Festival de Valdívia, o correspondente para a América Latina do Festival de San Sebastián, o programador do Filmfest Hamburg e crítico de cinema de publicações argentinas, etc. É sempre interessante esse olhar estrangeiro. O argentino fez uma observação reproduzida no cinejornal da Mostra, no Cine-Tenda. Dadas as peculiaridades da situação de dependência da América Latina, é (quase) uma consequência que os filmes sejam políticos. Mas não basta fazer filmes políticos - agora sou eu. É preciso fazer politicamente os filmes. Amo isso aqui, essa efervescência. E, como aos 70 anos não tenho mais certeza de nada, adoro ter de repensar, me repensar. Só o que me mata são essas ladeiras, e o piso irregular. Ando sem fôlego.

TIRADENTES - E a 11.ª edição da Mostra Aurora vai chegando ao fim. Teremos nesta noite os dois últimos filmes concorrentes - ao troféu Barroco -, Lembro Mais dos Corvos, um documentário de Gustavo Vinagre, e a ficção de André Morais, Rebento. Antes disso, passa às 6 da tarde, na mostra Olhos Livres, outro filme que quero muito ver. Cristiano Burlan dirige, Helena Ignez e Jean-Claude Bernardet interpretam Antes do Fim. Tenho para mim que a jovem diretora de Imo, Bruna Schelb Corrêa, tentou emular a Helena de Caos em seu longa - sem muito sucesso, porém. A Aurora apresentou ontem à noite dois longas - Dias Vazios, de Robney Almeida, muito bom, intrigante, e Dias Vazios 2, perdão, Baixo Centro, de Ewerton Belico e Samuel Marotta. Um grupo de jovens numa cidade do interior de Goiás. Ruas desertas, uma escola de ensino médio, uma freira - Carla Ribas, maravilhosa, como só ela consegue ser. Um aspirante a escritor, Daniel, que tenta reconstituir a história de Jean e Adriana. Jean matou-se, por quê? Fabiana desapareceu no mundo. Ficção dentro da ficção. O filme divide-se em capítulos. O livro de Daniel. O coração de Jean. O triste fim de Fabiana, estou corrigindo porque, originalmente, havia escrito Adriana. Quando encontrei o Robney num restaurante, no fim de noite, e ele me falou sobre o que era seu filme, um cacoete de jornalista de cinema me levou, automaticamente, a evocar Federico Fellini. Os Boas Vidas. Nada a ver. É curioso como num meio periférico, e com personagens mais adultos, Baixo Centro tem muita coisa em comum. Um fotógrafo, e na parte inicial o encontro de um dos protagonistas com a mulher, num ambiente de rap, é decupado como foto fixa. Achei a construção interessante - se é Aurora o filme não pode ser quadrado -, o vazio existencial instala-se em diálogos, às vezes monólogos, que expõem a angústia e falta de perspectivas dessas vidas. Tudo muito intenso, mas muito vazio. Ao contrário de Dias Vazios, Baixo Centro me exauriu, sem me dar muito em troca. O mais interessante, dentro do Chamado Realista que é o tema dessa edição de Tiradentes - e da Aurora -, os diretores constroem um clima de ameaça. Durante o tempo todo, apesar da música, do sexo, muito vitais, eu, pelo menos, fiquei com a sensação de que algo terrível ia acontecer. Um dos protagonistas fala numa 'dívida'. Vem tocaia na noite, e não adianta correr. Exclusiva para novos diretores, a Aurora é uma vitrine importante de tendências. Cinema autoral. De resistência estética. Tem havido à tarde debates aos quais não tenho conseguido ir. Tiradentes sempre traz debatedores internacionais. Um curador de festival da Rússia, o diretor do Festival de Valdívia, o correspondente para a América Latina do Festival de San Sebastián, o programador do Filmfest Hamburg e crítico de cinema de publicações argentinas, etc. É sempre interessante esse olhar estrangeiro. O argentino fez uma observação reproduzida no cinejornal da Mostra, no Cine-Tenda. Dadas as peculiaridades da situação de dependência da América Latina, é (quase) uma consequência que os filmes sejam políticos. Mas não basta fazer filmes políticos - agora sou eu. É preciso fazer politicamente os filmes. Amo isso aqui, essa efervescência. E, como aos 70 anos não tenho mais certeza de nada, adoro ter de repensar, me repensar. Só o que me mata são essas ladeiras, e o piso irregular. Ando sem fôlego.

TIRADENTES - E a 11.ª edição da Mostra Aurora vai chegando ao fim. Teremos nesta noite os dois últimos filmes concorrentes - ao troféu Barroco -, Lembro Mais dos Corvos, um documentário de Gustavo Vinagre, e a ficção de André Morais, Rebento. Antes disso, passa às 6 da tarde, na mostra Olhos Livres, outro filme que quero muito ver. Cristiano Burlan dirige, Helena Ignez e Jean-Claude Bernardet interpretam Antes do Fim. Tenho para mim que a jovem diretora de Imo, Bruna Schelb Corrêa, tentou emular a Helena de Caos em seu longa - sem muito sucesso, porém. A Aurora apresentou ontem à noite dois longas - Dias Vazios, de Robney Almeida, muito bom, intrigante, e Dias Vazios 2, perdão, Baixo Centro, de Ewerton Belico e Samuel Marotta. Um grupo de jovens numa cidade do interior de Goiás. Ruas desertas, uma escola de ensino médio, uma freira - Carla Ribas, maravilhosa, como só ela consegue ser. Um aspirante a escritor, Daniel, que tenta reconstituir a história de Jean e Adriana. Jean matou-se, por quê? Fabiana desapareceu no mundo. Ficção dentro da ficção. O filme divide-se em capítulos. O livro de Daniel. O coração de Jean. O triste fim de Fabiana, estou corrigindo porque, originalmente, havia escrito Adriana. Quando encontrei o Robney num restaurante, no fim de noite, e ele me falou sobre o que era seu filme, um cacoete de jornalista de cinema me levou, automaticamente, a evocar Federico Fellini. Os Boas Vidas. Nada a ver. É curioso como num meio periférico, e com personagens mais adultos, Baixo Centro tem muita coisa em comum. Um fotógrafo, e na parte inicial o encontro de um dos protagonistas com a mulher, num ambiente de rap, é decupado como foto fixa. Achei a construção interessante - se é Aurora o filme não pode ser quadrado -, o vazio existencial instala-se em diálogos, às vezes monólogos, que expõem a angústia e falta de perspectivas dessas vidas. Tudo muito intenso, mas muito vazio. Ao contrário de Dias Vazios, Baixo Centro me exauriu, sem me dar muito em troca. O mais interessante, dentro do Chamado Realista que é o tema dessa edição de Tiradentes - e da Aurora -, os diretores constroem um clima de ameaça. Durante o tempo todo, apesar da música, do sexo, muito vitais, eu, pelo menos, fiquei com a sensação de que algo terrível ia acontecer. Um dos protagonistas fala numa 'dívida'. Vem tocaia na noite, e não adianta correr. Exclusiva para novos diretores, a Aurora é uma vitrine importante de tendências. Cinema autoral. De resistência estética. Tem havido à tarde debates aos quais não tenho conseguido ir. Tiradentes sempre traz debatedores internacionais. Um curador de festival da Rússia, o diretor do Festival de Valdívia, o correspondente para a América Latina do Festival de San Sebastián, o programador do Filmfest Hamburg e crítico de cinema de publicações argentinas, etc. É sempre interessante esse olhar estrangeiro. O argentino fez uma observação reproduzida no cinejornal da Mostra, no Cine-Tenda. Dadas as peculiaridades da situação de dependência da América Latina, é (quase) uma consequência que os filmes sejam políticos. Mas não basta fazer filmes políticos - agora sou eu. É preciso fazer politicamente os filmes. Amo isso aqui, essa efervescência. E, como aos 70 anos não tenho mais certeza de nada, adoro ter de repensar, me repensar. Só o que me mata são essas ladeiras, e o piso irregular. Ando sem fôlego.

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