Cinema, cultura & afins

Opinião|Aruanda 2024: Os Afro-sambas e o Brasil de Baden e Vinicius


Por Luiz Zanin Oricchio
 

 

JOÃO PESSOA - Uma noite bem musical no Fest Aruanda com a apresentação de Os Afro-sambas - o Brasil de Baden e Vinicius na mostra nacional, e Centro Ilusão, na mostra Sob o Céu Nordestino. 

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Abro os trabalhos com Afro-Sambas, uma espécie de "biografia" do disco célebre de Baden Powell e Vinicius de Moraes, gravado em 1966. O doc é dirigido por Emílio Domingos, que faz um trabalho muito bom de prospecção do ambiente da época, em especial no domínio musical. 

A bossa-nova já entrava em refluxo depois de fazer sucesso no exterior - aliás, vários artistas brasileiros, na esteira desse êxito, mudaram-se para o exterior, em especial para os Estados Unidos. 

No contra-fluxo, Baden e Vinicius, que já haviam se conhecido e firmado parceria, passaram a se interessar pelas raízes afro-brasileiras da nossa música. Muita coisa acontece para que o projeto se concretize. Carlos Carqueijo manda da Bahia para o Rio, um disco de cantos e toques de candomblé, destinado a Vinicius, seu amigo. Vinícius e Baden o ouvem com atenção. Baden vai passar uma temporada em Salvador, entre rodas de capoeira e terreiros de candomblé. Traz o material de trabalho impregnado em seu espírito. 

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Na volta, ele e Vinicius se internam por quatro meses no apartamento do poeta no Parque Guinle e se põem a compor. Infindáveis garrafas de uísque depois, ficam prontas as oito canções que comporão o disco. Que, aliás, teve gravação acidentada, tanto por conta de intempéries quanto do espírito liberal de Vinicius. O Rio sofria com enchentes históricas e o poeta chamava amigos e, sobretudo, amigas, para participar da gravação. Chamava-os de o "Coro da Amizade" que, muitas vezes, não primava pela afinação. 

No entanto, o disco era arranjado pelo maestro Guerra-Peixe, um mestre, e tinha a participação das vozes afinadíssimas das moças baianas do Quarteto em Cy. Vinicius cantava e, claro, havia o violão inigualável e em ponto de bala de Baden.

O doc reconstroi essas circunstâncias através de vários depoimentos, do inevitável Nelson Motta a estudiosos como o jornalista Hugo Sukman e Renato Vieira, autor de uma história da gravadora Forma, de existência breve (dois anos), e que gravou o disco. 

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Há também muita pesquisa em torno da formação de Baden, responsável pela parte musical da dupla. Desde sua infância em Varre-Sai até a convivência com os grandes da música, como Pixinguinha, e o aprendizado com Meira, professor de todos os grandes violonistas da época. Baden tocava em público desde pequeno e a essa prática somou-se a formação erudita. Tudo junto, e com seu talento, gerou um instrumentista e compositor únicos. Quando conheceu Vinicius, Baden já era um compositor razoavelmente conhecido em seu meio, tendo feito Samba Triste em parceria com Billy Blanco. 

Toda pesquisa é arranjada de forma a confluir na construção dessa obra-prima improvável. O LP Os Afro-sambas é gravado meio que de improviso e com meios técnicos pouco sofisticados, mesmo para a época. O documentário tem um mérito que parece até redundância apontar - é um filme musical que tem música. As oito faixas que compõem o disco estão lá, ao lado de outras músicas fundamentais para que o espectador mergulhe no ambiente sonoro da época, bem diferente do de hoje, por falar nisso. O filme foi produzido pelo MAX e, pelo que sei, não tem ainda data de estreia. 

 

 

 

JOÃO PESSOA - Uma noite bem musical no Fest Aruanda com a apresentação de Os Afro-sambas - o Brasil de Baden e Vinicius na mostra nacional, e Centro Ilusão, na mostra Sob o Céu Nordestino. 

Abro os trabalhos com Afro-Sambas, uma espécie de "biografia" do disco célebre de Baden Powell e Vinicius de Moraes, gravado em 1966. O doc é dirigido por Emílio Domingos, que faz um trabalho muito bom de prospecção do ambiente da época, em especial no domínio musical. 

A bossa-nova já entrava em refluxo depois de fazer sucesso no exterior - aliás, vários artistas brasileiros, na esteira desse êxito, mudaram-se para o exterior, em especial para os Estados Unidos. 

No contra-fluxo, Baden e Vinicius, que já haviam se conhecido e firmado parceria, passaram a se interessar pelas raízes afro-brasileiras da nossa música. Muita coisa acontece para que o projeto se concretize. Carlos Carqueijo manda da Bahia para o Rio, um disco de cantos e toques de candomblé, destinado a Vinicius, seu amigo. Vinícius e Baden o ouvem com atenção. Baden vai passar uma temporada em Salvador, entre rodas de capoeira e terreiros de candomblé. Traz o material de trabalho impregnado em seu espírito. 

Na volta, ele e Vinicius se internam por quatro meses no apartamento do poeta no Parque Guinle e se põem a compor. Infindáveis garrafas de uísque depois, ficam prontas as oito canções que comporão o disco. Que, aliás, teve gravação acidentada, tanto por conta de intempéries quanto do espírito liberal de Vinicius. O Rio sofria com enchentes históricas e o poeta chamava amigos e, sobretudo, amigas, para participar da gravação. Chamava-os de o "Coro da Amizade" que, muitas vezes, não primava pela afinação. 

No entanto, o disco era arranjado pelo maestro Guerra-Peixe, um mestre, e tinha a participação das vozes afinadíssimas das moças baianas do Quarteto em Cy. Vinicius cantava e, claro, havia o violão inigualável e em ponto de bala de Baden.

O doc reconstroi essas circunstâncias através de vários depoimentos, do inevitável Nelson Motta a estudiosos como o jornalista Hugo Sukman e Renato Vieira, autor de uma história da gravadora Forma, de existência breve (dois anos), e que gravou o disco. 

Há também muita pesquisa em torno da formação de Baden, responsável pela parte musical da dupla. Desde sua infância em Varre-Sai até a convivência com os grandes da música, como Pixinguinha, e o aprendizado com Meira, professor de todos os grandes violonistas da época. Baden tocava em público desde pequeno e a essa prática somou-se a formação erudita. Tudo junto, e com seu talento, gerou um instrumentista e compositor únicos. Quando conheceu Vinicius, Baden já era um compositor razoavelmente conhecido em seu meio, tendo feito Samba Triste em parceria com Billy Blanco. 

Toda pesquisa é arranjada de forma a confluir na construção dessa obra-prima improvável. O LP Os Afro-sambas é gravado meio que de improviso e com meios técnicos pouco sofisticados, mesmo para a época. O documentário tem um mérito que parece até redundância apontar - é um filme musical que tem música. As oito faixas que compõem o disco estão lá, ao lado de outras músicas fundamentais para que o espectador mergulhe no ambiente sonoro da época, bem diferente do de hoje, por falar nisso. O filme foi produzido pelo MAX e, pelo que sei, não tem ainda data de estreia. 

 

 

 

JOÃO PESSOA - Uma noite bem musical no Fest Aruanda com a apresentação de Os Afro-sambas - o Brasil de Baden e Vinicius na mostra nacional, e Centro Ilusão, na mostra Sob o Céu Nordestino. 

Abro os trabalhos com Afro-Sambas, uma espécie de "biografia" do disco célebre de Baden Powell e Vinicius de Moraes, gravado em 1966. O doc é dirigido por Emílio Domingos, que faz um trabalho muito bom de prospecção do ambiente da época, em especial no domínio musical. 

A bossa-nova já entrava em refluxo depois de fazer sucesso no exterior - aliás, vários artistas brasileiros, na esteira desse êxito, mudaram-se para o exterior, em especial para os Estados Unidos. 

No contra-fluxo, Baden e Vinicius, que já haviam se conhecido e firmado parceria, passaram a se interessar pelas raízes afro-brasileiras da nossa música. Muita coisa acontece para que o projeto se concretize. Carlos Carqueijo manda da Bahia para o Rio, um disco de cantos e toques de candomblé, destinado a Vinicius, seu amigo. Vinícius e Baden o ouvem com atenção. Baden vai passar uma temporada em Salvador, entre rodas de capoeira e terreiros de candomblé. Traz o material de trabalho impregnado em seu espírito. 

Na volta, ele e Vinicius se internam por quatro meses no apartamento do poeta no Parque Guinle e se põem a compor. Infindáveis garrafas de uísque depois, ficam prontas as oito canções que comporão o disco. Que, aliás, teve gravação acidentada, tanto por conta de intempéries quanto do espírito liberal de Vinicius. O Rio sofria com enchentes históricas e o poeta chamava amigos e, sobretudo, amigas, para participar da gravação. Chamava-os de o "Coro da Amizade" que, muitas vezes, não primava pela afinação. 

No entanto, o disco era arranjado pelo maestro Guerra-Peixe, um mestre, e tinha a participação das vozes afinadíssimas das moças baianas do Quarteto em Cy. Vinicius cantava e, claro, havia o violão inigualável e em ponto de bala de Baden.

O doc reconstroi essas circunstâncias através de vários depoimentos, do inevitável Nelson Motta a estudiosos como o jornalista Hugo Sukman e Renato Vieira, autor de uma história da gravadora Forma, de existência breve (dois anos), e que gravou o disco. 

Há também muita pesquisa em torno da formação de Baden, responsável pela parte musical da dupla. Desde sua infância em Varre-Sai até a convivência com os grandes da música, como Pixinguinha, e o aprendizado com Meira, professor de todos os grandes violonistas da época. Baden tocava em público desde pequeno e a essa prática somou-se a formação erudita. Tudo junto, e com seu talento, gerou um instrumentista e compositor únicos. Quando conheceu Vinicius, Baden já era um compositor razoavelmente conhecido em seu meio, tendo feito Samba Triste em parceria com Billy Blanco. 

Toda pesquisa é arranjada de forma a confluir na construção dessa obra-prima improvável. O LP Os Afro-sambas é gravado meio que de improviso e com meios técnicos pouco sofisticados, mesmo para a época. O documentário tem um mérito que parece até redundância apontar - é um filme musical que tem música. As oito faixas que compõem o disco estão lá, ao lado de outras músicas fundamentais para que o espectador mergulhe no ambiente sonoro da época, bem diferente do de hoje, por falar nisso. O filme foi produzido pelo MAX e, pelo que sei, não tem ainda data de estreia. 

 

Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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