Cinema, cultura & afins

Opinião|Barbie, o mais longo comercial da história


Por Luiz Zanin Oricchio

 

 

 

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Barbie é uma boneca dos anos 1950 totalmente desatualizada em nossa época de culto à inclusão e à diversidade. Em seu tempo retrato do sonho americano loiro e excludente, como faz para sobreviver num mundo que finge - sim, finge - que todo privilégio e toda discriminação são odiosos?

O que faz a fábrica? Joga fora o brinquedo anacrônico? Não. Recicla. E, para que não seja acusada de hipocrisia, recicla sob forma auto-irônica e auto-paródica de um filme. 

Assim como o comediante de stand-up ganha a plateia se auto depreciando, a Mattel "reabilita" sua boneca, diversificando-a em vários avatares e, por fim, a ridiculariza para humanizá-la. 

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Essa Barbie, moldada à perfeição por sua criadora, Ruth Handler, aspira à imperfeição humana (à maneira do Pinóquio, de Collodi) para tornar-se vendável, mais do que nunca, em nosso transtornado mundo contemporâneo. 

Nesse mundo auto-referente criado pelo filme, até mesmo os CEOs, homens brancos da Mattel, entram na ciranda. Sim, sim, somos todos iguais, e portanto suscetíveis de gozação, nessa dimensão idealizada do capitalismo, na qual algo como a luta de classes parece démodé como a boneca loira dos anos 1950. Estamos todos juntos nesse mundo em que "qualquer um(a) pode ser aquilo que desejar" - eis a fantasia suprema do nosso tempo. 

Barbie não deixa de ser uma operação de marketing bem-sucedida, neste que é, talvez, o mais longo e caro comercial de todos os tempos. Vimos a maneira como o produto foi lançado - em escala planetária, monopolizando espaços e mídia com sua aura cor-de-rosa. 

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Para assinar a obra, dois nomes descolados - Greta Gerwig e Noah Baumbach - signos da modernidade norte-americana e, portanto, dignos de reverência e imitação universal. Para interpretar a Boneca típica, ninguém menos que a ariana Margot Robbie; e como Ken, seu partner, Ryan Gosling - devidamente desenhado de forma tosca porque, convenhamos, no pós #Metoo, toda figura masculina deve ser ridícula e/ou predadora, de preferência ambas. Como o pessoal da pub não brinca em serviço, a narração em off vem na voz de uma grande atriz, Helen Mirren. 

Tirando essas operações bastante óbvias de recuperação e manipulação, embaladas num feminismo pedestre e catártico (ofensivo ao feminismo sério), o filme, em si, me pareceu bastante tosco. Enjoativo como um bolo de nutella coberto de glacê, falsamente irônico em algumas partes e meloso em seu desfecho. Tem tudo para fazer muito sucesso. 

 

 

 

Barbie é uma boneca dos anos 1950 totalmente desatualizada em nossa época de culto à inclusão e à diversidade. Em seu tempo retrato do sonho americano loiro e excludente, como faz para sobreviver num mundo que finge - sim, finge - que todo privilégio e toda discriminação são odiosos?

O que faz a fábrica? Joga fora o brinquedo anacrônico? Não. Recicla. E, para que não seja acusada de hipocrisia, recicla sob forma auto-irônica e auto-paródica de um filme. 

Assim como o comediante de stand-up ganha a plateia se auto depreciando, a Mattel "reabilita" sua boneca, diversificando-a em vários avatares e, por fim, a ridiculariza para humanizá-la. 

Essa Barbie, moldada à perfeição por sua criadora, Ruth Handler, aspira à imperfeição humana (à maneira do Pinóquio, de Collodi) para tornar-se vendável, mais do que nunca, em nosso transtornado mundo contemporâneo. 

Nesse mundo auto-referente criado pelo filme, até mesmo os CEOs, homens brancos da Mattel, entram na ciranda. Sim, sim, somos todos iguais, e portanto suscetíveis de gozação, nessa dimensão idealizada do capitalismo, na qual algo como a luta de classes parece démodé como a boneca loira dos anos 1950. Estamos todos juntos nesse mundo em que "qualquer um(a) pode ser aquilo que desejar" - eis a fantasia suprema do nosso tempo. 

Barbie não deixa de ser uma operação de marketing bem-sucedida, neste que é, talvez, o mais longo e caro comercial de todos os tempos. Vimos a maneira como o produto foi lançado - em escala planetária, monopolizando espaços e mídia com sua aura cor-de-rosa. 

Para assinar a obra, dois nomes descolados - Greta Gerwig e Noah Baumbach - signos da modernidade norte-americana e, portanto, dignos de reverência e imitação universal. Para interpretar a Boneca típica, ninguém menos que a ariana Margot Robbie; e como Ken, seu partner, Ryan Gosling - devidamente desenhado de forma tosca porque, convenhamos, no pós #Metoo, toda figura masculina deve ser ridícula e/ou predadora, de preferência ambas. Como o pessoal da pub não brinca em serviço, a narração em off vem na voz de uma grande atriz, Helen Mirren. 

Tirando essas operações bastante óbvias de recuperação e manipulação, embaladas num feminismo pedestre e catártico (ofensivo ao feminismo sério), o filme, em si, me pareceu bastante tosco. Enjoativo como um bolo de nutella coberto de glacê, falsamente irônico em algumas partes e meloso em seu desfecho. Tem tudo para fazer muito sucesso. 

 

 

 

Barbie é uma boneca dos anos 1950 totalmente desatualizada em nossa época de culto à inclusão e à diversidade. Em seu tempo retrato do sonho americano loiro e excludente, como faz para sobreviver num mundo que finge - sim, finge - que todo privilégio e toda discriminação são odiosos?

O que faz a fábrica? Joga fora o brinquedo anacrônico? Não. Recicla. E, para que não seja acusada de hipocrisia, recicla sob forma auto-irônica e auto-paródica de um filme. 

Assim como o comediante de stand-up ganha a plateia se auto depreciando, a Mattel "reabilita" sua boneca, diversificando-a em vários avatares e, por fim, a ridiculariza para humanizá-la. 

Essa Barbie, moldada à perfeição por sua criadora, Ruth Handler, aspira à imperfeição humana (à maneira do Pinóquio, de Collodi) para tornar-se vendável, mais do que nunca, em nosso transtornado mundo contemporâneo. 

Nesse mundo auto-referente criado pelo filme, até mesmo os CEOs, homens brancos da Mattel, entram na ciranda. Sim, sim, somos todos iguais, e portanto suscetíveis de gozação, nessa dimensão idealizada do capitalismo, na qual algo como a luta de classes parece démodé como a boneca loira dos anos 1950. Estamos todos juntos nesse mundo em que "qualquer um(a) pode ser aquilo que desejar" - eis a fantasia suprema do nosso tempo. 

Barbie não deixa de ser uma operação de marketing bem-sucedida, neste que é, talvez, o mais longo e caro comercial de todos os tempos. Vimos a maneira como o produto foi lançado - em escala planetária, monopolizando espaços e mídia com sua aura cor-de-rosa. 

Para assinar a obra, dois nomes descolados - Greta Gerwig e Noah Baumbach - signos da modernidade norte-americana e, portanto, dignos de reverência e imitação universal. Para interpretar a Boneca típica, ninguém menos que a ariana Margot Robbie; e como Ken, seu partner, Ryan Gosling - devidamente desenhado de forma tosca porque, convenhamos, no pós #Metoo, toda figura masculina deve ser ridícula e/ou predadora, de preferência ambas. Como o pessoal da pub não brinca em serviço, a narração em off vem na voz de uma grande atriz, Helen Mirren. 

Tirando essas operações bastante óbvias de recuperação e manipulação, embaladas num feminismo pedestre e catártico (ofensivo ao feminismo sério), o filme, em si, me pareceu bastante tosco. Enjoativo como um bolo de nutella coberto de glacê, falsamente irônico em algumas partes e meloso em seu desfecho. Tem tudo para fazer muito sucesso. 

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Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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