Cinema, cultura & afins

Opinião|'Casa Izabel', espaço de crossdressing na época da ditadura


Por Luiz Zanin Oricchio
 

Depois de fazer a abertura do Olhar de Cinema do ano passado, o paranaense Casa Izabel, de Gil Baroni, chega ao circuito comercial. O longa foi inspirado nas fotos da Casa Susanna, local de crossdressing em Jewett, Nova York, nos Estados Unidos dos anos 1950. As fotos deram origem a um livro, que serviu de inspiração ao filme brasileiro. 

Escrito na época das eleições de 2018, Casa Izabel inclui elementos nacionais e também o clima daquele ano em que o eleitorado patrício decidiu eleger como presidente um defensor da ditadura e retrógrado no campo dos costumes. Enfim, esse momento histórico, por afinidade, levou o filme a ser ambientado nos anos 1970, em plena ditadura dos militares brasileiros.

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Casa Izabel começa com a chegada à comunidade de um novato, aliás, novata, já que a comunidade toda se trata no feminino, e sua transfiguração em versão mulher, inclusive com novo nome, Regina. A casa é liderada por Izabel (Luís Mello), espécie de matriarca, que se encontra doente e separada da comunidade. Mas é quem continua a ditar regras na maison. 

Como bem destacou o ator Luís Mello, o filme ganha sua força na estranheza da situação - e não adianta esconder essa condição. Mesmo porque a estranheza costuma ser criativa, como indicou Sigmund Freud no famoso ensaio Das Unheimliche, termo já traduzido de diversas maneiras, inclusive como "estranho familiar". Os surrealistas bem perceberam esse potencial estético (e político) do inusitado e, entre eles, mais que todos, um certo diretor espanhol chamado Luís Buñuel. 

Não cito o bruxo por acaso neste breve comentário. Casa Izabel tem momentos que lembram muito a estética da estranheza de Buñuel e seu poder corrosivo e crítico. O encontro inusitado gera essa sensação, como é o caso da interação desses distintos senhores vestidos de senhoritas. 

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Não se trata de uma idealização. Na casa há desavenças e rivalidades, pelas quais se filtram elementos de agressividade, mas também de afeto. O mundo externo, uma sociedade dilacerada pela ditadura, também manda seus sinais. E estes produzem efeito sobre as moradoras da casa. 

Esse é o dado político, que pode ser intuído mais nas entrelinhas que nas linhas do enredo. Mas, em muitos sentidos, Casa Izabel é, também, um filme musical, conduzido pelas sessões da pianista clássica (Jeferson Ulbrich), que interpreta suas peças de modo diegético. A trilha sonora, como disse um dos trilheiros, Fábio Perez, busca uma sonoridade de psicodelia, costurando a parte diegética do piano com a trilha propriamente dita. De fato, a massa musical é um dos elementos mais ricos do longa. 

Por outro lado, o desenho visual de Casa Izabel busca enquadramentos próximos e bastante iluminados das personagens. Não para  exotizá-las, porque isso o filme nunca busca. Mas, talvez, para explicitar sua dimensão, bem, não há outra palavra, próxima da estranheza, que é o seu motor interno. Como de perto, ninguém é normal, como diz Caetano Veloso, o filme trata da diversidade. De sua dificuldade em ser aceita e da necessária superação do estranhamento, que é o outro nome de civilidade.  Vale muito a pena ser visto - e meditado, se não for pedir muito. 

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Depois de fazer a abertura do Olhar de Cinema do ano passado, o paranaense Casa Izabel, de Gil Baroni, chega ao circuito comercial. O longa foi inspirado nas fotos da Casa Susanna, local de crossdressing em Jewett, Nova York, nos Estados Unidos dos anos 1950. As fotos deram origem a um livro, que serviu de inspiração ao filme brasileiro. 

Escrito na época das eleições de 2018, Casa Izabel inclui elementos nacionais e também o clima daquele ano em que o eleitorado patrício decidiu eleger como presidente um defensor da ditadura e retrógrado no campo dos costumes. Enfim, esse momento histórico, por afinidade, levou o filme a ser ambientado nos anos 1970, em plena ditadura dos militares brasileiros.

Casa Izabel começa com a chegada à comunidade de um novato, aliás, novata, já que a comunidade toda se trata no feminino, e sua transfiguração em versão mulher, inclusive com novo nome, Regina. A casa é liderada por Izabel (Luís Mello), espécie de matriarca, que se encontra doente e separada da comunidade. Mas é quem continua a ditar regras na maison. 

Como bem destacou o ator Luís Mello, o filme ganha sua força na estranheza da situação - e não adianta esconder essa condição. Mesmo porque a estranheza costuma ser criativa, como indicou Sigmund Freud no famoso ensaio Das Unheimliche, termo já traduzido de diversas maneiras, inclusive como "estranho familiar". Os surrealistas bem perceberam esse potencial estético (e político) do inusitado e, entre eles, mais que todos, um certo diretor espanhol chamado Luís Buñuel. 

Não cito o bruxo por acaso neste breve comentário. Casa Izabel tem momentos que lembram muito a estética da estranheza de Buñuel e seu poder corrosivo e crítico. O encontro inusitado gera essa sensação, como é o caso da interação desses distintos senhores vestidos de senhoritas. 

Não se trata de uma idealização. Na casa há desavenças e rivalidades, pelas quais se filtram elementos de agressividade, mas também de afeto. O mundo externo, uma sociedade dilacerada pela ditadura, também manda seus sinais. E estes produzem efeito sobre as moradoras da casa. 

Esse é o dado político, que pode ser intuído mais nas entrelinhas que nas linhas do enredo. Mas, em muitos sentidos, Casa Izabel é, também, um filme musical, conduzido pelas sessões da pianista clássica (Jeferson Ulbrich), que interpreta suas peças de modo diegético. A trilha sonora, como disse um dos trilheiros, Fábio Perez, busca uma sonoridade de psicodelia, costurando a parte diegética do piano com a trilha propriamente dita. De fato, a massa musical é um dos elementos mais ricos do longa. 

Por outro lado, o desenho visual de Casa Izabel busca enquadramentos próximos e bastante iluminados das personagens. Não para  exotizá-las, porque isso o filme nunca busca. Mas, talvez, para explicitar sua dimensão, bem, não há outra palavra, próxima da estranheza, que é o seu motor interno. Como de perto, ninguém é normal, como diz Caetano Veloso, o filme trata da diversidade. De sua dificuldade em ser aceita e da necessária superação do estranhamento, que é o outro nome de civilidade.  Vale muito a pena ser visto - e meditado, se não for pedir muito. 

 

 

Depois de fazer a abertura do Olhar de Cinema do ano passado, o paranaense Casa Izabel, de Gil Baroni, chega ao circuito comercial. O longa foi inspirado nas fotos da Casa Susanna, local de crossdressing em Jewett, Nova York, nos Estados Unidos dos anos 1950. As fotos deram origem a um livro, que serviu de inspiração ao filme brasileiro. 

Escrito na época das eleições de 2018, Casa Izabel inclui elementos nacionais e também o clima daquele ano em que o eleitorado patrício decidiu eleger como presidente um defensor da ditadura e retrógrado no campo dos costumes. Enfim, esse momento histórico, por afinidade, levou o filme a ser ambientado nos anos 1970, em plena ditadura dos militares brasileiros.

Casa Izabel começa com a chegada à comunidade de um novato, aliás, novata, já que a comunidade toda se trata no feminino, e sua transfiguração em versão mulher, inclusive com novo nome, Regina. A casa é liderada por Izabel (Luís Mello), espécie de matriarca, que se encontra doente e separada da comunidade. Mas é quem continua a ditar regras na maison. 

Como bem destacou o ator Luís Mello, o filme ganha sua força na estranheza da situação - e não adianta esconder essa condição. Mesmo porque a estranheza costuma ser criativa, como indicou Sigmund Freud no famoso ensaio Das Unheimliche, termo já traduzido de diversas maneiras, inclusive como "estranho familiar". Os surrealistas bem perceberam esse potencial estético (e político) do inusitado e, entre eles, mais que todos, um certo diretor espanhol chamado Luís Buñuel. 

Não cito o bruxo por acaso neste breve comentário. Casa Izabel tem momentos que lembram muito a estética da estranheza de Buñuel e seu poder corrosivo e crítico. O encontro inusitado gera essa sensação, como é o caso da interação desses distintos senhores vestidos de senhoritas. 

Não se trata de uma idealização. Na casa há desavenças e rivalidades, pelas quais se filtram elementos de agressividade, mas também de afeto. O mundo externo, uma sociedade dilacerada pela ditadura, também manda seus sinais. E estes produzem efeito sobre as moradoras da casa. 

Esse é o dado político, que pode ser intuído mais nas entrelinhas que nas linhas do enredo. Mas, em muitos sentidos, Casa Izabel é, também, um filme musical, conduzido pelas sessões da pianista clássica (Jeferson Ulbrich), que interpreta suas peças de modo diegético. A trilha sonora, como disse um dos trilheiros, Fábio Perez, busca uma sonoridade de psicodelia, costurando a parte diegética do piano com a trilha propriamente dita. De fato, a massa musical é um dos elementos mais ricos do longa. 

Por outro lado, o desenho visual de Casa Izabel busca enquadramentos próximos e bastante iluminados das personagens. Não para  exotizá-las, porque isso o filme nunca busca. Mas, talvez, para explicitar sua dimensão, bem, não há outra palavra, próxima da estranheza, que é o seu motor interno. Como de perto, ninguém é normal, como diz Caetano Veloso, o filme trata da diversidade. De sua dificuldade em ser aceita e da necessária superação do estranhamento, que é o outro nome de civilidade.  Vale muito a pena ser visto - e meditado, se não for pedir muito. 

 

 

Depois de fazer a abertura do Olhar de Cinema do ano passado, o paranaense Casa Izabel, de Gil Baroni, chega ao circuito comercial. O longa foi inspirado nas fotos da Casa Susanna, local de crossdressing em Jewett, Nova York, nos Estados Unidos dos anos 1950. As fotos deram origem a um livro, que serviu de inspiração ao filme brasileiro. 

Escrito na época das eleições de 2018, Casa Izabel inclui elementos nacionais e também o clima daquele ano em que o eleitorado patrício decidiu eleger como presidente um defensor da ditadura e retrógrado no campo dos costumes. Enfim, esse momento histórico, por afinidade, levou o filme a ser ambientado nos anos 1970, em plena ditadura dos militares brasileiros.

Casa Izabel começa com a chegada à comunidade de um novato, aliás, novata, já que a comunidade toda se trata no feminino, e sua transfiguração em versão mulher, inclusive com novo nome, Regina. A casa é liderada por Izabel (Luís Mello), espécie de matriarca, que se encontra doente e separada da comunidade. Mas é quem continua a ditar regras na maison. 

Como bem destacou o ator Luís Mello, o filme ganha sua força na estranheza da situação - e não adianta esconder essa condição. Mesmo porque a estranheza costuma ser criativa, como indicou Sigmund Freud no famoso ensaio Das Unheimliche, termo já traduzido de diversas maneiras, inclusive como "estranho familiar". Os surrealistas bem perceberam esse potencial estético (e político) do inusitado e, entre eles, mais que todos, um certo diretor espanhol chamado Luís Buñuel. 

Não cito o bruxo por acaso neste breve comentário. Casa Izabel tem momentos que lembram muito a estética da estranheza de Buñuel e seu poder corrosivo e crítico. O encontro inusitado gera essa sensação, como é o caso da interação desses distintos senhores vestidos de senhoritas. 

Não se trata de uma idealização. Na casa há desavenças e rivalidades, pelas quais se filtram elementos de agressividade, mas também de afeto. O mundo externo, uma sociedade dilacerada pela ditadura, também manda seus sinais. E estes produzem efeito sobre as moradoras da casa. 

Esse é o dado político, que pode ser intuído mais nas entrelinhas que nas linhas do enredo. Mas, em muitos sentidos, Casa Izabel é, também, um filme musical, conduzido pelas sessões da pianista clássica (Jeferson Ulbrich), que interpreta suas peças de modo diegético. A trilha sonora, como disse um dos trilheiros, Fábio Perez, busca uma sonoridade de psicodelia, costurando a parte diegética do piano com a trilha propriamente dita. De fato, a massa musical é um dos elementos mais ricos do longa. 

Por outro lado, o desenho visual de Casa Izabel busca enquadramentos próximos e bastante iluminados das personagens. Não para  exotizá-las, porque isso o filme nunca busca. Mas, talvez, para explicitar sua dimensão, bem, não há outra palavra, próxima da estranheza, que é o seu motor interno. Como de perto, ninguém é normal, como diz Caetano Veloso, o filme trata da diversidade. De sua dificuldade em ser aceita e da necessária superação do estranhamento, que é o outro nome de civilidade.  Vale muito a pena ser visto - e meditado, se não for pedir muito. 

 

Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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