OURO PRETO
Virando a chave, saio de Curitiba e entro de cabeça no Cine OP, em Ouro Preto. A abertura, ontem no Cine Vila Rica, teve homenagem à atriz Maria Gladys, uma das musas do assim chamado "cinema marginal". Aplaudida em pé por vários minutos, Gladys falou muito bem. Lembrou a época difícil da ditadura, o exílio em Londres, o tipo de cinema de que participou. Encerrou a fala com um "Lula Livre", que contagiou a plateia.
Foi um belo início, que teve também música, textos (de Torquato Neto) e toda uma invocação cênica à temática deste ano, e que explica também a homenagem a Maria Gladys: o Tropicalismo, movimento que, à sua maneira, resistiu esteticamente à ditadura, e abriu novos caminhos para as artes do País. Mesmo quando seus principais artistas se viram obrigados a buscar refúgio no exterior, como Gilberto Gil e Caetano Veloso, e o cineasta Neville D'Almeida, presente em Ouro Preto e um dos que entregaram o Troféu Barroco a Gladys, junto com o também diretor Geraldo Velloso.
Em seguida, foi exibido um dos filmes emblemáticos do movimento - Sem Essa, Aranha, de Rogério Sganzerla, com Maria Gladys e Helena Ignez contracenando com Jorge Loredo, o Zé Bonitinho, e mais as presenças musicais (e cênicas) de Luiz Gonzaga e Moreira da Silva. Na tela, um jorro de imagens aparentemente caótico, que tenta responder a irrespondível questão: que país era aquele?
A perplexidade desesperada do final dos anos 1960 e 1970 encontra eco na realidade brasileira contemporânea. Tão diferente em muitos aspectos, tão parecida em outros, em especial, na carnavalização institucional que procura uma aparência de normalidade dentro da exceção.
Hoje, pela manhã, o seminário Vanguarda Tropical: O Cinema e as Outras Artes discutirá esta e outras questões. Na mesa, os professores Celso Favaretto, Ivana Bentes e João Luis Vieira, mediados por Lila Foster. Começam os debates do Cine OP em meio às exigências da Copa do Mundo. Haja fôlego!