Cinema, cultura & afins

Opinião|CineBH 2024: Possessão Suprema e Ausente, do transe libertário aos dilemas da educação


Por Luiz Zanin Oricchio
 

 

Diário crítico (4)

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BELO HORIZONTE - Um filme fora da curva - o colombiano Possessão Suprema - surpreendeu os espectadores da CineBH. O segundo - o brasileiro Ausente - foi um acontecimento. Documentário sobre a evasão escolar (entre outras questões), teve a presença de um grupo de alunos secundaristas da cidade, que vibravam ao se ver na tela do Cine Humberto Mauro, sede da mostra Território. 

Possessão Suprema, de Lucas Silva, põe em cena o personagem mítico Benkos Biohó, guerreiro quilombola que escapou da escravidão e fundou o Palenque de San Basilio, tido como a primeira cidade livre da América. Assim reza a lenda. 

No filme, membros da comunidade palenqueira narram a história do herói. A câmera de Silva filma a celebração de modo livre e não linear. Aliás, a obra toda - para o bem e para o mal - é uma festa da liberdade. Pede uma imersão acrítica para que se frua essa obra de tom musical e performática. Quem quiser algo mais, digamos, cartesiano, vá procurar em outra parte. 

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Na conversa após a sessão, o próprio Silva revelou-se um personagem à altura de sua obra. Definiu seu país como "uma farsa" e proclamou-se admirador e discípulo de Glauber Rocha. Prega outro tipo de narrativa para o cinema, diferente daquela dos colonizadores. 

Parte do público abandonou a sala. Quem ficou, adorou. Ou pelo menos foi o que disseram ao cineasta. "Quero o espectador imerso nesse transe", disse o diretor. E mais: "Esse filme é uma espécie de cura espiritual. Deveria ser visto de forma livre, em looping, ou em partes pequenas, depois retomado e de forma aleatória, como a música". Enfim, é entrar no jogo. Ou não. 

Ausente, de Ana Carolina Soares, é todo ao contrário. Um doc, embora também de proposta imersiva, completamente estruturado e com um propósito definido à vista - pelo viés da evasão escolar, lançar um olhar abrangente sobre o ensino médio no país. Ou, pelo menos, em Belo Horizonte. 

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O palco é a Escola Estadual Professora Alaíde Lisboa de Oliveira, situada no bairro de Taquaril. Filmado ao longo de um ano letivo, com duração de 150 minutos, o doc traz seus personagens - alunos, professores, funcionários, direção - para perto do público. Todos, de certa forma, sobrecarregados de problemas, excesso de trabalho, questões familiares, didáticas, etc, etc. O de sempre na atual conjuntura da educação pública secundária no país. 

 

Filmes sobre escolas dão sempre certo - a partir de Zéro de Conduite, clássico de Jean Vigo, passando por Entre os Muros da Escola, de Laurent Cantet, e Pro Dia Nascer Feliz, de João Jardim. São microcosmos sociais, que não apenas reproduzem, em escala reduzida, as contradições do espaço social mais amplo, mas as expõem à luz do dia, com mais clareza. São um retrato pelo qual se observa a sociedade e seu funcionamento. 

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Seguimos as mães, que acorrem à escola para tentar resolver os problemas dos filhos (os pais estão ausentes). Vemos o corpo docente, em suas reuniões, discutindo se aprovam ou não determinados alunos. A questão dos "faltosos" sempre volta à baila. Por que deixam a escola? Preguiça, desleixo, falta de estímulo, problemas reais? Cada caso é um caso. 

Mas, em meio a essas particularidades, surgem as questões sociais - da gravidez precoce, ao envolvimento com drogas e com o tráfico. Pais ausentes e mães sobrecarregadas. Pobreza. Racismo. E assim vai. 

Em meio ao que poderia sugerir o caos, surgem pontas de esperança no futuro e funcionários abnegados, como a vice-diretora Daniela, que passa boa parte do tempo ao telefone tentando encontrar jovens que, apesar de matriculados, simplesmente somem da escola. Impossível não se comover. 

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Gostei também da entrevista que se seguiu à sessão. Os alunos foram embora, por causa do horário avançado. Ana Carolina respondeu aos espectadores que se sentiram incomodados com a ausência dos alunos no debate. Ela mesma se incomodou, mas disse que havia uma questão logística para reconduzi-lo às suas casas naquele horário - a sessão terminou por volta de meia-noite. 

Sincera, Ana Carolina, cineasta que foi também professora, confessou que é difícil se relacionar com os jovens. Há uma distância quase intransponível entre eles e nós, ela admite, o que pouca gente tem coragem de dizer. Como diminuir essa distância ou encontrar frestas para franqueá-la? Não se sabe.

O documentário é abrangente mas mostra tudo? Não. Impossível fazê-lo. Há o bom senso de omitir partes mais problemáticas e também questões legais, para não infringir o Estatuto da Criança e do Adolescente. De novo: poucos documentaristas têm a coragem de admitir, com todas as letras, que seus filmes são retratos apenas parciais daquilo que chamamos "real". 

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Mesmo que parcial, o retrato de Ausente assusta. E comove. "Gostaria que fosse visto pelas autoridades da educação", diz a diretora. De fato, seria pedagógico. 

 

 

 

Diário crítico (4)

BELO HORIZONTE - Um filme fora da curva - o colombiano Possessão Suprema - surpreendeu os espectadores da CineBH. O segundo - o brasileiro Ausente - foi um acontecimento. Documentário sobre a evasão escolar (entre outras questões), teve a presença de um grupo de alunos secundaristas da cidade, que vibravam ao se ver na tela do Cine Humberto Mauro, sede da mostra Território. 

Possessão Suprema, de Lucas Silva, põe em cena o personagem mítico Benkos Biohó, guerreiro quilombola que escapou da escravidão e fundou o Palenque de San Basilio, tido como a primeira cidade livre da América. Assim reza a lenda. 

No filme, membros da comunidade palenqueira narram a história do herói. A câmera de Silva filma a celebração de modo livre e não linear. Aliás, a obra toda - para o bem e para o mal - é uma festa da liberdade. Pede uma imersão acrítica para que se frua essa obra de tom musical e performática. Quem quiser algo mais, digamos, cartesiano, vá procurar em outra parte. 

Na conversa após a sessão, o próprio Silva revelou-se um personagem à altura de sua obra. Definiu seu país como "uma farsa" e proclamou-se admirador e discípulo de Glauber Rocha. Prega outro tipo de narrativa para o cinema, diferente daquela dos colonizadores. 

Parte do público abandonou a sala. Quem ficou, adorou. Ou pelo menos foi o que disseram ao cineasta. "Quero o espectador imerso nesse transe", disse o diretor. E mais: "Esse filme é uma espécie de cura espiritual. Deveria ser visto de forma livre, em looping, ou em partes pequenas, depois retomado e de forma aleatória, como a música". Enfim, é entrar no jogo. Ou não. 

Ausente, de Ana Carolina Soares, é todo ao contrário. Um doc, embora também de proposta imersiva, completamente estruturado e com um propósito definido à vista - pelo viés da evasão escolar, lançar um olhar abrangente sobre o ensino médio no país. Ou, pelo menos, em Belo Horizonte. 

O palco é a Escola Estadual Professora Alaíde Lisboa de Oliveira, situada no bairro de Taquaril. Filmado ao longo de um ano letivo, com duração de 150 minutos, o doc traz seus personagens - alunos, professores, funcionários, direção - para perto do público. Todos, de certa forma, sobrecarregados de problemas, excesso de trabalho, questões familiares, didáticas, etc, etc. O de sempre na atual conjuntura da educação pública secundária no país. 

 

Filmes sobre escolas dão sempre certo - a partir de Zéro de Conduite, clássico de Jean Vigo, passando por Entre os Muros da Escola, de Laurent Cantet, e Pro Dia Nascer Feliz, de João Jardim. São microcosmos sociais, que não apenas reproduzem, em escala reduzida, as contradições do espaço social mais amplo, mas as expõem à luz do dia, com mais clareza. São um retrato pelo qual se observa a sociedade e seu funcionamento. 

Seguimos as mães, que acorrem à escola para tentar resolver os problemas dos filhos (os pais estão ausentes). Vemos o corpo docente, em suas reuniões, discutindo se aprovam ou não determinados alunos. A questão dos "faltosos" sempre volta à baila. Por que deixam a escola? Preguiça, desleixo, falta de estímulo, problemas reais? Cada caso é um caso. 

Mas, em meio a essas particularidades, surgem as questões sociais - da gravidez precoce, ao envolvimento com drogas e com o tráfico. Pais ausentes e mães sobrecarregadas. Pobreza. Racismo. E assim vai. 

Em meio ao que poderia sugerir o caos, surgem pontas de esperança no futuro e funcionários abnegados, como a vice-diretora Daniela, que passa boa parte do tempo ao telefone tentando encontrar jovens que, apesar de matriculados, simplesmente somem da escola. Impossível não se comover. 

Gostei também da entrevista que se seguiu à sessão. Os alunos foram embora, por causa do horário avançado. Ana Carolina respondeu aos espectadores que se sentiram incomodados com a ausência dos alunos no debate. Ela mesma se incomodou, mas disse que havia uma questão logística para reconduzi-lo às suas casas naquele horário - a sessão terminou por volta de meia-noite. 

Sincera, Ana Carolina, cineasta que foi também professora, confessou que é difícil se relacionar com os jovens. Há uma distância quase intransponível entre eles e nós, ela admite, o que pouca gente tem coragem de dizer. Como diminuir essa distância ou encontrar frestas para franqueá-la? Não se sabe.

O documentário é abrangente mas mostra tudo? Não. Impossível fazê-lo. Há o bom senso de omitir partes mais problemáticas e também questões legais, para não infringir o Estatuto da Criança e do Adolescente. De novo: poucos documentaristas têm a coragem de admitir, com todas as letras, que seus filmes são retratos apenas parciais daquilo que chamamos "real". 

Mesmo que parcial, o retrato de Ausente assusta. E comove. "Gostaria que fosse visto pelas autoridades da educação", diz a diretora. De fato, seria pedagógico. 

 

 

 

Diário crítico (4)

BELO HORIZONTE - Um filme fora da curva - o colombiano Possessão Suprema - surpreendeu os espectadores da CineBH. O segundo - o brasileiro Ausente - foi um acontecimento. Documentário sobre a evasão escolar (entre outras questões), teve a presença de um grupo de alunos secundaristas da cidade, que vibravam ao se ver na tela do Cine Humberto Mauro, sede da mostra Território. 

Possessão Suprema, de Lucas Silva, põe em cena o personagem mítico Benkos Biohó, guerreiro quilombola que escapou da escravidão e fundou o Palenque de San Basilio, tido como a primeira cidade livre da América. Assim reza a lenda. 

No filme, membros da comunidade palenqueira narram a história do herói. A câmera de Silva filma a celebração de modo livre e não linear. Aliás, a obra toda - para o bem e para o mal - é uma festa da liberdade. Pede uma imersão acrítica para que se frua essa obra de tom musical e performática. Quem quiser algo mais, digamos, cartesiano, vá procurar em outra parte. 

Na conversa após a sessão, o próprio Silva revelou-se um personagem à altura de sua obra. Definiu seu país como "uma farsa" e proclamou-se admirador e discípulo de Glauber Rocha. Prega outro tipo de narrativa para o cinema, diferente daquela dos colonizadores. 

Parte do público abandonou a sala. Quem ficou, adorou. Ou pelo menos foi o que disseram ao cineasta. "Quero o espectador imerso nesse transe", disse o diretor. E mais: "Esse filme é uma espécie de cura espiritual. Deveria ser visto de forma livre, em looping, ou em partes pequenas, depois retomado e de forma aleatória, como a música". Enfim, é entrar no jogo. Ou não. 

Ausente, de Ana Carolina Soares, é todo ao contrário. Um doc, embora também de proposta imersiva, completamente estruturado e com um propósito definido à vista - pelo viés da evasão escolar, lançar um olhar abrangente sobre o ensino médio no país. Ou, pelo menos, em Belo Horizonte. 

O palco é a Escola Estadual Professora Alaíde Lisboa de Oliveira, situada no bairro de Taquaril. Filmado ao longo de um ano letivo, com duração de 150 minutos, o doc traz seus personagens - alunos, professores, funcionários, direção - para perto do público. Todos, de certa forma, sobrecarregados de problemas, excesso de trabalho, questões familiares, didáticas, etc, etc. O de sempre na atual conjuntura da educação pública secundária no país. 

 

Filmes sobre escolas dão sempre certo - a partir de Zéro de Conduite, clássico de Jean Vigo, passando por Entre os Muros da Escola, de Laurent Cantet, e Pro Dia Nascer Feliz, de João Jardim. São microcosmos sociais, que não apenas reproduzem, em escala reduzida, as contradições do espaço social mais amplo, mas as expõem à luz do dia, com mais clareza. São um retrato pelo qual se observa a sociedade e seu funcionamento. 

Seguimos as mães, que acorrem à escola para tentar resolver os problemas dos filhos (os pais estão ausentes). Vemos o corpo docente, em suas reuniões, discutindo se aprovam ou não determinados alunos. A questão dos "faltosos" sempre volta à baila. Por que deixam a escola? Preguiça, desleixo, falta de estímulo, problemas reais? Cada caso é um caso. 

Mas, em meio a essas particularidades, surgem as questões sociais - da gravidez precoce, ao envolvimento com drogas e com o tráfico. Pais ausentes e mães sobrecarregadas. Pobreza. Racismo. E assim vai. 

Em meio ao que poderia sugerir o caos, surgem pontas de esperança no futuro e funcionários abnegados, como a vice-diretora Daniela, que passa boa parte do tempo ao telefone tentando encontrar jovens que, apesar de matriculados, simplesmente somem da escola. Impossível não se comover. 

Gostei também da entrevista que se seguiu à sessão. Os alunos foram embora, por causa do horário avançado. Ana Carolina respondeu aos espectadores que se sentiram incomodados com a ausência dos alunos no debate. Ela mesma se incomodou, mas disse que havia uma questão logística para reconduzi-lo às suas casas naquele horário - a sessão terminou por volta de meia-noite. 

Sincera, Ana Carolina, cineasta que foi também professora, confessou que é difícil se relacionar com os jovens. Há uma distância quase intransponível entre eles e nós, ela admite, o que pouca gente tem coragem de dizer. Como diminuir essa distância ou encontrar frestas para franqueá-la? Não se sabe.

O documentário é abrangente mas mostra tudo? Não. Impossível fazê-lo. Há o bom senso de omitir partes mais problemáticas e também questões legais, para não infringir o Estatuto da Criança e do Adolescente. De novo: poucos documentaristas têm a coragem de admitir, com todas as letras, que seus filmes são retratos apenas parciais daquilo que chamamos "real". 

Mesmo que parcial, o retrato de Ausente assusta. E comove. "Gostaria que fosse visto pelas autoridades da educação", diz a diretora. De fato, seria pedagógico. 

 

 

 

Diário crítico (4)

BELO HORIZONTE - Um filme fora da curva - o colombiano Possessão Suprema - surpreendeu os espectadores da CineBH. O segundo - o brasileiro Ausente - foi um acontecimento. Documentário sobre a evasão escolar (entre outras questões), teve a presença de um grupo de alunos secundaristas da cidade, que vibravam ao se ver na tela do Cine Humberto Mauro, sede da mostra Território. 

Possessão Suprema, de Lucas Silva, põe em cena o personagem mítico Benkos Biohó, guerreiro quilombola que escapou da escravidão e fundou o Palenque de San Basilio, tido como a primeira cidade livre da América. Assim reza a lenda. 

No filme, membros da comunidade palenqueira narram a história do herói. A câmera de Silva filma a celebração de modo livre e não linear. Aliás, a obra toda - para o bem e para o mal - é uma festa da liberdade. Pede uma imersão acrítica para que se frua essa obra de tom musical e performática. Quem quiser algo mais, digamos, cartesiano, vá procurar em outra parte. 

Na conversa após a sessão, o próprio Silva revelou-se um personagem à altura de sua obra. Definiu seu país como "uma farsa" e proclamou-se admirador e discípulo de Glauber Rocha. Prega outro tipo de narrativa para o cinema, diferente daquela dos colonizadores. 

Parte do público abandonou a sala. Quem ficou, adorou. Ou pelo menos foi o que disseram ao cineasta. "Quero o espectador imerso nesse transe", disse o diretor. E mais: "Esse filme é uma espécie de cura espiritual. Deveria ser visto de forma livre, em looping, ou em partes pequenas, depois retomado e de forma aleatória, como a música". Enfim, é entrar no jogo. Ou não. 

Ausente, de Ana Carolina Soares, é todo ao contrário. Um doc, embora também de proposta imersiva, completamente estruturado e com um propósito definido à vista - pelo viés da evasão escolar, lançar um olhar abrangente sobre o ensino médio no país. Ou, pelo menos, em Belo Horizonte. 

O palco é a Escola Estadual Professora Alaíde Lisboa de Oliveira, situada no bairro de Taquaril. Filmado ao longo de um ano letivo, com duração de 150 minutos, o doc traz seus personagens - alunos, professores, funcionários, direção - para perto do público. Todos, de certa forma, sobrecarregados de problemas, excesso de trabalho, questões familiares, didáticas, etc, etc. O de sempre na atual conjuntura da educação pública secundária no país. 

 

Filmes sobre escolas dão sempre certo - a partir de Zéro de Conduite, clássico de Jean Vigo, passando por Entre os Muros da Escola, de Laurent Cantet, e Pro Dia Nascer Feliz, de João Jardim. São microcosmos sociais, que não apenas reproduzem, em escala reduzida, as contradições do espaço social mais amplo, mas as expõem à luz do dia, com mais clareza. São um retrato pelo qual se observa a sociedade e seu funcionamento. 

Seguimos as mães, que acorrem à escola para tentar resolver os problemas dos filhos (os pais estão ausentes). Vemos o corpo docente, em suas reuniões, discutindo se aprovam ou não determinados alunos. A questão dos "faltosos" sempre volta à baila. Por que deixam a escola? Preguiça, desleixo, falta de estímulo, problemas reais? Cada caso é um caso. 

Mas, em meio a essas particularidades, surgem as questões sociais - da gravidez precoce, ao envolvimento com drogas e com o tráfico. Pais ausentes e mães sobrecarregadas. Pobreza. Racismo. E assim vai. 

Em meio ao que poderia sugerir o caos, surgem pontas de esperança no futuro e funcionários abnegados, como a vice-diretora Daniela, que passa boa parte do tempo ao telefone tentando encontrar jovens que, apesar de matriculados, simplesmente somem da escola. Impossível não se comover. 

Gostei também da entrevista que se seguiu à sessão. Os alunos foram embora, por causa do horário avançado. Ana Carolina respondeu aos espectadores que se sentiram incomodados com a ausência dos alunos no debate. Ela mesma se incomodou, mas disse que havia uma questão logística para reconduzi-lo às suas casas naquele horário - a sessão terminou por volta de meia-noite. 

Sincera, Ana Carolina, cineasta que foi também professora, confessou que é difícil se relacionar com os jovens. Há uma distância quase intransponível entre eles e nós, ela admite, o que pouca gente tem coragem de dizer. Como diminuir essa distância ou encontrar frestas para franqueá-la? Não se sabe.

O documentário é abrangente mas mostra tudo? Não. Impossível fazê-lo. Há o bom senso de omitir partes mais problemáticas e também questões legais, para não infringir o Estatuto da Criança e do Adolescente. De novo: poucos documentaristas têm a coragem de admitir, com todas as letras, que seus filmes são retratos apenas parciais daquilo que chamamos "real". 

Mesmo que parcial, o retrato de Ausente assusta. E comove. "Gostaria que fosse visto pelas autoridades da educação", diz a diretora. De fato, seria pedagógico. 

 

Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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