Tomara seja assim, pois, apesar da boa qualidade de alguns filmes, os problemas da fórmula adotada por Brasília ficaram visíveis. Primeiro, não se justifica a divisão rígida entre documentários e ficção numa época em que muitas obras são limítrofes entre gêneros. O caso simbólico aconteceu com Esse Amor que nos Consome que, na dúvida, inscreveu-se nas duas categorias. Foi selecionado como ficção, como poderia ter sido como documentário. Vários outros filmes estão no mesmo caso.
A divisão, parece, foi feita apenas para inchar o festival e atender às reivindicações de classe dos realizadores. Dessa maneira, segmentou-se entre ficção, documentários e animações (estes apenas como curtas). Houve prêmios para todos os lados e gostos. Na noite de encerramento, distribuíram-se nada menos que 70 troféus. Cada um recebido com o inevitável discurso de agradecimento. Imaginem o tédio da cerimônia. E houve quem sugerisse o televisionamento do evento. Quem veria tal espetáculo?
Com o inchaço de filmes e categorias, as obras deixaram de ser discutidas como se deve - característica mais marcante na tradição de um festival reflexivo e político como o de Brasília. Urge voltar à sua inspiração inicial.
A conclusão é de que falta curadoria ao evento. Um grupo de pessoas qualificadas, capaz de pensá-lo estrategicamente e em nome do seu único fim legítimo, a apresentação de uma amostragem de filmes que retrate tendências e sua discussão em profundidade. O festival está sem rumo e à mercê de grupos de pressão.