Cinema, cultura & afins

Opinião|Estranho Caminho


?Que estranho caminho, pai, eu tive de trilhar para te encontrar?. Esta frase se encontra no novo filme de Guto Parente - não vou dizer se no início,  meio ou fim.  Dá título ao filme e, de imediato, lembra a frase de um clássico de Robert Bresson, Pickpocket, que, por sua vez, é uma citação de Dostoievski. Mas, durante a projeção, me lembrou outra frase famosa, pelo menos parecida a esta: ?Não está vendo, pai,que eu queimo?? Essa frase foi relatada a Freud por um paciente. O homem perde o filho e, exausto, adormece durante o velório. Em seu sonho, o filho o admoesta com a frase famosa: ?Pai, não está vendo que eu queimo?? Assustado, o homem desperta e vê que, de fato, uma vela havia caído sobre o caixão do filho e ateado fogo aos tecidos que vestiam o corpo do menino. A história comovente está no clássico da psicanálise, A interpretação dos sonhos. Ilustra um bom número de aspectos do psiquismo humano, mas também evoca esse elo entre pais e filhos, que parece ir além da distância, e mesmo além dos limites entre a vida e a morte - e não é preciso ser religioso para acreditar nisso. 

Por Luiz Zanin Oricchio

 

"Que estranho caminho, pai, eu tive de trilhar para te encontrar". Esta frase se encontra no novo filme de Guto Parente - não vou dizer se no início,  meio ou fim. 

Dá título ao filme e, de imediato, lembra a frase de um clássico de Robert Bresson, Pickpocket, que, por sua vez, é uma citação de Dostoievski. Mas, durante a projeção, me lembrou outra frase famosa, pelo menos parecida a esta: "Não está vendo, pai,que eu queimo?" Essa frase foi relatada a Freud por um paciente. O homem perde o filho e, exausto, adormece durante o velório. Em seu sonho, o filho o admoesta com a frase famosa: "Pai, não está vendo que eu queimo?" Assustado, o homem desperta e vê que, de fato, uma vela havia caído sobre o caixão do filho e ateado fogo aos tecidos que vestiam o corpo do menino. A história comovente está no clássico da psicanálise, A interpretação dos sonhos. Ilustra um bom número de aspectos do psiquismo humano, mas também evoca esse elo entre pais e filhos, que parece ir além da distância, e mesmo além dos limites entre a vida e a morte - e não é preciso ser religioso para acreditar nisso. 

continua após a publicidade
 

Na ficção de Guto Parente também comparecem os elementos do fantástico e do onírico na história de reencontro entre pai e filho. David (Lucas Limeira) é cineasta, mora em Portugal e volta a Fortaleza para apresentar seu filme em um festival. Vem a pandemia e tudo é suspenso. Mas ele quer também encontrar o pai, Geraldo (Carlos Francisco), que não vê há muitos anos. Quando o hotel em que David está hospedado fecha, esse reencontro é forçado, porque ele tem de encontrar um lugar onde morar até que consiga voltar para sua residência, na Europa. 

O fantástico, introduzido de forma abrupta numa trama muito bem filmada, produz certo pasmo. Talvez seja essa mesma a ideia do fantástico: ser um raio em céu azul, produzir o efeito de estranhamento quando menos se espera por ele. 

continua após a publicidade

Na história (mas sem entregar muito do enredo), o pai de David é um autor de livros de auto-ajuda. Aconselha famílias a serem mais unidas e os seres humanos, mais generosos entre si. Há aí uma dissonância que será percebida pelo espectador na comparação entre o que Geraldo escreve e como se comporta em relação ao filho que vem procurá-lo. 

Se a relação pai-filho se mostra cheia de arestas, a própria ambientação parece um tanto fantasmagórica, com uma Fortaleza semi-deserta devido ao isolamento forçado pela pandemia. Todos os que viveram esse período sabem que uma certa irrealidade pairava no ar. Não apenas por um desastre epidemiológico que ceifava vidas e atemorizava sobreviventes, mas pela maneira criminosa como o (des)governo de então "colaborava" com a doença, voltando-se contra a população. Quem viveu, e sobreviveu, viu. Talvez um dos grandes méritos do filme de Guto Parente seja captar esse clima, à maneira cinematográfica, quer dizer, valendo-se de mais imagens e menos discursos. 

Estranho Caminho é mais um exemplar da forte safra cearense que tem chegado a festivais e ao circuito - como A Filha do Palhaço, de Pedro Diógenes, Mais Pesado é o Céu, de Petrus Cariry e, nesta sexta-feira, na abertura do Festival de Gramado, Motel Destino, de Karim Aïnouz, que já passou por Cannes.  

continua após a publicidade

 

 

"Que estranho caminho, pai, eu tive de trilhar para te encontrar". Esta frase se encontra no novo filme de Guto Parente - não vou dizer se no início,  meio ou fim. 

Dá título ao filme e, de imediato, lembra a frase de um clássico de Robert Bresson, Pickpocket, que, por sua vez, é uma citação de Dostoievski. Mas, durante a projeção, me lembrou outra frase famosa, pelo menos parecida a esta: "Não está vendo, pai,que eu queimo?" Essa frase foi relatada a Freud por um paciente. O homem perde o filho e, exausto, adormece durante o velório. Em seu sonho, o filho o admoesta com a frase famosa: "Pai, não está vendo que eu queimo?" Assustado, o homem desperta e vê que, de fato, uma vela havia caído sobre o caixão do filho e ateado fogo aos tecidos que vestiam o corpo do menino. A história comovente está no clássico da psicanálise, A interpretação dos sonhos. Ilustra um bom número de aspectos do psiquismo humano, mas também evoca esse elo entre pais e filhos, que parece ir além da distância, e mesmo além dos limites entre a vida e a morte - e não é preciso ser religioso para acreditar nisso. 

 

Na ficção de Guto Parente também comparecem os elementos do fantástico e do onírico na história de reencontro entre pai e filho. David (Lucas Limeira) é cineasta, mora em Portugal e volta a Fortaleza para apresentar seu filme em um festival. Vem a pandemia e tudo é suspenso. Mas ele quer também encontrar o pai, Geraldo (Carlos Francisco), que não vê há muitos anos. Quando o hotel em que David está hospedado fecha, esse reencontro é forçado, porque ele tem de encontrar um lugar onde morar até que consiga voltar para sua residência, na Europa. 

O fantástico, introduzido de forma abrupta numa trama muito bem filmada, produz certo pasmo. Talvez seja essa mesma a ideia do fantástico: ser um raio em céu azul, produzir o efeito de estranhamento quando menos se espera por ele. 

Na história (mas sem entregar muito do enredo), o pai de David é um autor de livros de auto-ajuda. Aconselha famílias a serem mais unidas e os seres humanos, mais generosos entre si. Há aí uma dissonância que será percebida pelo espectador na comparação entre o que Geraldo escreve e como se comporta em relação ao filho que vem procurá-lo. 

Se a relação pai-filho se mostra cheia de arestas, a própria ambientação parece um tanto fantasmagórica, com uma Fortaleza semi-deserta devido ao isolamento forçado pela pandemia. Todos os que viveram esse período sabem que uma certa irrealidade pairava no ar. Não apenas por um desastre epidemiológico que ceifava vidas e atemorizava sobreviventes, mas pela maneira criminosa como o (des)governo de então "colaborava" com a doença, voltando-se contra a população. Quem viveu, e sobreviveu, viu. Talvez um dos grandes méritos do filme de Guto Parente seja captar esse clima, à maneira cinematográfica, quer dizer, valendo-se de mais imagens e menos discursos. 

Estranho Caminho é mais um exemplar da forte safra cearense que tem chegado a festivais e ao circuito - como A Filha do Palhaço, de Pedro Diógenes, Mais Pesado é o Céu, de Petrus Cariry e, nesta sexta-feira, na abertura do Festival de Gramado, Motel Destino, de Karim Aïnouz, que já passou por Cannes.  

 

 

"Que estranho caminho, pai, eu tive de trilhar para te encontrar". Esta frase se encontra no novo filme de Guto Parente - não vou dizer se no início,  meio ou fim. 

Dá título ao filme e, de imediato, lembra a frase de um clássico de Robert Bresson, Pickpocket, que, por sua vez, é uma citação de Dostoievski. Mas, durante a projeção, me lembrou outra frase famosa, pelo menos parecida a esta: "Não está vendo, pai,que eu queimo?" Essa frase foi relatada a Freud por um paciente. O homem perde o filho e, exausto, adormece durante o velório. Em seu sonho, o filho o admoesta com a frase famosa: "Pai, não está vendo que eu queimo?" Assustado, o homem desperta e vê que, de fato, uma vela havia caído sobre o caixão do filho e ateado fogo aos tecidos que vestiam o corpo do menino. A história comovente está no clássico da psicanálise, A interpretação dos sonhos. Ilustra um bom número de aspectos do psiquismo humano, mas também evoca esse elo entre pais e filhos, que parece ir além da distância, e mesmo além dos limites entre a vida e a morte - e não é preciso ser religioso para acreditar nisso. 

 

Na ficção de Guto Parente também comparecem os elementos do fantástico e do onírico na história de reencontro entre pai e filho. David (Lucas Limeira) é cineasta, mora em Portugal e volta a Fortaleza para apresentar seu filme em um festival. Vem a pandemia e tudo é suspenso. Mas ele quer também encontrar o pai, Geraldo (Carlos Francisco), que não vê há muitos anos. Quando o hotel em que David está hospedado fecha, esse reencontro é forçado, porque ele tem de encontrar um lugar onde morar até que consiga voltar para sua residência, na Europa. 

O fantástico, introduzido de forma abrupta numa trama muito bem filmada, produz certo pasmo. Talvez seja essa mesma a ideia do fantástico: ser um raio em céu azul, produzir o efeito de estranhamento quando menos se espera por ele. 

Na história (mas sem entregar muito do enredo), o pai de David é um autor de livros de auto-ajuda. Aconselha famílias a serem mais unidas e os seres humanos, mais generosos entre si. Há aí uma dissonância que será percebida pelo espectador na comparação entre o que Geraldo escreve e como se comporta em relação ao filho que vem procurá-lo. 

Se a relação pai-filho se mostra cheia de arestas, a própria ambientação parece um tanto fantasmagórica, com uma Fortaleza semi-deserta devido ao isolamento forçado pela pandemia. Todos os que viveram esse período sabem que uma certa irrealidade pairava no ar. Não apenas por um desastre epidemiológico que ceifava vidas e atemorizava sobreviventes, mas pela maneira criminosa como o (des)governo de então "colaborava" com a doença, voltando-se contra a população. Quem viveu, e sobreviveu, viu. Talvez um dos grandes méritos do filme de Guto Parente seja captar esse clima, à maneira cinematográfica, quer dizer, valendo-se de mais imagens e menos discursos. 

Estranho Caminho é mais um exemplar da forte safra cearense que tem chegado a festivais e ao circuito - como A Filha do Palhaço, de Pedro Diógenes, Mais Pesado é o Céu, de Petrus Cariry e, nesta sexta-feira, na abertura do Festival de Gramado, Motel Destino, de Karim Aïnouz, que já passou por Cannes.  

 

 

"Que estranho caminho, pai, eu tive de trilhar para te encontrar". Esta frase se encontra no novo filme de Guto Parente - não vou dizer se no início,  meio ou fim. 

Dá título ao filme e, de imediato, lembra a frase de um clássico de Robert Bresson, Pickpocket, que, por sua vez, é uma citação de Dostoievski. Mas, durante a projeção, me lembrou outra frase famosa, pelo menos parecida a esta: "Não está vendo, pai,que eu queimo?" Essa frase foi relatada a Freud por um paciente. O homem perde o filho e, exausto, adormece durante o velório. Em seu sonho, o filho o admoesta com a frase famosa: "Pai, não está vendo que eu queimo?" Assustado, o homem desperta e vê que, de fato, uma vela havia caído sobre o caixão do filho e ateado fogo aos tecidos que vestiam o corpo do menino. A história comovente está no clássico da psicanálise, A interpretação dos sonhos. Ilustra um bom número de aspectos do psiquismo humano, mas também evoca esse elo entre pais e filhos, que parece ir além da distância, e mesmo além dos limites entre a vida e a morte - e não é preciso ser religioso para acreditar nisso. 

 

Na ficção de Guto Parente também comparecem os elementos do fantástico e do onírico na história de reencontro entre pai e filho. David (Lucas Limeira) é cineasta, mora em Portugal e volta a Fortaleza para apresentar seu filme em um festival. Vem a pandemia e tudo é suspenso. Mas ele quer também encontrar o pai, Geraldo (Carlos Francisco), que não vê há muitos anos. Quando o hotel em que David está hospedado fecha, esse reencontro é forçado, porque ele tem de encontrar um lugar onde morar até que consiga voltar para sua residência, na Europa. 

O fantástico, introduzido de forma abrupta numa trama muito bem filmada, produz certo pasmo. Talvez seja essa mesma a ideia do fantástico: ser um raio em céu azul, produzir o efeito de estranhamento quando menos se espera por ele. 

Na história (mas sem entregar muito do enredo), o pai de David é um autor de livros de auto-ajuda. Aconselha famílias a serem mais unidas e os seres humanos, mais generosos entre si. Há aí uma dissonância que será percebida pelo espectador na comparação entre o que Geraldo escreve e como se comporta em relação ao filho que vem procurá-lo. 

Se a relação pai-filho se mostra cheia de arestas, a própria ambientação parece um tanto fantasmagórica, com uma Fortaleza semi-deserta devido ao isolamento forçado pela pandemia. Todos os que viveram esse período sabem que uma certa irrealidade pairava no ar. Não apenas por um desastre epidemiológico que ceifava vidas e atemorizava sobreviventes, mas pela maneira criminosa como o (des)governo de então "colaborava" com a doença, voltando-se contra a população. Quem viveu, e sobreviveu, viu. Talvez um dos grandes méritos do filme de Guto Parente seja captar esse clima, à maneira cinematográfica, quer dizer, valendo-se de mais imagens e menos discursos. 

Estranho Caminho é mais um exemplar da forte safra cearense que tem chegado a festivais e ao circuito - como A Filha do Palhaço, de Pedro Diógenes, Mais Pesado é o Céu, de Petrus Cariry e, nesta sexta-feira, na abertura do Festival de Gramado, Motel Destino, de Karim Aïnouz, que já passou por Cannes.  

 

 

"Que estranho caminho, pai, eu tive de trilhar para te encontrar". Esta frase se encontra no novo filme de Guto Parente - não vou dizer se no início,  meio ou fim. 

Dá título ao filme e, de imediato, lembra a frase de um clássico de Robert Bresson, Pickpocket, que, por sua vez, é uma citação de Dostoievski. Mas, durante a projeção, me lembrou outra frase famosa, pelo menos parecida a esta: "Não está vendo, pai,que eu queimo?" Essa frase foi relatada a Freud por um paciente. O homem perde o filho e, exausto, adormece durante o velório. Em seu sonho, o filho o admoesta com a frase famosa: "Pai, não está vendo que eu queimo?" Assustado, o homem desperta e vê que, de fato, uma vela havia caído sobre o caixão do filho e ateado fogo aos tecidos que vestiam o corpo do menino. A história comovente está no clássico da psicanálise, A interpretação dos sonhos. Ilustra um bom número de aspectos do psiquismo humano, mas também evoca esse elo entre pais e filhos, que parece ir além da distância, e mesmo além dos limites entre a vida e a morte - e não é preciso ser religioso para acreditar nisso. 

 

Na ficção de Guto Parente também comparecem os elementos do fantástico e do onírico na história de reencontro entre pai e filho. David (Lucas Limeira) é cineasta, mora em Portugal e volta a Fortaleza para apresentar seu filme em um festival. Vem a pandemia e tudo é suspenso. Mas ele quer também encontrar o pai, Geraldo (Carlos Francisco), que não vê há muitos anos. Quando o hotel em que David está hospedado fecha, esse reencontro é forçado, porque ele tem de encontrar um lugar onde morar até que consiga voltar para sua residência, na Europa. 

O fantástico, introduzido de forma abrupta numa trama muito bem filmada, produz certo pasmo. Talvez seja essa mesma a ideia do fantástico: ser um raio em céu azul, produzir o efeito de estranhamento quando menos se espera por ele. 

Na história (mas sem entregar muito do enredo), o pai de David é um autor de livros de auto-ajuda. Aconselha famílias a serem mais unidas e os seres humanos, mais generosos entre si. Há aí uma dissonância que será percebida pelo espectador na comparação entre o que Geraldo escreve e como se comporta em relação ao filho que vem procurá-lo. 

Se a relação pai-filho se mostra cheia de arestas, a própria ambientação parece um tanto fantasmagórica, com uma Fortaleza semi-deserta devido ao isolamento forçado pela pandemia. Todos os que viveram esse período sabem que uma certa irrealidade pairava no ar. Não apenas por um desastre epidemiológico que ceifava vidas e atemorizava sobreviventes, mas pela maneira criminosa como o (des)governo de então "colaborava" com a doença, voltando-se contra a população. Quem viveu, e sobreviveu, viu. Talvez um dos grandes méritos do filme de Guto Parente seja captar esse clima, à maneira cinematográfica, quer dizer, valendo-se de mais imagens e menos discursos. 

Estranho Caminho é mais um exemplar da forte safra cearense que tem chegado a festivais e ao circuito - como A Filha do Palhaço, de Pedro Diógenes, Mais Pesado é o Céu, de Petrus Cariry e, nesta sexta-feira, na abertura do Festival de Gramado, Motel Destino, de Karim Aïnouz, que já passou por Cannes.  

 

Tudo Sobre
Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.