Cinema, cultura & afins

Opinião|Gauguin no MASP


Por Luiz Zanin Oricchio

 

 
 
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Visitando a exposição de Gauguin no MASP, lembrei que anos atrás havia lido uma coisa inteligente de Giulio Carlo Argan sobre o pintor. Não foi difícil encontrar: 

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"Os quadros de Gauguin não têm relevo nem profundidade, mas não são planos, inteiramente resolvidos na superfície, como os de Manet. A profundidade deles não é espacial, e sim temporal. Não é o instante fixado, como em Degas ou Toulouse, nem o tempo que flui, como posteriormente em Bonnard;é um tempo distante e profundo, sobre o qual a imagem do presente se assenta e se dilata, como nenúfar na água parada."

Argan traduz em palavras aquilo que sentimos vagamente, em nossa emoção, ao contemplar os quadros. Estamos no encantamento diante de algo como um vago paraíso perdido. Mas também temos à nossa frente uma espécie de meditação sobre o tempo. O tempo que tudo devora (tempus edax rerum). Mas também esse "tempo distante e profundo" que Gauguin via (e talvez buscasse) na sua ilha polinésia. 

Mais adiante no texto, é como se Argan respondesse aos que hoje se referem a Gauguin como um vulgar macho branco ocidental, com espírito de colonizador: 

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"Na poética de Gauguin, sente-se fortemente uma exigência ética que leva a uma intervenção direta nas situações (e não a fúteis evasões). Se, para dar um sentido ativo à função da imaginação, é preciso afastar-se da sociedade moderna, é porque nela não há mais espaço nem tempo para a imaginação. Sua vontade de 'rejuvenescer' numa mítica barbárie é uma sugestão ao mundo 'civilizado' para que inverta a rota. E tal sugestão era particularmente oportuna num momento em que o mundo 'civilizado' sustentava seu progresso sobre a não-civilização, o escândalo moral do colonialismo. Como não perceber que Gauguin, ao ir procurar - e não levar - a civilização entre os mitos indígenas da Polinésia, estava condenando a barbárie essencial do colonialismo?"

(Arte Moderna, p.131, Cia das Letras). 

Palavras que são um bálsamo depois de lermos tantas platitudes anacrônicas a respeito desta importante exposição de 40 obras do pintor francês.

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A visita ao MASP equivale a um banho de beleza, uma forma de felicidade da qual andamos bem necessitados. 

 

 
 
 
 

Visitando a exposição de Gauguin no MASP, lembrei que anos atrás havia lido uma coisa inteligente de Giulio Carlo Argan sobre o pintor. Não foi difícil encontrar: 

"Os quadros de Gauguin não têm relevo nem profundidade, mas não são planos, inteiramente resolvidos na superfície, como os de Manet. A profundidade deles não é espacial, e sim temporal. Não é o instante fixado, como em Degas ou Toulouse, nem o tempo que flui, como posteriormente em Bonnard;é um tempo distante e profundo, sobre o qual a imagem do presente se assenta e se dilata, como nenúfar na água parada."

Argan traduz em palavras aquilo que sentimos vagamente, em nossa emoção, ao contemplar os quadros. Estamos no encantamento diante de algo como um vago paraíso perdido. Mas também temos à nossa frente uma espécie de meditação sobre o tempo. O tempo que tudo devora (tempus edax rerum). Mas também esse "tempo distante e profundo" que Gauguin via (e talvez buscasse) na sua ilha polinésia. 

Mais adiante no texto, é como se Argan respondesse aos que hoje se referem a Gauguin como um vulgar macho branco ocidental, com espírito de colonizador: 

"Na poética de Gauguin, sente-se fortemente uma exigência ética que leva a uma intervenção direta nas situações (e não a fúteis evasões). Se, para dar um sentido ativo à função da imaginação, é preciso afastar-se da sociedade moderna, é porque nela não há mais espaço nem tempo para a imaginação. Sua vontade de 'rejuvenescer' numa mítica barbárie é uma sugestão ao mundo 'civilizado' para que inverta a rota. E tal sugestão era particularmente oportuna num momento em que o mundo 'civilizado' sustentava seu progresso sobre a não-civilização, o escândalo moral do colonialismo. Como não perceber que Gauguin, ao ir procurar - e não levar - a civilização entre os mitos indígenas da Polinésia, estava condenando a barbárie essencial do colonialismo?"

(Arte Moderna, p.131, Cia das Letras). 

Palavras que são um bálsamo depois de lermos tantas platitudes anacrônicas a respeito desta importante exposição de 40 obras do pintor francês.

A visita ao MASP equivale a um banho de beleza, uma forma de felicidade da qual andamos bem necessitados. 

 

 
 
 
 

Visitando a exposição de Gauguin no MASP, lembrei que anos atrás havia lido uma coisa inteligente de Giulio Carlo Argan sobre o pintor. Não foi difícil encontrar: 

"Os quadros de Gauguin não têm relevo nem profundidade, mas não são planos, inteiramente resolvidos na superfície, como os de Manet. A profundidade deles não é espacial, e sim temporal. Não é o instante fixado, como em Degas ou Toulouse, nem o tempo que flui, como posteriormente em Bonnard;é um tempo distante e profundo, sobre o qual a imagem do presente se assenta e se dilata, como nenúfar na água parada."

Argan traduz em palavras aquilo que sentimos vagamente, em nossa emoção, ao contemplar os quadros. Estamos no encantamento diante de algo como um vago paraíso perdido. Mas também temos à nossa frente uma espécie de meditação sobre o tempo. O tempo que tudo devora (tempus edax rerum). Mas também esse "tempo distante e profundo" que Gauguin via (e talvez buscasse) na sua ilha polinésia. 

Mais adiante no texto, é como se Argan respondesse aos que hoje se referem a Gauguin como um vulgar macho branco ocidental, com espírito de colonizador: 

"Na poética de Gauguin, sente-se fortemente uma exigência ética que leva a uma intervenção direta nas situações (e não a fúteis evasões). Se, para dar um sentido ativo à função da imaginação, é preciso afastar-se da sociedade moderna, é porque nela não há mais espaço nem tempo para a imaginação. Sua vontade de 'rejuvenescer' numa mítica barbárie é uma sugestão ao mundo 'civilizado' para que inverta a rota. E tal sugestão era particularmente oportuna num momento em que o mundo 'civilizado' sustentava seu progresso sobre a não-civilização, o escândalo moral do colonialismo. Como não perceber que Gauguin, ao ir procurar - e não levar - a civilização entre os mitos indígenas da Polinésia, estava condenando a barbárie essencial do colonialismo?"

(Arte Moderna, p.131, Cia das Letras). 

Palavras que são um bálsamo depois de lermos tantas platitudes anacrônicas a respeito desta importante exposição de 40 obras do pintor francês.

A visita ao MASP equivale a um banho de beleza, uma forma de felicidade da qual andamos bem necessitados. 

 

 
 
 
 

Visitando a exposição de Gauguin no MASP, lembrei que anos atrás havia lido uma coisa inteligente de Giulio Carlo Argan sobre o pintor. Não foi difícil encontrar: 

"Os quadros de Gauguin não têm relevo nem profundidade, mas não são planos, inteiramente resolvidos na superfície, como os de Manet. A profundidade deles não é espacial, e sim temporal. Não é o instante fixado, como em Degas ou Toulouse, nem o tempo que flui, como posteriormente em Bonnard;é um tempo distante e profundo, sobre o qual a imagem do presente se assenta e se dilata, como nenúfar na água parada."

Argan traduz em palavras aquilo que sentimos vagamente, em nossa emoção, ao contemplar os quadros. Estamos no encantamento diante de algo como um vago paraíso perdido. Mas também temos à nossa frente uma espécie de meditação sobre o tempo. O tempo que tudo devora (tempus edax rerum). Mas também esse "tempo distante e profundo" que Gauguin via (e talvez buscasse) na sua ilha polinésia. 

Mais adiante no texto, é como se Argan respondesse aos que hoje se referem a Gauguin como um vulgar macho branco ocidental, com espírito de colonizador: 

"Na poética de Gauguin, sente-se fortemente uma exigência ética que leva a uma intervenção direta nas situações (e não a fúteis evasões). Se, para dar um sentido ativo à função da imaginação, é preciso afastar-se da sociedade moderna, é porque nela não há mais espaço nem tempo para a imaginação. Sua vontade de 'rejuvenescer' numa mítica barbárie é uma sugestão ao mundo 'civilizado' para que inverta a rota. E tal sugestão era particularmente oportuna num momento em que o mundo 'civilizado' sustentava seu progresso sobre a não-civilização, o escândalo moral do colonialismo. Como não perceber que Gauguin, ao ir procurar - e não levar - a civilização entre os mitos indígenas da Polinésia, estava condenando a barbárie essencial do colonialismo?"

(Arte Moderna, p.131, Cia das Letras). 

Palavras que são um bálsamo depois de lermos tantas platitudes anacrônicas a respeito desta importante exposição de 40 obras do pintor francês.

A visita ao MASP equivale a um banho de beleza, uma forma de felicidade da qual andamos bem necessitados. 

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Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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