Cinema, cultura & afins

Opinião|Gramado 2024: Com 'Pasárgada', a boa estreia da atriz Dira Paes na direção


Por Luiz Zanin Oricchio

 

 

Diário crítico (6)

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Gramado - A estreia na direção da atriz Dira Paes agradou ao público do Palácio dos Festivais. Pasárgada, que toma emprestado talvez o poema mais conhecido de Manuel Bandeira, funciona em duas dobras, por assim dizer - a crise existencial de uma mulher e a defesa da natureza, sob a forma de denúncia do tráfico de animais silvestres - aves, no caso. 

Irene (vivida pela própria Dira) é uma ornitóloga, na ocasião trabalhando em um paraíso da mata atlântica, na serra fluminense. Ela registra cantos e imagens de pássaros e está atrás de um espécime, em particular, uma raridade. Que, por isso mesmo, torna-se valioso para colecionadores do exterior. Nota: como explica um cartaz do filme, o tráfico de animais silvestres é o terceiro maior no mundo, perdendo apenas para o de drogas e o de armas. Informação perturbadora, quando se pensa que esta é uma das maneiras mais crueis de depredar a natureza, tirando os animais do seu habitat e vendendo-os por uma fortuna para colecionadores. 

Mas a proposta de Pasárgada põe em cena não apenas a narração desse problema, mas propõe, especialmente, uma experiência imersiva ao espectador. É como se o desenho sonoro e fotográfico, a cadência lenta e espaçada de planos sequência muito bem desenhados, obrigasse o público a uma experiência com a qual ele não está acostumado. Vai na contramão das narrativas chapadas do streaming e mesmo da velocidade, com planos picotados, da maior parte do cinema contemporâneo. É quase um filme zen. 

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Irene é essa personagem em crise. Ela contrata um mateiro para acompanhá-la nas caminhadas pela floresta. Primeiro, o veterano Ciça que, por algum motivo, não comparece ao encontro marcado. Ele próprio indica um substituto, o jovem Manuel (Humberto Carrão), que passa a acompanhar a ornitóloga. 

Enquanto realiza seu trabalho, Irene busca em si mesma o significado de tudo aquilo. Conversa por skype com a irmã (Cássia Kis) e com um receptador europeu (Peter Ketnath). São conversas significativas para o desenho da personagem, do seu passado e do seu presente. 

O interessante é que as questões embutidas na história (culpa, desejo sexual, busca de identidade), surgem mais da matéria cinematográfica - imagens e sons - que de diálogos explicativos. Nota-se um processo de enxugamento do roteiro, que se torna mais lacônico, em proveito de espaços vazios para serem preenchidos pelos espectadores. 

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Pasárgada é uma ótima estreia na direção dessa grande atriz, que sempre trabalhou em produções arriscadas, em filmes como Amarelo Manga, Divino Amor, A Festa da Menina Morta, etc, e leva essa experiência para o trabalho de realização. A fotografia, deslumbrante, é de Pablo Baião, marido de Dira Paes.

 

 

 

Diário crítico (6)

Gramado - A estreia na direção da atriz Dira Paes agradou ao público do Palácio dos Festivais. Pasárgada, que toma emprestado talvez o poema mais conhecido de Manuel Bandeira, funciona em duas dobras, por assim dizer - a crise existencial de uma mulher e a defesa da natureza, sob a forma de denúncia do tráfico de animais silvestres - aves, no caso. 

Irene (vivida pela própria Dira) é uma ornitóloga, na ocasião trabalhando em um paraíso da mata atlântica, na serra fluminense. Ela registra cantos e imagens de pássaros e está atrás de um espécime, em particular, uma raridade. Que, por isso mesmo, torna-se valioso para colecionadores do exterior. Nota: como explica um cartaz do filme, o tráfico de animais silvestres é o terceiro maior no mundo, perdendo apenas para o de drogas e o de armas. Informação perturbadora, quando se pensa que esta é uma das maneiras mais crueis de depredar a natureza, tirando os animais do seu habitat e vendendo-os por uma fortuna para colecionadores. 

Mas a proposta de Pasárgada põe em cena não apenas a narração desse problema, mas propõe, especialmente, uma experiência imersiva ao espectador. É como se o desenho sonoro e fotográfico, a cadência lenta e espaçada de planos sequência muito bem desenhados, obrigasse o público a uma experiência com a qual ele não está acostumado. Vai na contramão das narrativas chapadas do streaming e mesmo da velocidade, com planos picotados, da maior parte do cinema contemporâneo. É quase um filme zen. 

Irene é essa personagem em crise. Ela contrata um mateiro para acompanhá-la nas caminhadas pela floresta. Primeiro, o veterano Ciça que, por algum motivo, não comparece ao encontro marcado. Ele próprio indica um substituto, o jovem Manuel (Humberto Carrão), que passa a acompanhar a ornitóloga. 

Enquanto realiza seu trabalho, Irene busca em si mesma o significado de tudo aquilo. Conversa por skype com a irmã (Cássia Kis) e com um receptador europeu (Peter Ketnath). São conversas significativas para o desenho da personagem, do seu passado e do seu presente. 

O interessante é que as questões embutidas na história (culpa, desejo sexual, busca de identidade), surgem mais da matéria cinematográfica - imagens e sons - que de diálogos explicativos. Nota-se um processo de enxugamento do roteiro, que se torna mais lacônico, em proveito de espaços vazios para serem preenchidos pelos espectadores. 

Pasárgada é uma ótima estreia na direção dessa grande atriz, que sempre trabalhou em produções arriscadas, em filmes como Amarelo Manga, Divino Amor, A Festa da Menina Morta, etc, e leva essa experiência para o trabalho de realização. A fotografia, deslumbrante, é de Pablo Baião, marido de Dira Paes.

 

 

 

Diário crítico (6)

Gramado - A estreia na direção da atriz Dira Paes agradou ao público do Palácio dos Festivais. Pasárgada, que toma emprestado talvez o poema mais conhecido de Manuel Bandeira, funciona em duas dobras, por assim dizer - a crise existencial de uma mulher e a defesa da natureza, sob a forma de denúncia do tráfico de animais silvestres - aves, no caso. 

Irene (vivida pela própria Dira) é uma ornitóloga, na ocasião trabalhando em um paraíso da mata atlântica, na serra fluminense. Ela registra cantos e imagens de pássaros e está atrás de um espécime, em particular, uma raridade. Que, por isso mesmo, torna-se valioso para colecionadores do exterior. Nota: como explica um cartaz do filme, o tráfico de animais silvestres é o terceiro maior no mundo, perdendo apenas para o de drogas e o de armas. Informação perturbadora, quando se pensa que esta é uma das maneiras mais crueis de depredar a natureza, tirando os animais do seu habitat e vendendo-os por uma fortuna para colecionadores. 

Mas a proposta de Pasárgada põe em cena não apenas a narração desse problema, mas propõe, especialmente, uma experiência imersiva ao espectador. É como se o desenho sonoro e fotográfico, a cadência lenta e espaçada de planos sequência muito bem desenhados, obrigasse o público a uma experiência com a qual ele não está acostumado. Vai na contramão das narrativas chapadas do streaming e mesmo da velocidade, com planos picotados, da maior parte do cinema contemporâneo. É quase um filme zen. 

Irene é essa personagem em crise. Ela contrata um mateiro para acompanhá-la nas caminhadas pela floresta. Primeiro, o veterano Ciça que, por algum motivo, não comparece ao encontro marcado. Ele próprio indica um substituto, o jovem Manuel (Humberto Carrão), que passa a acompanhar a ornitóloga. 

Enquanto realiza seu trabalho, Irene busca em si mesma o significado de tudo aquilo. Conversa por skype com a irmã (Cássia Kis) e com um receptador europeu (Peter Ketnath). São conversas significativas para o desenho da personagem, do seu passado e do seu presente. 

O interessante é que as questões embutidas na história (culpa, desejo sexual, busca de identidade), surgem mais da matéria cinematográfica - imagens e sons - que de diálogos explicativos. Nota-se um processo de enxugamento do roteiro, que se torna mais lacônico, em proveito de espaços vazios para serem preenchidos pelos espectadores. 

Pasárgada é uma ótima estreia na direção dessa grande atriz, que sempre trabalhou em produções arriscadas, em filmes como Amarelo Manga, Divino Amor, A Festa da Menina Morta, etc, e leva essa experiência para o trabalho de realização. A fotografia, deslumbrante, é de Pablo Baião, marido de Dira Paes.

 

 

 

Diário crítico (6)

Gramado - A estreia na direção da atriz Dira Paes agradou ao público do Palácio dos Festivais. Pasárgada, que toma emprestado talvez o poema mais conhecido de Manuel Bandeira, funciona em duas dobras, por assim dizer - a crise existencial de uma mulher e a defesa da natureza, sob a forma de denúncia do tráfico de animais silvestres - aves, no caso. 

Irene (vivida pela própria Dira) é uma ornitóloga, na ocasião trabalhando em um paraíso da mata atlântica, na serra fluminense. Ela registra cantos e imagens de pássaros e está atrás de um espécime, em particular, uma raridade. Que, por isso mesmo, torna-se valioso para colecionadores do exterior. Nota: como explica um cartaz do filme, o tráfico de animais silvestres é o terceiro maior no mundo, perdendo apenas para o de drogas e o de armas. Informação perturbadora, quando se pensa que esta é uma das maneiras mais crueis de depredar a natureza, tirando os animais do seu habitat e vendendo-os por uma fortuna para colecionadores. 

Mas a proposta de Pasárgada põe em cena não apenas a narração desse problema, mas propõe, especialmente, uma experiência imersiva ao espectador. É como se o desenho sonoro e fotográfico, a cadência lenta e espaçada de planos sequência muito bem desenhados, obrigasse o público a uma experiência com a qual ele não está acostumado. Vai na contramão das narrativas chapadas do streaming e mesmo da velocidade, com planos picotados, da maior parte do cinema contemporâneo. É quase um filme zen. 

Irene é essa personagem em crise. Ela contrata um mateiro para acompanhá-la nas caminhadas pela floresta. Primeiro, o veterano Ciça que, por algum motivo, não comparece ao encontro marcado. Ele próprio indica um substituto, o jovem Manuel (Humberto Carrão), que passa a acompanhar a ornitóloga. 

Enquanto realiza seu trabalho, Irene busca em si mesma o significado de tudo aquilo. Conversa por skype com a irmã (Cássia Kis) e com um receptador europeu (Peter Ketnath). São conversas significativas para o desenho da personagem, do seu passado e do seu presente. 

O interessante é que as questões embutidas na história (culpa, desejo sexual, busca de identidade), surgem mais da matéria cinematográfica - imagens e sons - que de diálogos explicativos. Nota-se um processo de enxugamento do roteiro, que se torna mais lacônico, em proveito de espaços vazios para serem preenchidos pelos espectadores. 

Pasárgada é uma ótima estreia na direção dessa grande atriz, que sempre trabalhou em produções arriscadas, em filmes como Amarelo Manga, Divino Amor, A Festa da Menina Morta, etc, e leva essa experiência para o trabalho de realização. A fotografia, deslumbrante, é de Pablo Baião, marido de Dira Paes.

 

Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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