Cinema, cultura & afins

Opinião|Mostra 2022.Triângulo da Tristeza: pode a arte ser sutil quando a vida não o é?


Por Luiz Zanin Oricchio

Triângulo da Tristeza, do sueco Ruben Östlund, foi o filme de abertura da Mostra Internacional de Cinema, em sessão para convidados na Cinemateca. Pode se tornar um dos filmes-cult desta Mostra de 2022, a começar pela fama que o precede, como vencedor da Palma de Ouro do Festival de Cannes, em decisão polêmica do júri. 

Em todo caso, polêmica está sempre por perto quando se trata de Östlund. Em seus filmes anteriores - Força Maior e The Square - A Arte da Discórdia (também Palma de Ouro) coloca incômodas questões éticas diante do espectador. No primeiro, um pai de família, diante de uma avalanche, trata de salvar a própria pele. No segundo, é uma visão quase entomológica sobre o corrupto mercado da arte contemporânea, povoado de fariseus e filisteus, picaretas e negociantes. Agora, o mundo dos ricos é colocado implacavelmente contra a parede. E mais - a ínfima espessura da capa de civilidade logo se dissolve e dá lugar a instintos primários quando a abundância torna-se necessidade. Há também o relacionamento entre classes sociais, talvez alusão distante a um clássico, A Regra do Jogo, de Jean Renoir.

Um casal de modelos e influencers, Yaya (Charlbi Dean Kriek) e Carl (Harris Dickinson), embarcam num cruzeiro de luxo e convivem com milionários, um capitão comunista (Woody Harrelson) e gente de todo tipo, da tripulação a um miliardário russo e um casal de traficantes de armas britânico, de impecáveis boas maneiras. Terminam, em petit comité, como náufragos em uma ilha, numa situação curiosa de inversão de poder entre os personagens.

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Há de tudo um pouco nesse filme ambicioso e feroz em relação ao hipercapitalismo do mundo atual. Do Renoir de A Regra do Jogo ao Fellini de E la Nave Va e mesmo ao Buñuel de O Anjo Exterminador. Mas aqui a comparação deve ser feita com reservas, porque se trata de gênios e Östlund, se não lhe falta verve, humor negro e indignação, parece carente de qualquer sentido de sutileza. Ou mesmo de algum rasgo de simpatia por algum dos seus personagens. Para resumir: ricos e pobres se equivalem, ninguém presta, tudo é podre e se resolve numa golfada de vômito. Verdade que o mundo contemporâneo não merece mesmo muita consideração. Mesmo assim, a sutileza pode ser vista como uma qualidade que introduz nuances onde se vê apenas brutalidade. 

Em todo caso, Triângulo da Tristeza levanta pelo menos uma dúvida cruel: a arte precisa ser sutil quando a vida não o é? 

 

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Horários de exibição

22/10

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20:30

CINE MARQUISE Sala 1

28/10

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18:00

CINESESC

02/11

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20:30

ESPAÇO ITAÚ DE CINEMA - FREI CANECA 1

 

Triângulo da Tristeza, do sueco Ruben Östlund, foi o filme de abertura da Mostra Internacional de Cinema, em sessão para convidados na Cinemateca. Pode se tornar um dos filmes-cult desta Mostra de 2022, a começar pela fama que o precede, como vencedor da Palma de Ouro do Festival de Cannes, em decisão polêmica do júri. 

Em todo caso, polêmica está sempre por perto quando se trata de Östlund. Em seus filmes anteriores - Força Maior e The Square - A Arte da Discórdia (também Palma de Ouro) coloca incômodas questões éticas diante do espectador. No primeiro, um pai de família, diante de uma avalanche, trata de salvar a própria pele. No segundo, é uma visão quase entomológica sobre o corrupto mercado da arte contemporânea, povoado de fariseus e filisteus, picaretas e negociantes. Agora, o mundo dos ricos é colocado implacavelmente contra a parede. E mais - a ínfima espessura da capa de civilidade logo se dissolve e dá lugar a instintos primários quando a abundância torna-se necessidade. Há também o relacionamento entre classes sociais, talvez alusão distante a um clássico, A Regra do Jogo, de Jean Renoir.

Um casal de modelos e influencers, Yaya (Charlbi Dean Kriek) e Carl (Harris Dickinson), embarcam num cruzeiro de luxo e convivem com milionários, um capitão comunista (Woody Harrelson) e gente de todo tipo, da tripulação a um miliardário russo e um casal de traficantes de armas britânico, de impecáveis boas maneiras. Terminam, em petit comité, como náufragos em uma ilha, numa situação curiosa de inversão de poder entre os personagens.

Há de tudo um pouco nesse filme ambicioso e feroz em relação ao hipercapitalismo do mundo atual. Do Renoir de A Regra do Jogo ao Fellini de E la Nave Va e mesmo ao Buñuel de O Anjo Exterminador. Mas aqui a comparação deve ser feita com reservas, porque se trata de gênios e Östlund, se não lhe falta verve, humor negro e indignação, parece carente de qualquer sentido de sutileza. Ou mesmo de algum rasgo de simpatia por algum dos seus personagens. Para resumir: ricos e pobres se equivalem, ninguém presta, tudo é podre e se resolve numa golfada de vômito. Verdade que o mundo contemporâneo não merece mesmo muita consideração. Mesmo assim, a sutileza pode ser vista como uma qualidade que introduz nuances onde se vê apenas brutalidade. 

Em todo caso, Triângulo da Tristeza levanta pelo menos uma dúvida cruel: a arte precisa ser sutil quando a vida não o é? 

 

 

Horários de exibição

22/10

20:30

CINE MARQUISE Sala 1

28/10

18:00

CINESESC

02/11

20:30

ESPAÇO ITAÚ DE CINEMA - FREI CANECA 1

 

Triângulo da Tristeza, do sueco Ruben Östlund, foi o filme de abertura da Mostra Internacional de Cinema, em sessão para convidados na Cinemateca. Pode se tornar um dos filmes-cult desta Mostra de 2022, a começar pela fama que o precede, como vencedor da Palma de Ouro do Festival de Cannes, em decisão polêmica do júri. 

Em todo caso, polêmica está sempre por perto quando se trata de Östlund. Em seus filmes anteriores - Força Maior e The Square - A Arte da Discórdia (também Palma de Ouro) coloca incômodas questões éticas diante do espectador. No primeiro, um pai de família, diante de uma avalanche, trata de salvar a própria pele. No segundo, é uma visão quase entomológica sobre o corrupto mercado da arte contemporânea, povoado de fariseus e filisteus, picaretas e negociantes. Agora, o mundo dos ricos é colocado implacavelmente contra a parede. E mais - a ínfima espessura da capa de civilidade logo se dissolve e dá lugar a instintos primários quando a abundância torna-se necessidade. Há também o relacionamento entre classes sociais, talvez alusão distante a um clássico, A Regra do Jogo, de Jean Renoir.

Um casal de modelos e influencers, Yaya (Charlbi Dean Kriek) e Carl (Harris Dickinson), embarcam num cruzeiro de luxo e convivem com milionários, um capitão comunista (Woody Harrelson) e gente de todo tipo, da tripulação a um miliardário russo e um casal de traficantes de armas britânico, de impecáveis boas maneiras. Terminam, em petit comité, como náufragos em uma ilha, numa situação curiosa de inversão de poder entre os personagens.

Há de tudo um pouco nesse filme ambicioso e feroz em relação ao hipercapitalismo do mundo atual. Do Renoir de A Regra do Jogo ao Fellini de E la Nave Va e mesmo ao Buñuel de O Anjo Exterminador. Mas aqui a comparação deve ser feita com reservas, porque se trata de gênios e Östlund, se não lhe falta verve, humor negro e indignação, parece carente de qualquer sentido de sutileza. Ou mesmo de algum rasgo de simpatia por algum dos seus personagens. Para resumir: ricos e pobres se equivalem, ninguém presta, tudo é podre e se resolve numa golfada de vômito. Verdade que o mundo contemporâneo não merece mesmo muita consideração. Mesmo assim, a sutileza pode ser vista como uma qualidade que introduz nuances onde se vê apenas brutalidade. 

Em todo caso, Triângulo da Tristeza levanta pelo menos uma dúvida cruel: a arte precisa ser sutil quando a vida não o é? 

 

 

Horários de exibição

22/10

20:30

CINE MARQUISE Sala 1

28/10

18:00

CINESESC

02/11

20:30

ESPAÇO ITAÚ DE CINEMA - FREI CANECA 1

 

Triângulo da Tristeza, do sueco Ruben Östlund, foi o filme de abertura da Mostra Internacional de Cinema, em sessão para convidados na Cinemateca. Pode se tornar um dos filmes-cult desta Mostra de 2022, a começar pela fama que o precede, como vencedor da Palma de Ouro do Festival de Cannes, em decisão polêmica do júri. 

Em todo caso, polêmica está sempre por perto quando se trata de Östlund. Em seus filmes anteriores - Força Maior e The Square - A Arte da Discórdia (também Palma de Ouro) coloca incômodas questões éticas diante do espectador. No primeiro, um pai de família, diante de uma avalanche, trata de salvar a própria pele. No segundo, é uma visão quase entomológica sobre o corrupto mercado da arte contemporânea, povoado de fariseus e filisteus, picaretas e negociantes. Agora, o mundo dos ricos é colocado implacavelmente contra a parede. E mais - a ínfima espessura da capa de civilidade logo se dissolve e dá lugar a instintos primários quando a abundância torna-se necessidade. Há também o relacionamento entre classes sociais, talvez alusão distante a um clássico, A Regra do Jogo, de Jean Renoir.

Um casal de modelos e influencers, Yaya (Charlbi Dean Kriek) e Carl (Harris Dickinson), embarcam num cruzeiro de luxo e convivem com milionários, um capitão comunista (Woody Harrelson) e gente de todo tipo, da tripulação a um miliardário russo e um casal de traficantes de armas britânico, de impecáveis boas maneiras. Terminam, em petit comité, como náufragos em uma ilha, numa situação curiosa de inversão de poder entre os personagens.

Há de tudo um pouco nesse filme ambicioso e feroz em relação ao hipercapitalismo do mundo atual. Do Renoir de A Regra do Jogo ao Fellini de E la Nave Va e mesmo ao Buñuel de O Anjo Exterminador. Mas aqui a comparação deve ser feita com reservas, porque se trata de gênios e Östlund, se não lhe falta verve, humor negro e indignação, parece carente de qualquer sentido de sutileza. Ou mesmo de algum rasgo de simpatia por algum dos seus personagens. Para resumir: ricos e pobres se equivalem, ninguém presta, tudo é podre e se resolve numa golfada de vômito. Verdade que o mundo contemporâneo não merece mesmo muita consideração. Mesmo assim, a sutileza pode ser vista como uma qualidade que introduz nuances onde se vê apenas brutalidade. 

Em todo caso, Triângulo da Tristeza levanta pelo menos uma dúvida cruel: a arte precisa ser sutil quando a vida não o é? 

 

 

Horários de exibição

22/10

20:30

CINE MARQUISE Sala 1

28/10

18:00

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Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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