Cinema, cultura & afins

Opinião|Mostra de Gostoso 2023: 'Quando eu me encontrar' cresce com o solo de uma grande atriz


Por Luiz Zanin Oricchio
Luciana Souza (à esquerda) como Marluce, a mãe da moça que sumiu no mundo  

São Miguel do Gostoso - Nem sempre vale a pena rever filmes. Mas às vezes sim. Vi Quando eu me encontrava no Olhar de Cinema e o revi aqui em Gostoso. Valeu a pena. 

Não que seja uma obra complexa, cheia de camadas que vão sendo desveladas a cada revisão. Nada disso. Mas há detalhes que podem escapar. Por exemplo, no belo plano-sequência, o melhor da obra, perceber detalhes no rosto que tanto expressa da personagem Marluce ao som de uma melancólica canção de Chico Buarque. Mas há mais: ela está num ônibus, sentada na janela e é filmada de fora. Como a janela está fechada, funciona com um meio espelho que vai refletindo as ruas também meio desoladas da cidade e as sobrepõe ao rosto da personagem. 

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É muito bonito e muito triste. E, para falar apenas no aspecto mais técnico da coisa, um exemplo de como o bom cinema encontra meios para expressar sentimentos, às vezes com poucas ou nenhuma palavra. À procura da filha, Marluce viera de um encontro frustrado com sua própria mãe, repetindo temas de amor materno frustrado, abandono, etc. Tudo está lá, naquele rosto, naquela cidade. 

De resto, minha percepção pouco mudou.  Continuo gostando do filme e mantendo que seu ponto alto é a grande atriz Luciana Souza. 

A história, tal como a vi: Dayane vai embora de casa. Deixa um recado para a mãe e põe o pé no mundo. A mãe, Marluce (Luciana Souza), a irmã, Mariana (Pipa) e o noivo, Antonio (David Santos), em graus diferentes entram em parafuso. 

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Tal é o mote singelo deste filme dirigido por Amanda Pontes e Michelline Helena: os efeitos de uma ausência súbita nas pessoas que ficam. E que tentam encontrar tanto o paradeiro de quem se foi quanto compreender as razões da partida. Entender é uma das paixões humanas. Atenua o luto, porque é bem de luto que se trata nesse filme vindo do Ceará, dirigido por duas mulheres e de alma feminina. 

As histórias de quem fica se expandem em direções distintas. Marluce se angustia e, no auge da tristeza, vai procurar a própria mãe, com quem tem contas a ajustar. Mariane entra em conflitos no colégio ao defender uma colega vítima de assédio. Antonio cai em depressão e frequenta a noite de Fortaleza em busca de algum alívio para seu romance frustrado. 

Nessas buscas noturnas, salta à vista a ambiguidade do personagem Antonio em sua relação com uma cantora da noite, amiga de sua noiva sumida. De forma explícita, ele a hostiliza e diz que era má influência para a namorada. Ao mesmo tempo, algo nela parece atraí-lo. No registro naturalista do filme, essa ambivalência dos dois personagens encorpa a psicologia da trama. 

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Nem tudo é convincente nessa história de abandono. O tom geral é irregular e há um certo didatismo na afirmação de pautas contemporâneas que entravam um pouco o andamento, o ritmo mesmo da obra. As reações intempestivas de Antonio buscam sublinhar o machismo estrutural, enquanto as personagens femininas reagem bem melhor às dificuldades e mesmo aos traumas. 

Não se pode dizer que haja muita fluidez entre essas preocupações e maneira como passam do plano das ideias para o da realização. 

No entanto, guardamos na memória a imagem da mãe vivida pela sempre excelente Luciana Souza. A melhor parte é um plano sequência de Marluce, viajando no ônibus, enquanto se ouve Uma Canção Desnaturada, de Chico Buarque. Sem necessidade de outras palavras que não as da canção, tudo se passa nesse rosto de mãe nos breves momentos em que o filme justifica a si mesmo e se expressa em seu grau máximo.  

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Luciana Souza (à esquerda) como Marluce, a mãe da moça que sumiu no mundo  

São Miguel do Gostoso - Nem sempre vale a pena rever filmes. Mas às vezes sim. Vi Quando eu me encontrava no Olhar de Cinema e o revi aqui em Gostoso. Valeu a pena. 

Não que seja uma obra complexa, cheia de camadas que vão sendo desveladas a cada revisão. Nada disso. Mas há detalhes que podem escapar. Por exemplo, no belo plano-sequência, o melhor da obra, perceber detalhes no rosto que tanto expressa da personagem Marluce ao som de uma melancólica canção de Chico Buarque. Mas há mais: ela está num ônibus, sentada na janela e é filmada de fora. Como a janela está fechada, funciona com um meio espelho que vai refletindo as ruas também meio desoladas da cidade e as sobrepõe ao rosto da personagem. 

É muito bonito e muito triste. E, para falar apenas no aspecto mais técnico da coisa, um exemplo de como o bom cinema encontra meios para expressar sentimentos, às vezes com poucas ou nenhuma palavra. À procura da filha, Marluce viera de um encontro frustrado com sua própria mãe, repetindo temas de amor materno frustrado, abandono, etc. Tudo está lá, naquele rosto, naquela cidade. 

De resto, minha percepção pouco mudou.  Continuo gostando do filme e mantendo que seu ponto alto é a grande atriz Luciana Souza. 

A história, tal como a vi: Dayane vai embora de casa. Deixa um recado para a mãe e põe o pé no mundo. A mãe, Marluce (Luciana Souza), a irmã, Mariana (Pipa) e o noivo, Antonio (David Santos), em graus diferentes entram em parafuso. 

Tal é o mote singelo deste filme dirigido por Amanda Pontes e Michelline Helena: os efeitos de uma ausência súbita nas pessoas que ficam. E que tentam encontrar tanto o paradeiro de quem se foi quanto compreender as razões da partida. Entender é uma das paixões humanas. Atenua o luto, porque é bem de luto que se trata nesse filme vindo do Ceará, dirigido por duas mulheres e de alma feminina. 

As histórias de quem fica se expandem em direções distintas. Marluce se angustia e, no auge da tristeza, vai procurar a própria mãe, com quem tem contas a ajustar. Mariane entra em conflitos no colégio ao defender uma colega vítima de assédio. Antonio cai em depressão e frequenta a noite de Fortaleza em busca de algum alívio para seu romance frustrado. 

Nessas buscas noturnas, salta à vista a ambiguidade do personagem Antonio em sua relação com uma cantora da noite, amiga de sua noiva sumida. De forma explícita, ele a hostiliza e diz que era má influência para a namorada. Ao mesmo tempo, algo nela parece atraí-lo. No registro naturalista do filme, essa ambivalência dos dois personagens encorpa a psicologia da trama. 

Nem tudo é convincente nessa história de abandono. O tom geral é irregular e há um certo didatismo na afirmação de pautas contemporâneas que entravam um pouco o andamento, o ritmo mesmo da obra. As reações intempestivas de Antonio buscam sublinhar o machismo estrutural, enquanto as personagens femininas reagem bem melhor às dificuldades e mesmo aos traumas. 

Não se pode dizer que haja muita fluidez entre essas preocupações e maneira como passam do plano das ideias para o da realização. 

No entanto, guardamos na memória a imagem da mãe vivida pela sempre excelente Luciana Souza. A melhor parte é um plano sequência de Marluce, viajando no ônibus, enquanto se ouve Uma Canção Desnaturada, de Chico Buarque. Sem necessidade de outras palavras que não as da canção, tudo se passa nesse rosto de mãe nos breves momentos em que o filme justifica a si mesmo e se expressa em seu grau máximo.  

 

Luciana Souza (à esquerda) como Marluce, a mãe da moça que sumiu no mundo  

São Miguel do Gostoso - Nem sempre vale a pena rever filmes. Mas às vezes sim. Vi Quando eu me encontrava no Olhar de Cinema e o revi aqui em Gostoso. Valeu a pena. 

Não que seja uma obra complexa, cheia de camadas que vão sendo desveladas a cada revisão. Nada disso. Mas há detalhes que podem escapar. Por exemplo, no belo plano-sequência, o melhor da obra, perceber detalhes no rosto que tanto expressa da personagem Marluce ao som de uma melancólica canção de Chico Buarque. Mas há mais: ela está num ônibus, sentada na janela e é filmada de fora. Como a janela está fechada, funciona com um meio espelho que vai refletindo as ruas também meio desoladas da cidade e as sobrepõe ao rosto da personagem. 

É muito bonito e muito triste. E, para falar apenas no aspecto mais técnico da coisa, um exemplo de como o bom cinema encontra meios para expressar sentimentos, às vezes com poucas ou nenhuma palavra. À procura da filha, Marluce viera de um encontro frustrado com sua própria mãe, repetindo temas de amor materno frustrado, abandono, etc. Tudo está lá, naquele rosto, naquela cidade. 

De resto, minha percepção pouco mudou.  Continuo gostando do filme e mantendo que seu ponto alto é a grande atriz Luciana Souza. 

A história, tal como a vi: Dayane vai embora de casa. Deixa um recado para a mãe e põe o pé no mundo. A mãe, Marluce (Luciana Souza), a irmã, Mariana (Pipa) e o noivo, Antonio (David Santos), em graus diferentes entram em parafuso. 

Tal é o mote singelo deste filme dirigido por Amanda Pontes e Michelline Helena: os efeitos de uma ausência súbita nas pessoas que ficam. E que tentam encontrar tanto o paradeiro de quem se foi quanto compreender as razões da partida. Entender é uma das paixões humanas. Atenua o luto, porque é bem de luto que se trata nesse filme vindo do Ceará, dirigido por duas mulheres e de alma feminina. 

As histórias de quem fica se expandem em direções distintas. Marluce se angustia e, no auge da tristeza, vai procurar a própria mãe, com quem tem contas a ajustar. Mariane entra em conflitos no colégio ao defender uma colega vítima de assédio. Antonio cai em depressão e frequenta a noite de Fortaleza em busca de algum alívio para seu romance frustrado. 

Nessas buscas noturnas, salta à vista a ambiguidade do personagem Antonio em sua relação com uma cantora da noite, amiga de sua noiva sumida. De forma explícita, ele a hostiliza e diz que era má influência para a namorada. Ao mesmo tempo, algo nela parece atraí-lo. No registro naturalista do filme, essa ambivalência dos dois personagens encorpa a psicologia da trama. 

Nem tudo é convincente nessa história de abandono. O tom geral é irregular e há um certo didatismo na afirmação de pautas contemporâneas que entravam um pouco o andamento, o ritmo mesmo da obra. As reações intempestivas de Antonio buscam sublinhar o machismo estrutural, enquanto as personagens femininas reagem bem melhor às dificuldades e mesmo aos traumas. 

Não se pode dizer que haja muita fluidez entre essas preocupações e maneira como passam do plano das ideias para o da realização. 

No entanto, guardamos na memória a imagem da mãe vivida pela sempre excelente Luciana Souza. A melhor parte é um plano sequência de Marluce, viajando no ônibus, enquanto se ouve Uma Canção Desnaturada, de Chico Buarque. Sem necessidade de outras palavras que não as da canção, tudo se passa nesse rosto de mãe nos breves momentos em que o filme justifica a si mesmo e se expressa em seu grau máximo.  

 

Luciana Souza (à esquerda) como Marluce, a mãe da moça que sumiu no mundo  

São Miguel do Gostoso - Nem sempre vale a pena rever filmes. Mas às vezes sim. Vi Quando eu me encontrava no Olhar de Cinema e o revi aqui em Gostoso. Valeu a pena. 

Não que seja uma obra complexa, cheia de camadas que vão sendo desveladas a cada revisão. Nada disso. Mas há detalhes que podem escapar. Por exemplo, no belo plano-sequência, o melhor da obra, perceber detalhes no rosto que tanto expressa da personagem Marluce ao som de uma melancólica canção de Chico Buarque. Mas há mais: ela está num ônibus, sentada na janela e é filmada de fora. Como a janela está fechada, funciona com um meio espelho que vai refletindo as ruas também meio desoladas da cidade e as sobrepõe ao rosto da personagem. 

É muito bonito e muito triste. E, para falar apenas no aspecto mais técnico da coisa, um exemplo de como o bom cinema encontra meios para expressar sentimentos, às vezes com poucas ou nenhuma palavra. À procura da filha, Marluce viera de um encontro frustrado com sua própria mãe, repetindo temas de amor materno frustrado, abandono, etc. Tudo está lá, naquele rosto, naquela cidade. 

De resto, minha percepção pouco mudou.  Continuo gostando do filme e mantendo que seu ponto alto é a grande atriz Luciana Souza. 

A história, tal como a vi: Dayane vai embora de casa. Deixa um recado para a mãe e põe o pé no mundo. A mãe, Marluce (Luciana Souza), a irmã, Mariana (Pipa) e o noivo, Antonio (David Santos), em graus diferentes entram em parafuso. 

Tal é o mote singelo deste filme dirigido por Amanda Pontes e Michelline Helena: os efeitos de uma ausência súbita nas pessoas que ficam. E que tentam encontrar tanto o paradeiro de quem se foi quanto compreender as razões da partida. Entender é uma das paixões humanas. Atenua o luto, porque é bem de luto que se trata nesse filme vindo do Ceará, dirigido por duas mulheres e de alma feminina. 

As histórias de quem fica se expandem em direções distintas. Marluce se angustia e, no auge da tristeza, vai procurar a própria mãe, com quem tem contas a ajustar. Mariane entra em conflitos no colégio ao defender uma colega vítima de assédio. Antonio cai em depressão e frequenta a noite de Fortaleza em busca de algum alívio para seu romance frustrado. 

Nessas buscas noturnas, salta à vista a ambiguidade do personagem Antonio em sua relação com uma cantora da noite, amiga de sua noiva sumida. De forma explícita, ele a hostiliza e diz que era má influência para a namorada. Ao mesmo tempo, algo nela parece atraí-lo. No registro naturalista do filme, essa ambivalência dos dois personagens encorpa a psicologia da trama. 

Nem tudo é convincente nessa história de abandono. O tom geral é irregular e há um certo didatismo na afirmação de pautas contemporâneas que entravam um pouco o andamento, o ritmo mesmo da obra. As reações intempestivas de Antonio buscam sublinhar o machismo estrutural, enquanto as personagens femininas reagem bem melhor às dificuldades e mesmo aos traumas. 

Não se pode dizer que haja muita fluidez entre essas preocupações e maneira como passam do plano das ideias para o da realização. 

No entanto, guardamos na memória a imagem da mãe vivida pela sempre excelente Luciana Souza. A melhor parte é um plano sequência de Marluce, viajando no ônibus, enquanto se ouve Uma Canção Desnaturada, de Chico Buarque. Sem necessidade de outras palavras que não as da canção, tudo se passa nesse rosto de mãe nos breves momentos em que o filme justifica a si mesmo e se expressa em seu grau máximo.  

 

Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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