Cinema, cultura & afins

Opinião|O argentino 'Las Almas' é o grande vencedor da 18ª CineBH


Por Luiz Zanin Oricchio
 

BELO HORIZONTE - O longa argentino Las Almas, de Laura Basombrío, foi escolhido como melhor filme da mostra Território, da CineBH, pelo júri oficial e também pelo júri da crítica. 

Achei justo. É um belo filme, preciso no trato com sua personagem principal, Elisa, e no trabalho de som e imagem que propiciam aos espectadores a imersão no ambiente em que ela vive, interior da província de La Salta, uma região desértica, vizinha da fronteira com o Chile. É, também, uma região de mineração, dura, máscula e machista. Torna-se desafiador observar como uma mulher determinada sobrevive sob tais condições. 

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E isso não se dá apenas pela maneira como ela descreve seu dia-a-dia, mas também pelos elementos fílmicos que traduzem em linguagem cinematográfica esse tipo de sensação. 

Outro premiado foi o colombiano Carropasajero, com destaque para sua fotografia (de Angelo Faccini) - de fato muito elaborada e remetendo a um universo muito palpável, mas também um tanto esotérico. 

Essa vertente aproxima os dois longas-premiados, que parecem buscar, ambos, retratos crus de personagens em situação difícil, mas também dar-lhes uma aura de comunicação com algo além, que poderíamos chamar de espiritual, ou mesmo, de fantástico.

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A título subjetivo, devo dizer que tive o mesmo tipo de sensação ao assistir aos dois filmes. Algo que, como escrevi em texto anterior, remete ao universo estranho de Juan Rulfo, em seu clássico Pedro Páramo (cuja adaptação será lançada em breve pela Netflix), com o personagem imerso numa região de fantasmas, em que vivos convivem com mortos. Ou com sua sombra, ou memória. 

São duas obras para lá de interessantes e que merecem uma divulgação mais ampla, para além dos limites de um festival de cinema. 

O outro prêmio, denominado como "melhor presença", ficou com a trabalhadora do sexo uruguaia, Karina Muñoz, no filme Má Reputação, de Marta Garcia e Sol Infante, de fato éuma grande figura por seu humor, disposição e capacidade de luta e agregação. Graças a isso, conseguiu reunir mulheres na mesma condição e defender seus direitos e legalização da atividade. 

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Uma nota crítica em relação à premiação vai para o esquecimento do belo documentário brasileiro Ausente, de Ana Carolina Soares, uma imersão radical na realidade de uma escola de periferia de Belo Horizonte, com o viés para o grande problema da evasão escolar. Vai além disso e esboça um retrato amplo da realidade social brasileira e como ele repercute no âmbito escolar. Deve ter sido considerado longo demais pelo júri. Não achei longo; segui com interesse cada um dos seus 150 minutos.  

 

OS VENCEDORES:

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. PREMIADOS DA 

MOSTRA TERRITÓRIO:

. "Las Almas", de Laura Basombrío (Argentina) - melhor filme (Júri Oficial e Prêmio da Crítica-Abraccine)

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"Carropasajero", de Juan Pablo Polanco e Cesar Alejandro Jaimes (Colômbia) - destaque do Júri por sua fotografia 

. "Mala Reputación", de Sol Infante e Marta García  (Uruguai) -- melhor presença  (à personagem Karina Nuñes)

 

 

BELO HORIZONTE - O longa argentino Las Almas, de Laura Basombrío, foi escolhido como melhor filme da mostra Território, da CineBH, pelo júri oficial e também pelo júri da crítica. 

Achei justo. É um belo filme, preciso no trato com sua personagem principal, Elisa, e no trabalho de som e imagem que propiciam aos espectadores a imersão no ambiente em que ela vive, interior da província de La Salta, uma região desértica, vizinha da fronteira com o Chile. É, também, uma região de mineração, dura, máscula e machista. Torna-se desafiador observar como uma mulher determinada sobrevive sob tais condições. 

E isso não se dá apenas pela maneira como ela descreve seu dia-a-dia, mas também pelos elementos fílmicos que traduzem em linguagem cinematográfica esse tipo de sensação. 

Outro premiado foi o colombiano Carropasajero, com destaque para sua fotografia (de Angelo Faccini) - de fato muito elaborada e remetendo a um universo muito palpável, mas também um tanto esotérico. 

Essa vertente aproxima os dois longas-premiados, que parecem buscar, ambos, retratos crus de personagens em situação difícil, mas também dar-lhes uma aura de comunicação com algo além, que poderíamos chamar de espiritual, ou mesmo, de fantástico.

A título subjetivo, devo dizer que tive o mesmo tipo de sensação ao assistir aos dois filmes. Algo que, como escrevi em texto anterior, remete ao universo estranho de Juan Rulfo, em seu clássico Pedro Páramo (cuja adaptação será lançada em breve pela Netflix), com o personagem imerso numa região de fantasmas, em que vivos convivem com mortos. Ou com sua sombra, ou memória. 

São duas obras para lá de interessantes e que merecem uma divulgação mais ampla, para além dos limites de um festival de cinema. 

O outro prêmio, denominado como "melhor presença", ficou com a trabalhadora do sexo uruguaia, Karina Muñoz, no filme Má Reputação, de Marta Garcia e Sol Infante, de fato éuma grande figura por seu humor, disposição e capacidade de luta e agregação. Graças a isso, conseguiu reunir mulheres na mesma condição e defender seus direitos e legalização da atividade. 

Uma nota crítica em relação à premiação vai para o esquecimento do belo documentário brasileiro Ausente, de Ana Carolina Soares, uma imersão radical na realidade de uma escola de periferia de Belo Horizonte, com o viés para o grande problema da evasão escolar. Vai além disso e esboça um retrato amplo da realidade social brasileira e como ele repercute no âmbito escolar. Deve ter sido considerado longo demais pelo júri. Não achei longo; segui com interesse cada um dos seus 150 minutos.  

 

OS VENCEDORES:

. PREMIADOS DA 

MOSTRA TERRITÓRIO:

. "Las Almas", de Laura Basombrío (Argentina) - melhor filme (Júri Oficial e Prêmio da Crítica-Abraccine)

"Carropasajero", de Juan Pablo Polanco e Cesar Alejandro Jaimes (Colômbia) - destaque do Júri por sua fotografia 

. "Mala Reputación", de Sol Infante e Marta García  (Uruguai) -- melhor presença  (à personagem Karina Nuñes)

 

 

BELO HORIZONTE - O longa argentino Las Almas, de Laura Basombrío, foi escolhido como melhor filme da mostra Território, da CineBH, pelo júri oficial e também pelo júri da crítica. 

Achei justo. É um belo filme, preciso no trato com sua personagem principal, Elisa, e no trabalho de som e imagem que propiciam aos espectadores a imersão no ambiente em que ela vive, interior da província de La Salta, uma região desértica, vizinha da fronteira com o Chile. É, também, uma região de mineração, dura, máscula e machista. Torna-se desafiador observar como uma mulher determinada sobrevive sob tais condições. 

E isso não se dá apenas pela maneira como ela descreve seu dia-a-dia, mas também pelos elementos fílmicos que traduzem em linguagem cinematográfica esse tipo de sensação. 

Outro premiado foi o colombiano Carropasajero, com destaque para sua fotografia (de Angelo Faccini) - de fato muito elaborada e remetendo a um universo muito palpável, mas também um tanto esotérico. 

Essa vertente aproxima os dois longas-premiados, que parecem buscar, ambos, retratos crus de personagens em situação difícil, mas também dar-lhes uma aura de comunicação com algo além, que poderíamos chamar de espiritual, ou mesmo, de fantástico.

A título subjetivo, devo dizer que tive o mesmo tipo de sensação ao assistir aos dois filmes. Algo que, como escrevi em texto anterior, remete ao universo estranho de Juan Rulfo, em seu clássico Pedro Páramo (cuja adaptação será lançada em breve pela Netflix), com o personagem imerso numa região de fantasmas, em que vivos convivem com mortos. Ou com sua sombra, ou memória. 

São duas obras para lá de interessantes e que merecem uma divulgação mais ampla, para além dos limites de um festival de cinema. 

O outro prêmio, denominado como "melhor presença", ficou com a trabalhadora do sexo uruguaia, Karina Muñoz, no filme Má Reputação, de Marta Garcia e Sol Infante, de fato éuma grande figura por seu humor, disposição e capacidade de luta e agregação. Graças a isso, conseguiu reunir mulheres na mesma condição e defender seus direitos e legalização da atividade. 

Uma nota crítica em relação à premiação vai para o esquecimento do belo documentário brasileiro Ausente, de Ana Carolina Soares, uma imersão radical na realidade de uma escola de periferia de Belo Horizonte, com o viés para o grande problema da evasão escolar. Vai além disso e esboça um retrato amplo da realidade social brasileira e como ele repercute no âmbito escolar. Deve ter sido considerado longo demais pelo júri. Não achei longo; segui com interesse cada um dos seus 150 minutos.  

 

OS VENCEDORES:

. PREMIADOS DA 

MOSTRA TERRITÓRIO:

. "Las Almas", de Laura Basombrío (Argentina) - melhor filme (Júri Oficial e Prêmio da Crítica-Abraccine)

"Carropasajero", de Juan Pablo Polanco e Cesar Alejandro Jaimes (Colômbia) - destaque do Júri por sua fotografia 

. "Mala Reputación", de Sol Infante e Marta García  (Uruguai) -- melhor presença  (à personagem Karina Nuñes)

 

Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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