A reportagem publicada na revista Época desta semana, sobre do uso da maconha no País, repercutiu no plano criminal. O procurador de Justiça Nelson Lacerda Gertel, membro do Órgão Especial e secretário-executivo da 1.ª Procuradoria-Geral de Justiça do Ministério Público do Estado (MPE) de São Paulo, quer a responsabilização penal dos jornalistas e entrevistados para dentificar "quadrilhas" de traficantes. Gertel oficiou hoje a promotora de Justiça, Maria Tereza Penteado de Moraes, do Grupo de Atuação Especial de Repressão e Preservação (Gaerpa), para que tome as medidas necessárias. Lembra o procurador que a Lei Antitóxicos reserva as mesmas penas destinadas aos traficantes a toda pessoa que, "indevidamente, contribui de qualquer forma para incentivar ou difundir o uso indevido ou o tráfico ilícito de substância entorpecente ou que determine dependência química ou psíquica". O procurador destaca que no texto da revista "são identificados vários usuários da droga, todos pessoas de projeção social, ficando a forte impressão de que a matéria poderia ter sido sugerida ou efetuada por influência das poderosas quadrilhas que dominam o mercado do narcotráfico". O procurador acrescenta que é "importante notar que jornalistas e usuários tiveram o cuidado de não identificar as quadrilhas de traficantes bem estruturadas e que efetuam reiteradamente a venda de tanta maconha". A direção da revista Época foi procurada pela reportagem, mas não quis se pronunciar. A apresentadora de televisão Sonia Francine, Soninha, de 34 anos, considerou "assustadora" a decisão da Procuradoria de Justiça. "Quem sabe ler corretamente o que falei sabe que isso não é apologia voluntária, nem involuntária", afirmou hoje. Ela não se arrepende da entrevista e garantiu que seu depoimento pretendia servir de alerta. "A atual legislação e a forma de combate às drogas são completamente incapazes de evitar o uso e mais incapazes de evitar o abuso." Soninha é ré primária e não teme ser processada. Ela diz que conhece inúmeros amigos que sofreram por causa da legislação brasileira que pune os portadores de droga. "Essa foi minha motivação. A mudança da lei faria muito bem à sociedade", justifica. "Ok, se me prenderem... Olhem para mim, qual foi o crime que cometi?" Demitida na segunda-feira da TV Cultura, onde apresentava um programa juvenil, Soninha afirmou que à noite atendeu um telefonema de uma editora da Época que a convenceu a não processar a revista. "Não foi uma jogada de marketing, nem sensacionalismo. Mas acho que foi uma avaliação errada e fui prejudicada assim mesmo." Ela disse que o seu advogado vai decidir que medida deve tomar.