Uma espécie de frequência quente corta um fundo branco com uma esfera redonda pintada em azul. As cores dançam na tela, de dimensão horizontal, com tomadas de tons quentes em amarelo, ocre, laranja e vermelho, como uma chama que emula o círculo. A obra, sem título, data de 1971, de autoria do austríaco Lothar Charoux (1912-1987), que recebeu o prêmio do MAM na edição do Panorama de 1971.
A obra de Charoux faz parte da coletiva Diálogos com Cor e Luz, em cartaz no MAM até setembro. Com curadoria de Cauê Alves e Fábio Magalhães, a seleção traz o melhor do acervo da instituição, com obras de Lygia Clark, Alfredo Volpi, Mira Schendel, Tomie Ohtake, Paulo Pasta, entre outros mestres da cor.
Um recorte da arte abstrata, com ênfase nas relações entre a luz e a cor na pintura brasileira na segunda metade do século 20, a exposição resgata o protagonismo histórico do museu em difundir e apoiar a arte abstrata no Brasil.
A mostra abrange movimentos importantes, como o concretismo, o abstracionismo geométrico e a Op-arte que teve, entre seus expoentes, Almir Mavignier e suas experimentações em cartazes.
“É um momento significativo para o museu, no ano em que ele faz 75 anos, olhamos para a história, e a exposição faz referência, inclusive, à mostra inaugural Do Figurativismo ao Abstracionismo, de 1949, quando Degand [primeiro diretor do Museu] reuniu só obras abstratas, o primeiro passo para firmar a abstração no circuito”, conta ao Estadão Cauê Alves.
São 73 obras espalhadas pelo espaço que não seguem uma linha cronológica, ou seja, a aproximação das pinturas se dá pelas afinidades estéticas, como se vê nas paredes onde estão as obras de Cássio Michalany (que acaba abrir individual na Galeria MIllan, A linha Pela Ausência) e Paulo Pasta (que vendeu todas as obras de sua exposição individual em pequenos formatos no último mês).
“É interessante notar como a cor assume diversos papéis, como na pintura do Paulo Pasta, por exemplo, onde há uma suspensão no tempo e as cores estimulam o espectador a assumir um papel contemplativo”, diz Alves, a respeito das atmosferas silenciosas criadas por Pasta.
Já os trabalhos ópticos ( Charoux, Palatnik, Mavignier) vão para outra direção. Introduzem o leitor a uma dança pelos traços, cores vibrantes e movimentos. “A cor varia de acordo com a luz, a estação, ela se transforma a depender do movimento que o espectador faz com a luz”, observa o curador.
A intenção da mostra é fazer um diálogo multidisciplinar para entender a cor tal como os artistas elaboram seus projetos. “Existe um senso comum em relação às cores que quase nos cega”, afirma Alves. “A exposição chega para propiciar uma experiência primária com as cores, pois hoje as cores acabam recebendo cargas políticas, ideológicas que não são delas”. “A cor é o lugar da imaginação, da expansão”, completa o curador.