Foi assim que o jornal Village Voice diagnosticou Hunter Moore, que num ato falho escrevi Hater More (mais ódio), jovem americano considerado O Homem Mais Odiado da Internet, título da série sobre ele na Netflix, um sociopata declarado que postava fotos hackeadas de garotas nuas num site de “revenge porn” (pornografia de vingança).
O site juntou uma “família” de seguidores fanáticos que elevou Moore à posição hoje conhecida como influencer. Chamavam-no de Deus.
Ele começou postando foto que expunha uma ex-namorada, o que se tornou uma pandemia infame de destruir reputações, especialmente de mulheres, com a qual todo usuário de rede social já se deparou.
No Brasil, ficou notória a exposição de fotos pessoais de Carolina Dieckmann, que chocou tanto que virou a Lei 2793/2011, alterando o Código Civil: dá cadeia “a invasão de dispositivo informático alheio, conectado ou não à rede de computadores, mediante violação indevida de mecanismo de segurança e com o fim de obter, adulterar ou destruir dados ou informações sem autorização expressa ou tácita do titular do dispositivo ou instalar vulnerabilidades para obter vantagem ilícita”.
Moore só foi preso nos Estados Unidos quando a mãe de uma vítima descobriu que um sócio hackeara o e-mail de 40 outras meninas para roubar fotos íntimas. Porém, a seita que ele criou continuou seu legado, o de odiar mulheres, e se expandiu.
O caso no Brasil da menina Jéssica, que teve o print de uma falsa conversa publicada por um influencer e depois reverberada pelo nomeado “site de notícias” Choquei, com 21 milhões de seguidores, revelou a Gestalt da lucrativa indústria do like.
Sentem-se deuses, acima do bem e do mal, e especialmente da verdade. Dão à luz e deletam quando querem, constroem mitos e destroem adversários, numa terra sem lei. Jéssica se suicidou depois de receber uma avalanche de ameaças e xingamentos, pois sua fake-conversa era com um dos caras mais populares da internet, Whindersson.
Lembrou a insana repercussão da separação da cantora Sandy. Seus seguidores foram atrás do ex-namorado dela de 20 anos antes, Paulo Vilhena, culpando-o pelo término do casamento “feliz”.
Rodrigo Silva, do site de notícias Spotlink, que estuda o mundo dos influencers, resumiu: “Boa parte do que viraliza na internet é gente de mentirinha produzindo polêmica de mentirinha, enquanto sustenta, de mentirinha, a imagem de bom-moço. Mas no meio dessas mentirinhas todas, altamente lucrativas, tem gente literalmente morrendo. E essa é a grande fofoca que você precisa saber”. Até quando?