Pequenas neuroses contemporâneas

Opinião|Caetano Veloso não vendia como hoje. Era amado por poetas e malucos, não pela velha esquerda


A qualidade da gravação de ‘Transa’ é impecável. O repertório, o mais tropicalista deles, mistura rock, bossa nova, samba, xote, baião, até o desconhecido reggae.

Por Marcelo Rubens Paiva
Atualização:

Exilado em Londres, Caetano teve permissão para ficar um mês no Brasil em janeiro de 1971. Foi vigiado e interrogado. Não podia entrar em contato com ninguém, nem dar shows. Conta no livro Verdade Tropical que, interrogado por militares, pediram para que fizesse uma obra elogiando a Transamazônica, e afrouxariam o exílio. Não topou.

Caetano Veloso canta o álbum 'Transa' no festival Doce Maravilha Foto: Alex Woloch/Divulgação

Na volta a Londres, gravou um dos melhores discos brasileiros: Transa, lançado em 1972. Não foi um sucesso. Na época, Caetano não vendia como hoje. Era amado pela minha geração, poetas, malucos, não pela velha esquerda, nem pelo público mais conservador. Quem não se lembra do discurso sob vaias gritando, desafinado, com guitarras dissonantes, num Festival da Canção:

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“É proibido proibir! Mas é isso que é a juventude que diz que quer tomar poder? Vocês não estão entendendo nada! Os jovens não entendem nada. Querem matar amanhã o velhote inimigo que morreu ontem”.

O produtor Ralph Mace, de 38 anos, pediu: chame os melhores músicos. Chamou Macalé, dos maiores violonistas da época, que toca guitarra como se fosse violão, e violão como se fosse guitarra (eu o imitava), Tutty Moreno, Moacyr Albuquerque e Áureo de Souza.

Porém, veio o pedido inusitado para que tocasse violão. Caetano dizia que tocava mal. Nada disso. Queremos ouvir a sua verdade, a sua mão, o seu rimo. Resultado: é um violão limpo, redondo, que ocupa os espaços.

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A qualidade da gravação inglesa é impecável. O repertório, o mais tropicalista deles, mistura rock, bossa nova, samba, xote, baião, até o desconhecido reggae. Começa em inglês, se apresentando: “You don’t know me...”. Fala de solidão, saudades, exílio (“show me from behind the wall”), infância, enquanto Gal canta ao fundo.

Homenageia Monsueto (Mora na Filosofia). Fala do som do reggae que escuta em Portobello Road de imigrantes jamaicanos. Se sente vivo, muito vivo. Em Triste Bahia, faz um retrato antropofágico via poeta Gregório de Matos da transformação do Estado.

Ao pensar num show-tributo 50 anos depois, nem ensaiou direito. A banda da turnê Coco tirou músicas como deu. Já foram mais que dez, lotados, oito mil pessoas em pé, ovacionando, fazendo a segunda voz, numa idolatria emocionante. Chorei. Não conseguirá parar.

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Ainda cantou Araçá Azul, do disco mais experimental e um número recorde de devoluções, gravado no Estúdio Eldorado (produção André Midani). Amamos nossos rejeitados. Claro que foi o disco mais cultuado na minha república.

Que eu tocava para meus filhos às noites na pandemia. Faz 50 anos também. Toca mais músicas dele, painho: Julia/Moreno, Sugar Cane, Gilberto Misterioso.

Exilado em Londres, Caetano teve permissão para ficar um mês no Brasil em janeiro de 1971. Foi vigiado e interrogado. Não podia entrar em contato com ninguém, nem dar shows. Conta no livro Verdade Tropical que, interrogado por militares, pediram para que fizesse uma obra elogiando a Transamazônica, e afrouxariam o exílio. Não topou.

Caetano Veloso canta o álbum 'Transa' no festival Doce Maravilha Foto: Alex Woloch/Divulgação

Na volta a Londres, gravou um dos melhores discos brasileiros: Transa, lançado em 1972. Não foi um sucesso. Na época, Caetano não vendia como hoje. Era amado pela minha geração, poetas, malucos, não pela velha esquerda, nem pelo público mais conservador. Quem não se lembra do discurso sob vaias gritando, desafinado, com guitarras dissonantes, num Festival da Canção:

“É proibido proibir! Mas é isso que é a juventude que diz que quer tomar poder? Vocês não estão entendendo nada! Os jovens não entendem nada. Querem matar amanhã o velhote inimigo que morreu ontem”.

O produtor Ralph Mace, de 38 anos, pediu: chame os melhores músicos. Chamou Macalé, dos maiores violonistas da época, que toca guitarra como se fosse violão, e violão como se fosse guitarra (eu o imitava), Tutty Moreno, Moacyr Albuquerque e Áureo de Souza.

Porém, veio o pedido inusitado para que tocasse violão. Caetano dizia que tocava mal. Nada disso. Queremos ouvir a sua verdade, a sua mão, o seu rimo. Resultado: é um violão limpo, redondo, que ocupa os espaços.

A qualidade da gravação inglesa é impecável. O repertório, o mais tropicalista deles, mistura rock, bossa nova, samba, xote, baião, até o desconhecido reggae. Começa em inglês, se apresentando: “You don’t know me...”. Fala de solidão, saudades, exílio (“show me from behind the wall”), infância, enquanto Gal canta ao fundo.

Homenageia Monsueto (Mora na Filosofia). Fala do som do reggae que escuta em Portobello Road de imigrantes jamaicanos. Se sente vivo, muito vivo. Em Triste Bahia, faz um retrato antropofágico via poeta Gregório de Matos da transformação do Estado.

Ao pensar num show-tributo 50 anos depois, nem ensaiou direito. A banda da turnê Coco tirou músicas como deu. Já foram mais que dez, lotados, oito mil pessoas em pé, ovacionando, fazendo a segunda voz, numa idolatria emocionante. Chorei. Não conseguirá parar.

Ainda cantou Araçá Azul, do disco mais experimental e um número recorde de devoluções, gravado no Estúdio Eldorado (produção André Midani). Amamos nossos rejeitados. Claro que foi o disco mais cultuado na minha república.

Que eu tocava para meus filhos às noites na pandemia. Faz 50 anos também. Toca mais músicas dele, painho: Julia/Moreno, Sugar Cane, Gilberto Misterioso.

Exilado em Londres, Caetano teve permissão para ficar um mês no Brasil em janeiro de 1971. Foi vigiado e interrogado. Não podia entrar em contato com ninguém, nem dar shows. Conta no livro Verdade Tropical que, interrogado por militares, pediram para que fizesse uma obra elogiando a Transamazônica, e afrouxariam o exílio. Não topou.

Caetano Veloso canta o álbum 'Transa' no festival Doce Maravilha Foto: Alex Woloch/Divulgação

Na volta a Londres, gravou um dos melhores discos brasileiros: Transa, lançado em 1972. Não foi um sucesso. Na época, Caetano não vendia como hoje. Era amado pela minha geração, poetas, malucos, não pela velha esquerda, nem pelo público mais conservador. Quem não se lembra do discurso sob vaias gritando, desafinado, com guitarras dissonantes, num Festival da Canção:

“É proibido proibir! Mas é isso que é a juventude que diz que quer tomar poder? Vocês não estão entendendo nada! Os jovens não entendem nada. Querem matar amanhã o velhote inimigo que morreu ontem”.

O produtor Ralph Mace, de 38 anos, pediu: chame os melhores músicos. Chamou Macalé, dos maiores violonistas da época, que toca guitarra como se fosse violão, e violão como se fosse guitarra (eu o imitava), Tutty Moreno, Moacyr Albuquerque e Áureo de Souza.

Porém, veio o pedido inusitado para que tocasse violão. Caetano dizia que tocava mal. Nada disso. Queremos ouvir a sua verdade, a sua mão, o seu rimo. Resultado: é um violão limpo, redondo, que ocupa os espaços.

A qualidade da gravação inglesa é impecável. O repertório, o mais tropicalista deles, mistura rock, bossa nova, samba, xote, baião, até o desconhecido reggae. Começa em inglês, se apresentando: “You don’t know me...”. Fala de solidão, saudades, exílio (“show me from behind the wall”), infância, enquanto Gal canta ao fundo.

Homenageia Monsueto (Mora na Filosofia). Fala do som do reggae que escuta em Portobello Road de imigrantes jamaicanos. Se sente vivo, muito vivo. Em Triste Bahia, faz um retrato antropofágico via poeta Gregório de Matos da transformação do Estado.

Ao pensar num show-tributo 50 anos depois, nem ensaiou direito. A banda da turnê Coco tirou músicas como deu. Já foram mais que dez, lotados, oito mil pessoas em pé, ovacionando, fazendo a segunda voz, numa idolatria emocionante. Chorei. Não conseguirá parar.

Ainda cantou Araçá Azul, do disco mais experimental e um número recorde de devoluções, gravado no Estúdio Eldorado (produção André Midani). Amamos nossos rejeitados. Claro que foi o disco mais cultuado na minha república.

Que eu tocava para meus filhos às noites na pandemia. Faz 50 anos também. Toca mais músicas dele, painho: Julia/Moreno, Sugar Cane, Gilberto Misterioso.

Exilado em Londres, Caetano teve permissão para ficar um mês no Brasil em janeiro de 1971. Foi vigiado e interrogado. Não podia entrar em contato com ninguém, nem dar shows. Conta no livro Verdade Tropical que, interrogado por militares, pediram para que fizesse uma obra elogiando a Transamazônica, e afrouxariam o exílio. Não topou.

Caetano Veloso canta o álbum 'Transa' no festival Doce Maravilha Foto: Alex Woloch/Divulgação

Na volta a Londres, gravou um dos melhores discos brasileiros: Transa, lançado em 1972. Não foi um sucesso. Na época, Caetano não vendia como hoje. Era amado pela minha geração, poetas, malucos, não pela velha esquerda, nem pelo público mais conservador. Quem não se lembra do discurso sob vaias gritando, desafinado, com guitarras dissonantes, num Festival da Canção:

“É proibido proibir! Mas é isso que é a juventude que diz que quer tomar poder? Vocês não estão entendendo nada! Os jovens não entendem nada. Querem matar amanhã o velhote inimigo que morreu ontem”.

O produtor Ralph Mace, de 38 anos, pediu: chame os melhores músicos. Chamou Macalé, dos maiores violonistas da época, que toca guitarra como se fosse violão, e violão como se fosse guitarra (eu o imitava), Tutty Moreno, Moacyr Albuquerque e Áureo de Souza.

Porém, veio o pedido inusitado para que tocasse violão. Caetano dizia que tocava mal. Nada disso. Queremos ouvir a sua verdade, a sua mão, o seu rimo. Resultado: é um violão limpo, redondo, que ocupa os espaços.

A qualidade da gravação inglesa é impecável. O repertório, o mais tropicalista deles, mistura rock, bossa nova, samba, xote, baião, até o desconhecido reggae. Começa em inglês, se apresentando: “You don’t know me...”. Fala de solidão, saudades, exílio (“show me from behind the wall”), infância, enquanto Gal canta ao fundo.

Homenageia Monsueto (Mora na Filosofia). Fala do som do reggae que escuta em Portobello Road de imigrantes jamaicanos. Se sente vivo, muito vivo. Em Triste Bahia, faz um retrato antropofágico via poeta Gregório de Matos da transformação do Estado.

Ao pensar num show-tributo 50 anos depois, nem ensaiou direito. A banda da turnê Coco tirou músicas como deu. Já foram mais que dez, lotados, oito mil pessoas em pé, ovacionando, fazendo a segunda voz, numa idolatria emocionante. Chorei. Não conseguirá parar.

Ainda cantou Araçá Azul, do disco mais experimental e um número recorde de devoluções, gravado no Estúdio Eldorado (produção André Midani). Amamos nossos rejeitados. Claro que foi o disco mais cultuado na minha república.

Que eu tocava para meus filhos às noites na pandemia. Faz 50 anos também. Toca mais músicas dele, painho: Julia/Moreno, Sugar Cane, Gilberto Misterioso.

Opinião por Marcelo Rubens Paiva

É escritor, dramaturgo e autor de 'Feliz Ano Velho', entre outros

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