Pequenas neuroses contemporâneas

Opinião|Marcelo Rubens Paiva: Lembrar, sempre!


Anistia a golpistas? A História aconselha: melhor não

Por Marcelo Rubens Paiva

Anistia a golpistas? A História aconselha: melhor não. Um dos momentos mais tumultuados da democracia brasileira ocorreu no governo Kubitschek, que começou e terminou enfrentando levantes militares.

O líder conhecido por dar um peteleco econômico para o alto levou um não de revoltosos antes de tomar posse, acusado de ser apoiado por comunistas. Sua candidatura foi contestada pelo antecessor, Café Filho. JK fora eleito presidente com 35,68% dos votos, 467 mil votos a mais que o segundo colocado, Juarez Távora, da UDN.

A UDN tentou impugnar a eleição. Não questionou a urna eletrônica, que não existia, mas o voto impresso unificado da cédula, uma novidade. Esbarraram na Constituição e num levante do general Lott, legalista que depôs o presidente-tampão Carlos Luz e garantiu a posse de Juscelino.

continua após a publicidade

O Clube Militar se levantou contra. Carlos Lacerda publicou uma fake news afirmando que o vice dele, João Goulart, eleito também pelo voto direto, teria feito pacto com Perón, da Argentina, para implementar a “república social-sindicalista”.

Luz, Lacerda e golpistas embarcaram no maior cruzador da época, o Tamandaré, e ameaçaram bombardear a capital. Porém, levaram uma saraivada de balas, num episódio conhecido por Novembrada. O navio fugiu para Santos. Esperavam que o governador Jânio Quadros aderisse ao movimento. Foi decretado estado de sítio.

No primeiro ano de governo JK, dois oficiais tomaram um caça no Rio de Janeiro, enquanto Santarém foi tomada por rebeldes da Aeronáutica. Ação ficou conhecida como Revolta de Jacareacanga.

continua após a publicidade

No terceiro ano de governo, na Revolta de Aragarças, liderada por oficiais da Aeronáutica, entre eles o tenente-coronel João Paulo Burnier, sequestraram um avião da Panair com 46 pessoas a bordo e tomaram quatro aviões no Galeão, ameaçando bombardear o Palácio do Catete, sede da Presidência.

Segundo eles, Brizola iniciara uma conspiração comunista no Sul do País. A rebelião durou 36 horas e os líderes do movimento fugiram para a Bolívia. Anistiado, Burnier foi ao Panamá, onde fez cursos na Escola das Américas, notória por ensinar técnicas de tortura.

Depois, serviu ao Golpe de 64. Em 1968, planejou bombardear o gasômetro do Rio e botar a culpa em comunistas. Em carta dirigida ao presidente Geisel, o brigadeiro Eduardo Gomes referiu-se a ele como “um insano mental inspirado por instintos perversos e sanguinários, sob o pretexto de proteger o Brasil do perigo comunista”.

continua após a publicidade

A sanha de militares marcharem sobre a Constituição se chama impunidade. Anistia?

Bandeira do Brasil rasgada pelos ventos fortes que passaram por São Caetano do Sul, em São Paulo, no dia 11 de junho de 2011. Foto: Julio Holanda/FotoRepórter/AE

Anistia a golpistas? A História aconselha: melhor não. Um dos momentos mais tumultuados da democracia brasileira ocorreu no governo Kubitschek, que começou e terminou enfrentando levantes militares.

O líder conhecido por dar um peteleco econômico para o alto levou um não de revoltosos antes de tomar posse, acusado de ser apoiado por comunistas. Sua candidatura foi contestada pelo antecessor, Café Filho. JK fora eleito presidente com 35,68% dos votos, 467 mil votos a mais que o segundo colocado, Juarez Távora, da UDN.

A UDN tentou impugnar a eleição. Não questionou a urna eletrônica, que não existia, mas o voto impresso unificado da cédula, uma novidade. Esbarraram na Constituição e num levante do general Lott, legalista que depôs o presidente-tampão Carlos Luz e garantiu a posse de Juscelino.

O Clube Militar se levantou contra. Carlos Lacerda publicou uma fake news afirmando que o vice dele, João Goulart, eleito também pelo voto direto, teria feito pacto com Perón, da Argentina, para implementar a “república social-sindicalista”.

Luz, Lacerda e golpistas embarcaram no maior cruzador da época, o Tamandaré, e ameaçaram bombardear a capital. Porém, levaram uma saraivada de balas, num episódio conhecido por Novembrada. O navio fugiu para Santos. Esperavam que o governador Jânio Quadros aderisse ao movimento. Foi decretado estado de sítio.

No primeiro ano de governo JK, dois oficiais tomaram um caça no Rio de Janeiro, enquanto Santarém foi tomada por rebeldes da Aeronáutica. Ação ficou conhecida como Revolta de Jacareacanga.

No terceiro ano de governo, na Revolta de Aragarças, liderada por oficiais da Aeronáutica, entre eles o tenente-coronel João Paulo Burnier, sequestraram um avião da Panair com 46 pessoas a bordo e tomaram quatro aviões no Galeão, ameaçando bombardear o Palácio do Catete, sede da Presidência.

Segundo eles, Brizola iniciara uma conspiração comunista no Sul do País. A rebelião durou 36 horas e os líderes do movimento fugiram para a Bolívia. Anistiado, Burnier foi ao Panamá, onde fez cursos na Escola das Américas, notória por ensinar técnicas de tortura.

Depois, serviu ao Golpe de 64. Em 1968, planejou bombardear o gasômetro do Rio e botar a culpa em comunistas. Em carta dirigida ao presidente Geisel, o brigadeiro Eduardo Gomes referiu-se a ele como “um insano mental inspirado por instintos perversos e sanguinários, sob o pretexto de proteger o Brasil do perigo comunista”.

A sanha de militares marcharem sobre a Constituição se chama impunidade. Anistia?

Bandeira do Brasil rasgada pelos ventos fortes que passaram por São Caetano do Sul, em São Paulo, no dia 11 de junho de 2011. Foto: Julio Holanda/FotoRepórter/AE

Anistia a golpistas? A História aconselha: melhor não. Um dos momentos mais tumultuados da democracia brasileira ocorreu no governo Kubitschek, que começou e terminou enfrentando levantes militares.

O líder conhecido por dar um peteleco econômico para o alto levou um não de revoltosos antes de tomar posse, acusado de ser apoiado por comunistas. Sua candidatura foi contestada pelo antecessor, Café Filho. JK fora eleito presidente com 35,68% dos votos, 467 mil votos a mais que o segundo colocado, Juarez Távora, da UDN.

A UDN tentou impugnar a eleição. Não questionou a urna eletrônica, que não existia, mas o voto impresso unificado da cédula, uma novidade. Esbarraram na Constituição e num levante do general Lott, legalista que depôs o presidente-tampão Carlos Luz e garantiu a posse de Juscelino.

O Clube Militar se levantou contra. Carlos Lacerda publicou uma fake news afirmando que o vice dele, João Goulart, eleito também pelo voto direto, teria feito pacto com Perón, da Argentina, para implementar a “república social-sindicalista”.

Luz, Lacerda e golpistas embarcaram no maior cruzador da época, o Tamandaré, e ameaçaram bombardear a capital. Porém, levaram uma saraivada de balas, num episódio conhecido por Novembrada. O navio fugiu para Santos. Esperavam que o governador Jânio Quadros aderisse ao movimento. Foi decretado estado de sítio.

No primeiro ano de governo JK, dois oficiais tomaram um caça no Rio de Janeiro, enquanto Santarém foi tomada por rebeldes da Aeronáutica. Ação ficou conhecida como Revolta de Jacareacanga.

No terceiro ano de governo, na Revolta de Aragarças, liderada por oficiais da Aeronáutica, entre eles o tenente-coronel João Paulo Burnier, sequestraram um avião da Panair com 46 pessoas a bordo e tomaram quatro aviões no Galeão, ameaçando bombardear o Palácio do Catete, sede da Presidência.

Segundo eles, Brizola iniciara uma conspiração comunista no Sul do País. A rebelião durou 36 horas e os líderes do movimento fugiram para a Bolívia. Anistiado, Burnier foi ao Panamá, onde fez cursos na Escola das Américas, notória por ensinar técnicas de tortura.

Depois, serviu ao Golpe de 64. Em 1968, planejou bombardear o gasômetro do Rio e botar a culpa em comunistas. Em carta dirigida ao presidente Geisel, o brigadeiro Eduardo Gomes referiu-se a ele como “um insano mental inspirado por instintos perversos e sanguinários, sob o pretexto de proteger o Brasil do perigo comunista”.

A sanha de militares marcharem sobre a Constituição se chama impunidade. Anistia?

Bandeira do Brasil rasgada pelos ventos fortes que passaram por São Caetano do Sul, em São Paulo, no dia 11 de junho de 2011. Foto: Julio Holanda/FotoRepórter/AE
Opinião por Marcelo Rubens Paiva

É escritor, dramaturgo e autor de 'Feliz Ano Velho', entre outros

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.