Pequenas neuroses contemporâneas

Opinião|Não é história, é presente. O Estado, construído por traumas, não deve temer suas mazelas


Lula, depois de tudo pelo que passou - perseguido e preso durante a ditadura -, representa o governo com traumas recentes em mexer em feridas da ditadura militar

Por Marcelo Rubens Paiva

Minha vida, infelizmente, sempre foi com mais transtornos do que planejei. Quando pensei que encerrava meu ciclo de textos em que tragédias pessoais e familiares estavam na premissa, me vejo novamente no topo de um vulcão. Queria escrever sobre o novo sofá de quatro lugares reclinável do Palácio da Alvorada. Os ocupantes têm de votar sobre quantos graus o encosto deve ficar?

Mas Lula... Ele representa o governo com traumas recentes em mexer em feridas da ditadura militar. Porém, o Estado é construído pelos traumas e tem o dever de relembrar suas mazelas, não temer.

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Dilma abriu o debate do que aconteceu e de quem foram os agentes de crimes cometidos durante os anos de chumbo. Os anteriores, Tancredo, Sarney, Collor, FHC e Lula, homens, governaram pisando em ovos, sob o pacto invisível de não desagradar a setores que, na República, demonstraram não ter pudor em apontar a espada ou o canhão para derrubar um governo constitucional.

Lula, surpreendentemente, depois de tudo pelo que passou, logo ele, perseguido e preso durante a ditadura, não recebeu em seu terceiro mandato a Comissão Sobre Mortos e Desaparecidos, enrolou para recriá-la, determinou que órgãos do governo silenciassem sobre os 60 anos do Golpe de 64 e engavetou um projeto do seu ex-ministro da Justiça, Flávio Dino, o Museu da Verdade.

Lula exibe a bandeira brasileira, em São Paulo, no dia em que aguardava a notícia de que seria eleito presidente. Foto: WERTHER SANTANA/ESTADÃO - 30/10/2022
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O presidente diz que a ditadura “faz parte da história”. Manifestantes pedindo intervenção militar, com cartazes escritos AI-5, camisetas com o rosto do torturador Brilhante Ustra, ou a frase “Ustra Vive”, não são história. A dor e o sofrimento de quem teve um familiar torturado, morto, desaparecido não são história. Autoridades públicas exaltando a repressão do regime militar, inclusive a tortura, a censura de livros, exposições, perseguição e morte de jornalistas, como Dom Phillips, não são história.

Os abusos da PM paulista na operação na Baixada Santista, o caso Amarildo, Marielle e Anderson, a absolvição de militares que mataram o músico Evaldo, a herança de uma sociedade escravocrata, o genocídio indígena, não são história, mas efeitos da impunidade do passado, de uma sociedade violenta e da falta de memória e covardia de quem deveria liderar.

A tentativa do golpe de 8 de janeiro não teria acontecido se não varrêssemos para debaixo do tapete a tragédia brasileira. Não é apenas por conta de militares legalistas que o Brasil tem uma democracia resguardada, é pelo passado de que ainda não nos esquecemos, inclusive a Comissão Nacional da Verdade, mas que futuras gerações podem achar que é história.

Minha vida, infelizmente, sempre foi com mais transtornos do que planejei. Quando pensei que encerrava meu ciclo de textos em que tragédias pessoais e familiares estavam na premissa, me vejo novamente no topo de um vulcão. Queria escrever sobre o novo sofá de quatro lugares reclinável do Palácio da Alvorada. Os ocupantes têm de votar sobre quantos graus o encosto deve ficar?

Mas Lula... Ele representa o governo com traumas recentes em mexer em feridas da ditadura militar. Porém, o Estado é construído pelos traumas e tem o dever de relembrar suas mazelas, não temer.

Dilma abriu o debate do que aconteceu e de quem foram os agentes de crimes cometidos durante os anos de chumbo. Os anteriores, Tancredo, Sarney, Collor, FHC e Lula, homens, governaram pisando em ovos, sob o pacto invisível de não desagradar a setores que, na República, demonstraram não ter pudor em apontar a espada ou o canhão para derrubar um governo constitucional.

Lula, surpreendentemente, depois de tudo pelo que passou, logo ele, perseguido e preso durante a ditadura, não recebeu em seu terceiro mandato a Comissão Sobre Mortos e Desaparecidos, enrolou para recriá-la, determinou que órgãos do governo silenciassem sobre os 60 anos do Golpe de 64 e engavetou um projeto do seu ex-ministro da Justiça, Flávio Dino, o Museu da Verdade.

Lula exibe a bandeira brasileira, em São Paulo, no dia em que aguardava a notícia de que seria eleito presidente. Foto: WERTHER SANTANA/ESTADÃO - 30/10/2022

O presidente diz que a ditadura “faz parte da história”. Manifestantes pedindo intervenção militar, com cartazes escritos AI-5, camisetas com o rosto do torturador Brilhante Ustra, ou a frase “Ustra Vive”, não são história. A dor e o sofrimento de quem teve um familiar torturado, morto, desaparecido não são história. Autoridades públicas exaltando a repressão do regime militar, inclusive a tortura, a censura de livros, exposições, perseguição e morte de jornalistas, como Dom Phillips, não são história.

Os abusos da PM paulista na operação na Baixada Santista, o caso Amarildo, Marielle e Anderson, a absolvição de militares que mataram o músico Evaldo, a herança de uma sociedade escravocrata, o genocídio indígena, não são história, mas efeitos da impunidade do passado, de uma sociedade violenta e da falta de memória e covardia de quem deveria liderar.

A tentativa do golpe de 8 de janeiro não teria acontecido se não varrêssemos para debaixo do tapete a tragédia brasileira. Não é apenas por conta de militares legalistas que o Brasil tem uma democracia resguardada, é pelo passado de que ainda não nos esquecemos, inclusive a Comissão Nacional da Verdade, mas que futuras gerações podem achar que é história.

Minha vida, infelizmente, sempre foi com mais transtornos do que planejei. Quando pensei que encerrava meu ciclo de textos em que tragédias pessoais e familiares estavam na premissa, me vejo novamente no topo de um vulcão. Queria escrever sobre o novo sofá de quatro lugares reclinável do Palácio da Alvorada. Os ocupantes têm de votar sobre quantos graus o encosto deve ficar?

Mas Lula... Ele representa o governo com traumas recentes em mexer em feridas da ditadura militar. Porém, o Estado é construído pelos traumas e tem o dever de relembrar suas mazelas, não temer.

Dilma abriu o debate do que aconteceu e de quem foram os agentes de crimes cometidos durante os anos de chumbo. Os anteriores, Tancredo, Sarney, Collor, FHC e Lula, homens, governaram pisando em ovos, sob o pacto invisível de não desagradar a setores que, na República, demonstraram não ter pudor em apontar a espada ou o canhão para derrubar um governo constitucional.

Lula, surpreendentemente, depois de tudo pelo que passou, logo ele, perseguido e preso durante a ditadura, não recebeu em seu terceiro mandato a Comissão Sobre Mortos e Desaparecidos, enrolou para recriá-la, determinou que órgãos do governo silenciassem sobre os 60 anos do Golpe de 64 e engavetou um projeto do seu ex-ministro da Justiça, Flávio Dino, o Museu da Verdade.

Lula exibe a bandeira brasileira, em São Paulo, no dia em que aguardava a notícia de que seria eleito presidente. Foto: WERTHER SANTANA/ESTADÃO - 30/10/2022

O presidente diz que a ditadura “faz parte da história”. Manifestantes pedindo intervenção militar, com cartazes escritos AI-5, camisetas com o rosto do torturador Brilhante Ustra, ou a frase “Ustra Vive”, não são história. A dor e o sofrimento de quem teve um familiar torturado, morto, desaparecido não são história. Autoridades públicas exaltando a repressão do regime militar, inclusive a tortura, a censura de livros, exposições, perseguição e morte de jornalistas, como Dom Phillips, não são história.

Os abusos da PM paulista na operação na Baixada Santista, o caso Amarildo, Marielle e Anderson, a absolvição de militares que mataram o músico Evaldo, a herança de uma sociedade escravocrata, o genocídio indígena, não são história, mas efeitos da impunidade do passado, de uma sociedade violenta e da falta de memória e covardia de quem deveria liderar.

A tentativa do golpe de 8 de janeiro não teria acontecido se não varrêssemos para debaixo do tapete a tragédia brasileira. Não é apenas por conta de militares legalistas que o Brasil tem uma democracia resguardada, é pelo passado de que ainda não nos esquecemos, inclusive a Comissão Nacional da Verdade, mas que futuras gerações podem achar que é história.

Minha vida, infelizmente, sempre foi com mais transtornos do que planejei. Quando pensei que encerrava meu ciclo de textos em que tragédias pessoais e familiares estavam na premissa, me vejo novamente no topo de um vulcão. Queria escrever sobre o novo sofá de quatro lugares reclinável do Palácio da Alvorada. Os ocupantes têm de votar sobre quantos graus o encosto deve ficar?

Mas Lula... Ele representa o governo com traumas recentes em mexer em feridas da ditadura militar. Porém, o Estado é construído pelos traumas e tem o dever de relembrar suas mazelas, não temer.

Dilma abriu o debate do que aconteceu e de quem foram os agentes de crimes cometidos durante os anos de chumbo. Os anteriores, Tancredo, Sarney, Collor, FHC e Lula, homens, governaram pisando em ovos, sob o pacto invisível de não desagradar a setores que, na República, demonstraram não ter pudor em apontar a espada ou o canhão para derrubar um governo constitucional.

Lula, surpreendentemente, depois de tudo pelo que passou, logo ele, perseguido e preso durante a ditadura, não recebeu em seu terceiro mandato a Comissão Sobre Mortos e Desaparecidos, enrolou para recriá-la, determinou que órgãos do governo silenciassem sobre os 60 anos do Golpe de 64 e engavetou um projeto do seu ex-ministro da Justiça, Flávio Dino, o Museu da Verdade.

Lula exibe a bandeira brasileira, em São Paulo, no dia em que aguardava a notícia de que seria eleito presidente. Foto: WERTHER SANTANA/ESTADÃO - 30/10/2022

O presidente diz que a ditadura “faz parte da história”. Manifestantes pedindo intervenção militar, com cartazes escritos AI-5, camisetas com o rosto do torturador Brilhante Ustra, ou a frase “Ustra Vive”, não são história. A dor e o sofrimento de quem teve um familiar torturado, morto, desaparecido não são história. Autoridades públicas exaltando a repressão do regime militar, inclusive a tortura, a censura de livros, exposições, perseguição e morte de jornalistas, como Dom Phillips, não são história.

Os abusos da PM paulista na operação na Baixada Santista, o caso Amarildo, Marielle e Anderson, a absolvição de militares que mataram o músico Evaldo, a herança de uma sociedade escravocrata, o genocídio indígena, não são história, mas efeitos da impunidade do passado, de uma sociedade violenta e da falta de memória e covardia de quem deveria liderar.

A tentativa do golpe de 8 de janeiro não teria acontecido se não varrêssemos para debaixo do tapete a tragédia brasileira. Não é apenas por conta de militares legalistas que o Brasil tem uma democracia resguardada, é pelo passado de que ainda não nos esquecemos, inclusive a Comissão Nacional da Verdade, mas que futuras gerações podem achar que é história.

Minha vida, infelizmente, sempre foi com mais transtornos do que planejei. Quando pensei que encerrava meu ciclo de textos em que tragédias pessoais e familiares estavam na premissa, me vejo novamente no topo de um vulcão. Queria escrever sobre o novo sofá de quatro lugares reclinável do Palácio da Alvorada. Os ocupantes têm de votar sobre quantos graus o encosto deve ficar?

Mas Lula... Ele representa o governo com traumas recentes em mexer em feridas da ditadura militar. Porém, o Estado é construído pelos traumas e tem o dever de relembrar suas mazelas, não temer.

Dilma abriu o debate do que aconteceu e de quem foram os agentes de crimes cometidos durante os anos de chumbo. Os anteriores, Tancredo, Sarney, Collor, FHC e Lula, homens, governaram pisando em ovos, sob o pacto invisível de não desagradar a setores que, na República, demonstraram não ter pudor em apontar a espada ou o canhão para derrubar um governo constitucional.

Lula, surpreendentemente, depois de tudo pelo que passou, logo ele, perseguido e preso durante a ditadura, não recebeu em seu terceiro mandato a Comissão Sobre Mortos e Desaparecidos, enrolou para recriá-la, determinou que órgãos do governo silenciassem sobre os 60 anos do Golpe de 64 e engavetou um projeto do seu ex-ministro da Justiça, Flávio Dino, o Museu da Verdade.

Lula exibe a bandeira brasileira, em São Paulo, no dia em que aguardava a notícia de que seria eleito presidente. Foto: WERTHER SANTANA/ESTADÃO - 30/10/2022

O presidente diz que a ditadura “faz parte da história”. Manifestantes pedindo intervenção militar, com cartazes escritos AI-5, camisetas com o rosto do torturador Brilhante Ustra, ou a frase “Ustra Vive”, não são história. A dor e o sofrimento de quem teve um familiar torturado, morto, desaparecido não são história. Autoridades públicas exaltando a repressão do regime militar, inclusive a tortura, a censura de livros, exposições, perseguição e morte de jornalistas, como Dom Phillips, não são história.

Os abusos da PM paulista na operação na Baixada Santista, o caso Amarildo, Marielle e Anderson, a absolvição de militares que mataram o músico Evaldo, a herança de uma sociedade escravocrata, o genocídio indígena, não são história, mas efeitos da impunidade do passado, de uma sociedade violenta e da falta de memória e covardia de quem deveria liderar.

A tentativa do golpe de 8 de janeiro não teria acontecido se não varrêssemos para debaixo do tapete a tragédia brasileira. Não é apenas por conta de militares legalistas que o Brasil tem uma democracia resguardada, é pelo passado de que ainda não nos esquecemos, inclusive a Comissão Nacional da Verdade, mas que futuras gerações podem achar que é história.

Opinião por Marcelo Rubens Paiva

É escritor, dramaturgo e autor de 'Feliz Ano Velho', entre outros

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