No dia 31 de março passado, domingo de Páscoa, foi deflagrada a 4.ª Caminhada do Silêncio, organizada por várias entidades. Desceria no fim da tarde no antigo DOI-Codi de São Paulo. Apesar do silêncio do governo sobre a data, manifestantes se acumularam com cartazes dos mortos e desaparecidos.
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Fui com meus dois filhos, Joaquim, 10 anos, e Sebastião, 7, que escreveu sem percebermos com um giz no asfalto “onde está meu vovô assinado Tião”. Levamos flores e uma grande faixa com a foto e o nome do vovô Rubens. Fazia uma tarde quente.
Começou o inquérito do Tião, o mesmo que Joaquim fez anos antes: por que prenderam e mataram seu vovozinho, por quer sumiram com o corpo, por que não acham ele...?
A caminhada descia em silêncio, num astral ótimo, quando, diante da entrada de um quartel da 2.ª Região Militar, uns dez soldado armados ficaram em alerta. Os meninos grudaram em mim. Guardas da Municipal e do DSV bloqueavam o trânsito. Cumpriam o dever.
Motoristas furiosos buzinavam. Estavam se lixando para a nossa causa. Bloqueamos uma pista bem diante do Obelisco, no Ibirapuera, onde tem o Memorial dos Mortos e Desaparecidos. Anoitecia. Acenderam velas. Um carro gritou:
– Viva Bolsonaro!
– O próximo que gritar, vou bater com o cartaz – eu disse. Joaquim me repreendeu:
– Mas não é uma democracia? Se fosse uma manifestação do Bolsonaro e você falasse contra, ia querer que batessem no seu carro?
Recebi uma lição de republicanismo do meu filho. Então, chegou a PM e o humor mudou. Encostaram viaturas diante da manifestação, um desceu com um rifle maior do que o Joaquim. De um lado, o ambiente hostil da PM, do outro, vítimas da ditadura, muitos ex-presos, torturados, professores, estudantes, familiares, jovens com velas, cantando.
Chegando em casa, eu organizava a janta. Tião com o meu notebook me chamou. Foi dar um Google (onde estava seu avô) e encontrou muitas matérias. Me mostrou a estação de metrô Engenheiro Rubens Paiva, no Rio de Janeiro. Encontrou muitos lugares nomeados em homenagem a ele. Continuou sem entender o porquê.
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No site da Veja, no dia seguinte, a matéria O Menino Que Fez Mais Que o Governo, o STF e o Congresso nos 60 Anos do Golpe, do repórter Matheus Leitão: “Se vivo fosse, Ulysses Guimarães, que ergueu a Constituição, veria, 60 anos após o golpe, o neto de Rubens fazendo mais que um ex-líder sindical, um ex-advogado (Luís Roberto Barroso, presidente do STF) e um que hoje preside o Congresso Nacional (Rodrigo Pacheco)”.
Governo omisso com a História. Que não acaba num ponto final, mas em reticências...