Coluna quinzenal da jornalista Maria Fernanda Rodrigues com dicas de leitura

Opinião|'A Filha Primitiva' investiga os efeitos do silêncio em relações marcadas por traumas


No romance premiado de Vanessa Passos, narradora busca suas origens enquanto sua mãe silencia dores do passado e filha precisa de atenção

Por Maria Fernanda Rodrigues

Três mulheres desamparadas: avó, mãe e filha. Elas são as personagens de A Filha Primitiva, romance de estreia de Vanessa Passos, vencedor da última edição do Prêmio Kindle de Literatura e cuja edição impressa a José Olympio começa a mandar agora para as livrarias.

Elas não têm nome. Os homens, sim. E isso é simbólico – como se a dor de cada uma fosse a dor da outra, e de tantas outras, e para que os responsáveis sejam reconhecidos: o abusador, o espancador, o pedófilo, o racista, o que foge, todos os que seguem em paz apesar de suas ações. Essa é uma leitura.

Narradora de 'A Filha Primitiva' é uma escritora às voltas com um livro, a mãe, a filha e seu passado desconhecido Foto: Katrina S/Pixabay
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A Filha Primitiva é sobre ser mulher, ser mulher e ser criança numa sociedade machista e racista e que, muitas vezes, nega o direito à infância. É também sobre a maternidade e como estar nesse mundo quando não sabemos quem somos ou não acreditamos em redenção. Sobre sentir uma falta tão grande, uma raiva tão extrema, que nos impede de enxergar o outro e ver que ele também sofre. É sobre o que calamos, sobre como isso define histórias e identidades, e sobre o movimento que se inicia quando nos dispomos a enfrentar nossos traumas e falar sobre eles.

O romance é narrado pela mulher do meio – a filha em busca de sua origem, a mãe que rejeita sua bebê, a professora de literatura de alunos que vão à escola pela merenda e pela água potável, a escritora com uma história de pernas para o ar, mas em construção.

Aos 23 anos, ela se sente o tempo todo julgada pela mãe porque engravidou, porque não tem fé, porque sente raiva. E o tempo todo ela só quer saber quem é seu pai. Essa é a pergunta que a move e, ao mesmo tempo, a paralisa.

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Nada naquela casa remete a algum passado. É como se a história da família de três começasse quando a mãe se torna mãe. Sozinha, trabalhando como empregada doméstica, ela cria a filha até que algo acontece no trabalho e ela tem uma crise de pânico. Não aceita remédio, só Deus. Ela não fala sobre isso. A filha também não fala sobre suas cicatrizes. 

“Minha mãe é uma daquelas personagens que a gente odeia e, ainda assim, não consegue deixar de acompanhar. À primeira vista, uma pessoa simples, negra, analfabeta (...). Olhando assim, até dava para sentir pena dela, mas na literatura e na vida nada é o que parece. Essa mulher que chamo de mãe escondeu de mim, a vida toda, minha origem”, diz.

E o que fazer quando tudo é revelado? O que fazer diante da dor do outro? O que fazer com essa herança, que é dela e de todos nós? Talvez viver, escrever, proteger a infância da menina. E ter um pouco de esperança. 

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A Filha Primitiva Autora: Vanessa Passos Editora: José Olympio (176 págs.; R$ 44,90; R$ 17,90 o e-book)

Três mulheres desamparadas: avó, mãe e filha. Elas são as personagens de A Filha Primitiva, romance de estreia de Vanessa Passos, vencedor da última edição do Prêmio Kindle de Literatura e cuja edição impressa a José Olympio começa a mandar agora para as livrarias.

Elas não têm nome. Os homens, sim. E isso é simbólico – como se a dor de cada uma fosse a dor da outra, e de tantas outras, e para que os responsáveis sejam reconhecidos: o abusador, o espancador, o pedófilo, o racista, o que foge, todos os que seguem em paz apesar de suas ações. Essa é uma leitura.

Narradora de 'A Filha Primitiva' é uma escritora às voltas com um livro, a mãe, a filha e seu passado desconhecido Foto: Katrina S/Pixabay

A Filha Primitiva é sobre ser mulher, ser mulher e ser criança numa sociedade machista e racista e que, muitas vezes, nega o direito à infância. É também sobre a maternidade e como estar nesse mundo quando não sabemos quem somos ou não acreditamos em redenção. Sobre sentir uma falta tão grande, uma raiva tão extrema, que nos impede de enxergar o outro e ver que ele também sofre. É sobre o que calamos, sobre como isso define histórias e identidades, e sobre o movimento que se inicia quando nos dispomos a enfrentar nossos traumas e falar sobre eles.

O romance é narrado pela mulher do meio – a filha em busca de sua origem, a mãe que rejeita sua bebê, a professora de literatura de alunos que vão à escola pela merenda e pela água potável, a escritora com uma história de pernas para o ar, mas em construção.

Aos 23 anos, ela se sente o tempo todo julgada pela mãe porque engravidou, porque não tem fé, porque sente raiva. E o tempo todo ela só quer saber quem é seu pai. Essa é a pergunta que a move e, ao mesmo tempo, a paralisa.

Nada naquela casa remete a algum passado. É como se a história da família de três começasse quando a mãe se torna mãe. Sozinha, trabalhando como empregada doméstica, ela cria a filha até que algo acontece no trabalho e ela tem uma crise de pânico. Não aceita remédio, só Deus. Ela não fala sobre isso. A filha também não fala sobre suas cicatrizes. 

“Minha mãe é uma daquelas personagens que a gente odeia e, ainda assim, não consegue deixar de acompanhar. À primeira vista, uma pessoa simples, negra, analfabeta (...). Olhando assim, até dava para sentir pena dela, mas na literatura e na vida nada é o que parece. Essa mulher que chamo de mãe escondeu de mim, a vida toda, minha origem”, diz.

E o que fazer quando tudo é revelado? O que fazer diante da dor do outro? O que fazer com essa herança, que é dela e de todos nós? Talvez viver, escrever, proteger a infância da menina. E ter um pouco de esperança. 

A Filha Primitiva Autora: Vanessa Passos Editora: José Olympio (176 págs.; R$ 44,90; R$ 17,90 o e-book)

Três mulheres desamparadas: avó, mãe e filha. Elas são as personagens de A Filha Primitiva, romance de estreia de Vanessa Passos, vencedor da última edição do Prêmio Kindle de Literatura e cuja edição impressa a José Olympio começa a mandar agora para as livrarias.

Elas não têm nome. Os homens, sim. E isso é simbólico – como se a dor de cada uma fosse a dor da outra, e de tantas outras, e para que os responsáveis sejam reconhecidos: o abusador, o espancador, o pedófilo, o racista, o que foge, todos os que seguem em paz apesar de suas ações. Essa é uma leitura.

Narradora de 'A Filha Primitiva' é uma escritora às voltas com um livro, a mãe, a filha e seu passado desconhecido Foto: Katrina S/Pixabay

A Filha Primitiva é sobre ser mulher, ser mulher e ser criança numa sociedade machista e racista e que, muitas vezes, nega o direito à infância. É também sobre a maternidade e como estar nesse mundo quando não sabemos quem somos ou não acreditamos em redenção. Sobre sentir uma falta tão grande, uma raiva tão extrema, que nos impede de enxergar o outro e ver que ele também sofre. É sobre o que calamos, sobre como isso define histórias e identidades, e sobre o movimento que se inicia quando nos dispomos a enfrentar nossos traumas e falar sobre eles.

O romance é narrado pela mulher do meio – a filha em busca de sua origem, a mãe que rejeita sua bebê, a professora de literatura de alunos que vão à escola pela merenda e pela água potável, a escritora com uma história de pernas para o ar, mas em construção.

Aos 23 anos, ela se sente o tempo todo julgada pela mãe porque engravidou, porque não tem fé, porque sente raiva. E o tempo todo ela só quer saber quem é seu pai. Essa é a pergunta que a move e, ao mesmo tempo, a paralisa.

Nada naquela casa remete a algum passado. É como se a história da família de três começasse quando a mãe se torna mãe. Sozinha, trabalhando como empregada doméstica, ela cria a filha até que algo acontece no trabalho e ela tem uma crise de pânico. Não aceita remédio, só Deus. Ela não fala sobre isso. A filha também não fala sobre suas cicatrizes. 

“Minha mãe é uma daquelas personagens que a gente odeia e, ainda assim, não consegue deixar de acompanhar. À primeira vista, uma pessoa simples, negra, analfabeta (...). Olhando assim, até dava para sentir pena dela, mas na literatura e na vida nada é o que parece. Essa mulher que chamo de mãe escondeu de mim, a vida toda, minha origem”, diz.

E o que fazer quando tudo é revelado? O que fazer diante da dor do outro? O que fazer com essa herança, que é dela e de todos nós? Talvez viver, escrever, proteger a infância da menina. E ter um pouco de esperança. 

A Filha Primitiva Autora: Vanessa Passos Editora: José Olympio (176 págs.; R$ 44,90; R$ 17,90 o e-book)

Três mulheres desamparadas: avó, mãe e filha. Elas são as personagens de A Filha Primitiva, romance de estreia de Vanessa Passos, vencedor da última edição do Prêmio Kindle de Literatura e cuja edição impressa a José Olympio começa a mandar agora para as livrarias.

Elas não têm nome. Os homens, sim. E isso é simbólico – como se a dor de cada uma fosse a dor da outra, e de tantas outras, e para que os responsáveis sejam reconhecidos: o abusador, o espancador, o pedófilo, o racista, o que foge, todos os que seguem em paz apesar de suas ações. Essa é uma leitura.

Narradora de 'A Filha Primitiva' é uma escritora às voltas com um livro, a mãe, a filha e seu passado desconhecido Foto: Katrina S/Pixabay

A Filha Primitiva é sobre ser mulher, ser mulher e ser criança numa sociedade machista e racista e que, muitas vezes, nega o direito à infância. É também sobre a maternidade e como estar nesse mundo quando não sabemos quem somos ou não acreditamos em redenção. Sobre sentir uma falta tão grande, uma raiva tão extrema, que nos impede de enxergar o outro e ver que ele também sofre. É sobre o que calamos, sobre como isso define histórias e identidades, e sobre o movimento que se inicia quando nos dispomos a enfrentar nossos traumas e falar sobre eles.

O romance é narrado pela mulher do meio – a filha em busca de sua origem, a mãe que rejeita sua bebê, a professora de literatura de alunos que vão à escola pela merenda e pela água potável, a escritora com uma história de pernas para o ar, mas em construção.

Aos 23 anos, ela se sente o tempo todo julgada pela mãe porque engravidou, porque não tem fé, porque sente raiva. E o tempo todo ela só quer saber quem é seu pai. Essa é a pergunta que a move e, ao mesmo tempo, a paralisa.

Nada naquela casa remete a algum passado. É como se a história da família de três começasse quando a mãe se torna mãe. Sozinha, trabalhando como empregada doméstica, ela cria a filha até que algo acontece no trabalho e ela tem uma crise de pânico. Não aceita remédio, só Deus. Ela não fala sobre isso. A filha também não fala sobre suas cicatrizes. 

“Minha mãe é uma daquelas personagens que a gente odeia e, ainda assim, não consegue deixar de acompanhar. À primeira vista, uma pessoa simples, negra, analfabeta (...). Olhando assim, até dava para sentir pena dela, mas na literatura e na vida nada é o que parece. Essa mulher que chamo de mãe escondeu de mim, a vida toda, minha origem”, diz.

E o que fazer quando tudo é revelado? O que fazer diante da dor do outro? O que fazer com essa herança, que é dela e de todos nós? Talvez viver, escrever, proteger a infância da menina. E ter um pouco de esperança. 

A Filha Primitiva Autora: Vanessa Passos Editora: José Olympio (176 págs.; R$ 44,90; R$ 17,90 o e-book)

Três mulheres desamparadas: avó, mãe e filha. Elas são as personagens de A Filha Primitiva, romance de estreia de Vanessa Passos, vencedor da última edição do Prêmio Kindle de Literatura e cuja edição impressa a José Olympio começa a mandar agora para as livrarias.

Elas não têm nome. Os homens, sim. E isso é simbólico – como se a dor de cada uma fosse a dor da outra, e de tantas outras, e para que os responsáveis sejam reconhecidos: o abusador, o espancador, o pedófilo, o racista, o que foge, todos os que seguem em paz apesar de suas ações. Essa é uma leitura.

Narradora de 'A Filha Primitiva' é uma escritora às voltas com um livro, a mãe, a filha e seu passado desconhecido Foto: Katrina S/Pixabay

A Filha Primitiva é sobre ser mulher, ser mulher e ser criança numa sociedade machista e racista e que, muitas vezes, nega o direito à infância. É também sobre a maternidade e como estar nesse mundo quando não sabemos quem somos ou não acreditamos em redenção. Sobre sentir uma falta tão grande, uma raiva tão extrema, que nos impede de enxergar o outro e ver que ele também sofre. É sobre o que calamos, sobre como isso define histórias e identidades, e sobre o movimento que se inicia quando nos dispomos a enfrentar nossos traumas e falar sobre eles.

O romance é narrado pela mulher do meio – a filha em busca de sua origem, a mãe que rejeita sua bebê, a professora de literatura de alunos que vão à escola pela merenda e pela água potável, a escritora com uma história de pernas para o ar, mas em construção.

Aos 23 anos, ela se sente o tempo todo julgada pela mãe porque engravidou, porque não tem fé, porque sente raiva. E o tempo todo ela só quer saber quem é seu pai. Essa é a pergunta que a move e, ao mesmo tempo, a paralisa.

Nada naquela casa remete a algum passado. É como se a história da família de três começasse quando a mãe se torna mãe. Sozinha, trabalhando como empregada doméstica, ela cria a filha até que algo acontece no trabalho e ela tem uma crise de pânico. Não aceita remédio, só Deus. Ela não fala sobre isso. A filha também não fala sobre suas cicatrizes. 

“Minha mãe é uma daquelas personagens que a gente odeia e, ainda assim, não consegue deixar de acompanhar. À primeira vista, uma pessoa simples, negra, analfabeta (...). Olhando assim, até dava para sentir pena dela, mas na literatura e na vida nada é o que parece. Essa mulher que chamo de mãe escondeu de mim, a vida toda, minha origem”, diz.

E o que fazer quando tudo é revelado? O que fazer diante da dor do outro? O que fazer com essa herança, que é dela e de todos nós? Talvez viver, escrever, proteger a infância da menina. E ter um pouco de esperança. 

A Filha Primitiva Autora: Vanessa Passos Editora: José Olympio (176 págs.; R$ 44,90; R$ 17,90 o e-book)

Opinião por Maria Fernanda Rodrigues

Editora de Cultura e jornalista especializada em literatura e mercado editorial

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