Coluna quinzenal da jornalista Maria Fernanda Rodrigues com dicas de leitura

Opinião|A forma da felicidade perfeita


Em ‘A Vida Descalço’, misto de ensaio com livro de memórias, Alan Pauls escreve sobre a praia e suas lembranças dos verões de sua infância

Por Maria Fernanda Rodrigues
Atualização:

Último sopro do verão trazendo a memória de outros verões, outras paisagens. Villa Gesell, Argentina, anos 1960 e 1970. Era ali que um menino passava suas férias só com o pai, já separado da mãe, e o irmão.

O menino é Alan Pauls, que se tornaria um dos principais nomes da literatura argentina contemporânea, autor de, entre outros, O Passado e A Vida Descalço – o livro da semana.

Publicada originalmente pela Cosac Naify, a obra, algo entre o ensaio e a memória, acaba de voltar às livrarias.

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Pauls, ou este narrador “devoto da praia”, parte da nossa produção onírica para iniciar sua investigação sobre este espaço atrás do tempo. Por que se sonha tanto na praia? Porque ela é um território livre de imagens? O que buscamos na praia? As marcas do que o mundo era antes que a mão do homem decidisse reescrevê-lo?

São questões como essas que ele vai colocando para refletir sobre ideias como a de que a praia é uma forma de vida e apresentar seus “usos e costumes” desde os tempos mais antigos – harmonia entre o corpo e a natureza, depois um limite a não ser ultrapassado, cenário de guerra, toda a mitologia erótica, o que se vende na publicidade sobre ela, como o cinema e a literatura a veem e o que ela representa para o autor (e para o menino que ele foi). Porque logo a memória se impõe, e a história ganha delicadeza.

Na obra de Alan Pauls aparecem praias da Argentina, Uruguai e até do Brasil Foto: Myriam Marchesich/Pixabay/Banco de Imagens
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Aqueles 28 dias de fevereiro que passava no litoral eram, para o garoto, “o emblema da felicidade absoluta”. Aventuras sobre a areia e no mar, a pele seca e bronzeada, o parque, o cinema, a banca de revista, o alfajor. O pai – que no final de um dia bem vivido “me levava a cavalo sobre seus ombros, enquanto eu me deixava pentear pelos galhos das árvores”.

O livro é entremeado por fotos de seu acervo pessoal, e de outras memórias – como a do dia em que acordou doente, não pôde ir à praia e mergulhou na leitura de um livro – algo que ele descobriria ser a “outra forma de felicidade perfeita”.

Neste reencontro de Pauls com sua infância, também nós, leitores, visitamos nossas lembranças e saudades de verões passados (a avó cor-de-rosa, um palito de sorvete premiado, o cheiro do mar).

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Publicado originalmente pela Cosac Naify, 'A Vida Descalço' volta às livrarias pela Companhia das Letras Foto: Reprodução de capa/Companhia das Letras

Enquanto escrevo, me lembro de outro livro ainda mais bonito, que li para o meu filho e me tocou profundamente: Castelos de Areia (Ôzé), de Márcia Leite e Odilon Moraes. “Que bom que era. Que bom que foi”, conclui a narradora sobre as férias da família, que se repetiam ano após ano até não se repetirem mais “porque as pessoas, assim com as ondas, arrebentam e viram espuma”. Fica a memória, o sorriso, a literatura.

A Vida Descalço

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Autor: Alan Pauls

Editora: Companhia das Letras (104 págs.; R$ 64,90; R$ 37,90 o e-book)

Último sopro do verão trazendo a memória de outros verões, outras paisagens. Villa Gesell, Argentina, anos 1960 e 1970. Era ali que um menino passava suas férias só com o pai, já separado da mãe, e o irmão.

O menino é Alan Pauls, que se tornaria um dos principais nomes da literatura argentina contemporânea, autor de, entre outros, O Passado e A Vida Descalço – o livro da semana.

Publicada originalmente pela Cosac Naify, a obra, algo entre o ensaio e a memória, acaba de voltar às livrarias.

Pauls, ou este narrador “devoto da praia”, parte da nossa produção onírica para iniciar sua investigação sobre este espaço atrás do tempo. Por que se sonha tanto na praia? Porque ela é um território livre de imagens? O que buscamos na praia? As marcas do que o mundo era antes que a mão do homem decidisse reescrevê-lo?

São questões como essas que ele vai colocando para refletir sobre ideias como a de que a praia é uma forma de vida e apresentar seus “usos e costumes” desde os tempos mais antigos – harmonia entre o corpo e a natureza, depois um limite a não ser ultrapassado, cenário de guerra, toda a mitologia erótica, o que se vende na publicidade sobre ela, como o cinema e a literatura a veem e o que ela representa para o autor (e para o menino que ele foi). Porque logo a memória se impõe, e a história ganha delicadeza.

Na obra de Alan Pauls aparecem praias da Argentina, Uruguai e até do Brasil Foto: Myriam Marchesich/Pixabay/Banco de Imagens

Aqueles 28 dias de fevereiro que passava no litoral eram, para o garoto, “o emblema da felicidade absoluta”. Aventuras sobre a areia e no mar, a pele seca e bronzeada, o parque, o cinema, a banca de revista, o alfajor. O pai – que no final de um dia bem vivido “me levava a cavalo sobre seus ombros, enquanto eu me deixava pentear pelos galhos das árvores”.

O livro é entremeado por fotos de seu acervo pessoal, e de outras memórias – como a do dia em que acordou doente, não pôde ir à praia e mergulhou na leitura de um livro – algo que ele descobriria ser a “outra forma de felicidade perfeita”.

Neste reencontro de Pauls com sua infância, também nós, leitores, visitamos nossas lembranças e saudades de verões passados (a avó cor-de-rosa, um palito de sorvete premiado, o cheiro do mar).

Publicado originalmente pela Cosac Naify, 'A Vida Descalço' volta às livrarias pela Companhia das Letras Foto: Reprodução de capa/Companhia das Letras

Enquanto escrevo, me lembro de outro livro ainda mais bonito, que li para o meu filho e me tocou profundamente: Castelos de Areia (Ôzé), de Márcia Leite e Odilon Moraes. “Que bom que era. Que bom que foi”, conclui a narradora sobre as férias da família, que se repetiam ano após ano até não se repetirem mais “porque as pessoas, assim com as ondas, arrebentam e viram espuma”. Fica a memória, o sorriso, a literatura.

A Vida Descalço

Autor: Alan Pauls

Editora: Companhia das Letras (104 págs.; R$ 64,90; R$ 37,90 o e-book)

Último sopro do verão trazendo a memória de outros verões, outras paisagens. Villa Gesell, Argentina, anos 1960 e 1970. Era ali que um menino passava suas férias só com o pai, já separado da mãe, e o irmão.

O menino é Alan Pauls, que se tornaria um dos principais nomes da literatura argentina contemporânea, autor de, entre outros, O Passado e A Vida Descalço – o livro da semana.

Publicada originalmente pela Cosac Naify, a obra, algo entre o ensaio e a memória, acaba de voltar às livrarias.

Pauls, ou este narrador “devoto da praia”, parte da nossa produção onírica para iniciar sua investigação sobre este espaço atrás do tempo. Por que se sonha tanto na praia? Porque ela é um território livre de imagens? O que buscamos na praia? As marcas do que o mundo era antes que a mão do homem decidisse reescrevê-lo?

São questões como essas que ele vai colocando para refletir sobre ideias como a de que a praia é uma forma de vida e apresentar seus “usos e costumes” desde os tempos mais antigos – harmonia entre o corpo e a natureza, depois um limite a não ser ultrapassado, cenário de guerra, toda a mitologia erótica, o que se vende na publicidade sobre ela, como o cinema e a literatura a veem e o que ela representa para o autor (e para o menino que ele foi). Porque logo a memória se impõe, e a história ganha delicadeza.

Na obra de Alan Pauls aparecem praias da Argentina, Uruguai e até do Brasil Foto: Myriam Marchesich/Pixabay/Banco de Imagens

Aqueles 28 dias de fevereiro que passava no litoral eram, para o garoto, “o emblema da felicidade absoluta”. Aventuras sobre a areia e no mar, a pele seca e bronzeada, o parque, o cinema, a banca de revista, o alfajor. O pai – que no final de um dia bem vivido “me levava a cavalo sobre seus ombros, enquanto eu me deixava pentear pelos galhos das árvores”.

O livro é entremeado por fotos de seu acervo pessoal, e de outras memórias – como a do dia em que acordou doente, não pôde ir à praia e mergulhou na leitura de um livro – algo que ele descobriria ser a “outra forma de felicidade perfeita”.

Neste reencontro de Pauls com sua infância, também nós, leitores, visitamos nossas lembranças e saudades de verões passados (a avó cor-de-rosa, um palito de sorvete premiado, o cheiro do mar).

Publicado originalmente pela Cosac Naify, 'A Vida Descalço' volta às livrarias pela Companhia das Letras Foto: Reprodução de capa/Companhia das Letras

Enquanto escrevo, me lembro de outro livro ainda mais bonito, que li para o meu filho e me tocou profundamente: Castelos de Areia (Ôzé), de Márcia Leite e Odilon Moraes. “Que bom que era. Que bom que foi”, conclui a narradora sobre as férias da família, que se repetiam ano após ano até não se repetirem mais “porque as pessoas, assim com as ondas, arrebentam e viram espuma”. Fica a memória, o sorriso, a literatura.

A Vida Descalço

Autor: Alan Pauls

Editora: Companhia das Letras (104 págs.; R$ 64,90; R$ 37,90 o e-book)

Opinião por Maria Fernanda Rodrigues

Editora de Cultura e jornalista especializada em literatura e mercado editorial

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