Coluna quinzenal da jornalista Maria Fernanda Rodrigues com dicas de leitura

Opinião|Amós Oz: Livro revela histórias sobre o escritor pelo olhar de quem o ajudou a ver além da escuridão


Em ‘Meu Amós’, Nili Oz conta suas memórias como companheira de um dos mais influentes escritores israelenses, morto em 2018

Por Maria Fernanda Rodrigues
Atualização:

Nili Oz (1939) esteve ao lado de Amós Oz (1939-2018) durante quase toda a vida dele – desde que ele era um menino desamparado vivendo num kibutz em Israel. Ela foi sua primeira paixão, sua mulher, a mãe dos seus filhos, sua primeira leitora. Não esteve com ele no momento mais difícil de sua vida (e que pesaria sobre todo o resto) – o suicídio de sua mãe quanto ele tinha 12 anos –, mas o ajudou a viver com isso, e apesar disso.

Ela conta suas memórias como companheira de um dos mais influentes escritores israelenses em Meu Amós. A obra teve origem em conversas semanais que ela manteve com uma prima ao longo de um ano e meio. Daniel, o filho mais novo, ajudou a dar forma à rememoração da mãe. O esforço não resultou num livro exatamente redondo, mas é bonito de ler.

Por meio das histórias, conhecemos o escritor a partir de um ponto de vista pessoal e amoroso. E entendemos como a força de Nili – ou sua luz, como ele dizia – pôde, ao lado da literatura, dar algum sentido à desordem do mundo – interior e exterior.

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Amós Oz em São Paulo, em 2017, quando lançou 'Mais de Uma Luz'; entre seus maiores sucessos estão 'De Amor e Trevas', 'Meu Michel' e 'A Caixa-Preta' Foto: Daniel Teixeira/Estadão

A obra começa com ela contando de um bilhete que achou depois da morte dele: “Pedir a Nili que encontre alguém que me ensine a dançar, que me ensine a cantar e talvez também a tocar acordeão”. Ela escreve que mesmo no fim ele lamentava por não conseguir estar com ela em seu mundo – de dança, de alegria. E começa então o relato sobre como eles eram em seus 14, 15 anos, como se aproximaram e como se completaram ao longo de 60 anos de convivência.

Acompanhamos flashs da família no kibutz, o nascimento dos filhos, as mudanças para os EUA e Inglaterra, os primeiros livros escritos dentro de um banheiro apertado, sua busca por compreender o outro. Vemos Amós Oz na Guerra dos Seis Dias e do Yom Kippur, depois se recuperando de um grave acidente – e contando à mulher, pela primeira vez em detalhes, sobre a depressão e morte da mãe. E vemos Amós Oz diante de crianças brasileiras encenando seu livro De Repente nas Profundezas do Bosque – e ele às lágrimas. Foi naquela Flip, em 2007, que o conheci. Em 2016, voltamos a falar – sobre Como Curar um Fanático (LEIA AQUI A ENTREVISTA). Foi interessante o reencontro agora.

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Amós Oz e Nili, na plateia da Flipinha, em 2007; ela comentou esse dia no livro 'Meu Amós Foto: Ed Viggiani/Estadão

Nili entrelaça vida e obra, e divide com os leitores o discurso de Amós no aniversário dela de 60 anos. “Quando você me encontrou eu parecia ainda mais miserável que meus personagens”, ele disse. “Lentamente, um centímetro por ano, ela consegue me aprimorar, devolver-me a meu melhor e ao caminho do bem. Deem-nos mais 40 anos como estes, e verão no fim que ainda chegarei a ser alguma coisa.”

'Meu Amós', de Nili Oz, foi lançado no Brasil em junho Foto: Reprodução/Companhia das Letras
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Meu Amós

  • Autora: Nili Oz
  • Trad.: Paulo Geiger
  • Editora: Companhia das Letras (144 págs.; R$ 69,90; R$ R$ 39,90 o e-book)

Nili Oz (1939) esteve ao lado de Amós Oz (1939-2018) durante quase toda a vida dele – desde que ele era um menino desamparado vivendo num kibutz em Israel. Ela foi sua primeira paixão, sua mulher, a mãe dos seus filhos, sua primeira leitora. Não esteve com ele no momento mais difícil de sua vida (e que pesaria sobre todo o resto) – o suicídio de sua mãe quanto ele tinha 12 anos –, mas o ajudou a viver com isso, e apesar disso.

Ela conta suas memórias como companheira de um dos mais influentes escritores israelenses em Meu Amós. A obra teve origem em conversas semanais que ela manteve com uma prima ao longo de um ano e meio. Daniel, o filho mais novo, ajudou a dar forma à rememoração da mãe. O esforço não resultou num livro exatamente redondo, mas é bonito de ler.

Por meio das histórias, conhecemos o escritor a partir de um ponto de vista pessoal e amoroso. E entendemos como a força de Nili – ou sua luz, como ele dizia – pôde, ao lado da literatura, dar algum sentido à desordem do mundo – interior e exterior.

Amós Oz em São Paulo, em 2017, quando lançou 'Mais de Uma Luz'; entre seus maiores sucessos estão 'De Amor e Trevas', 'Meu Michel' e 'A Caixa-Preta' Foto: Daniel Teixeira/Estadão

A obra começa com ela contando de um bilhete que achou depois da morte dele: “Pedir a Nili que encontre alguém que me ensine a dançar, que me ensine a cantar e talvez também a tocar acordeão”. Ela escreve que mesmo no fim ele lamentava por não conseguir estar com ela em seu mundo – de dança, de alegria. E começa então o relato sobre como eles eram em seus 14, 15 anos, como se aproximaram e como se completaram ao longo de 60 anos de convivência.

Acompanhamos flashs da família no kibutz, o nascimento dos filhos, as mudanças para os EUA e Inglaterra, os primeiros livros escritos dentro de um banheiro apertado, sua busca por compreender o outro. Vemos Amós Oz na Guerra dos Seis Dias e do Yom Kippur, depois se recuperando de um grave acidente – e contando à mulher, pela primeira vez em detalhes, sobre a depressão e morte da mãe. E vemos Amós Oz diante de crianças brasileiras encenando seu livro De Repente nas Profundezas do Bosque – e ele às lágrimas. Foi naquela Flip, em 2007, que o conheci. Em 2016, voltamos a falar – sobre Como Curar um Fanático (LEIA AQUI A ENTREVISTA). Foi interessante o reencontro agora.

Amós Oz e Nili, na plateia da Flipinha, em 2007; ela comentou esse dia no livro 'Meu Amós Foto: Ed Viggiani/Estadão

Nili entrelaça vida e obra, e divide com os leitores o discurso de Amós no aniversário dela de 60 anos. “Quando você me encontrou eu parecia ainda mais miserável que meus personagens”, ele disse. “Lentamente, um centímetro por ano, ela consegue me aprimorar, devolver-me a meu melhor e ao caminho do bem. Deem-nos mais 40 anos como estes, e verão no fim que ainda chegarei a ser alguma coisa.”

'Meu Amós', de Nili Oz, foi lançado no Brasil em junho Foto: Reprodução/Companhia das Letras

Meu Amós

  • Autora: Nili Oz
  • Trad.: Paulo Geiger
  • Editora: Companhia das Letras (144 págs.; R$ 69,90; R$ R$ 39,90 o e-book)

Nili Oz (1939) esteve ao lado de Amós Oz (1939-2018) durante quase toda a vida dele – desde que ele era um menino desamparado vivendo num kibutz em Israel. Ela foi sua primeira paixão, sua mulher, a mãe dos seus filhos, sua primeira leitora. Não esteve com ele no momento mais difícil de sua vida (e que pesaria sobre todo o resto) – o suicídio de sua mãe quanto ele tinha 12 anos –, mas o ajudou a viver com isso, e apesar disso.

Ela conta suas memórias como companheira de um dos mais influentes escritores israelenses em Meu Amós. A obra teve origem em conversas semanais que ela manteve com uma prima ao longo de um ano e meio. Daniel, o filho mais novo, ajudou a dar forma à rememoração da mãe. O esforço não resultou num livro exatamente redondo, mas é bonito de ler.

Por meio das histórias, conhecemos o escritor a partir de um ponto de vista pessoal e amoroso. E entendemos como a força de Nili – ou sua luz, como ele dizia – pôde, ao lado da literatura, dar algum sentido à desordem do mundo – interior e exterior.

Amós Oz em São Paulo, em 2017, quando lançou 'Mais de Uma Luz'; entre seus maiores sucessos estão 'De Amor e Trevas', 'Meu Michel' e 'A Caixa-Preta' Foto: Daniel Teixeira/Estadão

A obra começa com ela contando de um bilhete que achou depois da morte dele: “Pedir a Nili que encontre alguém que me ensine a dançar, que me ensine a cantar e talvez também a tocar acordeão”. Ela escreve que mesmo no fim ele lamentava por não conseguir estar com ela em seu mundo – de dança, de alegria. E começa então o relato sobre como eles eram em seus 14, 15 anos, como se aproximaram e como se completaram ao longo de 60 anos de convivência.

Acompanhamos flashs da família no kibutz, o nascimento dos filhos, as mudanças para os EUA e Inglaterra, os primeiros livros escritos dentro de um banheiro apertado, sua busca por compreender o outro. Vemos Amós Oz na Guerra dos Seis Dias e do Yom Kippur, depois se recuperando de um grave acidente – e contando à mulher, pela primeira vez em detalhes, sobre a depressão e morte da mãe. E vemos Amós Oz diante de crianças brasileiras encenando seu livro De Repente nas Profundezas do Bosque – e ele às lágrimas. Foi naquela Flip, em 2007, que o conheci. Em 2016, voltamos a falar – sobre Como Curar um Fanático (LEIA AQUI A ENTREVISTA). Foi interessante o reencontro agora.

Amós Oz e Nili, na plateia da Flipinha, em 2007; ela comentou esse dia no livro 'Meu Amós Foto: Ed Viggiani/Estadão

Nili entrelaça vida e obra, e divide com os leitores o discurso de Amós no aniversário dela de 60 anos. “Quando você me encontrou eu parecia ainda mais miserável que meus personagens”, ele disse. “Lentamente, um centímetro por ano, ela consegue me aprimorar, devolver-me a meu melhor e ao caminho do bem. Deem-nos mais 40 anos como estes, e verão no fim que ainda chegarei a ser alguma coisa.”

'Meu Amós', de Nili Oz, foi lançado no Brasil em junho Foto: Reprodução/Companhia das Letras

Meu Amós

  • Autora: Nili Oz
  • Trad.: Paulo Geiger
  • Editora: Companhia das Letras (144 págs.; R$ 69,90; R$ R$ 39,90 o e-book)
Opinião por Maria Fernanda Rodrigues

Editora de Cultura e jornalista especializada em literatura e mercado editorial

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