Coluna quinzenal da jornalista Maria Fernanda Rodrigues com dicas de leitura

Opinião|Como lidar com a morte de quem acabou de te abandonar


Romance 'Aprender a Falar Com as Plantas', da catalã Marta Orriols, é narrado por Paula, que perde o marido duas vezes no mesmo dia

Por Maria Fernanda Rodrigues

Essa é a história de Paula. Ela tem 42 anos, é neonatologista em um hospital de Barcelona e vive há cerca de 15 anos com Mauro, um editor de livros apaixonado por plantas. Viviam juntos, mas estavam afastados. E ela achava que era normal.

Paula é a protagonista de Aprender a Falar Com as Plantas, romance da catalã Marta Orriols lançado este ano no Brasil. Em sua jornada de quase um ano, que acompanhamos na história, ela precisa aprender algo mais: a ser planta – a fincar raiz, procurar a luz, viver. E não vai ser fácil.

'Aprender a Falar Com as Plantas' se passa em Barcelona e outras vilas da região Foto: Makunin/Pixabay
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O que vem a seguir parece spoiler, mas é parte da sinopse. O casal sai para almoçar. Com o mar ao fundo, ele conta que tem outra mulher e vai sair de casa. Tenta um abraço, e ela recusa. Horas depois o telefone toca insistentemente. Paula demora a atender. Pensa que é ele e tem vontade de dizer que não adianta tentar nada, que não tem mais volta. E, de fato, não tem. Mauro está morto.

A autora escolheu um trecho de Altos Voos e Quedas Livres (Rocco) como epígrafe de seu romance – que é comovente e bonito, mas que não atinge a profundidade da obra que Julian Barnes escreveu após a morte da mulher.

Aprender a Falar Com as Plantas é sobre o processo de elaboração do luto de uma mulher que acaba de ser abandonada pelo companheiro, que não faria parte do futuro dele, caso houvesse um futuro. Uma mulher que não pode voltar atrás nem seguir em frente. Que sente ódio e raiva, amor e saudade, e que pergunta: “como posso guardar sua lembrança intacta e de maneira justa?” É difícil, ela sabe.

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Paula se fecha. Não fala sobre a traição, segura o choro. Passa seu tempo na UTI com bebês que lutam pela vida – dois em especial têm papel relevante em sua história. Pensa mais em sua mãe, que morreu quando ela tinha 7 anos. Pensa no luto de seu pai, que está ao seu lado neste momento de dor, e em seu próprio desamparo e nas escolhas passadas – como a recusa à maternidade.

No meio disso tudo, busca o desejo para confrontar a morte. Chega a vislumbrar alguma felicidade, e volta a se esconder atrás de sua sombra. 

Esse é um também um livro sobre nossos desencontros em vida, as coisas que calamos e que vão definindo caminhos, a impossibilidade de um adeus ou de desdizer algo. Sobre chegar tarde demais. Sobre culpas e lacunas que nunca serão preenchidas. Ausências que uma hora serão acomodadas. Tato e conexão. Sobre o tempo que precisamos não exatamente para enterrar um passado ou recomeçar, mas para deixarmos as feridas cicatrizarem e para nos reencontrarmos em nós mesmos. 

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Aprender a Falar Com as Plantas Autora: Marta Orriols Editora: Dublinense (240 págs.; R$ 59,90; R$ 39,90 o e-book)

Essa é a história de Paula. Ela tem 42 anos, é neonatologista em um hospital de Barcelona e vive há cerca de 15 anos com Mauro, um editor de livros apaixonado por plantas. Viviam juntos, mas estavam afastados. E ela achava que era normal.

Paula é a protagonista de Aprender a Falar Com as Plantas, romance da catalã Marta Orriols lançado este ano no Brasil. Em sua jornada de quase um ano, que acompanhamos na história, ela precisa aprender algo mais: a ser planta – a fincar raiz, procurar a luz, viver. E não vai ser fácil.

'Aprender a Falar Com as Plantas' se passa em Barcelona e outras vilas da região Foto: Makunin/Pixabay

O que vem a seguir parece spoiler, mas é parte da sinopse. O casal sai para almoçar. Com o mar ao fundo, ele conta que tem outra mulher e vai sair de casa. Tenta um abraço, e ela recusa. Horas depois o telefone toca insistentemente. Paula demora a atender. Pensa que é ele e tem vontade de dizer que não adianta tentar nada, que não tem mais volta. E, de fato, não tem. Mauro está morto.

A autora escolheu um trecho de Altos Voos e Quedas Livres (Rocco) como epígrafe de seu romance – que é comovente e bonito, mas que não atinge a profundidade da obra que Julian Barnes escreveu após a morte da mulher.

Aprender a Falar Com as Plantas é sobre o processo de elaboração do luto de uma mulher que acaba de ser abandonada pelo companheiro, que não faria parte do futuro dele, caso houvesse um futuro. Uma mulher que não pode voltar atrás nem seguir em frente. Que sente ódio e raiva, amor e saudade, e que pergunta: “como posso guardar sua lembrança intacta e de maneira justa?” É difícil, ela sabe.

Paula se fecha. Não fala sobre a traição, segura o choro. Passa seu tempo na UTI com bebês que lutam pela vida – dois em especial têm papel relevante em sua história. Pensa mais em sua mãe, que morreu quando ela tinha 7 anos. Pensa no luto de seu pai, que está ao seu lado neste momento de dor, e em seu próprio desamparo e nas escolhas passadas – como a recusa à maternidade.

No meio disso tudo, busca o desejo para confrontar a morte. Chega a vislumbrar alguma felicidade, e volta a se esconder atrás de sua sombra. 

Esse é um também um livro sobre nossos desencontros em vida, as coisas que calamos e que vão definindo caminhos, a impossibilidade de um adeus ou de desdizer algo. Sobre chegar tarde demais. Sobre culpas e lacunas que nunca serão preenchidas. Ausências que uma hora serão acomodadas. Tato e conexão. Sobre o tempo que precisamos não exatamente para enterrar um passado ou recomeçar, mas para deixarmos as feridas cicatrizarem e para nos reencontrarmos em nós mesmos. 

Aprender a Falar Com as Plantas Autora: Marta Orriols Editora: Dublinense (240 págs.; R$ 59,90; R$ 39,90 o e-book)

Essa é a história de Paula. Ela tem 42 anos, é neonatologista em um hospital de Barcelona e vive há cerca de 15 anos com Mauro, um editor de livros apaixonado por plantas. Viviam juntos, mas estavam afastados. E ela achava que era normal.

Paula é a protagonista de Aprender a Falar Com as Plantas, romance da catalã Marta Orriols lançado este ano no Brasil. Em sua jornada de quase um ano, que acompanhamos na história, ela precisa aprender algo mais: a ser planta – a fincar raiz, procurar a luz, viver. E não vai ser fácil.

'Aprender a Falar Com as Plantas' se passa em Barcelona e outras vilas da região Foto: Makunin/Pixabay

O que vem a seguir parece spoiler, mas é parte da sinopse. O casal sai para almoçar. Com o mar ao fundo, ele conta que tem outra mulher e vai sair de casa. Tenta um abraço, e ela recusa. Horas depois o telefone toca insistentemente. Paula demora a atender. Pensa que é ele e tem vontade de dizer que não adianta tentar nada, que não tem mais volta. E, de fato, não tem. Mauro está morto.

A autora escolheu um trecho de Altos Voos e Quedas Livres (Rocco) como epígrafe de seu romance – que é comovente e bonito, mas que não atinge a profundidade da obra que Julian Barnes escreveu após a morte da mulher.

Aprender a Falar Com as Plantas é sobre o processo de elaboração do luto de uma mulher que acaba de ser abandonada pelo companheiro, que não faria parte do futuro dele, caso houvesse um futuro. Uma mulher que não pode voltar atrás nem seguir em frente. Que sente ódio e raiva, amor e saudade, e que pergunta: “como posso guardar sua lembrança intacta e de maneira justa?” É difícil, ela sabe.

Paula se fecha. Não fala sobre a traição, segura o choro. Passa seu tempo na UTI com bebês que lutam pela vida – dois em especial têm papel relevante em sua história. Pensa mais em sua mãe, que morreu quando ela tinha 7 anos. Pensa no luto de seu pai, que está ao seu lado neste momento de dor, e em seu próprio desamparo e nas escolhas passadas – como a recusa à maternidade.

No meio disso tudo, busca o desejo para confrontar a morte. Chega a vislumbrar alguma felicidade, e volta a se esconder atrás de sua sombra. 

Esse é um também um livro sobre nossos desencontros em vida, as coisas que calamos e que vão definindo caminhos, a impossibilidade de um adeus ou de desdizer algo. Sobre chegar tarde demais. Sobre culpas e lacunas que nunca serão preenchidas. Ausências que uma hora serão acomodadas. Tato e conexão. Sobre o tempo que precisamos não exatamente para enterrar um passado ou recomeçar, mas para deixarmos as feridas cicatrizarem e para nos reencontrarmos em nós mesmos. 

Aprender a Falar Com as Plantas Autora: Marta Orriols Editora: Dublinense (240 págs.; R$ 59,90; R$ 39,90 o e-book)

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Editora de Cultura e jornalista especializada em literatura e mercado editorial

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